Violentada na infância, mulher vira policial e prende homem que a estuprou:freebet br é confiavel
Em entrevista à BBC Brasil, ela contou a história pela primeira vez a um jornalista. Tábata diz que fez isso para encorajar outras mulheres a denunciar seus agressores. "Denunciar e mexer nisso foi um processofreebet br é confiavelcura", diz.
Acampamento
O paifreebet br é confiavelTábata conheceu o fotógrafo quando ela tinha 9 anos. Pouco tempo depois, os dois se tornaram amigos e pegaram o hábitofreebet br é confiaveljogar futebol juntos.
Rapidamente, os amigos passaram a promover uma integração entre suas famílias. Elas passaram a sair e acampar juntas nos finsfreebet br é confiavelsemanafreebet br é confiavelverão. Os lugares preferidos eram campings próximos ao rio Uruguai, na divisa entre os Estadosfreebet br é confiavelSanta Catarina e Rio Grande do Sul.
Tábata se recorda dos dias divertidos e dos banhosfreebet br é confiavelrio que tomava ao lado dos dois casais. Juntos, os cinco faziam viagensfreebet br é confiavelcarro, trilhasfreebet br é confiaveláreasfreebet br é confiaveldifícil acesso e pernoitavamfreebet br é confiavelbarracas na mata.
"Logo, ele (o fotógrafo) começou a me molestar. Ele se aproximava e ficava passando a mãofreebet br é confiavelmim. Eu não entendia. Aquilo me incomodava, mas eu não via o caráter criminoso naquilo que ele estava fazendo. Não falei nada para a minha família, até hoje não sei dizer o porquê", conta Tábata.
A garota tinha uma meia-irmã 8 anos mais velha, que não frequentava os acampamentos. "Ela não era muito próxima do meu pai por não ser filha biológica dele. Ela costumava ficarfreebet br é confiavelcasa assistindo à TV e estudando", conta.
Segundo Tábata, o agressor se aproveitavafreebet br é confiavelsua fragilidade, do isolamento e da pouca visibilidadefreebet br é confiavelmeio às árvores - distante dos olhares dos adultos - ou durante os mergulhos da menina na água para se aproximar e cometer os abusos.
"Certa vez, ele abusoufreebet br é confiavelmim quando ele precisava buscar água (para o acampamento) e me fizeram ir com ele para ajudar a carregar os galões. No caminho, ele se aproveitou para ficar passando a mãofreebet br é confiavelmim, mas eu consegui escapar e correr na frente. Meus pais nem perguntaram por que cheguei antes dele. Nem passava pela cabeça dos meus pais que ele pudesse abusarfreebet br é confiavelmim porque confiavam muito nele", conta Tábata.
A frequênciafreebet br é confiavelabusos começou a aumentar na mesma proporçãofreebet br é confiavelque crescia o incômodo que a garota sentia. Sua vontade era contar os atos violentos para o pai dela.
"Meu pai sempre foi muito estressado, pilhado. Eu tinha medo que ele pudesse matar ele (fotógrafo), ir preso. Começam a passar mil coisas na cabeçafreebet br é confiaveluma criança. E também tem o receiofreebet br é confiavelque seus pais não vão acreditar no que você está passando", afirma Tábata.
Tábata relata que os primeiros abusos ocorreramfreebet br é confiavelacordo com as oportunidades. Mas logo o fotógrafo passou a estudar o dia a dia da família para saber quando a garota estaria sozinhafreebet br é confiavelcasa.
Ele descobriu que a irmã mais velhafreebet br é confiavelTábata fazia magistério e a mãe trabalhava à noite. Conhecia a rotinafreebet br é confiavelfutebol noturno do pai da garota e passou a procurá-la nesses horários.
"Ele dizia: 'Só um pouquinho, só um pouquinho'. Ele nunca me agrediu com tapas, mas me segurava à força, mesmo eu sendo uma menina grande para a minha idade", lembra Tábata.
Ela não se recordafreebet br é confiavelameaças feitas pelo estuprador, mas diz que ele pedia para que ela não comentasse com os pais o que acontecia entre eles. Os abusos ocorreram durante cercafreebet br é confiavel2 anos e meio.
Tábata conta que passou a ter maior consciência do crime aos 11 anos, quando começou a gritar, xingar e resistir,freebet br é confiavelvão, aos abusos. Na época, ela decidiu que contaria para afreebet br é confiavelmãe.
