Gaúcha vence na Justiça batalha para recuperar bens doados à Igreja Universal: 'Lavagem cerebral':telegram bet

Carla Dalvitt na salatelegram betsua casa
Legenda da foto, 'Não sei o que me deu... Eu estava desesperada', diz Carla Dalvitt, que tenta reaver bens doados a igreja | Foto: Jonas Samuel Betti/BBC Brasil

Procurada pela BBC Brasil para comentar o caso, a Igreja Universal do Reinotelegram betDeus não respondeu às perguntas feitas pela reportagem. Enviou uma nota dizendo que "o dízimo e todas as doações recebidas pela Universal seguem orientações bíblicas e legais, e são sempre totalmente voluntários e espontâneos".

'Fogueira Santa'

Carla conta que resolveu começar a frequentar os cultos após ver pastores falando na TV. "Eram mensagens positivas,telegram betesperança, prosperidade. Tinha muitos depoimentostelegram betgente que falava que tinha saídotelegram betcrise, gente que dizia que devia à igreja tudo o que tinha", diz.

A gaúcha também conhecia pessoas que frequentavam a igreja - e falavam sempre bem. Seu marido não a acompanhava, mas também não se opunha à atividade religiosa da mulher.

Prédio da Igreja Universaltelegram betLajeado, no Rio Grande do Sul
Legenda da foto, Templo da Igreja Universal na cidadetelegram betCarla Dalvitt; ela diz ter doado tudotelegram betum evento chamado 'Fogueira Santa' | Foto: Jonas Samuel Betti/BBC Brasil

Ela diz que as doações que fez à Igreja começaram com o dízimo. O problema, afirma, é que não pararam por aí.

"Eles diziam que você tinha que dar 10%telegram bettudo o que você ganhava, e que tudo o que você desse, ia recebertelegram betvolta", conta. "O problema é que tinha um evento especial, a Fogueira Santa, onde as pessoas iam e doavam casa, carro. E eu não sei o que me deu... Eu estava desesperada."

Carla afirma que havia um eventotelegram betque os fiéis faziam promessastelegram betdoações, no qual ela disse que entregaria suas posses à igreja.

"Depois disso eu fiquei na dúvida, penseitelegram betdesistir. Mas eles sempre falavam que tinha uma maldição para quem prometeu e não doou, que a pessoa ia ser amaldiçoada", diz. "E eu fiquei pensando na maldição, com medo da maldição."

Carla então vendeu o carro por um valor bem abaixo do valortelegram betmercado - já que o comprador teria que pagar o resto das prestações - e doou o dinheiro à igreja.

E deu também, segundo ela, um colchão, um computador, dois aparelhostelegram betar condicionado que vendia emtelegram betloja, joias, um fax, uma impressora e alguns móveistelegram betcozinha quetelegram betmãe havia acabadotelegram betcomprar. Tudo isso escondido da família.

Nuvem negra

"Aí, quando chegueitelegram betcasa, que meu marido descobriu, aí que me deu um chacoalhão, que eu acordei. Não sei o que tinha aconteceu, eu estava mesmo... Era como se eu tivesse sofrido uma lavagem cerebral. Como se tivesse uma nuvem preta sobre minha cabeça, e quando meu marido conversou comigo ela foi embora. Me senti muito mal", afirma.

No mesmo dia, ela, a mãe e o marido foram ao templo tentar recuperar os bens doados. Conseguiram levartelegram betvolta o colchão, o fogão e os outros itenstelegram betcozinha - mas apenas porque a mãetelegram betCarla ainda tinha nota fiscaltelegram bettudo,telegram betacordo com seu relato.

A gaúcha diz que nenhum dos outros itens foi devolvido. "A gente implorou, insistiu muito, mas eles disseram que não iam devolver."

Carla e João Henrique
Legenda da foto, Carla e o marido, João Henrique, aguardam fim do processo | Foto: Jonas Samuel Betti/BBC Brasil

Ela então registrou um boletimtelegram betocorrência e procurou um advogado.

"Já fui procurado por pessoas com casos parecidos, mas nem todo muito tem coragemtelegram betseguir com o processo - é demorado e desgastante. Ela foi muito corajosa", afirma Marco Alfredo Mejia, advogadotelegram betCarla no caso.

"Eu jamais teria entrado na Justiça se eles tivessem me devolvido na hora", argumenta ela.

No processo, a Igreja Universal se defende dizendo que não há comprovação da doaçãotelegram betitens como as joias e o dinheiro do carro - o que o Tribunaltelegram betJustiça do Rio Grande do Sul acatou. A entrega dos celulares, da impressora e dos aparelhostelegram betar condicionado, no entanto, foi comprovada, e o tribunal entendeu que se tratavatelegram bet"coação moral irresistível" e "abusotelegram betdireito", por isso estipulou a indenização.

A decisão foi confirmada pelo STJ na semana passada, mas a igreja ainda pode recorrer.

A gaúcha afirma que, além do grande prejuízo financeiro, todos na cidade ficaram sabendo do caso, o que a prejudicou muito. Ela acabou fechando a loja que tinha. Ficou sem carro, sem dinheiro, sem negócio - ou seja,telegram betuma situação pior que atelegram betantes.

"Por sorte uma pessoatelegram betbom coraçãotelegram betdeu um empregotelegram betvendedora e, aos poucos, eu fui reconstruindo. Antes teria dado também, mas eu estava desesperada e fui enganada. Quem abriu meus olhos foi o meu marido, ele me disse que Deus não ia colocar maldiçãotelegram betninguém, que Deus não faz isso. E ele tem razão", diz Carla.

Ela hoje diz acreditartelegram betDeus - mas não ter mais nenhuma religião.

O que diz a Igreja

Quatro dias após a publicação da reportagem, a Igreja Universal entroutelegram betcontato com a BBC Brasil e enviou uma nota maior.

A Igreja afirma que "nenhuma igreja ou instituição assistencialista que dependetelegram betdoações voluntárias poderia existir se a lei não a protegessetelegram betsupostos doadores arrependidos".

A instituição também diz que segue todas as normas legais e "vai além". "Em nossa doutrina, se algum pastor se exceder no pedidotelegram betofertas ou demonstrar qualquer interessetelegram betbens materiais dos membros da igreja, é imediatamente suspenso, disciplinado e,telegram betalguns casos, removido do ministério", diz a nota.

"São alguns poucos mal-intencionados que tentam enganar a Justiça e tirar proveito do preconceito religioso que, infelizmente, ainda existe na sociedade brasileira. Mas são sempre derrotados no Judiciário porque a Universal respeita a lei", diz o documento.

A entidade afirmou ainda que tem "certezatelegram betque a decisão da Justiça do Rio Grande do Sul será revertida no recurso que espera a decisão no Supremo Tribunal Federal".