'Meu filho morreu para quê? Nada mudou', lamenta mãequero apostar on linemilitar assassinado no Rio:quero apostar on line

Condecoração póstuma do cabo Mikami
Legenda da foto, Condecoração póstuma do cabo Mikami, morto com tiro no rosto durante ação na Maréquero apostar on line2014 | Foto: Exército

Um contingentequero apostar on linecercaquero apostar on line3 mil militares ocupou parte do complexoquero apostar on line16 favelasquero apostar on lineabrilquero apostar on line2014 até junhoquero apostar on line2015,quero apostar on lineoperação para Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a mais longa do tipo até o momento - já foram realizadas 44 no país desde 2010, a maioria com menosquero apostar on linedois mesesquero apostar on lineduração.

Nessas operações, as Forças Armadas recebem poderquero apostar on linepolíciaquero apostar on lineuma área delimitada, quando se avalia que há esgotamento das forças tradicionaisquero apostar on linesegurança pública.

A ocupação do Exército não conseguiu acabar com a presença no tráfico na região e a ocorrênciaquero apostar on linetiroteios. Houve vítimas dos dois lados do conflito - como o casoquero apostar on lineVitor Santiago Borges, morador da Maré feridoquero apostar on lineação equivocadaquero apostar on linemilitares, que metralharam um carro com cinco pessoasquero apostar on linefevereiroquero apostar on line2015 na comunidade Salsa e Merengue. Principal vítima, ele perdeu uma perna e ficou paraplégicoquero apostar on linedecorrência do ataque.

Tanto ele como a famíliaquero apostar on lineMikami ainda lutam na Justiça contra a União para serem indenizados.

Do sonhoquero apostar on lineser bombeiro no Japão ao Exército

A ocupação da Maré, iniciada meses antes da realização da Copa do Mundo, recebeu corporaçõesquero apostar on linediversas partes do país para evitar expor militares moradoresquero apostar on linecomunidades do Rioquero apostar on lineJaneiro a retaliaçõesquero apostar on linegrupos criminosos.

Em geral, cada missão durava dois meses e, nesse período, os soldados serviam por 12 dias seguidos e retornavam paraquero apostar on linecasa por outros 12 dias. Mikami era lotado no 28º Batalhãoquero apostar on lineInfantaria Leve, sediadoquero apostar on lineCampinas (SP).

Michele e seu marido recebem condecoração póstuma do filho
Legenda da foto, Michele e seu marido recebem condecoração póstuma do filho; família busca indenização na Justiça | Foto: Exército

Nascidoquero apostar on lineVinhedo, no interiorquero apostar on lineSão Paulo, o cabo passou parte daquero apostar on lineinfância e adolescência no Japão, terra da família do seu pai.

Sua mãe conta que ele tinha o desejoquero apostar on lineser bombeiro lá, mas que isso não era possível por não ter a nacionalidade japonesa.

Quando eles tiveram que voltar ao Brasil por causa das dificuldades geradas pela crise mundialquero apostar on line2008, seu filho, com quase 16 anos, já pensavaquero apostar on lineentrar para o Exército. Antesquero apostar on lineser enviado para a Maré, ele chegou a servir por seis meses na Missãoquero apostar on linePaz das Nações Unidas no Haiti.

Segundo Michele, o trabalho no Rio foi o mais difícil. Quando ele foi morto, faltavam quatro dias para concluirquero apostar on linemissão. Ao longo dos dois mesesquero apostar on lineque serviu,quero apostar on linemãe notou uma rápida pioraquero apostar on lineseu comportamento, que atribui ao estresse do ambientequero apostar on line"guerra"quero apostar on lineque vivia na operação.

"Meu filho era muito fechadão, ele não se abria. Só que a gente percebeu, pelo comportamento dele, que ele mudou. Começou a ficar muito agressivo, muito nervoso, qualquer coisa ele estourava", lembra.

"Na penúltima vezquero apostar on lineque ele retornou para casa, eu tive uma crisequero apostar on linechoro, pedi que ele não voltasse (ao Rio). Mas foi o que ele disse: 'a partir do momento que a gente dá o nome para ir numa missão, não tem como retroceder'."

Após a morte do filho, Michele conta que a família teve acesso a registrosquero apostar on linevídeo da operação do Exército na Maré feitos por soldados. "Aí eu pude entender o porquê daquele comportamento. É coisaquero apostar on lineguerra. A gente via sacosquero apostar on lineareia no meio da cidade, e os meninos se escondendo, agachando. E era noite, a gente via rajadaquero apostar on linetiro passando por cima da cabeça deles."

Ação do Exército na Maréquero apostar on line2014
Legenda da foto, Ação do Exército na Maréquero apostar on line2014; contingentequero apostar on linecercaquero apostar on line3 mil militares ocupou parte do complexoquero apostar on line16 favelasquero apostar on lineabrilquero apostar on line2014 até junhoquero apostar on line2015 | Foto: Fernando Frazão/ Ag. Brasil

Nenhum condenado

A vozquero apostar on lineMichele embarga ao lembrar que ninguém foi condenado pela mortequero apostar on lineseu filho.

