Professores relatam pânicotuan phan pokerescolatuan phan pokeraluno baleado no Rio: 'Você está no meio da aula e começa o desespero':tuan phan poker
A operação realizada pela Polícia Civil na quarta-feira foi um desses dias. As cercatuan phan poker15 mil crianças e jovens matriculados nas 44 escolas da Maré estavamtuan phan pokeraulas quando a ação começou, por volta das 9h.
Cenastuan phan pokerpânico se repetiram nos corredorestuan phan pokerescolas, com crianças e professores chorando e pais chegando para levar os filhos para casa, arriscando sair apesar dos tiros que perfuravam asfalto, telhados, caixas d'água.
Dias imediatamente liberou o usotuan phan pokertelefones celulares para que os alunos pudessem falar com suas famílias. Emprestou seu aparelho para alguns, enquanto buscava assegurar que todos permanecessem à vista – e que nenhum saísse para as áreas abertas da escola, onde estariam mais vulneráveis a tiros.
Marcos Vinícius,tuan phan poker14 anos, se apressava para a escola vestindo o uniforme da rede municipaltuan phan pokerensino quando foi atingido. Ele era aluno do 7º ano.
"Ele gostatuan phan pokerbrincar, conversar, é bem humorado", descreveu Klaus Grunwald, professortuan phan pokermúsica do Ciep, enquanto todos ainda aguardavam, apreensivos, notícias sobretuan phan pokerrecuperação. "Gosta daquela turma da bagunça, sabe? Aquela galera do fundão (da sala). Quando tem educação física, então, é uma festa. É um moleque, como outro qualquer."
O jovem morreu na noitetuan phan pokerquarta-feira, depoistuan phan pokerpassar por uma cirurgia no Hospital Getúlio Vargas. A prefeitura decretou luto oficialtuan phan pokertrês dias e decidiu abrir as portas do Palácio da Cidade para o seu velório. Sob forte comoção e revoltatuan phan pokeramigos e familiares, ele foi sepultado no Cemitério São João Batista, na tardetuan phan pokerquinta-feira.
35 dias sem aulastuan phan poker2017
Quando os tiros começaram, Alexandre Dias tinha acabadotuan phan pokercomeçar uma aula sobre a Revolução Francesa e estava introduzindo os alunos aos pilares da igualdade, fraternidade, liberdade.
"É muito difícil. Você está no meio do diatuan phan pokeraula, está tudo normal etuan phan pokerrepente começa o desespero. Acho até que os alunos encararam bem", considera ele, que dá aula para jovenstuan phan pokerentre 13 e 15 anos. "Alguns choraram, mas a maioria conseguiu ficar tranquila. Os professores também ficaram no chão, algunstuan phan pokerdesespero, outros conseguindo se manter calmos para controlar os alunos."
"Nessas horas, nós (professores) seguramos as emoções para mantê-los calmos. Não podemos demonstrar fraqueza para os alunos", diz Grunwald,tuan phan poker34 anos.
Em março deste ano, o professortuan phan pokermúsica participoutuan phan pokerum cursotuan phan pokercapacitação e primeiros socorros com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, voltado para professores que dão aulatuan phan pokeráreas conflagradas. Ele integra um grupotuan phan pokerWhatsApp chamado Acesso Mais Seguro, que junta professores para discutir e ajudar a implementar planostuan phan pokeremergênciatuan phan pokerdiferentes escolas.
Defasagem
Aulas interrompidas e canceladas durante tiroteios ou confrontostuan phan pokeroperações policiais estão longetuan phan pokerser uma raridade no Complexo da Maré.
De acordo com levantamento da ONG Redes da Maré,tuan phan poker2017, os alunos ficaram 35 sem aula por causa da violência, na maioria das vezes durante operações policiais. Em 2016, foram 18 dias.
No longo prazo, as interrupções constantes trazem prejuízos "gigantescos" à educação dos alunos, que sofrem com atrasos nas matérias, evasãotuan phan pokerprofessores e os traumas gerados por estar na linhatuan phan pokertiros – ou ver amigos caírem vítimatuan phan pokerbala perdida, como ocorreu com Marcos Vinícius.
"Os impactos sobre o ensino são terríveis", diz Dias. "Os professores não conseguem avançar na matéria, e as aulas perdidas atrasam o calendário. Semana que vem, por exemplo, seria semanatuan phan pokerprova. Agora, as avaliações provavelmente vão ser adiadas."
"Essas coisas vão minando os alunos. E minando também quem quer dar aula. Como eu sou da Maré, não fui minado. Gostotuan phan pokerdar aula aqui", afirma o professortuan phan pokerHistória, que tem 42 anos e é nascido e criado ali.
