Corrupção policial viabiliza tráficoroleta de 1 a 60armas e é central na crise, diz procurador que investiga escalada da violência no Rio:roleta de 1 a 60

Exército policiando o Rio

Crédito, EPA

Legenda da foto, Para procurador, Exército nas ruas não resolve a dramática situação do Rio

Um dos objetivos do grupo criado por Dodge, diz ele, é descobrir o porquêroleta de 1 a 60a Polícia Federal não estar sendo efetiva na investigação do tráficoroleta de 1 a 60armas no Rio. O procurador não comentou os resultados colhidos até agora pela investigação, que é confidencial.

Procurador da República no Rioroleta de 1 a 60Janeiro José Maria Panoeiro
Legenda da foto, José Maria Panoeiro faz parteroleta de 1 a 60grupo criado na PGRroleta de 1 a 602017 para investigar violência no Rio | Foto: Luis Macedo/Ag. Câmara

Na última sexta-feira, o governo decretou uma intervenção federal na árearoleta de 1 a 60segurança do Rioroleta de 1 a 60Janeiro, cujo comando está sob responsabilidade do comandante militar do Leste, o general Walter Souza Braga Netto. Ela está programada para durar até o dia 31roleta de 1 a 60dezembro deste ano.

Para o procurador, os nove mesesroleta de 1 a 60atuação militar dificilmente resolverão o problema, "salvo se acontecer um milagre". Além do combate à corrupção policial, ele diz que uma solução mais definitiva passaria também pela urbanização das áreasroleta de 1 a 60favela. Sem isso, afirma, é muito difícil que o Estado consiga oferecer segurança aos moradores.

Há 14 anos no Ministério Público Federal, Panoeiro já trabalhouroleta de 1 a 60várias áreas. O caso mais famoso tocado por ele foi a investigação contra o ex-bilionário Eike Batista, aindaroleta de 1 a 602015. Em 2016, coordenou um gruporoleta de 1 a 60trabalho antiterrorismo da Procuradoria do Rio, durante as Olimpíadas. Antesroleta de 1 a 60se tornar procurador da República, ele exerceu os cargosroleta de 1 a 60promotorroleta de 1 a 60Justiça eroleta de 1 a 60delegado da Polícia Civil carioca.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Qual é o panoroleta de 1 a 60fundo da violência no Estado?

roleta de 1 a 60 José Maria Panoeiro - Me parece ser (entre outras causas) um problema diretoroleta de 1 a 60corrupção policial. Sem querer generalizar, mas há uma sérieroleta de 1 a 60atividades onde aparecem agentes do Estado dando cobertura a criminosos, recebendo remuneraçãoroleta de 1 a 60criminosos.

E isso fica patenteroleta de 1 a 60algumas operações que você tem, com as Forças Armadas cercando determinados territórios, com informes sobre a existênciaroleta de 1 a 60fuzis, e no final das contas a apreensão (de armas) é ínfima, beira o ridículo, ou não há nenhuma apreensão. O que significa que houve vazamentoroleta de 1 a 60informação. E vazamento da parteroleta de 1 a 60quem? Só pode ser da parteroleta de 1 a 60agentes do Estado.

Então, esse é um aspecto que é fundamental. Não tem como acreditar que esta quantidaderoleta de 1 a 60armas chega ao Rio sem que haja um mínimoroleta de 1 a 60conivênciaroleta de 1 a 60agentes do Estado que trabalham na árearoleta de 1 a 60segurança.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) começou a fazer bloqueios nas rodovias e começou a apreender fuzis e muniçãoroleta de 1 a 60sequência. (...) Se a PRF começa a encontrar fuzil, por que não eram encontrados antes? Porque estava havendo algum tiporoleta de 1 a 60acerto que nós não conseguimos ver, mas provavelmente havia algum tiporoleta de 1 a 60acerto corrupto por trás disso.