Porém, a mãefreebet br é confiavelTábata foi diagnosticada com transtorno bipolar e seu estadofreebet br é confiavelsaúde a desencorajou a revelar os estupros.
Mais vítimas
Nessa mesma época, o pai da garota teve um relacionamento extraconjugal com a mulher do fotógrafo. O caso foi descoberto e colocou um ponto final na amizade entre os casais e na rotinafreebet br é confiavelabusos.
Nessa época, Tábata decidiu relatar as agressões apenas parafreebet br é confiavelamiga mais próxima, que passava o dia todo com ela e tinhafreebet br é confiavelconfiança. A única condição foi que a menina não contasse para ninguém, o que foi respeitado.
Durante um período, Tábata preservou a mãe, que tinha frequentes crises psiquiátricas - mesmo à basefreebet br é confiavelmedicamentos - e decidiu não contar para a irmã porque as duas não eram tão próximas e tinham algumas brigas.
A doença da mãe, no entanto, reaproximou as duas e Tábata decidiu relatar os abusos pela primeira vez à irmã,freebet br é confiaveloutubrofreebet br é confiavel2006. "Quando contei, ela entrou numa crisefreebet br é confiavelchoro desesperadora. Imediatamente, ela ligou para o meu pai, que já era divorciado da minha mãe havia dois anos. Até hoje eu fico com um arrependimentofreebet br é confiavelfazer as pessoas sofrerem tanto. Eu fico pensando se valeu a pena contar", diz Tábata.
Ela diz que, ao longo dos anos, tentou esquecer os detalhes dos estupros para se proteger emocionalmente. O tempo passou e as memórias dos abusos continuavam a rondar seus pensamentos.
Numa tentativafreebet br é confiavel"não surtar" e aliviar o peso das lembranças, Tábata passou a contar a história para outras amigasfreebet br é confiavelcolégio na adolescência.
Em 2008, quando tinha 16 anos, umafreebet br é confiavelsuas amigas contou o caso para a mãe, que, por coincidência, conhecia o fotógrafo e chamou Tábata para conversar.
"Ela me disse que tinha ouvido falar que esse fotógrafo também tinha abusadofreebet br é confiaveloutras meninas. Aquilo me deu muita revolta. Eu achei que ele tinha feito aquilo só comigo, mas logo pensei que aquele cara estava acabando com a vidafreebet br é confiaveloutras pessoas, outras meninas", disse.
Sete anos após o primeiro abuso, Tábata relatou o históricofreebet br é confiavelagressões à Polícia Civil, registrou um boletimfreebet br é confiavelocorrência e uma investigação foi iniciada. Mas ela nunca foi chamada para voltar a depor e o inquérito ficou engavetado.
Quatro anos depois, o processo foi para o Ministério Público, onde a ação ficou mais dois anos parada. Tábata, então, foi pessoalmente à Promotoria perguntar o motivo da estagnação.
"Eu estava conversando com uma assessora do promotor, mas ela não sabia me dizer porque ele não tinha denunciado o caso, quando eu me alterei e passei a levantar a minha voz. Nesse momento, ele (promotor) saiu da sala dele e foi grosseiro comigo. Disse que fazia muito tempo, que não tinha provas e que eu demorei pra denunciar", conta.
Tábata entroufreebet br é confiaveldesespero. Contou chorando para o pai que seu caso tinha acabado e que o fotógrafo nunca seria julgado. Mas o pai dela se lembrou que um comerciante que morava na região havia relatado que o fotógrafo também tinha abusadofreebet br é confiavelsua filha quando ela tinha 9 anos.
Na época do crime, o comerciante agrediu o fotógrafo quando soube que ele tinha passado a mão nos seiosfreebet br é confiavelsua filha. Tábata foi pessoalmente falar com a mãe da vítima para pedir auxílio.
"Eu pedi para ela depor para que o Ministério Público soubesse da conduta dele e pudesse denunciar. Eles aceitaram depor, então levei o nome dela e dos pais à Promotoria para que tivessem provas", disse.
Após o novo depoimento, a Promotoria entendeu que o fotógrafo tinha um históricofreebet br é confiavelabusos e, finalmente, o denunciou por pedofilia. Um ano depois,freebet br é confiavel2013, ocorreu a primeira audiência.
Julgamento
Durante a audiência no tribunal, conta Tábata, o fotógrafo negou ter tido relações sexuais com a menina. "Eu só li a sentença. Mas ele disse que eu inventei tudo aquilo porque eu queria me vingar dele. Ele dizia que eu fiz aquilo porque meu pai não teria conseguido sair com a esposa dele", conta Tábata.
