'Foi o pior ano da minha vida': Famíliasbonus bata 1xbetcrianças mortas por balas perdidas no Rio cobram Justiça:bonus bata 1xbet
"Esse ano não tem Natal, não tem Ano-novo, não tem nada. Acabou. Eu vivia para ela, trabalhava para ela ter um futuro melhor", diz a mãebonus bata 1xbetMaria Eduarda, Rosilene Alves Ferreira,bonus bata 1xbet53 anos, que está prestes a se mudar da casa onde morava com a filha. "Ela era a minha caçulinha. Dormia comigo, acordava comigo."
"Essa desgraçabonus bata 1xbetano infeliz tem que acabar. Foi o pior ano da minha vida ebonus bata 1xbetmuita gente", diz o paibonus bata 1xbetVanessa, o pedreiro Leandro Monteirobonus bata 1xbetMatos,bonus bata 1xbet39 anos, que contratou um advogado para entrar com uma ação contra o Estado. A família acusa a polícia pela morte da menina.
"Eu não quero a indenização. Eu quero uma investigação bem feita, que prenda os culpados e que faça Justiça. Nada foi feito até agora", diz.
Ele afirma que não foi realizada perícia no local após a mortebonus bata 1xbetsua filha, e a reconstituição do crime, que seria feita para compensar isso, até hoje não ocorreu.
Escaladabonus bata 1xbetviolência
Neste ano "infeliz", o Rio viu os indicadoresbonus bata 1xbetviolência terem uma escalada constantebonus bata 1xbetmeio à grave crise financeira estadual.
De acordo com o Institutobonus bata 1xbetSegurança Pública (ISP), o Estado registrou 4.882 homicídios dolosos entre janeiro e novembro, contra 4.578 no mesmo períodobonus bata 1xbet2016 e 3.478 nos mesmos meses do ano anterior.
De 2015 para 2017, os casosbonus bata 1xbetletalidade violenta - que soma as mortes causadas por homicídios, latrocínios, lesão corporal seguidabonus bata 1xbetmorte e autosbonus bata 1xbetresistência - pularambonus bata 1xbet4.188 para 6.173, considerando-se apenas o período entre janeiro e novembro. Em dois anos, o aumentobonus bata 1xbetmortes violentas foibonus bata 1xbet47,3%.
Os casosbonus bata 1xbetbala perdida estão dispersos dentro dessas estatísticas. O Rio não contabiliza esses casos separadamente. Bala perdida não configura uma categoria jurídica, e as ocorrências são registradas como homicídios ou lesão corporal, dependendo dos efeitos e das circunstâncias apuradas nas investigações.
Assim, o principal termômetro para o aumento do númerobonus bata 1xbetcasos é a frequênciabonus bata 1xbettiroteios na cidade.
"Enquanto você tiver confronto armado, vai ter casosbonus bata 1xbetbala perdida. Não existe ter tiroteio e só atingir quem está participandobonus bata 1xbetáreas densamente povoadas como as do Rio", afirma o sociólogo Ignacio Cano, professor da Universidade do Estado do Riobonus bata 1xbetJaneiro (Uerj), ressaltando que não se pode falarbonus bata 1xbetreduzir balas perdidas sem uma política que priorize a reduçãobonus bata 1xbetconfrontos armados ebonus bata 1xbethomicídios.
O aplicativo Fogo Cruzado, desenvolvido pela Anistia Internacional para mapear os episódiosbonus bata 1xbetviolência armada, registrou 5.453 episódiosbonus bata 1xbettiroteios ou disparosbonus bata 1xbetarmasbonus bata 1xbetfogo na Grande Rio entre janeiro e novembro. O número equivale a cercabonus bata 1xbet16 tiroteios por dia, ou um a cada hora e meia.
De janeiro para cá, o aplicativo registrou 529 operações policiais no Estado - uma médiabonus bata 1xbet44 operações por mês.
