‘Fui protagonista’: bolsista que fez discurso duro sobre preconceito na formatura rejeita 'papelaposta ganha hojevítima':aposta ganha hoje

Michele Alves
Legenda da foto, Dianteaposta ganha hojeum auditório lotado, Michele Alves discursou pela resistência, contra o preconceitoaposta ganha hojenome dos alunos bolsistas | Foto: Michele Alves/Cortesia

Muita gente a aplaudiuaposta ganha hojepé na noite da formatura. Mas ela mesma diz que muitos ficaram incomodados.

A agora recém-formadaaposta ganha hojeDireito não citou o nome da professora no discurso nem fala quem é, mas diz ter ficado sabendo que ela estava na cerimônia.

"Nem sei se ela tem consciência do que fez. Mas o que professor diz na salaaposta ganha hojeaula tem um impacto muito grande, eu nunca esqueci. Marcou minha vida", contou, ponderando que teve "professores maravilhosos também".

Michele Alves vestindo beca
Legenda da foto, Michele Alves: 'Tem hora que tem que ser mais incisivo' | Foto: Michele Alves/Cortesia

Depois das lágrimas, as palavras da professora a fizeram tentar motivar amigos e vizinhos. "Passei a dizer às pessoas que não podem desistir, que têm que ocupar os espaços".

Filhaaposta ganha hojemãe solteira, Michele nasceu na Bahia e foi a primeira da família a entrar na faculdade. Quando conseguiu a vaga, tinha notícia apenasaposta ganha hojeuns primos distantes que fizeram curso superior.

Em 2007, quando tinha 12 anos, ela saiu da zona ruralaposta ganha hojeMacaúbas (BA) com a mãe para fazer um tratamento médicoaposta ganha hojeSão Paulo. "Tive uma depressão saindo da infância", contou. A irmã dela e o avô deixaram a Bahia meses depois para se juntar a elas.

Hoje ela vive com eles e com o padrastoaposta ganha hojeItapevi, na região metropolitanaaposta ganha hojeSão Paulo. Trabalhaaposta ganha hojeum escritório com direito administrativo e constitucional.

Apesaraposta ganha hojeadmitir que vive um momentoaposta ganha hojeincerteza, Michele diz estar decidida a inspirar alunosaposta ganha hojeescola pública. "Estão me convidando para falaraposta ganha hojeescolas públicas e eu vou com prazer".

Michele estudou a vida todaaposta ganha hojeescola pública. Fez um cursinho popular e ganhou uma bolsa para fazer outro e perseguir o sonhoaposta ganha hojeentrar na faculdade, ainda que a família achasse que era "loucura e coisaaposta ganha hojerico".

O Direito, contudo, não foi a primeira opçãoaposta ganha hojeMichele. Achava que a notaaposta ganha hojecorte era alta demais para ela. Primeiro ela foi para PUC Campinas cursar Ciências Sociais. Mas, durante o primeiro semestre, viu despertar o interesse por temas mais alinhados ao estudo do Estado. Um professor acabou a estimulando a mudaraposta ganha hojecurso.

Ela acabou passando para a PUC São Paulo e para a Universidade Federal do Rio. Preferiu ficar perto da família.

Sem dinheiro para o lanche

O choque ao pisar no campus da PUC na capital paulista, diz Michele, foi muito grande. "Por causa da burocracia, entrei um mês depoisaposta ganha hojeas aulas terem começado. Mas era completamente diferente", recorda, dizendo no cursoaposta ganha hojeCiências Sociaisaposta ganha hojeCampinas era muito menos elitizado e o númeroaposta ganha hojebolsistas era muito maior.

No começo, não fez nenhum amigo no Direito - se relacionava com bolsistasaposta ganha hojeoutros cursos,aposta ganha hojeespecial da Economia. Ouvia os colegasaposta ganha hojesala falandoaposta ganha hojeviagens à Europa,aposta ganha hojefestasaposta ganha hojeR$ 300. "E eu mal tinha dinheiro para comprar o lanche".

Michele Alves estudando
Legenda da foto, A ex-bolsista rejeita o papelaposta ganha hojevítima: 'Fui protagonista' | Michele Alves/Facebook

Não tinha também roupa social para ir às aulas que exigiam traje específico nem para as entrevistasaposta ganha hojeestágio. "Devo muito à família para quem minha mãe trabalhou, porque eles doaram algumas roupas."

A mãeaposta ganha hojeMichele trabalhou a vida toda na casa da mesma senhora, que morreu no ano passado. Agora, ela está com o irmão da antiga patroa. "Eles sempre foram muito bons pra gente."

Quando conheceu os bolsistasaposta ganha hojeDireito, diz que vida ficou melhor. Eles doavam livros, tinham dicasaposta ganha hojeestágios que eram menos rigorosos para selecionar candidatos que determinados escritórios e não exigiam, por exemplo, nível avançadoaposta ganha hojeinglês - que segundo ela é, talvez, um das maiores dificuldades para os bolsistas.

Ao longo do curso, conseguiu estágios que pagavam melhor que o salário da mãe ou a aposentadoria do avô. Conseguiu até fazer intercâmbio, graças a uma bolsa, na Universidade Católica da Argentina.

Estranhos

Michele admite que ela era mais radical e mais fechada no começo do curso. "Não conseguia chegar perto das pessoas que não tinham a mesma realidade que eu. Eu era tão estranha para eles quanto eles eram para mim", disse.

Com o tempo ela conta que aprendeu a "mudar o nívelaposta ganha hojeradicalidade". "Tem hora que tem que ser mais incisivo", diz, acrescentando que, alémaposta ganha hojeencontrar tom adequado, o mais importante é encontrar a hora certaaposta ganha hojefalar verdades.

A formatura foi um desses momentos. Diz que a participação dos bolsistas foi negociada com a comissão que organizou o evento. Ganharam ingressos e o direitoaposta ganha hojefazer um discurso.

"Não esperava reação positiva por parte dos colegas. Tem gente falando que 90% aplaudiuaposta ganha hojepé, e não acho que foi tudo isso. Eu fiquei tão atordoada que não observei. Mas sei que muita gente se sentiu incomodada, que virou temaaposta ganha hojedebateaposta ganha hojefamília."

Valsa

Michele discursou e foi ao baile também. Dançou valsa com a mãe que, segundo ela, ficou muito assustada com o barulho que as palavrasaposta ganha hojeMichele estão fazendo as redes sociais a pontoaposta ganha hojepedir à filha para "dar um tempo" e pararaposta ganha hojeler todos os comentários que tem recebido.

Além dos elogios e cumprimentos, Michele tem lido na internet comentários que,aposta ganha hojecerta forma, reproduzem o discurso preconceituoso e discriminador similar ao que enfrentou durante os anosaposta ganha hojefaculdade.

Em relação aos colegas, pondera que não sabe se as recorrentes "piadas sobre pobres e as críticas sobre as esmolas do governo", para citar as palavras que usou no discurso, eram conscientes. "Muitas daquelas pessoas não tiveram contato com pessoas como eu, com uma históriaaposta ganha hojeluta social, não tiveram a mesma realidade", diz, dando o beneficio da dúvida aos que estudaram com ela.

Mas Michele rejeita o papelaposta ganha hojevítima: "Fui protagonista".

E o futuro? Para Michele, ainda é incerto. Ela gosta do trabalho que faz no escritórioaposta ganha hojeadvocacia, mas pensaaposta ganha hojetentar ser defensora pública. No entanto, diz que não tem condiçõesaposta ganha hojepararaposta ganha hojetrabalhar para estudar para o concurso.