O que pode detonar uma epidemia urbananetbetcasinofebre amarela:netbetcasino

Aedes aegypti

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Se populaçãonetbetcasinoAedes aegypti crescer, também aumentará o risconetbetcasinotransmissão urbana da febre amarela

Diante desse cenário, a BBC Brasil conversou com especialistas para saber o que poderia causar um surtonetbetcasinofebre amarela nas cidades do país. A faltanetbetcasinocontrole do Aedes e uma sérienetbetcasinofatores seriam necessários para que isso ocorresse. Confira:

Mosquito Sabethes
Legenda da foto, A diferença entre a febre amarela urbana e a silvestre está nos mosquitos que transmitem o vírusnetbetcasinocada ambiente | Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Como saber se a contaminação foi 'silvestre' ou 'urbana'?

Uma das diferenças centrais entre a febre amarela urbana e a silvestre está nos mosquitos que transmitem o vírusnetbetcasinocada ambiente.

Enquanto nas florestas insetos dos gêneros Haemagogus e Sabethes disseminam a doença, nas cidades o Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya, é a espécie com potencialnetbetcasinotransmissão do vírus.

Vale lembrar que os mosquitos silvestres têm predileção por sanguenetbetcasinomacacos e o Aedes, pelo humano - essas preferências vemnetbetcasinomilhõesnetbetcasinoanosnetbetcasinoevolução e adaptação genética desses dois tiposnetbetcasinoinseto.

De acordo com pesquisador Ricardo Lourenço, chefe do LaboratórionetbetcasinoMosquitos TransmissoresnetbetcasinoHematozoários do Instituto Oswaldo Cruz, será necessário fazer três tiposnetbetcasinoinvestigação para determinar se o homemnetbetcasinoSão Bernardo do Campo foi infectado pelo mosquito Aedes aegypti:

- Mapear a rotina do paciente, para saber se ele passou por zonas onde existe a presençanetbetcasinomosquitos silvestres,netbetcasinomacacos ounetbetcasinooutras pessoas infectadas. É o que os infectologistas chamamnetbetcasinoinvestigação epidemiológica.

- Detectar o momento exatonetbetcasinoapresentação dos primeiros sintomas, para estimar o momentonetbetcasinoque houve a contaminação pela picada do mosquito.

- Coletar e examinar mosquitos que habitam as áreas por onde o homem infectado passou, para verificar quais espécies apresentam o vírus - a chamada investigação "entomológica".

A partir dessas análises seria possível, segundo Lourenço, identificar se mosquitos silvestres ou urbanos infectaram o paciente.

Mosquito Sabethes
Legenda da foto, Mosquitos silvestres têm capacidade muito maiornetbetcasinotransmitir a febre amarela | Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz

O que seria necessário para um Aedes aegypti se infectar e transmitir febre amarela?

Segundo o pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, alguns fatores combinados precisam estar presentes para que o Aedes aegypti passe a transmitir febre amarela nas cidades.

Primeiro, seria preciso que uma pessoa infectada com alta concentração do vírus no sangue entrassenetbetcasinouma área com grande infestaçãonetbetcasinoAedes aegypti. É importante lembrar que um mosquito não necessariamente é infectado ao picar uma pessoa doente, ou contrai uma quantidade suficiente do vírus para passá-lo adiante.

E, para que o vírus se propague a pontonetbetcasinocausar um surto urbano, os Aedes infectados por essa primeira pessoa teriam que estar próximos a populações humanas vulneráveis a ele, ou seja, que não tenham tomado a vacina.

Após ser picado, o ser humano só mantém o vírusnetbetcasinoconcentração suficiente para infectar mosquitos por dois ou três dias, diz Lourenço.

Uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz mediu a capacidade do Aedes aegyptinetbetcasinotransmitir o vírus da febre amarela. Para realizar os testes, os pesquisadores coletaram ovos dos mosquitos nas cidades enetbetcasinoáreasnetbetcasinomata do RionetbetcasinoJaneiro, Manaus e Goiânia. O estudo mostrou que ele é capaznetbetcasinopassar a doença, masnetbetcasinoeficiência como vetor varianetbetcasinoacordo com a populaçãonetbetcasinoinsetos.

Os Aedes aegypti do RionetbetcasinoJaneiro apresentaram o maior potencialnetbetcasinodisseminar a febre amarela, com 10% dos mosquitos apresentando partículas do vírus na saliva 14 dias após a alimentação por sangue infectado. Ou seja, pelo estudo, a cada 100 mosquitos que picassem uma pessoa infectada, 10 se contaminariam.

Daí a necessidadenetbetcasinovários fatores combinados para a disseminaçãonetbetcasinomeio urbano, como quantidade suficientenetbetcasinovírus no sangue do ser humano infectado e presençanetbetcasinomuitos Aedes para picar esse ser humano e retransmitir a doença no meio urbano.

Ainda assim, a capacidadenetbetcasinotransmissão do vírus pelos mosquitos urbanos verificada na pesquisa é considerada preocupante pelos pesquisadores.

"Os dados apontaram que os insetos fluminenses das espécies Aedes aegypti são altamente suscetíveis a linhagens virais no Brasil. A competência vetorial dos mosquitos Aedes também foi verificadanetbetcasinoManaus e,netbetcasinomenor grau,netbetcasinoGoiânia. O achado reforça a importâncianetbetcasinomedidas preventivas, como a vacinação e o controle do Aedes aegypti", diz Lourenço.