'Operações são necessárias'
O secretário estadualbonus bata 1xbetSegurança Pública, Roberto Sá, diz que 2017 "não foi um ano trivial" e que os desafios que vem enfrentando desde que assumiu o cargo,bonus bata 1xbetoutubrobonus bata 1xbet2016, com o Estado já sob decretobonus bata 1xbetcalamidade pública financeira, sãobonus bata 1xbetmonta muito maior do que imaginava.
Diante da crise e dos recursos escassos, entretanto, ele afirma que a polícia tem se fortalecido a aprimorado a gestão e o planejamento.
Sá diz que, desde 2016, o Estado perdeu 2 mil policiais militares e 500 policiais civis (a maioria por aposentadoria), deixoubonus bata 1xbetpoder oferecer bônus por cumprimentobonus bata 1xbetmetas oubonus bata 1xbetpagar horas extras para aumentar o contingente nas ruas e vem trabalhando com 40% do orçamento.
"Mesmo com todas essas restrições orçamentárias, conseguimos aumentar os mandadosbonus bata 1xbetprisão. A polícia continua trabalhando", diz.
Roberto Sá afirma que a prioridade da ação policial não são as operações, "mas elas infelizmente ainda são necessárias", "com toda a cautela", quando o setorbonus bata 1xbetinteligência detecta a possibilidadebonus bata 1xbetdisputa entre quadrilhas.
"Eu concordo que não vale a pena nenhuma perdabonus bata 1xbetvida para apreender uma pistola. Mas são variáveis que nem sempre o Estado domina", avalia ele.
"A ação do Estado está sendo qualificada o máximo possível para proteger a sociedade. Eu falo isso para eles (os policiais da corporação). Nós não podemos aumentar o risco. A polícia não pode produzir o risco. A polícia tem que minimizar o risco para proteger a sociedade, a população", afirmou Sá na semana passada,bonus bata 1xbetum evento para a imprensa internacional no Rio.
'Parece que estamos adormecidos'
Desde 2007, a ONG Riobonus bata 1xbetPaz contabiliza o númerobonus bata 1xbetcriançasbonus bata 1xbetaté 14 anos mortas por bala perdida. Foram 42 casos ao longo dos últimos 11 anos.
A explosãobonus bata 1xbetocorrências nos últimos três anos é gritante: dez crianças por anobonus bata 1xbet2016 e 2017, e sete criançasbonus bata 1xbet2015. Entre 2007 e 2014, registraram-se um, dois ou no máximo três casos a cada ano.
"Um caso desses já deveria fazer a cidade parar. Acho que a faltabonus bata 1xbetindignação denota a presençabonus bata 1xbetuma patologia social. Parece que estamos adormecidos", diz Antonio Carlos Costa, fundador da ONG.
Para ele, a seletividade geográfica da violência no Rio explica parte dessa apatia. A grande maioria dos casos acontecebonus bata 1xbetbairros da zona norte do Rio e nos municípios da Baixada Fluminense. "Se essas mortes acontecessem no Leblon,bonus bata 1xbetIpanema ou na Barra, aí sim, parariam o Riobonus bata 1xbetJaneiro. Como quem está morrendo é pobre, a situação é ignorada."
"Vivemos a pior crise dos últimos dez anos. A percepção da população é que a polícia perdeu o controle, o que é corroborado pelos números."
Em meio a um cenário "caótico", Costa diz que falta vontade política para reagir a diagnósticos antigos, como o fracasso da guerra às drogas, a necessidadebonus bata 1xbetuma reforma dentro da polícia e o foco no combate à desigualdade social.
Membro do Laboratóriobonus bata 1xbetAnálise da Violência da Uerj, Ignacio Cano acompanha o cenáriobonus bata 1xbetsegurança pública no Rio desde 1996. Nabonus bata 1xbetavaliação, a situação atual é "muito melhor" que abonus bata 1xbetmeados dos anos 1990, período tido como o mais violento do Estado.
"Mas estamos mal porque estamos evoluindobonus bata 1xbetforma negativa, com quatro anosbonus bata 1xbetdeterioração ebonus bata 1xbetaumentobonus bata 1xbetviolência. E a violência continua aumentando, contribuindo para esse cenáriobonus bata 1xbetagora", diz.
