Por que a sensaçãobwin todaycrise persiste mesmo com a recuperação da economia?:bwin today

Operáriobwin todayfábrica
Legenda da foto, Aumento da produção e da importaçãobwin todaymaquinário estão entre os bons sinais que a indústria vem dando nos últimos meses | Foto: Ricardo Almeida/ANPr

A primeira reação, tímida, apareceu nos números do terceiro trimestre. Depoisbwin todaychegarem a 15,3% do PIB, o menor resultado da série disponibilizada pelo IBGE, que começabwin today1995, os investimentos subiram a 16,1% do produto.

O emprego também vem registrando números melhores. Mesmo assim, o país ainda contabiliza maisbwin today12 milhõesbwin todaydesempregados - e é esse dado que explicabwin todaygrande parte porque, para muita gente, a crise continua.

"As pessoas tendem a ter uma percepção muito negativa do futuro ao finalbwin todayuma recessão, o que faz com que não percebam que a economia já estábwin todayrecuperação - e uma percepção muito otimista no finalbwin todayuma grande expansão, o que faz com que não prevejam a recessão iminente", pondera Marcelle Chauvet, professora da Universidade da California Riverside e especialistabwin todayciclos econômicos.

Recessãobwin todaybalanço

O Brasil experimentou um avanço do crédito sem precedentes entre 2003 e 2014, lembra a professora da Universidade Federal do Riobwin todayJaneiro (UFRJ) Margarida Gutierrez.

O aumento do endividamentobwin todayempresas e famílias nesse período - uma dinâmica que não havia sido observada antes das outras oito recessões que o Brasil teve desde 1981 - ao mesmo tempobwin todayque contribuiu para o crescimento no ciclobwin todayexpansão, comprometeu a capacidadebwin todayconsumo ebwin todayinvestimento durante a crise e na saída dela.

"É o que a literatura chamabwin todaybalance sheet recession, recessãobwin todaybalanço", destaca.

Carteirabwin todaytrabalho
Legenda da foto, Em ciclosbwin todayrecuperação, o emprego é a variável que reagebwin todayforma mais defasada, especialmente aquele com carteira assinada | Foto: Pedro Ventura/Ag. Brasil

O peso do consumo das famílias no PIB recuou por dois anos consecutivos. Cresceu 0,2% no primeiro trimestrebwin today2017, 1,2% entre abril e junho, com a ajuda da liberação dos saldos inativos do FGTS, e outros 1,2%bwin todayjulho e setembro.

Depoisbwin todayum longo inverno digerindo as dívidas, o orçamento das famílias começa a dar sinaisbwin todayque ganha espaço para o consumo. Acompanhados pelo Banco Central, os níveisbwin todayendividamento ebwin todaycomprometimento da renda têm melhorado nos últimos meses - o primeiro estima a dívidabwin todayproporção à renda anual e o último, a parcela do rendimento mensal destinada ao pagamento dos débitos.

A redução dos juros ao longo deste ano tem um efeito positivo duplo, ainda que defasado: ele barateia as novas concessõesbwin todaycrédito e pode aliviar as parcelasbwin todaydívidas mais antigas.

"O consumo das famílias será o motor da retomada", diz o diretorbwin todayEstudos e Políticas Macroeconômicas do Institutobwin todayPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldobwin todayCastro Souza Júnior.

O caminho, contudo, é longo. Neste ano, a economia deve crescer 0,7%, estima o órgão. Com a altabwin today2,6% projetada para 2018, diz o diretor, seria preciso que a economia avançasse expressivos 4,3%bwin today2019 para voltar ao nível pré-crise.

Investimentos

Os efeitos da política monetária expansionista - a redução da taxa Selic pelo BC ao longobwin today2017 - também devem se manifestar sobre os investimentos, o componente que mais recuou no PIB durante a crise.

Os primeiros sinais apareceram nos números que o IBGE divulgou nesta sexta-feira. A chamada Formação Brutabwin todayCapital Fixo (FBCF) cresceu 1,6% no terceiro trimestre quando comparada com os três meses anteriores, depoisbwin todayum mergulhobwin today14 trimestres no vermelho ebwin todayficar no zero a zero no segundo trimestre.

Cofrinho diantebwin todaygráficobwin todayperda

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Fim das recessões é geralmente marcado por percepção negativa sobre futuro, diz especialistabwin todayciclos econômicos

A avaliaçãobwin todayque o cenário à frente ébwin todaymelhora é sustentada pela recuperação da produção industrial - que, apesarbwin todaycontabilizar alta modesta no acumuladobwin today2017,bwin today1,6%bwin todayrelação ao mesmo períodobwin today2016, aumentoubwin todaysete dos nove primeiros meses do ano - e pela retomada das importaçõesbwin todaybensbwin todaycapital, acrescenta Jankiel Santos, economista-chefe do banco Haitong.

