'O momento não precisava ser sofrido': a história das grávidas que aliviaram tensão do parto com 'humanização' e coreografias:sport bet365 roleta

Liz Garcia dançou Despacito momentos antessport bet365 roletadar à luz Marina,sport bet365 roletaagosto deste ano
Legenda da foto, Liz Garcia (no centro) ensaia coreografia com doula, Ana Paula Diaz Spina, e obstetra Fernando Guedes, momentos antes do parto | Crédito: Arquivo Pessoal

Não foi o que aconteceu dessa vez. Naquela segunda-feira, dia 7, deu à luzsport bet365 roletaforma natural à Marina, do jeito que escolheu. "Foi cercadasport bet365 roletacarinho".

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Dois meses depois, na mesma cidade, a empresária Camila Rocha, 28, também dançou à espera do filho, João Homero. E sorriusport bet365 roletameio a um "vai nascer" que deixou escapar durante a coreografia. Ela se "sentiu muito acolhida e segura" no momento e estava certasport bet365 roletaque o processo "não precisava ser tenso e sofrido".

Exemplossport bet365 roletatécnicas usadas nos chamados "partos humanizados", as coreografias realizadas nos minutos finaissport bet365 roletagravidez das duas brasileiras foram registradassport bet365 roletavídeos, postadassport bet365 roletaredes sociais e alcançaram milharessport bet365 roletavisualizações e compartilhamentos.

A mais recente,sport bet365 roletaCamila, foi divulgadasport bet365 roleta10sport bet365 roletaoutubro e vista por maissport bet365 roleta180 mil pessoas apenas na publicação original, feita pelo ginecologista e obstetra Fernando Guedes da Cunha.

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"Humanização"

Mas o que é o "parto humanizado" - conceito que está por trás daquelas coreografias?

Cunha define como "tratar com respeito a mulher - respeitando acimasport bet365 roletatudo a autonomia dela - e agirsport bet365 roletamaneira a promover um ambiente adequado e seguro" para o parto.

Esse tratamento, porém, não é esperado apenas no parto normal. Também vale para a cesariana, procedimento que representa mais da metade dos partos realizados no país mas que só deveria ser indicado se a mãe ou o feto demonstrassem alguma "anormalidade" e precisassemsport bet365 roleta"ajuda" no processo, diz o médico João Alfredo Piffero Steibel, membro da comissãosport bet365 roletaassistência ao abortamento, parto e puerpério da Federação Brasileira das Associaçõessport bet365 roletaGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

"Não existe nenhuma situaçãosport bet365 roletaque o parto humanizado não seja possível, pois isso significa fazer um atendimento adequado para quem está precisando", frisa.

Era esse atendimento que estava "nos sonhos"sport bet365 roletaLiz desde a primeira gravidez.

"É que não se trata só da viasport bet365 roletanascimento,sport bet365 roletater o parto vaginal, massport bet365 roletaum conjunto. De ter um médico que te respeita,sport bet365 roletater asport bet365 roletadoula por perto,sport bet365 roletater apoio físico e emocional,sport bet365 roletater um espaço adequado", enumera.

Camila, que teve os dois filhossport bet365 roletaparto normal, também sempre quis a "humanização".

Ela justifica: "É um momento único na vida da mulher e podendo sersport bet365 roletaum ambiente favorável, acolhedor, com as pessoas que você ama por perto, é muito melhor".

Liz concorda e define a humanização no seu segundo parto como momentosport bet365 roleta"cura".

Liz e a filha, Marina, na maternidade: Brasileira lutou por parto humanizado, que não conseguiu na gravidez do primeiro filho
Legenda da foto, Liz e a filha, Marina, na maternidade: Brasileira lutou por parto humanizado, que não conseguiu na gravidez do primeiro filho | Crédito: Arquivo pessoal

Foi com esse sentimento,sport bet365 roletacura, que a gaúcha dançou no dia do nascimentosport bet365 roletaMarina. Um mês antessport bet365 roletaa filha nascer, viu um vídeosport bet365 roletaque duas grávidas dançavam Despacito, música do cantor porto-riquenho Luis Fonsi e do rapper Daddy Yankee. Gostou da ideia e marcou na postagem o marido, o médico esport bet365 roletadoula.

