De testes com cães a 'medobetfair bonus gratisdeixar cair', as histórias por trás do 1º transplantebetfair bonus gratiscoração no Brasil:betfair bonus gratis

Euclydes Marques
Legenda da foto, Para Euclydes Marques, brasileiros poderiam ter sido primeiros do mundobetfair bonus gratistransplante, com mais “vontadebetfair bonus gratistransgredir” | Foto: Divulgação Incor

"Poucas semanas depois, o sul-africano fez o primeiro transplante."

Marques fazia parte da equipe do cirurgião cardíaco Euryclidesbetfair bonus gratisJesus Zerbini e foi o responsável pela pesquisa e pelos experimentos que culminariam no transplante brasileirobetfair bonus gratismaiobetfair bonus gratis1968 - apenas cinco meses depois do realizado pelo médico sul-africano Christiaan Barnard.

Na época, conta Marques, diversas equipesbetfair bonus gratistodo o mundo, principalmente na Universidadebetfair bonus gratisStanford, nos Estados Unidos, estudavam métodos para conseguir retirar o coraçãobetfair bonus gratisum doador e implantá-lobetfair bonus gratisum paciente com grave insuficiência cardíaca com sucesso.

A maior parte dos experimentos eram feitosbetfair bonus gratiscães, pela facilidadebetfair bonus gratisconseguir os animais.

"Nunca tivemos intençãobetfair bonus gratistirar um animal vivo desse experimento. O sucesso era quando a circulação do sangue voltava, o coração batia, o animal acordava e andava, mesmo morrendo depois", conta.

"Hoje não faria, não gostobetfair bonus gratisexperiências com animais. Mas na época estávamos entusiasmados pelo transplante. E minha justificativa ética é que aqueles cães seriam sacrificados pela prefeitura numa câmara a vácuo. Morrer anestesiado era melhor."

Transplante cardíacobetfair bonus gratisJoão Ferreira da Cunha
Legenda da foto, Transplante precisava ser realizado com pacientes doador e receptor próximos, porque não havia como preservar órgão fora do corpo | Foto: Reprodução Acervo Noedir Stolf

Corrida pelo pioneirismo

Assim como outros médicos que faziam parte da equipe comandada por Zerbini, Marques diz que o time brasileiro estava apto a aplicar a técnica aperfeiçoada pelo americano Norman Shumway,betfair bonus gratisStanford, que seria o verdadeiro "injustiçado" na competição para ser o pioneiro.

"Shumway era o verdadeiro pai do transplante, mas cometeu um erro estratégico", relembra o médico.

Naquela época, o coração tinha que sairbetfair bonus gratisum e entrar no outro. Não havia como preservá-lo fora do corpo. Por isso, era preciso ter o doador e o receptor do órgão o mais perto possível. De preferência, ao mesmo tempo.

"Aí, ele anunciou que esperaria o momentobetfair bonus gratisque um paciente precisandobetfair bonus gratistransplante estivesse no hospital, usando uma bombabetfair bonus gratiscirculação sanguínea, e aparecesse um doador com morte cerebral. Ele estaria esperando essa coincidência até hoje", ironiza.

Barnard, cirurgião sul-africano que havia estudado com Shumway, decidiu selecionar pacientes que pudessem esperar algum tempo pelo órgão. E conseguiu criar a condição necessária para a operação.

"Aqui também estávamos fazendo o mesmo. Cercabetfair bonus gratisdez doentes graves escolhidos para o transplante morreram antes que aparecesse um doador. Foi aí que perdemos a oportunidadebetfair bonus gratissermos os primeiros", diz Marques.

"Tivemos uma reunião no dia seguinte à notícia sobre Barnard. O professor Zerbini me disse: 'seu m*rda! O sul-africano fez o transplante! Agora vamos fazer'. Foi quando ele finalmente comprou a briga."

Por causa da competição, o pioneirismobetfair bonus gratisBarnard foi questionado por parte da comunidade científica, que o considerou "oportunista". O médico brasileiro, no entanto, acha que o sul-africano apenas aceitou correr os riscos.

