Documento revela que Japão pediu ao Brasil para investigar suposto passaporte brasileiro atribuído a Kim Jong-un:livechat vbet

Formuláriolivechat vbetviagemlivechat vbetnomelivechat vbetJosef Pwag fornecido pelo MRE via Leilivechat vbetAcesos à Informação
Legenda da foto, Formuláriolivechat vbetnomelivechat vbetJosef Pwag para emissãolivechat vbetpassaporte: agência Reuters diz que documento foi usado pelo líder norte-coreano Kim Jong-un para pedir vistos e viajar

Os documentos obtidos pela BBC Brasil, que fazem parte do procedimento número 3351580, vieram da PF com tarjas pretas impedindo a identificaçãolivechat vbetnomes e númeroslivechat vbetofícios. Não foi possível, portanto, descobrir o destinatário do ofíciolivechat vbetquestão.

Nele, a PF também pedelivechat vbetautorização para obter informações sobre os norte-coreanos que tinham passaportes suspeitos, das séries CD e CE. E também apresenta uma listalivechat vbet15 perguntas cujas respostas foram consideradas "valiosas para instruir as investigações sobre a expedição irregular dos passaportes". Esse é o último documento que consta no processo ao qual a BBC teve acesso. Não há, no entanto, informação se a investigação avançou, nem se o Japão recebeu os dados solicitados.

O documentolivechat vbetJosef Pwag, naturallivechat vbetSão Paulo e nascidolivechat vbet1livechat vbetfevereirolivechat vbet1983, estava entre os passaportes colocados sob suspeita e que foram alvo da investigação. Como a BBC Brasil reveloulivechat vbetmarço, Pwag teve dois documentos brasileiros. O primeiro, com numeração CD791247, foi emitido pela PF no Riolivechat vbetagostolivechat vbet1990. Conforme a BBC Brasil já havia revelado,livechat vbetum dos sistemas consultados por integrantes da corporação, consta uma observação associada a esse documento - "(há) suspeitalivechat vbetviolar imigração japonesa" -, acompanhada do número do procedimento que a PF instaurou para apurar o caso a pedido dos japoneses.

Esse primeiro documentolivechat vbetviagem foi substituído pelo passaportelivechat vbetnúmero CE375366, emitido pela Embaixada do Brasillivechat vbetPragalivechat vbet1996.

Reprodução documento Embaixada do Japão solititando ajuda do Brasil para investigar 9 pessoas
Legenda da foto, A Embaixada do Japão no Brasil formalizou o pedido junto ao Ministério das Relações Exteriores solicitando a colaboraçãolivechat vbet1998

Vistos e viagens

Segundo uma reportagem da agência Reuters publicada no início do ano, o líder norte-coreano Kim Jong-un usou o passaporte brasileiro CE 375366livechat vbetnomelivechat vbetPwag para pedir vistos e viajar por países ocidentais. Aindalivechat vbetacordo com a Reuters, além do líder coreano, o pai dele, Kim Jong-il, também usou um passaporte brasileiro, com o nomelivechat vbetIjong Tchoi, com carimbo da Embaixada do Brasillivechat vbetPraga.

Quatro fonteslivechat vbetsegurança europeias consultadas pela Reuters confirmaram que os dois passaportes brasileiros emitidoslivechat vbetPraga com fotos dos Kim com os nomeslivechat vbetJosef Pwag e Ijong Tchoi foram utilizados para solicitar vistoslivechat vbetao menos dois países ocidentais. A agência, contudo, não informa se os vistos foram obtidos.

Segundo a Reuters, os documentos podem ter sido usados pelos Kim para visitar Brasil, Hong Kong e Japão.

O jornal japonês Yomiuri Shimbun disselivechat vbet2011 que Jong-un visitou a Disneylândialivechat vbetTóquio quando criança usando um passaporte brasileirolivechat vbet1991, ano que engloba o período no qual as autoridades japonesas suspeitam que os nove norte-coreanos tenham burlado a imigração do país.

Outro lado

Ofíciolivechat vbetagostolivechat vbet2000 da PF, encaminhado ao Ministério da Justiça
Legenda da foto, No último documento anexado ao procedimento aberto pela PF a pedido dos japoneses, feito dois anos e meio antes, é dito que 'não se obteve uma resposta conclusiva sobre a legalidade' dos passaportes colocados sob suspeita

A PF e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), contudo, não informam se os documentos foram usados para entrar ou sair do Brasil, nem se identificaram alguma relação entre Pwag e Itchoi com os líderes norte-coreanos.

