'Não tenho ódio e não busco vingança', diz principal representante das vítimasbanner pokerCesare Battisti na Itália:banner poker
Torregiani tinha 15 anos quando foi baleado na coluna durante o ataque cometido por três integrantes da organização extremista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) - e que tinha como alvo o joalheiro Pierluigi Torregiani, paibanner pokerAlberto.
O comerciante, assassinado na presençabanner pokerdois filhosbanner pokeruma ruabanner pokerMilão, no dia 16banner pokerfevereirobanner poker1979, era considerado pelo grupo como "justiceirobanner pokerextrema-direita" por ter reagido, dias antes, a um assalto a mão armada - e matado a tiros o assaltante -banner pokerum restaurante da cidade.
De acordo com a Justiça italiana, Cesare Battisti foi o mandante do crime.
No mesmo 16banner pokerfevereiro, Battisti teria participado do assassinato do açougueiro Lino Sabadin, na cidadebanner pokerMestre, quando oferecia cobertura armada a seus companheiros.
Na reivindicação pelos assassinatos, o grupo PAC afirma ter agido para combater a "hegemonia do poder capitalista".
"Nós comunistas apontamos hoje nossas armas contra aqueles que, a fimbanner pokerdefenderem seus lucros imundos, especulam contra os proletários", dizia um bilhete deixadobanner pokeruma cabine telefônica.
Aindabanner poker1979, Battisti foi preso e condenado a 13 anos e 5 mesesbanner pokerprisão como mandante do homicídiobanner pokerTorregiani, com base na delação premiadabanner pokerPiero Mutti, um ex-companheirobanner pokerPAC.
Para a Justiça italiana, Battisti foi executorbanner pokeroutros dois homicídios, do marechal da polícia penitenciária Antonio Santoro, ocorrido no dia 6banner pokerjunhobanner poker1978, na cidadebanner pokerUdine, e o do policial Andrea Campagna, no dia 19banner pokerabrilbanner poker1979,banner pokerMilão.
Em 1981, o italiano fugiu do cárcerebanner pokerFrosinone. O processo correu à revelia e,banner poker1985, Battisti foi condenado,banner pokersegunda instância, à prisão perpétua por vários crimes, entre eles luta armada e quatro homicídios. A sentença foi confirmada pela Cortebanner pokerCassação italianabanner poker1991.
Cesare Battisti sempre negou a autoria dos homicídios e afirma que não há testemunhas oculares, nem provas materiais ou técnicas contra ele.
"Nunca afirmei ter ódiobanner pokerCesare Battisti, embora eu ainda o considere um terrorista. Todos os demais envolvidos naquele episódio apresentaram suas defesas e cumpriram suas penas. Tanto que hoje a maioria deles está livre, vivendobanner pokersociedade do modo que escolheram. Alguns eu até perdoei", afirma Torregiani.
"'À revelia' pode ser entendida por duas maneiras: alguém é condenado sem estar presente, ou alguém é chamado a se defender e não se apresenta", comenta o filho do joalheiro.
"Para ser definido ex-terrorista, Battisti teria que assumir suas responsabilidades, cumprir a pena que lhe foi atribuída e pedir perdão."
"Esforço-me para compreender as motivações dos que cometem tais crimes, mas continuo acreditando que pegar um revólver e matar uma pessoa simplesmente por ela pensarbanner pokerum determinado modo seja um ato ignóbil. Posso até entendê-las, mas não aceitá-las", diz Torregiani, quebanner poker2006 publicou o livro Eu estavabanner pokerguerra mas não sabia,banner pokerque relata suas experiências.
"Durante todos esses anos tive que me adaptar às minhas novas condições, causadas pelo atentado. Isto não significa que eu não tenha procurado melhorar a minha vida, do melhor modo possível", explica o italiano.
Escapando da Justiça
Em 1981, após escapar da prisão na Itália, Battisti fugiu primeiramente para a França, depois para o México e, por fim, para o Brasil.
Ele foi presobanner poker2007 no Riobanner pokerJaneiro e passou a aguardar processobanner pokerextradição.
Em 2009, o Supremo se posicionou favoravelmente ao enviobanner pokerBattisti para a Itália, mas deixou a decisão final ao presidente da República, por considerar que é uma prerrogativa do Executivo.