O quadrobonus bata 1xbetviolência é resultadobonus bata 1xbetum acúmulobonus bata 1xbetproblemas, desde os cortesbonus bata 1xbetrecursos para Segurança Pública e o aumentobonus bata 1xbetcriminalidade propiciado pela crise econômica nacional à guerra entre facções criminosas para expandir seus territórios e o declínio das UPPs nas favelas do Rio. E, também, o alto índicebonus bata 1xbetletalidade policial, aponta Cano.
"Quando a polícia morre muito, também tende a matar mais", considera. Neste ano, 129 policiais militares foram assassinados no Rio.
Operações 'com toda a cautela'
Perguntado pela BBC Brasil se a quantidadebonus bata 1xbetoperações policiais realizadasbonus bata 1xbetfavelas não estaria causando mortes por bala perdida, o secretáriobonus bata 1xbetSegurança Pública ressalta que as tropas são orientadas a não produzir risco para a sociedade.
Depois da comoção gerada pela morte da menina Maria Eduarda na escola, ele destaca a criaçãobonus bata 1xbetum grupobonus bata 1xbettrabalho envolvendo organizações como a Cruz Vermelha, a Unicef (agência da ONU para a infância), a Secretaria Municipalbonus bata 1xbetEducação e as polícias do Estado para criar protocolos para ação policialbonus bata 1xbetáreas sensíveis - resultando na Instrução Normativa Número 1, publicada no "Diário Oficial"bonus bata 1xbetagosto.
As diretrizes estabelecem, entre outros pontos, que operações policiaisbonus bata 1xbetáreas sensíveis devem reger-se pelos princípiosbonus bata 1xbetpreservação da vida ebonus bata 1xbetrespeito aos direitos humanos.
De acordo com as orientações, ações pertobonus bata 1xbetlocais como creches, hospitais e escolas devem ser realizadas, "sempre que possível",bonus bata 1xbetmodo a "evitar preferencialmente os horáriosbonus bata 1xbetmaior fluxobonus bata 1xbetentrada e saída", e sem postar viaturas nas entradas e no interiorbonus bata 1xbettais estabelecimentos, "de maneira a evitar que os mesmos (locais) tornem-se alvosbonus bata 1xbetpotencialbonus bata 1xbetinfratores armados".
No dia 30bonus bata 1xbetmarço, Maria Eduarda havia saído da aula educação física para beber água quando foi atingida por três tirosbonus bata 1xbetfuzil dentro da Escola Jornalista e Escritor Daniel Piza. Caiu ensanguentada no pátio do colégio, com o uniforme da rede municipalbonus bata 1xbetensino do Rio. O Ministério Público estadual denunciou dois PMs, acusadosbonus bata 1xbetassumir o riscobonus bata 1xbetmatar ao trocar tiros na direção da escola.
De lá para cá, entretanto, a mãe dela, Rosilene, diz que nada mudou na Pedreira, favelabonus bata 1xbetAcari onde mora, na zona norte do Rio - denunciando, segundo afirma, a dinâmicabonus bata 1xbetuma polícia que "entra atirando".
Semana passada, ela conta que estava saindo da igreja com a mãe idosa e levando no colo sobrinhobonus bata 1xbetum ano e nove meses quando os tiros começaram.
"Estava vindo um caveirão (como são conhecidas as viaturas do Batalhãobonus bata 1xbetOperações Policiais, o Bope) atrásbonus bata 1xbetmim e não tinha visto. Foi muito tiro", diz Rosilene, que se jogoubonus bata 1xbetuma vala com o bebê no colo e arrastando a mãe para se proteger.
"Eles entram e não olham onde estão atirando. Veem suspeitabonus bata 1xbetalguma coisa e saem atirando. Aqui é uma comunidade com creche, com escola, as crianças estãobonus bata 1xbetférias brincando na rua. Mas eles não querem saber, não. A coisa está pior. Depois da minha bebê, quantas outras crianças não se foram esse ano?"