No dia do parto, porém, diz ter sido surpreendida. "Morrendosport bet365 roletador", tomou analgésico - para aliviar o quadro sem perder os movimentos - e começou a caminhar pelo hospital com o médico. Ouviu então dele: "É agora que a gente vai dançar".

A coreografia foi criada na hora. Ensaiaram na salasport bet365 roletaparto e, depois, posicionados no corredor, se entregaram à performance filmada pela enfermeira obstétrica.

O vídeo foi postado nas redes sociais e tomou uma proporção que ela não esperava. "A dança foi um momentosport bet365 roletadescontração, depoissport bet365 roletaum processo tão cansativo,sport bet365 roletador. Foi um momentosport bet365 roletaacolhimento", diz Liz.

Ela executou cada passo na presença da mãe, do marido, da equipe médica e da doula. A filha nasceu cercasport bet365 roleta40 minutos depoissport bet365 roletaum parto que, "com ou sem dança", afirma, teria sido humanizado.

"A dança foi um plus, um momentosport bet365 roletaalegria quando a dor não estava presente. Foi um êxtase".

Para Camila, a ideia da dança partiu do médico e, apesarsport bet365 roletanão ter sido planejado, foi uma formasport bet365 roleta"humanizar, relaxar". "O momento não precisava ser tenso e sofrido", resume.

Mãe tambémsport bet365 roletaHelena,sport bet365 roleta1 ano e 2 meses, ela afirma que o primeiro parto "foi muito mais sofrido e demorado".

"Por isso, no segundo escolhi um médico que fosse adepto do parto humanizado", conta.

Camila conta que, no caso da primogênita, ficou muito tempo no hospital entre a bolsa ter estourado e o bebê nascer.

"Foram 12 horassport bet365 roletaum ambiente não acolhedor. Dessa vez, foi apenas 1 hora e 50 minutos entre internar e o nascimento. Passou muito rápido", lembra.

João Homero nasceu 10 minutos depoissport bet365 roletaela ter dançado Paradinha, da cantora brasileira Anitta.

Camila e o marido no partosport bet365 roletaJoão Homero

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Legenda da foto, Camila e o marido no partosport bet365 roletaJoão Homero | Crédito: Arquivo pessoal

Vantagens

Steibel, da Febrasgo, explica que a dança é só mais uma técnica no caminho da humanização. "O que encurta, alivia e melhora a evolução do trabalhosport bet365 roletaparto é o movimento da gestante. A dança funcionaria como uma distração que pode propiciar descontração, interação e atenção e disso ela também precisa, porque parto dói", diz ele.

Segundo o médico, outros movimentos e exercícios são igualmente bem-vindos porque podem fazer a mulher, alémsport bet365 roletarelaxar, mudar a posição favorecendo a descida do bebê. A lista inclui, por exemplo, fazer movimentos sentadasport bet365 roletauma bola ousport bet365 roletaum cavalosport bet365 roletapau, daqueles tipos para crianças, que permitem um vai e vém adequado ao momento.

O obstetra Fernando Guedes da Cunha reforça sobre as vantagens da dança: "A posição (em pé) junto com movimentossport bet365 roletaagachamento, rotaçãosport bet365 roletaquadril, e elevação dos membros inferiores (pernas) favorece o processosport bet365 roletadilatação do colo uterino e descida do bebe na pelve".

Segundo ele, já é comprovado que fazer tais movimentos separadamente estimula um trabalhosport bet365 roletaparto mais rápido.

"Dançar simplesmente é uma formasport bet365 roletaempregar todos esses movimentossport bet365 roletauma forma mais descontraída, aliviando a tensão e diminuindo o processosport bet365 roletador. Fisiologicamente, temos uma diminuiçãosport bet365 roletaadrenalina e maior liberação e açãosport bet365 roletaoxitocina, hormônios ligados ao processosport bet365 roletatrabalhosport bet365 roletaparto", explica.

Outras técnicas, como acupuntura, pilates, aromaterapia e cromoterapia podem ajudar a mulher a relaxar e melhorar o trabalhosport bet365 roletaparto, segundo ele.

Raquel Oliva, da Comparto, acrescenta à lista: "Massagens, banhos mornos, música ambiente, mobilidade e posicionamento, técnicassport bet365 roletarespiração e até mesmo meditação!".