Em seu último dia como presidente, no dia 31banner pokerdezembrobanner poker2010, Lula decidiu vetar a extradição.
O então ministro da Justiça, Tarso Genro, deu statusbanner pokerrefugiado para Batisti. "O contextobanner pokerque ocorreram os delitosbanner pokerhomicídio imputados ao recorrente, as condições nas quais se desenrolaram os seus processos, abanner pokerpotencial impossibilidadebanner pokerampla defesa face à radicalização da situação política na Itália, no mínimo, geram uma profunda dúvida sobre se o recorrente teve direito ao devido processo legal", dizia o texto da decisão do ministro.
O pedidobanner pokerextradição impetrado pela Itália no STF argumenta que o ex-ativista foi julgado e condenado pela Justiça italianabanner pokerforma democrática e que, portanto,banner pokerextradição seria legítima.
Com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a ascensãobanner pokerTemer, a embaixada da Itália no Brasil intensificou a pressão para convencer o governo brasileiro a rever o posicionamento e enviou,banner pokersigilo, um pedido formal à Presidência da República.
O governo Temer decidiu mandar o italianobanner pokervolta ao paísbanner pokerorigem, mas aguarda uma decisão do Supremo sobre um habeas corpus protocolado aindabanner pokersetembro pela defesabanner pokerBattisti que visa impedir a extradição, com o argumentobanner pokerque o prazo para eventual revisão da decisãobanner pokerLula erabanner pokercinco anos.
Para Alberto Torregiani, a eventual extradição e prisãobanner pokerBattisti na Itália seria a realização do objetivo que persegue há vários anos. No entanto, ressalta que "ainda que Cesare Battisti se torne um ex-terrorista( ao cumprir a pena), vou continuar sendo etiquetado como vítima para sempre. Não há como se tornar ex-vítima", afirma Torregiani.
"Mesmo que a justiça seja aplicada, o dano é irrecuperável".
Delinquência e prisão por assalto
Nascidobanner pokerCisterna di Latina, pequeno município próximo a Roma, o jovem Battisti teve uma vida turbulenta, com diversos episódiosbanner pokerdelinquência e detenção por assalto.
Em 1977, durante um períodobanner pokerreclusão no cárcerebanner pokerUdine, conheceu Arrigo Cavatina, um dos idealizadores do PAC. Depois disso passou a definir seus roubos como "expropriação proletária".
Defensoresbanner pokerBattisti alegam que seus julgamentos pelos homicídios foram realizados sem garantias jurídicas, baseando-se tambémbanner pokerconfissões extraídas com violência.
Para frear a propagação do extremismo nas décadasbanner poker1970 e 1980, período que ficou conhecido como "Anosbanner pokerChumbo", a Itália criou uma legislação especial, instituindo, entre outras medidas, a figura do "colaborador da Justiça" e a delação premiada - criminosos arrependidos poderiam ser beneficiados com reduçõesbanner pokerpena e proteção judiciária.
Algumas destas leis são utilizadas ainda hoje, mas alguns críticos afirmam que a legislação abriu espaço para medidas - como interrogatórios sem a presençabanner pokeradvogado e operaçõesbanner pokerbusca e apreensão sem necessidadebanner pokermandados - que violam direitos garantidos pela Constituição.
"O processo que condenou Battisti a prisão perpétua não se mantémbanner pokerpé. Aquela legislação italiana contra a luta armada não se sustenta", afirma à BBC Brasil o jornalista Piero Sansonetti.
"A única prova contra Battisti é o depoimentobanner pokerum delator, Pietro Mutti, que embora tenha cometido o mesmo crime que ele, foi condenado a apenas oito anosbanner pokerprisão".
Segundo Sansonetti, prisioneiros envolvidosbanner pokeratividades terroristas tinham um acordobanner pokerdelatar somente os companheiros foragidos ao exterior. O jornalista diz ainda que Cesare Battisti teria fugido por acreditar que o processo não lhe garantia ampla defesa.
"Ele escapou para a França antes mesmo da promulgação da lei Mitterrand, que passou a conceder asilo ao presos políticos", conta.
"É difícil entender porque o caso Battisti tem tido tanto clamor. Há centenasbanner pokerex-terroristas italianos que usufruembanner pokerasilo políticobanner pokeroutros países, inclusive militantesbanner pokerextrema-direita".