Rosilene diz que o que matou a Maria Eduarda não foi uma bala "perdida". "Ela foi assassinada. A polícia deu maisbonus bata 1xbet60 tirosbonus bata 1xbetdireção à escola. Ela foi atingida na nuca, uma na cabecinha e outra pegou no bumbum, e saiu pela perninha. O Estado não mandou matar a minha filha. Mas ele foi imprudente e tirou a vida da minha filha dentro da escola. Ela era uma menina pura, sem maldade", diz.
Nos próximos dias, ela se muda para o novo imóvel, um lugar "ajeitadinho" perto da Taquara, na zona oeste do Rio, a "três ônibusbonus bata 1xbetdistância"bonus bata 1xbetonde mora. Rosilene quer passar o Natal longe da casa povoada com memórias da filha.
O apartamento foi um presente da prefeitura depois da comoção gerada pelo caso. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), compareceu ao enterrobonus bata 1xbetMaria Eduarda. "Ele falou que ia me tirar daqui, do meio dos tiros", conta.
'Cada dia é um pedacinhobonus bata 1xbetnós'
Rosilene entrou com uma açãobonus bata 1xbetresponsabilidade civil contra o Estado pela mortebonus bata 1xbetMaria Eduarda, pedindo reparação dos danos sofridos. De acordo com o escritóriobonus bata 1xbetadvocacia João Tancredo, a ação estábonus bata 1xbetfasebonus bata 1xbetprodução das provas ebonus bata 1xbetbreve será marcada uma audiência para ouvir testemunhas.
A família da pequena Vanessa também está recorrendo à Justiça para pedir reparação. No caso ocorrido na localidade Boca do Mato, como não houve perícia nem reconstituição do crime, a família aguarda, ansiosa, uma conclusão que produza provas sobre as circunstânciasbonus bata 1xbetsua morte.
"Independentebonus bata 1xbetter sido um policial ou um suposto traficante, o Estado tem culpa por ter entrado numa casa onde estavam duas crianças e ter dado tiros", diz o paibonus bata 1xbetVanessa, Leandro Monteirobonus bata 1xbetMatos.
Matos diz que a família não recebeu qualquer tipobonus bata 1xbetassistência ou apoio após a morte da filha. Ele tem mantido contato regular com familiaresbonus bata 1xbetoutras vítimasbonus bata 1xbetviolência, fóruns importantes para trocasbonus bata 1xbetinformações e apoio. Afirma que o Estado tem sido "totalmente omisso" e que é essencial conhecer seus direitos para poder cobrá-los.
Tiabonus bata 1xbetVanessa, Tatiana Lopes diz que a madrinha da criança tentou impedir a entrada dos policiais na casa, pedindo que a deixassem entrar para tirar a afilhadabonus bata 1xbetlá.
"Ela perguntou: 'Vanessa, você está aí dentro?' E a Vanessa respondeu: 'Tô, madrinha, mas tô com muito medo.' Eles ouviram a voz dela, mas entraram atirando mesmo assim", diz Tatiana, que é trabalha como merendeira concursadabonus bata 1xbetuma escola da prefeitura.
"Eles pensam que na favela mora só bandido. Mas não. Mora gentebonus bata 1xbetbem. Temos trabalho, temos vida. Somos a sociedade", diz Tatiana, quebonus bata 1xbetjulho deu um depoimento emocionado na porta do Instituto Médico Legal, enquanto a família esperava a liberação do corpobonus bata 1xbetVanessa, questionando sebonus bata 1xbetbairros da zona sul do Rio a polícia "entraria atirando na casabonus bata 1xbetalguém", um desabafo que viralizou nas redes sociais.
Ela considera que a visibilidade foi importante para que o caso não fosse abandonado, mas diz que as investigações não avançaram até hoje. Clama por ação. "Alguém tem que dar um basta. Falo isso por todas as balas perdidas. Mas eu não sei quem, porque o Estado está falido e não faz nada para diminuir essa violência."
"Enquanto isso, cada dia, é um pedacinhobonus bata 1xbetnós que vai embora. Agora foi um pedação. Minha sobrinha, muito meiga, muito querida", lamenta.