O MRE confirma apenas que localizou os formulárioslivechat vbetnome Pwag e Tchoi usados para renovar,livechat vbetPraga, os passaportes inicialmente emitidos no Rio.

Esses formulários têm duas páginas cada e, além da foto, trazem detalhes como filiação e local datalivechat vbetnascimento e endereço,livechat vbetPraga. À BBC Brasil, o MRE esclareceu que, naquela época, para a concessãolivechat vbetnovo passaporte, "era dispensada a apresentaçãolivechat vbetdocumentolivechat vbetidentidade, caso o interessado apresentasse passaporte anteriormente expedido".

A PF, porlivechat vbetvez, se limitou a dizer que "por se trataremlivechat vbetdocumentos antigos, está apurando as circunstânciaslivechat vbetemissão dos passaporteslivechat vbetquestão elivechat vbetresultadoslivechat vbeteventuais investigações pretérias que levaram ao cancelamentolivechat vbetdocumentoslivechat vbetviagem".

Formuláriolivechat vbetviagemlivechat vbetnomelivechat vbetIjong Tchoi fornecido pelo MRE via Leilivechat vbetAcesos à Informação
Legenda da foto, Formuláriolivechat vbetviagemlivechat vbetnomelivechat vbetIjong Tchoi, nome supostamente usado por Kim Jong-il, preenchido para emissão do passaporte na Embaixada do Brasillivechat vbetPraga

Questionada pela BBC, a PF não esclareceu qual foi o desfecho dessa investigação aberta ainda nos anos 1990 a pedido dos japoneses, nem se os supostos coreanos que usaram passaportes brasileiros e levantaram suspeitas no Japão foram localizados e interrogados.

A Embaixada do Japão no Brasil não quis comentar o caso e a representação diplomática da Coreia do Nortelivechat vbetBrasília não respondeu ao pedidolivechat vbetinformação da reportagem.

Retorno à Embaixada

No procedimento da PF ao qual a BBC teve acesso, há indicativolivechat vbetque, após a expedição dos documentoslivechat vbetviagemlivechat vbetPraga, os suspeitos retornaram à Embaixada do Brasil na capital da República Tcheca.

Em uma comunicação interna, um funcionário do MRE pergunta se a Embaixadalivechat vbetPraga poderia autenticar cópias dos documentoslivechat vbetpessoas que estavam "sob investigação da Polícia Federal".

Nessa consulta, o funcionário cita um fax datadolivechat vbet1999, que já mencionava as suspeitaslivechat vbet"que se tratavamlivechat vbetpessoas" com nacionalidade brasileira falsa.

De acordo com o pedido feito ao MRE, os suspeitos foram à Embaixada (em algum momento após agostolivechat vbet1999) para pedir "autenticação (de seus passaportes brasileiros) e posterior comprovaçãolivechat vbetnacionalidade junto às autoridades tchecas".

Reprodução documento do MRE
Legenda da foto, Funcionário da Embaixada do Brasillivechat vbetPraga fez consulta para saber se poderia autenticar cópias dos documentos das pessoas que estavam sendo investigadas

Descrição física

O Japão pediu ajuda ao Brasil, no iníciolivechat vbet1998, atravéslivechat vbetum ofíciolivechat vbetdez páginas e uma folhalivechat vbetanexo com perguntas. Trata-selivechat vbetum documento com datalivechat vbet4livechat vbetdezembrolivechat vbet1997, traduzido para o português, que tem como base um pedido do Departamentolivechat vbetPolícia Metropolitanalivechat vbetTóquio.

Nele, os japoneses detalham a própria investigação e listam uma sérielivechat vbetperguntas e solicitações aos brasileiros.

Não explicam, no entanto, por que estavam solicitando, no finallivechat vbet1997, informaçõeslivechat vbetdocumentos brasileiros usados para entrar no Japão quase uma década antes, entre outubrolivechat vbet1990 e agostolivechat vbet1993.

Ainda assim, pedem informações para avaliar se os documentos eram falsos e pedem ajuda para conseguir provas que permitam "identificar os suspeitos e verificar seus atos criminosos".