Membrosbetfair bonus gratisequipebetfair bonus gratistransplante no Hospital das Clínicas
Legenda da foto, Operações-teste eram realizadasbetfair bonus gratiscachorrosbetfair bonus gratisuma pequena sala do Hospital das Clínicas, por uma equipebetfair bonus gratisestudantesbetfair bonus gratisEuclydes Marques (canto inferior direito da foto) | Foto: Reprodução Acervo Incor

"Na ciência tem muito dessas espertezas. Aqui eram todos catedráticos, professores. Foi zelo pelos pacientes, sem dúvida, mas também pela carreira deles. Eu era um moleque, tinha muito a ganhar e nada a perder", diz.

"Respeito muito a atitude que eles tiveram, mas faltou um pouquinhobetfair bonus gratisvontadebetfair bonus gratistransgredir. Para progredir é preciso transgredir."

Um morto na UTI

A "vontadebetfair bonus gratistransgredir" da equipebetfair bonus gratiscirurgiões começou já na fasebetfair bonus gratisexperimentos, num períodobetfair bonus gratisque a verba para a pesquisa era ainda mais escassa nas universidades do país.

"O professor Zerbini conseguiu uma salinha vazia no Hospital das Clínicas para operarmos os cachorros. Aquela sala, na verdade, é onde nasceu o Incor", diz Marques.

"Mas na época, tinha que fazer com o que a gente tinha na mão. No hospital, não iam me dar nem uma tesoura se eu pedisse. Então eu e meus estudantes roubamos tudo. Andávamos com pinça dentro da camisa, empurrávamos carrinho à noite no túnel usado para transportar os cadáveres. Demorou menosbetfair bonus gratisum mês."

O pequeno centro cirúrgico dos cães logo se tornou conhecido, e cobiçado, por ser mais bem equipado do que o destinado a humanos. Zerbini fez vista grossa à ousadia dos estudantes.

Livre para contar as histórias após o falecimento da maioria dos ex-chefes, Marques diz que os corredores do hospital também testemunharam outras manobras arriscadas que contribuíram para o avanço da medicina no Brasil.

"Eu fui instruído por Zerbini a esperar a meia-noite, para não dar na vista, pegar o coraçãobetfair bonus gratisum paciente doador morto, tirá-lo do corpo e deixá-lo batendo artificialmente, com a ajuda da máquina, por uma hora. Precisávamos saber o que acontecia com o tecido cardíaco quando fazíamos isso por algum tempo", explica.

"Fiz o procedimento algumas vezes, mas, na última delas, o coração sustentou bem a circulação. Então, resolvi colocá-lobetfair bonus gratisvolta no paciente e fechar tudo. O paciente tinha morte cerebral, mas eu o leveibetfair bonus gratisvolta para a UTI, sem ninguém saber."

Médicos brasileiros da equipebetfair bonus gratisEuriclydes Zerbini com Christian Barnard
Legenda da foto, Equipe chefiada por Zerbini (canto inferior esquerdo da foto) foi a quinta a fazer um transplantebetfair bonus gratiscoração no mundo, meses após o sul-africano Christiaan Barnard (canto inferior direito) | Foto: Reprodução Acervo Noedir Stolf

Na manhã seguinte, Marques mostrou a Zerbini o resultado da experiência. "O professor teve um siricotico, mas eu argumentei que a família já tinha cedido os órgãos do paciente. Aí ele chamou outro médico e disse: 'olha aí ó, esse coração foi colocadobetfair bonus gratisnovo, rapaz, e está batendo! Vamos fazer logo esse transplante!'.

Uma semana depois, seria a vezbetfair bonus gratisJoão Ferreira da Cunha, conhecido como João Boiadeiro.

No dia 28betfair bonus gratismaiobetfair bonus gratis1968, às 04h50 da manhã, funcionários do Hospital das Clínicas preparavam o corpobetfair bonus gratisum homembetfair bonus gratis30 anos mortobetfair bonus gratisum atropelamento para a doaçãobetfair bonus gratisórgãos. Às 06h25, seu coração era retirado. Às 10h25, o órgão já estava no corpo do boiadeiro João Ferreira da Cunha,betfair bonus gratisacordo com jornais da época.

