O agente congolês na cracolândia, a boliviana no SUS, o angolano no 'rapa' e outras históriasaposta bonus gratisrecomeço no Brasil:aposta bonus gratis
Uma delas é a Iabas (Institutoaposta bonus gratisAtenção Básica e Avançada à Saúde), entidade social que administra unidadesaposta bonus gratissaúde no centro e na zona norte da cidade. Segundo a organização, 50 dos seus 3.078 funcionários são estrangeiros, entre médicos, agentesaposta bonus gratissaúde eaposta bonus gratisadministração.
Um deles é o boliviano Jorge Lopez,aposta bonus gratis62 anos. Ele percorre diariamente as ruas do Bom Retiro para checar como anda a saúdeaposta bonus gratismilharesaposta bonus gratisestrangeiros que povoam o tradicional bairro do centro da cidade.
Naturalaposta bonus gratisLa Paz, Lopez veio para o Brasil no final dos anos 1980, desiludido com a diverticulite que pôs um fim precoce aaposta bonus gratiscarreiraaposta bonus gratisjogadoraposta bonus gratisfutebol. Trabalhouaposta bonus gratisoficinasaposta bonus gratiscostura enquanto estudava modelagemaposta bonus gratisuma universidade particular.
O trabalho no Sistema Únicoaposta bonus gratisSaúde (SUS) chegouaposta bonus gratis2005 depoisaposta bonus gratisvárias tentativas frustradas. "Fiz três provas e cinco entrevistas para entrar", conta.
Lopez foi um dos primeiros estrangeiros na unidadeaposta bonus gratissaúde que fica no coração do Bom Retiro, local conhecido por historicamente abrigar imigrantes judeus, bolivianos e coreanos. Cercaaposta bonus gratis40% dos pacientes do posto são estrangeiros, segundo o Iabas.
O boliviano foi escolhido para facilitar a entradaaposta bonus gratisseus compatriotas no SUS, movimento às vezes complicado pelo medo. "Os bolivianos são tímidos, têm receioaposta bonus gratissairaposta bonus gratiscasa e, muitas vezes, medoaposta bonus gratisserem deportados por faltaaposta bonus gratisdocumentos", conta.
Sua colega Jeanneth Orozco afirma que os colegas bolivianos se sentem mais à vontade quando conversam com agentes do país deles. "Os brasileiros visitavam as casas e as pessoas abriam só uma frestinha da porta", diz a agente, que chegou no Brasilaposta bonus gratis2004 e está no SUS desde 2009. Ela já foi responsável pelo auxílioaposta bonus gratissaúdeaposta bonus gratis25 grávidas no Bom Retiro.
Para Lopez, os agentes estrangeiros acabam funcionando como uma espécieaposta bonus gratisconselheiros dos recém-chegados. "Explicamos que o SUS é gratuito, porque muita gente acha que precisa pagar. Também falamos onde dá para tirar os documentos, onde tem posto da Polícia Federal, escola, hospital", afirma.
No mesmo posto, trabalha a médica Lourdes Ojeda, bolivianaaposta bonus gratis27 anos. Sua trajetóriaaposta bonus gratisimigração foi um pouco diferente dos colegasaposta bonus gratisunidade: formadaaposta bonus gratisuma universidade pública, Ojeda teve dificuldadeaposta bonus gratisencontrar empregoaposta bonus gratisseu país. "Há muitos médicos na Bolívia e os salários são ruins. Por isso, decidi viver no Brasil", conta.
Para revalidar seu diplomaaposta bonus gratisMedicina, ela precisou fazer duas provas - oral e escrita,aposta bonus gratisportuguês. "Tiveaposta bonus gratisvir antes para aprender e me acostumar com a língua", diz.
Segundo Marcelo Haydu, coordenador do Institutoaposta bonus gratisReintegração do Refugiado, uma das principais dificuldades para estrangeiros conseguirem emprego no Brasil é a burocracia para a revalidação dos diplomas universitários.
"Algumas provasaposta bonus gratisproficiênciaaposta bonus gratisportuguês, como a da USP, são muito complicadas. Desconfio que até brasileiros teriam dificuldadeaposta bonus gratispassar", diz Haydu.
Para Leonardo Cavalcanti, professor da Universidadeaposta bonus gratisBrasília e coordenador do Obmigra, imigrantes enfrentam um fenômeno conhecido como "inconsistênciaaposta bonus gratisstatus", ou seja, quando chegam ao Brasil, eles não conseguem trabalharaposta bonus gratissuas áreasaposta bonus gratisformação.
"Normalmente, os imigrantes têm formação média ou superior, pois os pobres sem estudo nem conseguem migrar", explica. "Porém, quando chegam aqui, enfrentam as dificuldades burocráticasaposta bonus gratisrevalidação dos diplomas, um processo que exige uma sérieaposta bonus gratisdocumentos. Tem muito imigrante com formação superior trabalhandoaposta bonus gratisauxiliaraposta bonus gratispedreiro."
Haydu conta um casoaposta bonus gratisum refugiado sírio que não consegue revalidar seu cursoaposta bonus gratisengenheiro porque a USP exige um documento que sequer existe na Síria. "Não há normas claras reguladas pelo Ministério da Educação, cada universidade temaposta bonus gratisregra", diz.
'Como uma criança'
Um desses casos é o do refugiado Tresor Balingi, congolêsaposta bonus gratis30 anos. Formadoaposta bonus gratisDireito mas sem conseguir revalidar o diploma no Brasil, ele trabalhaaposta bonus gratisatendente no CAT (Centroaposta bonus gratisApoio ao Trabalho e Empreendedorismo), órgão da prefeituraaposta bonus gratisSão Paulo.