Reprodução documento enviado pelo Japão às autoridades brasileiras no final dos anos 1990
Legenda da foto, Trecho do pedido da polícia japonesa, com detalhes das investigações que colocava sob suspeita a autencidade dos passaportes brasileiros

Os japoneses pediram, por exemplo, relatório detalhando quais documentos eram exigidos para se tirar um passaporte brasileiro e os passos do procedimento. Também queriam os registroslivechat vbetentrada e saída do Brasillivechat vbettodos os nove suspeitos - listados entre 1livechat vbetjaneiro 1990 e 31livechat vbetoutubrolivechat vbet1993.

Solicitaram ainda "descrição física dos suspeitos", detalhes sobre "raça, corlivechat vbetpele, altura, forma do corpo, cor do cabelo, cor dos olhos, defeitos físicos, usolivechat vbetóculos, tatuagem".

Num anexo, os japoneses listaram ainda dez perguntas a serem feitas aos nove titulares dos documentos, entre elas se o passaporte havia sido roubado ou perdido.

O documento foi assinado pelo diretor da Divisãolivechat vbetAssunto Internacionais da Agêncialivechat vbetPolícia Nacional do Japão.

Detalhes

Há coincidências sobre os dadoslivechat vbetJosef Pwag - que, segundo a Reuters, seria o titular do passaporte usado pelo líder norte-coreano - que chamam atenção.

Entre eles, o nome "Ricardo Pwag" - listado na documentação fornecida ao MRE como sendo o pailivechat vbetJosef - e o fatolivechat vbeto segundo passaporte ter sido emitidolivechat vbetPraga, capital da República Tcheca.

Ricardo Pwag seria um dos nomes usados por Pak Yong-mu, segundo o livro publicadolivechat vbet2011 North Korea under Kim Chong-il - Power, Politics and Prospects for Change (Coreia do Norte sob Kim Kong-il - Poder, Política e Perspectivaslivechat vbetMudança,livechat vbettradução livre), do norte-americano Ken E. Gause, que desde 1980 pesquisa o país.

Gause, que conversou com a BBC Brasil sobre os Kimlivechat vbetmarço, disse que Pak Yong-mu era uma espécielivechat vbet"faz tudo dos Kim" - no livro, Pak é descrito como "procurador" dos Kim.

Cópia do passaporte que a Reuters diz ter sido usado pelo atual presidente da Coreia do Norte

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Passaporte que, segundo a agência Reuters, foi usado por Kim Jong-un: nos anos 1990, a emissãolivechat vbetpassaportes comuns no exterior eralivechat vbetresponsabilidade das representações diplomáticas do Brasil e os dados do titular eram escritos à mão

Para Gause, é notório que os Kim e pessoas próximas a eles usaram nomes falsos para abrir empresas e circular por outros países, entre eles a República Tcheca. O autor acredita que a família usa empresas para transações e fugir das limitações impostas pelos embargos contra a Coreia do Norte, operandolivechat vbetforma legal e ilegal no exterior.

A BBC Brasil identificou uma empresa, com sede na República Tcheca, na qual aparecem, como sócios, ao ladolivechat vbetoutras duas pessoas, Ijong Tchoi e Ricardo Pwag. Ricardo seria o "pai" do titular do passaporte supostamente usado pelo líder coreano. E Tchoi é o nome no documento que Kim Jong-il teria usado. A empresa foi abertalivechat vbet1995, um ano anteslivechat vbeto documento ter sido emitido.

Outro detalhe é o fatolivechat vbetPwag ter trocadolivechat vbetpassaportelivechat vbet1996, seis anos depoislivechat vbeto primeiro ter sido emitido pela PF no Rio e um ano anteslivechat vbeta polícia japonesa formalizar o pedidolivechat vbetinvestigação às autoridades brasileiras. Naquela época, os documentoslivechat vbetviagem brasileiros tinham validadelivechat vbet10 anos - tanto que o segundo passaportelivechat vbetPwag, emitidolivechat vbetPraga, expiravalivechat vbet25livechat vbetfevereirolivechat vbet2006.

Nos anos 1990, os sistemaslivechat vbetcontrole e emissão não eram digitalizados. O próprio governo brasileiro chegou a admitir que, até 2006, quando foram introduzidas novas medidaslivechat vbetsegurança, o documento brasileiro era um dos mais forjados. Hoje já não é mais assim. Investigaçãolivechat vbet2015 da empresa especializada Vocativ apontou que os passaportes brasileiros não constavam entre os mais caros - e, portanto, mais desejados - vendidos ilegalmentelivechat vbetmercados desse tipo na internet.

*Colaborou Mariana Schreiber, da BBC Brasillivechat vbetBrasília.