‘O professor pagava meu almoço’: a jovemdeposito de 1 real betperiferia aprovadadeposito de 1 real betum dos vestibulares mais difíceis do país:deposito de 1 real bet

Barbara da Costa
Legenda da foto, A estudante Bárbara da Costa viajou para o Rio para fazer a matrícula com passagem comprada com as milhasdeposito de 1 real betum professor | Foto: Ricardo Borges/BBC Brasil

O perfildeposito de 1 real betBárbara destoa da grande maioria dos aprovados no instituto - e nos cursos mais disputados das demais instituiçõesdeposito de 1 real betensino superior do país -, egressosdeposito de 1 real betescolas particulares edeposito de 1 real betclasse média e alta.

Ela é a primeira pessoa da família a entrar na faculdade. A avó e a mãe, com quem moravadeposito de 1 real betuma casa simples, trabalharam praticamente a vida inteira fazendo faxinas.

Ela estudou até a 8ª sériedeposito de 1 real betuma escola estadual do bairro perifério da Vila União, cujo Índicedeposito de 1 real betDesenvolvimento Humano (IDH),deposito de 1 real bet0,467, equivale a pouco mais da metade do registradodeposito de 1 real betFortaleza, 0,732,deposito de 1 real betacordo com dadosdeposito de 1 real bet2014 compilados pela prefeitura.

O indicador é construído a partirdeposito de 1 real betdadosdeposito de 1 real betrenda, saúde e educaçãodeposito de 1 real betcada região; quanto mais próximodeposito de 1 real bet1, mais desenvolvida ela é.

No fim do ensino fundamental,deposito de 1 real bet2012, Barbara disputou com outros 400 jovensdeposito de 1 real betbairros carentes uma das 20 bolsas custeadas por uma ONGdeposito de 1 real beteducação. Se fosse selecionada, poderia cursar o ensino médiodeposito de 1 real betuma escola particular. Vencidas as nove etapas do processo, Bárbara foi matriculada no ano seguinte.

De ônibus, o trajeto até a nova saladeposito de 1 real betaula, no centrodeposito de 1 real betFortaleza, eradeposito de 1 real betmais ou menos uma hora. Tempo que ela considera razoável, já que o namorado - também bolsista do mesmo programa - acordava às 4 da manhã para irdeposito de 1 real betCaucaia, cidade-satélite da capital, a Fortaleza.

O nível da turma era alto, ela lembra, mas os anosdeposito de 1 real betestudos para Olimpíada Brasileiradeposito de 1 real betMatemática das Escolas Públicas (Obmep) - sempre por conta própria, já que a mãe sempre a deixara "muito solta" - ajudaram no primeiro ano.

Com bom desempenho, ela conseguiu uma vaga nas turmas especiais preparatórias para os vestibulares do IME, que têm mais aulasdeposito de 1 real betmatemática, física e química.

"Foi um baque, tirei o primeiro 4 da minha vida,deposito de 1 real betfísica. Foi horrível", ela conta. Bárbara abriu mão das olimpíadasdeposito de 1 real betmatemática para se concentrar no pré-vestibular e as notas melhoraram. Na primeira tentativa, ela foi aprovadadeposito de 1 real betengenharia na Universidade Federal do Ceará (UFC), mas queria mais.

Pit stop no GP da Malásia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Bárbara quer fazer mecânicadeposito de 1 real betautomóveis e sonhadeposito de 1 real bettrabalhar na Fórmula 1

O problema é que a bolsa financiada pela ONG só se estendia até o terceiro ano do ensino médio. A escola topou custear o curso extensivo. No primeiro ano, contudo, o maldeposito de 1 real betParkinson que acometia o avô piorou. A mãe paroudeposito de 1 real bettrabalhar para cuidar dele.

O orçamento da família, que já era apertado, ficou ainda mais restrito. Um dos remédiosdeposito de 1 real betuso contínuo custava R$ 35 por semana. "Isso era muito pra gente".

O avô faleceu e, depois daquele ano difícil, Bárbara não fez boas provas.

A pressão para que a jovem começasse a trabalhar aumentou - a aposentadoria do avô era parte importante da renda doméstica - e, no segundo anodeposito de 1 real betcursinho, a escola ofereceu a Bárbara uma vaga no alojamento que mantém para hospedar alunos carentes vindos do interior do Ceará edeposito de 1 real betoutras partes do país com potencialdeposito de 1 real betaprovação. "Isso ajudou a me afastar um pouco dos problemas".

Um dos professores pagou seu almoço durante todo o ano letivo e outro contribuía com algumas despesas esporádicas com as quais ela não conseguia arcar.

O professor Max foi buscar Bárbara no dia da mudança - para surpresa dele, restrita a uma mochila e um sacodeposito de 1 real betsupermercado. "A casa era um espaço entre dois imóveis, um vãodeposito de 1 real betdois ou três metros, que a família cobriu e colocou uma porta improvisada. Sem estrutura nenhuma", ele lembra.

'Aos 21 anos, eu não sabia somar frações'

A realidade não era tão diferente da história do próprio professor. Max nasceudeposito de 1 real betCanindé, no interior do Ceará, e cresceu numa viladeposito de 1 real betque os moradores dividiam todos o mesmo banheiro. "Em casa não tinha uma mesa, eu estudava na rede", conta.