Há um processo criminal tramitando na Justiça Militarquero apostar on lineque seis homens, acusadosquero apostar on lineenvolvimento com o tráficoquero apostar on linedrogas, são apontados como os assassinos. Cinco deles estão foragidos, entre eles Tiago da Silva Folly, identificado como chefe do Terceiro Comando Puro, facção que domina parte da Maré.

Segundo a denúncia do Ministério Público Militar, o 1º pelotão, integrado por Mikami, fazia patrulhamento a pé pela Vila dos Pinheiros, quando foi acionado para dar apoio ao 2º pelotão, acuado então por tirosquero apostar on linetraficantes. Havia mais 13 militares envolvidos alémquero apostar on linecabo.

Durante essa ação, ele acabou atingido por um tiro no rosto. Segundo laudoquero apostar on linebalística, o projétil encrustado no capacete do militar eraquero apostar on linecalibre compatível, entre outros, com o fuzil AK-47quero apostar on lineorigem russa, armamento utilizado por traficantes.

"No calor do momento, alguns generais, comandantes do Exército, nos prometeram: 'a gente vai ficarquero apostar on linecima, não vai deixar que isso acabequero apostar on linepizza como tudo no Brasil'. Mas passaram três anos e caiu no esquecimento, infelizmente", lamenta a mãe.

Luta por indenização e punição

A família hoje luta na Justiça para receber uma indenização da União. Entre danos morais e materiais, a defesa solicita R$ 5,2 milhões. Em julho, a Justiçaquero apostar on lineCampinas determinou pagamentoquero apostar on lineR$ 500 mil - ambas as partes recorreram.

Na ação, a defesa da família argumenta que a operaçãoquero apostar on lineque o cabo morreu contava com número insuficientequero apostar on linehomens, o que o deixou vulnerável ao ataquequero apostar on linecriminosos. Sustenta também que Mikami não usava equipamento adequado paraquero apostar on linesegurança, criticando a qualidade do capacete e o fatoquero apostar on lineele portar uma arma não letal (balaquero apostar on lineborracha).

Ação do Exército no Rioquero apostar on line2018
Legenda da foto, Temer vem negando intenção política por trás da intervenção no Rio | Foto: Tomaz Silva/Ag. Brasil

A União, porquero apostar on linevez, nega ter responsabilidade sobre a mortequero apostar on lineMikami e diz que não há provasquero apostar on linecausalidade entre alguma ação ou omissão do Exército e seu falecimento. Argumenta também que o riscoquero apostar on linemortequero apostar on lineação é inerente à funçãoquero apostar on linemilitar. Sustenta ainda que não haveria equipamento capazquero apostar on lineevitarquero apostar on linemorte, já que o tiro atingiu seu rosto.

Uma sindicância interna do Exército concluiu que o militar não agiu com imprudência ou imperícia e classificouquero apostar on linemorte como um "acidentequero apostar on lineserviço". A instituição decidiu também promovê-lo postumamente a 3º wargento e conceder a Medalha do Pacificador com Palma, a maior honraria dada pelo Exército por atosquero apostar on linebravura. Também foi concedida à família uma pensãoquero apostar on linecercaquero apostar on lineR$ 3,5 mil.

'Ação política'

Para Michele, o anúncio da intervenção militar no Rioquero apostar on linepleno anoquero apostar on lineeleição presidencial é como uma reprise da ocupação do Exércitoquero apostar on lineque seu filho morreu.

"Eu vejo que isso é como enxugar gelo. É política. Em 2018 está se repetindo o que aconteceuquero apostar on line2014, porque era anoquero apostar on linereeleição. Mas infelizmente quem pagou por isso foi o meu filho."

O Exército não respondeu aos questionamentos da BBC Brasil sobre as críticas da família às condiçõesquero apostar on lineque Mikami atuava na Maré.

O presidente Michel Temer vem negando qualquer intenção política por trás da intervenção. Por meioquero apostar on linenota, a Presidência da República disse que a iniciativa "atendeu ao ditame constitucional que prevê a intervenção diante da grave ameaça da ordem" e "também responde à demanda do governador do Rioquero apostar on lineJaneiro, Luiz Fernando Pezão, e à expectativa da sociedade fluminense, que, por ampla maioria, apoia a medida".

O posicionamento ressalta ainda que a intervenção visa "garantir direitos individuais" da população do Rio "sistematicamente violados por ação do crime organizado que mantém parcela substantiva da população do estado sob o permanente constrangimento do medo e da violência".

Já a ex-presidente Dilma Rousseff disse, por meioquero apostar on linenota, que a ação militar na Maré durante o seu governo foi pontual e não se compara à intervenção decretada por Temer. Segundo ela, a operação sucedeu "um acirramento dos conflitos entre facções criminosas na Maré, levando a uma grave instabilidade e com consequências danosas e dolorosas para aquela população".

Dilma reiterou ainda o comunicado que divulgouquero apostar on line2014 lamentando a mortequero apostar on lineMikami "no cumprimento do dever" e expressou novamentequero apostar on line"dor e solidariedade à família e aos amigosquero apostar on lineMichel".