Horas depois, o então governadorbetfair bonus gratisSão Paulo, Roberto Sodré, cumprimentou a equipe. Pouco depois, assinou o decreto que viabilizaria o Instituto do Coração (Incor) - que é hoje o primeirobetfair bonus gratisnúmerobetfair bonus gratistransplantes cardíacos no país, e o 7º do mundobetfair bonus gratisnúmerobetfair bonus gratisoperações do tipobetfair bonus gratisadultos.

"Zerbini batalhava pelo Instituto do Coração há pelo menos 10 anos, mas não saía. Coincidentemente, quando fizemos o transplante, saiu a liberação da verba."

Transplante cardíacobetfair bonus gratisJoão Ferreira da Cunha
Legenda da foto, Sucessobetfair bonus gratisoperação estimulou liberaçãobetfair bonus gratisverba para criaçãobetfair bonus gratisInstituto do Coraçãobetfair bonus gratisSão Paulo | Foto: Reprodução Acervo Noedir Stolf

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Jornais e revistas da época cobriram exaustivamente o passo a passo do transplante - um cinegrafista e um fotógrafo estavam presentes na operação, que foi feitabetfair bonus gratisduas salas contíguas. Uma para a equipe do doador, e outra para a equipe do receptor.

"Todo mundo ficava ansioso, todo o povo acompanhou. Mas quando acabamos o transplante, Zerbini e eu fomos para o vestiário trocar a roupa e ele disse pra mim: 'Euclydes, eu nunca me diverti tanto'", conta Marques, emocionado.

Em meio à ansiedade, os médicos também encontraram espaço para piadas. Um deles, encarregadobetfair bonus gratislevar o órgãobetfair bonus gratisuma bandeja até sala onde ele seria transplantado, disparou: "Ai, e se esse negócio cai?". Todos riram.

"Muita gente queria assistir a operação, entravam e saíam da sala", relembra Noedir Stolf, cirurgião e pesquisador sênior do Incor, que era alunobetfair bonus gratisEuclydes Marques e também estava presente.

"Algunsbetfair bonus gratisnós até ficamos meio espremidos."

Membrosbetfair bonus gratisequipebetfair bonus gratistransplante no Hospital das Clínicas
Legenda da foto, Após “euforia” inicial e três transplantes, procedimento deixoubetfair bonus gratisser feito no país, e retornaria nos anos 1980 | Foto: Reprodução Acervo Incor

João Boiadeiro se recuperou bem da cirurgia, mas viveu apenas 28 dias, 10 dias a mais do que o primeiro pacientebetfair bonus gratisChristiaan Barnard,betfair bonus gratisconsequência da rejeição ao órgão.

A equipe ainda realizou mais dois transplantes nos meses seguintes - um dos pacientes, Ugo Orlandi, chegou a viver 15 meses, uma surpresa na época.

"Fizemos o segundo transplante,betfair bonus gratisUgo Orlandi, na metadebetfair bonus gratis1968 e eu me casei no iníciobetfair bonus gratis1969. Ele foi ao meu casamento", relembra o cirurgião Sergiobetfair bonus gratisAlmeida, da BP - A Beneficência Portuguesabetfair bonus gratisSão Paulo, que também era da equipebetfair bonus gratisZerbini.

"E eu lembro que ele foi mais procurado do que o noivo. Era fascinante ver uma pessoa vivendo com um coração que não era o dela."

O diagnóstico da rejeição, segundo Almeida, é uma das principais mudanças no procedimento desde então. "Hoje conseguimos fazer com muita precocidade. Na época, a gente tratava o paciente quando a crise já estava manifesta."

A taxabetfair bonus gratisrejeição entre os primeiros pacientes era tão alta que passou a desencorajar as cirurgias.

Membrosbetfair bonus gratisequipebetfair bonus gratistransplante no Hospital das Clínicas
Legenda da foto, Equipe médica do Incor ficou conhecidabetfair bonus gratistodo o Brasil após transplante | Foto: Reprodução Acervo Incor

De acordo com Noedir Stolf, foram realizados 102 transplantes cardíacos a partirbetfair bonus gratismaiobetfair bonus gratis1968, mas 60% dos pacientes morreram até o fim daquele ano. No ano seguinte, só 50 procedimentos foram feitos. Ebetfair bonus gratis1971, apenas 10.