Militares armadosroleta de 1 a 60missão no Rioroleta de 1 a 60Janeiro

Crédito, EPA

Legenda da foto, Intervenção federal na segurança do Rio está programada para durar até o fim do ano

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - O que vocês investigam nesse Grupo Estratégico do Ministério Público Federal?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - O grupo foi criado (em outubro passado, pela procuradora-geral Raquel Dodge) para tentar fazer um diagnósticoroleta de 1 a 60quais são os problemas, e (explicar) por que é que o quadro chegou neste ponto. Entender por que é que quase não há investigaçãoroleta de 1 a 60tráficoroleta de 1 a 60armas, na Polícia Federal. Por que é que esses canaisroleta de 1 a 60investigação estão falhando.

Será que eles não estão produzindo um tiporoleta de 1 a 60informação que é inútil?

Do tipo: eu prendo um sujeito com vários fuzis na (Via) Dutra e simplesmente comunico isso para a Justiça Estadual, e vendo isso como um porteroleta de 1 a 60arma, como se fosse um cidadão qualquer que está circulando na rua com uma arma na cintura sem ter autorização para isso.

Quando na verdade a gente está dianteroleta de 1 a 60um transporte no contextoroleta de 1 a 60uma importação (de armas), ou seja: aquilo ali é uma condutaroleta de 1 a 60tráficoroleta de 1 a 60armas, que mereceria ser investigada para saber quem é o comprador, para onde vai,roleta de 1 a 60onde veio.

Mas faz-se um corte na informação e trata-se isso como o que não é: um porteroleta de 1 a 60armaroleta de 1 a 60fogo.

Então o foco do grupo é determinar onde estão os gargalos da investigação, que não se chega a bom termo e o crime vai, simplesmente, se expandindo.

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Há tanta corrupção no aparatoroleta de 1 a 60segurança do Rio quanto se diz?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - É difícil quantificar corrupção, mas eu vou te dar um exemplo bem simples.

Se você tem um agente policial, um inspetorroleta de 1 a 60polícia com um salário que giraroleta de 1 a 60tornoroleta de 1 a 60R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 8 mil que seja, esse sujeito não tem condiçõesroleta de 1 a 60alugar um jatinho para ir passar um finalroleta de 1 a 60semanaroleta de 1 a 60uma cidade no interiorroleta de 1 a 60São Paulo.

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Vocês já viram um caso desses?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - Já. A gente tem notícia (do acontecimento).

A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Raquel Dodge designou cinco procuradores para investigar a situação da segurança no Rioroleta de 1 a 60Janeiro

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Qual é a dificuldaderoleta de 1 a 60investigar corrupção policial?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - Concretamente, qual é o nosso problema? Imagine que você traga para o Ministério Público Federal o seguinte: "olha, eu acho que o agente fulanoroleta de 1 a 60tal é corrupto, porque ele ganha tanto e ostenta um patrimônio que é absolutamente incompatível".

Ok. É óbvio que, se o patrimônio é incompatível, é bastante provável que ele esteja envolvidoroleta de 1 a 60algum tiporoleta de 1 a 60prática criminosa (...). Mas (para denunciá-lo) por corrupção, eu teria que flagrar o sujeito no momentoroleta de 1 a 60que ele estivesse fazendo isso. E eu não vou ter essa prova.

Por isso, dentro daquelas Dez Medidas Contra a Corrupção, que a Câmara (dos Deputados) acabou enterrando (no fimroleta de 1 a 602016), uma delas era contra o enriquecimento ilícito. (Seria possível denunciar) todas as vezes que você tivesse um funcionário público com patrimônio absolutamente incompatível, e alguma ligação com uma atividade ilícita. Não precisaria necessariamente comprovar (que o servidor) praticou a atividade ilícita.

Mas por exemplo: eu tenho provaroleta de 1 a 60que o sujeito se relaciona com milicianos na Zona Oeste. E o sujeito está enriquecendo. Eu já poderia, a partir daí, se o patrimônio é incompatível, se não tem nenhuma razão para ele ter o patrimônio que tem, eu poderia sancioná-lo (punir) por enriquecimento ilícito (...). Agora, o Congresso não quis.

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - A intervenção federal na árearoleta de 1 a 60segurança fará bem ao Rio?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - A rigor, e pelo para mim, pessoalmente, é uma questão que é muito clara, a gente tem um problema no Rioroleta de 1 a 60Janeiroroleta de 1 a 60você ter diversos grupos criminosos que disputam um determinado espaço. E eles, ao longo dos últimos 20 anos, esses grupos vieram se armando cada vez mais para prosseguir nessa disputa por território (...).