Os mosquitos silvestres têm capacidade muito maiornetbetcasinotransmitir a febre amarela. Segundo o estudo do Instituto Oswaldo Cruz, o percentualnetbetcasinoHaemagogus do RionetbetcasinoJaneiro infectados chegou a 20%. Entre os Sabethes locais, esse percentual alcançou 31%.

Controle da populaçãonetbetcasinoAedes é essencial

O professor Aloisio Falqueto, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), diz que a populaçãonetbetcasinomosquito Aedes aegypti existente hoje no Brasil ainda é, por enquanto, considerada pequena para ser capaznetbetcasinoprovocar uma epidemianetbetcasinofebre amarela urbana.

Segundo ele,netbetcasinoperíodosnetbetcasinochuvas e calor- ambiente mais propício para proliferaçãonetbetcasinomosquitos -, a existêncianetbetcasinofocosnetbetcasinoAedes alcança até 5% das casas brasileiras. Na África, onde há epidemianetbetcasinofebre amarela urbana, esse percentual varianetbetcasino20% a 40%.

Inspeção contra foconetbetcasinomosquito no Brasil
Legenda da foto, Em períodonetbetcasinochuvas e calor, a existêncianetbetcasinofocosnetbetcasinoAedes alcança 5% das casas brasileiras | Foto: Erasmo Salomão/MS

"Se tivesse uma densidade grandenetbetcasinoAedes no Brasil, existiria a condiçãonetbetcasinodisseminar a doença na cidade. Por enquanto, a densidade baixa do mosquito não permitiu que a doença se disseminasse."

Falqueto destaca, porém, que é preciso manter açõesnetbetcasinocombate ao mosquito para evitar que o risconetbetcasinoepidemia urbana aumente.

"No Brasil, raramente chegamos a ter 5% das casas com foconetbetcasinoAedes. Mas esse já seria um nível crítico. A partir daí a gente teria que se preocupar com o vírusnetbetcasinotransmissão urbana."

O Ministério da Saúde diz que é "baixa" essa possibilidadenetbetcasinotransmissão. De acordo com a pasta, as açõesnetbetcasinovigilância com capturanetbetcasinomosquitos urbanos e silvestres não encontraram, até o momento, presença do vírus no Aedes.

"Já há um programa nacionalmente estabelecidonetbetcasinocontrole do Aedes aegyptinetbetcasinofunçãonetbetcasinooutras arboviroses (dengue, zika, chikungunya), que consegue manter níveisnetbetcasinoinfestação abaixo daquilo que os estudos consideram necessário para sustentar uma transmissão urbananetbetcasinofebre amarela", disse a pasta,netbetcasinonota.

"Além disso, há boas coberturas vacinais nas áreasnetbetcasinorecomendaçãonetbetcasinovacina e uma vigilância muito sensível para detectar precocemente a circulação do vírusnetbetcasinonovas áreas para adotar a vacinação oportunamente."

Mosquito Sabethes
Legenda da foto, Por enquanto, o Brasil só vem registrando casosnetbetcasinocontaminação por mosquitos silvestres | Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocuz

Medidasnetbetcasinoprevenção

Como o tamanho da populaçãonetbetcasinoAedes aegypti determina o risconetbetcasinocontaminação por febre amarela, os pesquisadores ressaltam que é essencial a participação da população para prevenir o aumento do númeronetbetcasinomosquitos nas cidades e nos quintaisnetbetcasinocasas pertonetbetcasinomatas.

Homem sendo vacinado

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Vacinar populaçõesnetbetcasinoáreasnetbetcasinorisco é essencial para evitar risconetbetcasinocontaminação urbana do Aedes aegypti, segundo especialistas

"Com esse numeronetbetcasinocasosnetbetcasinofebre amarela pipocando, se por alguma razão as densidadesnetbetcasinoAedes aumentarem, o risconetbetcasinofebre amarela urbana aumentaránetbetcasinomaneira assustadora", diz o médico infectologista Eduardo Massad, professor da UniversidadenetbetcasinoSão Paulo (USP).

É preciso estar atento ao acúmulonetbetcasinoágua paradanetbetcasinogarrafas, pratosnetbetcasinoplantas e outros objetos deixadosnetbetcasinojardins e varandas, assim como fazer a manutençãonetbetcasinocalhas e manter caixas d'água e outros depósitos vedados.

Os especialistas do Instituto Oswaldo Cruz também recomendam que o Brasil considere exigir a imunizaçãonetbetcasinopessoas vindasnetbetcasinopaíses que são alvonetbetcasinofebre amarela, sobretudo da África, onde há a doençanetbetcasinocentros urbanos. O país já exige Certificado InternacionalnetbetcasinoVacinação a pessoas vindasnetbetcasinoAngola e da República Democrática do Congo.

Além disso, vacinar populaçõesnetbetcasinoáreasnetbetcasinorisco é essencial para evitar a proliferação da doença, segundo os pesquisadores.

"Eliminar os criadouros e controlar a proliferação do Aedes aegypti é uma medida importante para evitar a reemergência da febre amarela urbana no Brasil, além da questão básica e já amplamente conhecidanetbetcasinoele ser também responsável pela transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya", diz Dinair Couto Lima, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz e uma das autoras da pesquisa sobre mosquitos transmissores.