Ele diz que a evasão no corpo docente é um problema sério nas escolas do complexo.
"Muitos professores pedem transferência para outras escolas porque não conseguem conviver com isso por muito tempo. Ficam um tempo e depois não aguentam. É um rodízio constantetuan phan pokerprofessores", afirma Dias.
Na quarta-feira, uma nova professora tinha acabadotuan phan pokerchegar para o seu primeiro dia na escola, interrompido pelo tiroteio. "Sinceramente, não se ela vai voltar", afirma Dias.
'Sou aluno, não suje minha blusatuan phan pokersangue'
A Polícia Civil afirma que a operaçãotuan phan pokerquarta, realizada com apoio do Exército e da Força Nacional, foi uma força-tarefa para cumprir 23 mandadostuan phan pokerprisão e "checar informações obtidas através do setortuan phan pokerinteligência".
Seis homens foram mortos pela polícia na operação. Segundo nota enviada à imprensa, policiais teriam sido recebidos com "intenso disparotuan phan pokerarmastuan phan pokerfogo" durante cumprimentotuan phan pokermandadostuan phan pokerduas residências.
"No confronto, seis criminosos foram feridos e socorridos, mas acabaram morrendo", diz a nota, acrescentando que a operação resultou na apreensãotuan phan pokeroito fuzis e granadas etuan phan pokeruma "farta quantidade"tuan phan pokermunição etuan phan pokerdrogas.
No dia seguinte, o Ciep se mantevetuan phan pokerluto. O dia letivo dos alunos foi substituído por protestos e pelo enterrotuan phan pokerum colega.
De manhã, os estudantes marcharam do Ciep à Linha Amarela. Vestiam o uniforme escolar com manchas vermelhas pintadas na barriga, e a palavra "paz" pintada no peito. Faixas diziam: "Sou aluno, não suje minha blusatuan phan pokersangue."
"O clima étuan phan pokerrevolta", conta Dias, que acompanhou o protesto na Marétuan phan pokermanhã. "O ato foi muito forte, com alunos e professores chorando. Os alunos estão revoltadíssimos com a situação. Não sei como serão os próximos dias."
Na Linha Amarela, os estudantes tentaram interromper o trânsito para estender faixas, mas foram repreendidos por policiais militares. Segundo relatos e vídeos do local, PMs foram truculentos e intimidaram alunos e professores.
Um vídeo recebido pela BBC News Brasil mostra um PM dando uma paulada na pernatuan phan pokeruma aluna no protesto, aumentando a revolta dos alunos.
'Qualquer um pode ser alvo'
Embora confrontos ocorram reiteradamente no complexo, a diretora da Redes da Maré Eliana Sousa e Silva diz que a "novidade" desta vez foi o usotuan phan pokerum helicóptero, conhecido como "Caveirão aéreo", como plataformatuan phan pokertiro – o que já havia sido feitotuan phan pokeroutra operação na segunda-feira da semana passada.
A ONG contou 100 disparos feitos do helicóptero, numerados e circulados com tinta colorida por colaboradores na comunidade.
Para Silva, dar tiros do altotuan phan pokeruma área com 140 mil moradores significa aceitar que qualquer um pode ser alvo,tuan phan pokeruma prática ilegal e "completamente inaceitável".
"Isso mostra um entendimentotuan phan pokerque estamostuan phan pokersituaçãotuan phan pokerguerra. Não conseguimos entender como o Estado se colocatuan phan pokermaneira tão violadoratuan phan pokerdireitos", condena. "Será que fariam isso no Leblon ou Ipanema?"
O Rio está sob intervenção na áreatuan phan pokersegurança pública desde fevereiro. O Gabinete da Intervenção Federal (GIF), procurado pela BBC News Brasil, não quis se pronunciar.
A Polícia Civil não comentou as denúnciastuan phan pokerviolaçõestuan phan pokerdireitos humanos, nem respondeu às críticas sobre os tiros dados do helicóptero.
A Delegaciatuan phan pokerHomicídios da Capital abriu inquérito para apurar as circunstânciastuan phan pokermorte do rapaz. Questionada, a Secretariatuan phan pokerSegurança afirmou que não comentaria as críticas.
O professor Klaus Grunwald diz que os últimos três meses haviam sido mais calmos na comunidade. "Estávamos até surpresos."
Ele lamenta que as operações policiais acabem sendo a face mais visível do Estado na Maré, quando a comunidade e as escolas têm tantas carências.
"Faltam recursos humanos, faltam materiais, falta verba. O Estado não faz nada aqui dentro. Entrar para atacar a violência com mais violência não vai resolver os problemas", considera.