O homem foi condenado por estupro a 7 anos e 6 mesesfreebet br é confiavelprisãofreebet br é confiavelregime fechado. O depoimento da segunda vítima foi essencial para comprovar o históricofreebet br é confiavelviolência sexual do fotógrafo. O criminoso entrou com recurso e respondeu ao processofreebet br é confiavelliberdade. Depoisfreebet br é confiavelum ano e meio, houve a confirmação da sentençafreebet br é confiavelsegunda instância.
Nesse meio tempo, Tábata, aos 24 anos, concluía seu curso na Academia da Polícia Civilfreebet br é confiavelSanta Catarina. "Eu fui focadafreebet br é confiavelfazer o meu trabalho, sem me apegar ao que tinha ocorrido no passado. Procurei deletar tudo da minha cabeça", conta.
Mas, no fundo, os abusos que sofreu foram decisivos na decisãofreebet br é confiavelser policial. A vontadefreebet br é confiavelTábata era "pegar todos os estupradores", mas decidiu não só evitar, mas se afastar completamentefreebet br é confiavelcasos ligados a crimes sexuaisfreebet br é confiavelseu cotidiano profissional.
"Eu não teria autocontrole para não agredir um abusador, manter o profissionalismofreebet br é confiavelcasos bárbaros como osfreebet br é confiavelagressões a bebês. E meu papel na polícia é exercer a minha profissão conforme a lei", diz.
E, quando ela menos esperava, surgiufreebet br é confiaveloportunidadefreebet br é confiavelcumprir a lei. A polícia recebeu a ordemfreebet br é confiavelcumprir o mandadofreebet br é confiavelprisão contra o fotógrafo. Tábata estava junto.
"No dia 22freebet br é confiaveldezembrofreebet br é confiavel2016, pedi apoio, fomosfreebet br é confiaveloito ou dez policiais até que o localizamos e executamos o mandado. Ele estava escondido numa chácara isolada, na beirafreebet br é confiavelum rio. Naquele dia, meu colega fez a revista e a prisão. Mas eu fiz questãofreebet br é confiavelbater a porta da cela, como se fosse para encerrar esse ciclo."
Menosfreebet br é confiavelum ano depois, no dia 19freebet br é confiaveldezembrofreebet br é confiavel2017, o fotógrafo saiu pela porta da frente do presídio. Devido ao seu bom comportamento e dias descontados por trabalhar na horta e na cozinha do presídio, ele tevefreebet br é confiavelpena reduzida e hoje está livre.
Tábata não esconde a insatisfaçãofreebet br é confiavelsaber que o homem que a estuprou durante dois anos está solto. "Foi uma pena muito curta. Ele precisava ficar preso só um sexto da pena. Mas ele trabalhou e, no fim, ficou só um ano. A nossa execução penal tem muitos privilégios e a pessoa acaba ficando pouco tempo pagando pelo seu crime", diz.
Trauma
Desde a infância, Tábata sempre foi muito falante e extrovertida. Mas os abusos criaram nela barreiras até o início da fase adulta.
"Eu sentia uma sensação ambígua: queria me relacionar com as pessoas, mas tinha medo porque sempre lembrava das agressões e tinha vergonha do meu corpo. Quando as meninas falavamfreebet br é confiavelsexo e filhos, eu achava aquilo o fim do mundo porque via o sexo como uma coisa ruim", relata Tábata.
Hoje, ela diz que evita lidar no cotidiano profissional com casosfreebet br é confiavelviolência sexual e conta que revive seu caso sempre que atende casosfreebet br é confiavelestupro. Para as famílias, no entanto, ela acredita quefreebet br é confiavelhistória pode servir como um alerta.
"Eu diria para as mães conversarem muito com seus filhos e instigá-los a contar sobre qualquer comportamentofreebet br é confiaveladultos que sejam impróprios . E dizer que vão acreditar na versão deles. Às vítimas, digo que tive dificuldade e superei, mas que eles não podem se revitimizar porque o problema ocorre na proporção que você o alimenta. Eu sempre digo que a vítima não é culpada. O que aconteceu não foifreebet br é confiaveldecorrência da postura ou da roupa que ela estava usando, mas pelo fatofreebet br é confiavelo agressor ser uma pessoa doente."
*A pedido da policial civil, seu nome verdadeiro foi omitido nesta reportagem. O nome do agressor e a cidade onde os abusos aconteceram também foram omitidos para proteger a identidade das vítimas.