O problema da violência do Rio, salvo melhor juízo, salvo se acontecer um milagre, a intervenção federal,roleta de 1 a 60nove meses, não vai conseguir corrigir um problema que vemroleta de 1 a 60pelo menos duas décadas, (que vem) se tornando mais agudo.

Policiais militaresroleta de 1 a 60operação no Rio

Crédito, EPA

Legenda da foto, 'A gente precisaria ter uma nova visãoroleta de 1 a 60polícia, menos suscetívelroleta de 1 a 60ser cooptada pela corrupção', sugere José Maria Panoeiro

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Operaçõesroleta de 1 a 60Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com as Forças Armadas na rua, são comuns no Rioroleta de 1 a 60Janeiro nos últimos anos. Funcionou?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - Na verdade, o problemaroleta de 1 a 60trabalhar com operaçõesroleta de 1 a 60Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é que toda vez que você faz uma intervenção mais vigorosa naquilo que seria a função da Polícia Militar, que seria o policiamento ostensivo, você naturalmente gera uma sensação maiorroleta de 1 a 60segurança (...).

Há uma retração naqueles crimes que as pessoas conseguem perceber mais facilmente (crimes violentos, roubos etc.), mas não quer dizer que não estejam acontecendo crimes como o tráficoroleta de 1 a 60armas, como o tráficoroleta de 1 a 60drogas.

Apenas esses crimes não ficam tão visíveis quanto são nas situaçõesroleta de 1 a 60que você não tem as operaçõesroleta de 1 a 60GLO.

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Qual a diferença do crime organizado do Rio para oroleta de 1 a 60outros Estados brasileiros?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - O PCC (em São Paulo) tem um monopólio. Por isso, não precisa se armar para manter o controle territorial. Ele se arma para praticar outros tiposroleta de 1 a 60delitos. Têm coisas que a gente não tem aqui no Rio, ou pelo menos não tinha, até bem pouco tempo. Roubo a carro-forte. Sempre teveroleta de 1 a 60São Paulo explosãoroleta de 1 a 60caixa eletrônico, que é algo que está chegando aqui agora.

Na operação Furacão (apuração da qual o MPF participouroleta de 1 a 602007, e que investigou a vendaroleta de 1 a 60sentenças no Judiciário do Rio) tem uma parte da investigaçãoroleta de 1 a 60que fica indicado ali que havia a posturaroleta de 1 a 60alguns agentes da segurança pública no sentidoroleta de 1 a 60meio que estimular uma briga entre as facções.

Nas interceptações (telefônicas) da investigação Furacão, foram flagrados alguns diálogos que davam a entender que eles estimulavam que houvesse um confronto entre as quadrilhas (Comando Vermelho, ADA),roleta de 1 a 60modo que nenhuma delas se tornasse suficientemente grande. Que elas brigassem entre si e nunca ameaçassem o status quo da cidade (...).

roleta de 1 a 60 BBC Brasil - Naroleta de 1 a 60opinião, o que pode ser feito para minorar o sofrimento da população do Rio?

roleta de 1 a 60 Panoeiro - É evidente que o aumento do policiamento ostensivo (como ocorrerá na intervenção) melhoraria a percepçãoroleta de 1 a 60segurança das pessoas. Então a gente precisaria ter uma nova visãoroleta de 1 a 60polícia, menos suscetívelroleta de 1 a 60ser cooptada pela corrupção (...).

Fora isso acho que há um problema concretoroleta de 1 a 60ocupação do espaço urbano e teria que haver uma intervenção da União. O que já foi pensado, não é nadaroleta de 1 a 60novo.

O PAC das Favelas propunha uma urbanização, nós tivemos na décadaroleta de 1 a 601990 o projeto Favela Bairro, que era tambémroleta de 1 a 60reurbanização. Porque é inviável oferecer serviçosroleta de 1 a 60segurança pública na comunidade se o Estado não tem como entrar na comunidade.