O que faz o Brasil ter a maior populaçãopixbet originaldomésticas do mundo:pixbet original
Os resultados demonstram a predominância das mulheres negras ao longo do tempo.
Em 1995, havia 5,3 milhõespixbet originaltrabalhadores domésticos no Brasil. Desses, 4,7 milhões eram mulheres, sendo 2,6 milhõespixbet originalnegras e pardas e 2,1 milhõespixbet originalbrancas. A escolaridade média das brancas erapixbet original4,2 anospixbet originalestudo, enquanto que das afrodescendentes erapixbet original3,8 anos.
Vinte anos depois,pixbet original2015, a população geral desses profissionais cresceu, chegando a 6,2 milhões, sendo 5,7 milhõespixbet originalmulheres. Dessas, 3,7 milhões eram negras e pardas e 2 milhões eram brancas. O nível escolar das brancas evoluiu para 6,9 anospixbet originalestudo, enquanto que, no caso das afrodescendentes, chegou a 6,6 anos.
"Ainda hoje o trabalho doméstico é uma das principais ocupações entre as mulheres, que são a maioria no setorpixbet originaltodo o mundo, cercapixbet original80%. No Brasil, permanece sendo a principal fontepixbet originalemprego entre as mulheres", diz Claire Hobden, especialistapixbet originalTrabalhadores Vulneráveis da OIT.
Em 2017, o trabalho doméstico respondeu por 6,8% dos empregos no país e por 14,6% dos empregos formais das mulheres. No começo da década, esse tipopixbet originalserviço abarcava um quarto das trabalhadoras assalariadas.
Legado da escravidão
O professor e pesquisador americano David Evan Harris é um dos especialistas que defendem que o cenário do trabalho doméstico no Brasil atual é herança do período escravagista.
"O Brasil foi um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão. Se olharmos para quem são as empregadas, veremos que elas tendem a ser pessoaspixbet originalcor", diz o acadêmico, formado pela Universidade da Califórniapixbet originalBerkeley, nos EUA, e mestre pela USP.
"Analisando cidades como Rio e São Paulo, percebe-se que as domésticas muitas vezes são pessoas que migraram do Norte e Nordeste para o Sul e Sudeste. E, como se sabe, o Nordeste é para onde boa parte das populaçõespixbet originalescravos foi originalmente trazida. Há uma situaçãopixbet originaldinâmica geográfica, histórica e social que continua até hoje."
Segundo a historiadora e escritora Marília Buenopixbet originalAraújo Ariza, mesmo após a abolição,pixbet original1888, mulheres e homens negros continuaram sendo servos ou escravos informais, o que também deixou seu legado no mercadopixbet originaltrabalho.
As domésticaspixbet originalhoje são majoritariamente afrodescendentes porque "justamente eram essas pessoas que ocupavam os postospixbet originaltrabalho mais aviltados na saída da escravidão e na entrada da liberdade no pós-abolição", afirmou ela à BBC Brasil.
A ideiapixbet originalter um servo na família era muito comum, mesmo entre quem não era rico e vivia nas regiões semiurbanas do século 19, segundo Ariza.
"A escravidão brasileira foi diversa, mas foi sobretudo uma escravidãopixbet originalpequena posse. No Brasil, todo mundo tinha escravos. Quando as pessoas tinham dinheiro, elas compravam escravos com muita frequência."
Em São Paulo, por exemplo, muitas famílias - mesmo as relativamente pobres, muitas delas chefiadas por mulheres brancas - "tinham uma ou duas escravas domésticas para realizar afazeres na casa ou na rua".
'Racismo estrutural'
Ariza acredita que o Brasil do século 21 herdou do passado colonial, imperial e escravista uma "profunda desigualdade na sociedade que não foi resolvida" e "um racismo estrutural".
"Essas duas coisas combinadas nos levam a um quadro contemporâneo que usa racionalmente o trabalho doméstico porque ele é mal remunerado e, até recentemente, não tinha quaisquer direitos reconhecidos", resume.
A ratificação pelo Brasil da Convenção Internacional sobre Trabalho Doméstico (convenção 189 da OIT) ocorreu neste mêspixbet originalfevereiro e foi considerada um avanço na proteção dos direitos desses trabalhadores.
O compromisso vem no lastro da adoção da emenda constitucional 72pixbet originalabrilpixbet original2013, conhecida como a "PEC das Domésticas", e da lei complementar 150pixbet original2015, iniciativas para coibir a exploração, dar mais amparo e formalização ao emprego.
"Apesar dos esforços dos governos recentespixbet originaltrazer essas empregadas para a formalidade, o que se vê hoje é o aumento da informalidade", pondera o professor e doutorpixbet originalHistória pela Universidade Federal do Riopixbet originalJaneiro (UFRJ) Carlos Eduardo Coutinho da Costa.