Em 1992 prestou o primeiro vestibular para História e, no início do curso, descobriu que era apaixonado por matemática. "Aos 21 anos, eu não sabia somar frações. Comecei a estudar sozinho, o que me abriu a possibilidade para que começasse a dar aulas particulares para ganhar algum dinheiro".

Fórmulasdeposito de 1 real betmatemática

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Legenda da foto, 'Em casa não tinha uma mesa, eu estudava na rede', diz o professordeposito de 1 real betmatemática

Ele mudoudeposito de 1 real betcurso, virou professordeposito de 1 real betuma escola pública e, pouco tempo depois, foi convidado por uma escola particular - para dar aulasdeposito de 1 real betciências.

No esforço para adquirir conhecimento por conta própria, resolvia dezenasdeposito de 1 real betprovas. Foi assim que descobriu os testes do ITA, entre os mais difíceis do país. "A primeira vez que peguei uma prova, não sabia resolver uma questão. Pensei na hora: 'opa, é isso aqui mesmo que eu quero'".

O que começou como desafio virou vocação. Há 20 anos ele é titular das turmas especiais do pré-vestibular.

"Também tive gente que acreditoudeposito de 1 real betmim".

Desigualdadedeposito de 1 real betoportunidades

Histórias como a do professor Max e adeposito de 1 real betBárbara são exceções. "Muito do futurodeposito de 1 real betquem nasce no Brasil está determinado por suas condições socioeconômicas quando nasce", diz o pesquisador do Insper Naercio Menezes Filho, estudioso dos temasdeposito de 1 real beteducação, mercadodeposito de 1 real bettrabalho e desigualdade.

"A diferença entre o sistema públicodeposito de 1 real beteducação e as escolas privadas, entre outras razões, alimenta uma desigualdadedeposito de 1 real betoportunidades que é enorme no país", acrescenta.

Para se ter uma ideia, ele exemplifica, filhosdeposito de 1 real betpais analfabetos têm 3%deposito de 1 real betchancedeposito de 1 real betconcluir o ensino superior - percentual que cresce para 70% quando os os pais passaram pela universidade.

A escolaridade, pordeposito de 1 real betvez, é determinante para definir o níveldeposito de 1 real betrenda e até onde o saláriodeposito de 1 real betcada um pode chegar. No Brasil, a remuneração médiadeposito de 1 real betquem tem ensino médio completo édeposito de 1 real betR$ 1 mil, valor que salta para R$ 4,6 mil para quem conseguiu concluir uma faculdade.

Engenheira da Fórmula 1

Bárbara sabe que é uma dessas exceções estatísticas, mas isso não a impededeposito de 1 real betsonhar alto.

Barbara da Costa
Legenda da foto, 'Muita gente não teve as mesmas oportunidades', diz a jovem | Foto: Ricardo Borges/BBC Brasil

"Eu não gosto que me coloquem limite", ela disse, inicialmente se referindo ao fatodeposito de 1 real betque muita gente da família e do bairro torceu o nariz quando ela disse que queria ser engenheira.

Apaixonada por carros, quer trabalhar na Fórmula 1. Ao longo da infância e da adolescência ela sempre se imaginou nos boxes que via nas transmissões das corridas pela televisão, trabalhando nos carros que passam pelo pit stop.

"Eu sei, é sonhar alto, mas me deixem sonhar!", ela diz, rindo.

Com o olho grudado na tela, nos ziguezagues que parecem intermináveis para quem não gosta do esporte, ela ouvia da mãe e da avó: "Barbara, aprende a fazer as coisasdeposito de 1 real betcasa, aprende, porquedeposito de 1 real betalgum momento você vai casar e nao vai saber fazer nada".

Insistiam para que ela escolhesse uma carreira "mais feminina", que fosse pediatra ou professora. "Eu acho que, quanto mais baixa é a classe social, maior é o machismo", comenta.

O resultado da aprovação saiu no dia 6deposito de 1 real betdezembro. Depoisdeposito de 1 real betcomemorar, a ficha caiu. "Pronto, passei. Agora não tenho dinheiro pra um exame (médico), pra uma passagem", conta, com bom humor.

O professor Max juntou suas milhas e comprou-lhe o tíquete para o Riodeposito de 1 real betJaneiro. O diretor da escola descobriu e resolveu pagar os exames médicos exigidos pelo instituto.

"Eu tive muitas oportunidades e gente que acreditoudeposito de 1 real betmim. Muita gente não teve as mesmas oportunidades que eu, sei disso". Aos amigos, por isso, ela aconselha que agarrem as chances sempre que elas aparecerem.

A jovem optou pelo IME, onde está matriculada como oficial da ativa, por conta do salário que a universidade paga aos alunos durante os 5 anosdeposito de 1 real betcurso - além, claro, da possibilidadedeposito de 1 real betcursar mecânicadeposito de 1 real betautomóveis.

Ela moradeposito de 1 real betum alojamento dentro do instituto, localizado na Praia Vermelha, no bairro da Urca.

Bárbara quer mandar parte da renda mensal para a mãe e a avó, guardar um pouquinho para comprar uma passagem "de volta" para Fortaleza - para visitar a família e o namorado, aprovadodeposito de 1 real betengenhariadeposito de 1 real betuma faculdade pública do Ceará - e economizar para comprar, no futuro, uma casa melhor para a avó - o que, para ela, é "o maior sonho".