Ele também estima altabwin today0,7% para o PIB neste ano e algo entre 1,5% e 2% para 2018.

Apesarbwin todayas fábricas ainda terem muitas máquinas paradas e trabalhadores afastados, a indústria vem realizando investimentos para repor a depreciação que os quase três anosbwin todaycrise impuseram a seus ativos físicos. "Não será nada incrível", ressalva Santos, mas o suficiente para mudar a trajetória do indicador, até então negativa.

Sensaçãobwin todaycrise

Comemorados pelo governo, os números não chegam a animar a maioria.

"O brasileiro ainda não sente que houve retomada da economia", diz Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.

A consultoria é responsável pelo Índice Nacionalbwin todayConfiança do Consumidor, publicado mensalmente pela Associação Comercialbwin todaySão Paulo (ACSP), um termômetro da percepção das famílias sobre a atividade. Em novembro, o indicador caiubwin today73 pontos para 72, ainda longe do nívelbwin today100 pontos, que indica otimismo.

Para o sociólogo, o mercadobwin todaytrabalho explica parte do pessimismo. A taxabwin todaydesemprego vem cedendo nos últimos meses, mas ainda há 12,7 milhõesbwin todaytrabalhadores tentando recolocação e quem está empregado ainda se sente inseguro.

Na pesquisa, os indicadores relacionados a segurança no emprego estão praticamente no mesmo patamar há dois anos.

"Nós publicamos a pesquisa desde 2005 e percebemos que o desempenho da inflação e desemprego são os que mais influenciam o otimismo dos consumidores", diz Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP.

Tradicionalmente, o emprego é uma das últimas variáveis a esboçar reação durante os ciclosbwin todayexpansão, porque reagebwin todayforma defasada, explica Chauvet. As firmas só começam a contratar funcionários para trabalharbwin todaytempo integral, com carteira assinada, quando a recuperação se torna mais forte.

"O aumentobwin todayhoras (extras) oubwin todayempregados por tempo parcial é uma estratégia mais segura para firmas quando ainda há incerteza sobre o rumo da economia no iníciobwin todayuma recuperação", pondera.

Pontobwin todayinflexão

Marcelle Chauvet
Legenda da foto, O pessimismo que marca o fim das recessões também afeta as projeçõesbwin todayeconomistas, quebwin todaygeral subestimam a recuperação, diz Chauvet | Foto: Arquivo pessoal

A recessão acabou no fimbwin today2016, diz o Comitêbwin todayDataçãobwin todayCiclos Econômicos (Codace). Ligado à Fundação Getulio Vargas (FGV), ele foi criadobwin today2004 para determinar uma cronologia para os ciclos econômicos brasileiros, já que os órgãos oficiaisbwin todayestatística, como o IBGE, não fazem esse tipobwin todayanálise.

Embwin todayúltima reunião, no fimbwin todayoutubro, o Codace concluiu que a recessão no Brasil durou 33 meses, do segundo trimestrebwin today2014 ao quarto trimestrebwin today2016. Desde 1980, só uma crise teve duração semelhante, do fimbwin today1989 ao iníciobwin today1992.

O tamanho do tombo, contudo, não tem precedente. Nos últimos anos, a economia acumulou 8,6%bwin todayqueda, contra 7,7% nos 11 trimestresbwin todayrecessão no início dos anos 90. Os cálculos foram feitos antes da revisão da série do PIB divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.

Chauvet é um dos sete membros do Codace. Estudiosa do assunto, ela também contribui com o banco central americano, o Fed. Seu modelobwin todayprevisãobwin todayciclos econômicos para a economia americana atualizado está disponível no site do escritório regional do órgãobwin todaySt. Louis, no Missouri.

Para o Brasil,bwin todayprojeção para 2018 é mais otimista que o consenso - 3,5%bwin todaycrescimento, um ponto percentual acima da médiabwin todayestimativas colhidas pelo Banco Central e publicadas no boletim Focus,bwin today2,5%.

"Grande parte dos errosbwin todayprojeções se concentra nos pontosbwin todayinflexão dos ciclos, no fim das expansões e das recessões, como é o caso do Brasil agora", diz ela, ao defender seu modelo não linearbwin todayestimativas, que levabwin todayconsideração essas particularidades.