Napixbet originalvisão, que as relações sociais do trabalho doméstico não têm necessariamente vínculo com a escravidãopixbet originalsi, mas, sim, com a dinâmica racial que se estabeleceu após a alforria, a partirpixbet original1888.
"Era muito comum tanto no pós-abolição imediato, quanto ainda nos diaspixbet originalhoje, as pessoas dizerem (a negros e pobres): 'ponha-se no seu lugar'. Mas que lugar é esse ao qual os pobres pertencem?", indaga.
"Quando acabou a escravidão, todas aquelas relaçõespixbet originaldominação caíram por terra. Foi um período muito próximo do fim da monarquia também, então todas as relações se modificaram e ficaram pairando no ar. Foi necessário criar uma ordem para manter a hierarquia, e a solução encontrada foi a racialização das relações."
Para isso, diz ele, foram criados mecanismos na sociedade brasileira "para impedir que certo grupo ascendesse socialmente, porque havia o desejopixbet originalconstruir no Brasil essa relaçãopixbet originalclasse".
Já que o trabalho formal é um meiopixbet originalascensão, as oportunidades nesse âmbito foram administradas por um viés racial, no qual negros foram encaminhados aos postos inferiores, mais precarizados, para que não evoluíssem economicamente, diz Coutinho da Costa.
"Se você pegar os anúnciospixbet originalvagas daquela época vai perceber que a maior parte especificava a cor da pessoa. Eram empregos normalmentepixbet originalsubalternidade,pixbet originaltrabalhopixbet originalfaxineira, copeira, cozinheira, e pedia-se literalmente assim: procura-se mucama da cor preta para trabalharpixbet originalafazeres domésticos", exemplifica.
"Isso foi se perpetuando na história. Se pararmos pra pensar, até a décadapixbet original60 ainda se buscavam pessoas pela cor. Quando isso caipixbet originaldesuso porque pega mal, abandona-se a terminologia cor e passa-se a usar a expressão 'boa aparência', mas o efeito é o mesmo: impedir que um certo grupo tenha acesso ao emprego formal."
Desigualdade
Empixbet originaltesepixbet originalmestrado na USP, o pesquisador americano David Evan Harris comparou a relação da sociedade com os trabalhadores domésticos no Brasil e nos Estados Unidos. Para ele,pixbet originalambos os países os empregados são explorados, apesar das diferenças culturais.
No Brasil, diz Harris, predomina o discurso da proximidade afetiva, na qual a empregada é tratada "praticamente como se fosse alguém da família". Já nos EUA, elas costumam ser terceirizadas e recrutadas via empresaspixbet originalserviçospixbet originallimpeza. Essa profissionalização daria o distanciamento necessário para que a "culpa" e o "constrangimento moral" das famílias americanas por causa da desigualdade social fossem mitigados.
"Se formos observar os diferentes países ao redor do mundo e quantos serviçais eles têm, ou quão predominante a ocupação doméstica é, veremos, grosso modo, que o númeropixbet originalempregadas por porcentagem da população corresponde ao nívelpixbet originaldesigualdade daquele país", afirma Evans.
"Há dois fatores majoritários que são muito importantes para avaliar se um país vai ter uma grande populaçãopixbet originalserviçais. Primeiro, desigualdade e, segundo, acesso a educaçãopixbet originalqualidade pública, para que as pessoas consigam alcançar oportunidades que vão além do trabalho doméstico."
De acordo com a OIT, os Estados Unidos têm 667 mil empregados domésticos, cercapixbet originalum décimo do Brasil. Lá, porém, o setor também tem nichospixbet originalinformalidade, e imigrantes não documentados ficampixbet originalfora das estatísticas.
Oficialmente, a segunda nação com maior númeropixbet originaltrabalhadores domésticos no mundo é a Índia, com 4,2 milhõespixbet originalpessoas. A OIT admite, entretanto, que muitos empregados não estão registrados e, considerando-se o tamanho da população, o total verdadeiro poderia chegar a dezenaspixbet originalmilhões, ultrapassando o Brasil.
As cinco maiores concentraçõespixbet originaltrabalhadores domésticos ocorrempixbet originalnações com marcante contraste social. No ranking da OIT, após o Brasil e a Índia vem a Indonésia (2,4 milhões), seguida pelas Filipinas (1,9 milhão), pelo México (1,8 milhão) e pela África do Sul (1,1 milhão). É importante ressaltar que a China não fornece estatísticas confiáveis sobre o assunto.
Todos esses países que figuram entre os maiores empregadorespixbet originalserviço doméstico são nações com coeficientespixbet originaldesigualdade que variam entre médio e alto, segundo o rankingpixbet originaldesenvolvimento humano organizado pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (UNDP).
A OIT não chega a afirmar que haja uma dinâmicapixbet originalcausa e consequência, mas reconhece que ambos os aspectos - alta incidênciapixbet originaltrabalho doméstico e desigualdade social - estãopixbet originalalguma forma relacionados.