O problema, no entanto, não o incomoda: ele gosta do serviço. Balingi chegou ao Brasilaposta bonus gratis2013 sem falar sequer uma palavraaposta bonus gratisportuguês. "Quando você chega num país diferente, começa tudoaposta bonus gratisnovo, como uma criança", explica sobre seu períodoaposta bonus gratisadaptação.
Ele trabalha ao ladoaposta bonus gratisdois compatriotas, os atendentes Hidras Tuala e Mabiala Nkombo. Segundo a prefeitura, eles foram contratados para atender refugiados e imigrantes africanos, cada vez mais numerosos na cidade. O trio faz carteirasaposta bonus gratistrabalho, habilitaçãoaposta bonus gratisseguro desemprego e auxílioaposta bonus gratiscontratações.
Nkombo,aposta bonus gratis23 anos, explica que a facilidade com várias línguas foi determinante paraaposta bonus gratiscontratação. "O CAT percebeu que havia muita dificuldadeaposta bonus gratiscomunicação com os estrangeiros. Nós falamos seis línguas fluentemente", diz ele, citando português, inglês, francês, espanhol, lingala e criolo. "Os africanos acabam naturalmente confiando maisaposta bonus gratisnós."
Seu colega Tuala,aposta bonus gratis24 anos, não esconde a vontadeaposta bonus gratisvoltar ao Congo um dia. "A gente sempre pensa que amanhã vai ser melhor. Esse dia ainda não chegou", diz ele, que melhorouaposta bonus gratisformação cursando comunicação visualaposta bonus gratisuma universidade do Brasil.
'Terminar os estudos'
Estudar no Brasil foi o que motivou a vinda do angolano Antonio Coteo,aposta bonus gratis21 anos. "Sempre gostei do Brasil e queria muito terminar a faculdadeaposta bonus gratisengenharia elétrica", conta. Ele estudaaposta bonus gratisuma faculdade particularaposta bonus gratisSão Paulo com bolsa integral.
Enquanto finaliza seu curso, Coteo trabalha como assistenteaposta bonus gratisfiscalização do comércio ambulante, serviço popularmente conhecido como "rapa". Vários funcionários dessa área no centro da cidade são imigrantes africanos.
Por outro lado,aposta bonus gratisruas com forte comércio ambulantes, como a 25aposta bonus gratisMarço, a presençaaposta bonus gratisafricanos como camelôs é bastante alta. Quando um comerciante é irregular, seus produtos são apreendidos pelo "rapa".
Coteo diz que nunca houve conflito com colegas africanos por causaaposta bonus gratisseu trabalho. "Minha relação com meus 'irmãos' é muito boa, não trato ninguém mal. Explico o que eles precisam fazer para regularizar a situação e conseguir os documentos. Sou uma espécieaposta bonus gratistradutor", diz.
Os refugiados
Segundo a Coordenação Nacionalaposta bonus gratisImigração, órgão do Ministério do Trabalho, o Brasil deu 311 mil autorizações para estrangeiros trabalharem no país entre 2011 e 2016. Pouco maisaposta bonus gratis200 mil carteirasaposta bonus gratistrabalho foram emitidas nesse período.
Por outro lado, a autorizaçãoaposta bonus gratisvistosaposta bonus gratisrefúgio continua um processo lento -aposta bonus gratismédia, ela demora dois anos. A fila chega a 86 mil pessoas e tende a crescer por causa da massaaposta bonus gratisvenezuelanos que diariamente chega ao Brasil.
Quando pousouaposta bonus gratisSão Paulo, o congolês Kanga Heroult,aposta bonus gratis38 anos, já tinha o documento que autorizava seu refúgio político no país. Era uma outra época,aposta bonus gratis2008, quando o númeroaposta bonus gratispedidosaposta bonus gratisrefúgio era bem menor.
Hoje, Heroult trabalha como agenteaposta bonus gratissaúde na região da cracolândia, áreaaposta bonus gratisconsumo e vendaaposta bonus gratiscrack no centro da cidade. Ele auxilia dependentes químicos a entrar no serviço municipalaposta bonus gratisrecuperação, o Redenção.
Ele fez três provas para entrar no serviço público. "A gente cuida e orienta (os usuáriosaposta bonus gratiscrack), me dou bem com todos", conta ele. "Muitas pessoas que estão na rua hoje são da Nigéria, Tanzânia, Congo..."
A trajetóriaaposta bonus gratisHeroult até o Brasil é dramática. Em 2007, ele se filiouaposta bonus gratisum partidoaposta bonus gratisoposição à ditadura que governa o Congo. Acabou preso depoisaposta bonus gratisparticiparaposta bonus gratisalgumas manifestações contra o assassinatoaposta bonus gratisum líder estudantil. "Por um mês e 15 dias eu fui torturado", diz, emocionado.
Heroult conta que, naqueles dias na prisão, dez pessoas eram levadas todos os diasaposta bonus gratisuma van. Nunca mais eram vistas. Um dia, chegou aaposta bonus gratisvez.
"Eu sabia que iria morrer. Então comecei a cantar uma música sobre Deus. Um dos soldados ouviu e reconheceu a letra. Ele se aproximou e disse queaposta bonus gratisfamília era da mesma igreja que a minha", conta.
O congolês foi levado na van com outros nove prisioneiros. "O carro parou ao ladoaposta bonus gratisum rio. As outras pessoas foram retiradas, mas eu fiquei. Ouvi o barulho delas sendo mortas e jogadas no rio. O motorista abriu a porta do carro e disse que nunca mais queria me ver. Eu estava livre."
Heroult escapou da morte e, dias depois, embarcou para o Brasil.