"Passou a euforia inicial, que só iria voltar nos anos 1980, depois que surgiram materiais aperfeiçoados e a ciclosporina, um medicamento mais eficiente para combater a rejeição", explica.

Segundo Euclydes Marques, o procedimento também "saiubetfair bonus gratismoda" entre os médicos, para dar lugar a outra estrela - o desentupimento das artérias coronárias.

"A cirurgia das artérias virou a vedete dos cirurgiões cardíacos porque ela resolvia muito bem o problema e tinha muita gente precisando. Se fosse por mim, eu teria continuado. Deveria ter pedido ao Zerbini: 'não pode deixar só um leito pra irmos fazendo, só pra não parar?' Mas eu não tive coragembetfair bonus gratispedir, era tímido", disse Marques.

Muita organização e poucos recursos

De acordo com a Associação Brasileirabetfair bonus gratisTransplantebetfair bonus gratisÓrgãos, o coração é o terceiro órgão mais transplantado no Brasil, ficando atrás somente do rim e do fígado.

De acordo com o Global Observatory on Donation and Transplantation, órgão ligado à OMS, o Brasil se tornou,betfair bonus gratis2016, o terceiro país do mundobetfair bonus gratisnúmero absolutobetfair bonus gratistransplantes cardíacos com 357 procedimentos, atrásbetfair bonus gratisEstados Unidos e França.

Em números relativos à população, no entanto, o país está apenasbetfair bonus gratis32º lugar. Os EUA ficambetfair bonus gratis2º e a França,betfair bonus gratis4°.

Segundo o cirurgião Fábio Jatene, vice-presidente do Conselho Diretor do Incor, espera-se que o número chegue a 370betfair bonus gratis2017, mas ele deveria ser muito maior.

No Brasil, segundo Jatene, 33 centros são credenciados para transplantes do tipo, mas apenas cinco conseguem fazer mais do que 20 por ano. O baixo númerobetfair bonus gratisdoadoresbetfair bonus gratisórgãos ainda é um dos desafios.

"A conscientização das pessoas sobre a eficiência do procedimento vem crescendo. E na medidabetfair bonus gratisque os transplantes vem acontecendo, o governo se manifesta oferecendo transporte aéreo. Mas 42% dos órgãos que poderiam não são doados por recusa da família", diz.

Eletrocardiogramasbetfair bonus gratisJoão Ferreira da Cunha
Legenda da foto, Evoluçãobetfair bonus gratispaciente foi acompanhada pela imprensa durante semanas; ele morreu 28 dias após a operação,betfair bonus gratisconsequência da rejeição do órgão | Foto: Reprodução Acervo Noedir Stolf

Maisbetfair bonus gratis90% dos procedimentos no país, segundo o Ministério da Saúde, são realizados pelo Sistema Únicobetfair bonus gratisSaúde (SUS). Os cirurgiões entrevistados pela reportagem elogiam o modelo brasileiro e a eficiência do controlebetfair bonus gratisdoaçãobetfair bonus gratisórgãos no país, mas dizem que a baixa remuneração pelas cirurgias impede que mais sejam feitas.

"O SUS paga cercabetfair bonus gratisR$ 50 mil pelo procedimento contando o hospital e a equipe. Mas a depender do caso, o custo do tratamento pode ser muito maior, com o usobetfair bonus gratisdispositivos para manter a circulação no paciente, por exemplo. Paga-se relativamente pouco para o trabalho que dá, os centros não ficam motivados", diz Noedir Stolf.

"O Incor consegue fazer muitos procedimentos, mas outros hospitais fazem muito pouco, têm poucos recursos. A proposta do SUS nesse sentido é muito boa e a organização é exemplar. Nos EUA por exemplo, quase não se faz pelo sistema públicobetfair bonus gratissaúde. Quem não tem dinheiro, não faz. Mas aqui não tem recurso para tudo."