'Desafios'

Cheiossport bet365 roletavantagens, tanto o parto humanizado quanto o parto normal ainda enfrentam, porém, dificuldades no Brasil. A lista, segundo especialistas, vai desde faltasport bet365 roletarecursos e estrutura até conscientização dos profissionais da área esport bet365 roletaparte da população.

É justamente a faltasport bet365 roletaconscientização que ajuda a explicar, na visãosport bet365 roletaLiz, o comportamento da médica que a atendeu no diasport bet365 roletaque nasceu Pietro, o primeiro dos dois filhos. Uma experiência que descreve como "traumatizante".

Não era para menos. A gaúcha tentava engravidar havia dois anos. Precisou fazer um tratamento hormonal e já com o sucesso do procedimento praticamente descartado pelo médico, soube que estava grávida. Passou então a se preparar "de todas as formas possíveis". Buscou informação, entrousport bet365 roletaum gruposport bet365 roletaapoio sobre parto, infância e amamentação, fez pré-natal e conquistou uma doula voluntária. Tudo a encaminhava para o parto normal. Mas ela não conseguiu que fosse desse jeito.

Para ter o filho, viajou da cidade onde morava para Vila Velha, onde vivia a mãe. Precisaria, dessa maneira, ser atendida pelo médico que estivessesport bet365 roletaplantão na maternidade e, segundo conta, a profissionalsport bet365 roletaserviço não foi acolhedora.

Liz com a família: Para a gaúcha, parto normal foi como uma "cura" após cesariana não desejada
Legenda da foto, Liz com Marina, o filho Pietro e o marido José Alejandro: Parto normal foi como uma "cura", diz | Crédito: Arquivo pessoal

"Eu tinha ido ao hospital previamente e tinha plena certezasport bet365 roletaque seria acolhida e teria minha vontade respeitada. Mas caí no azarsport bet365 roletapegar uma médica que não pensava da mesma forma. Ela já me recebeu dizendo que minha barriga estava grande, reclamou porque não havia ultrassom recente e disse que se eu tivesse que parir ali que fosse do jeito dela".

Liz insistia no parto normal. Mas a médica teria dito ao marido, o biólogo chileno José Alejandro, que a mulher e o filho poderiam morrer no processo. Isso o fez autorizar a cirurgia.

"Só consegui me curar emocionalmente com o nascimento da minha filha, Marina. Havia uma mágoa, um vácuo, uma coisa mal resolvida na minha vida por causa disso", diz.

'Longo caminho'

Sem comentar problemassport bet365 roletaestrutura apontados por profissionais da área, o Ministério da Saúde afirmou à BBC Brasil que o movimentosport bet365 roletaprol da humanização do parto no país é crescente e estimulado por investidas como o programa Rede Cegonha, que o governo federal implantou na rede pública e engloba hoje 1.600 maternidades que atendem ao Sistema Únicosport bet365 roletaSaúde (SUS).

Um dos objetivos é incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúdesport bet365 roletamulheres para, com isso, reduzir cada vez mais a taxasport bet365 roletamortalidade materna e neonatal e as ocorrênciassport bet365 roletacesarianas desnecessárias.

Sósport bet365 roleta2015, dado oficial mais recente, foram realizados cercasport bet365 roleta2,9 milhõessport bet365 roletapartos no Brasil e mais da metade (55,6%) foram cesáreas.

Essa proporção caiusport bet365 roletarelação a 2014 - quando representavam 57,1% do total - e a expectativa é que o número seja ainda mais reduzido, segundo o Ministério.

"O objetivo é incentivar o parto normal", diz.

Há, no entanto, um longo caminho pela frente.

Um estudo da Escola Nacionalsport bet365 roletaSaúde Pública - Fiocruz aponta que a recomendação da Organização Mundialsport bet365 roletaSaúde (OMS) é para que as cesarianas não excedam 15% do totalsport bet365 roletapartos, "pois estudos internacionais vêm demonstrando os riscos das elevadas taxassport bet365 roletacesariana tanto para a saúde da mãe quanto a do bebê".

O mesmo estudo, com dados coletados entre 2011 e 2012, aponta que o índicesport bet365 roletacesarianas alcançava 88% na rede privada brasileira.

O elevado númerosport bet365 roletacesarianas coloca o Brasilsport bet365 roletasegundo lugar no mundosport bet365 roletapercentual deste tiposport bet365 roletaparto.

De acordo com dados da OMS, que consideram os índices da rede pública,sport bet365 roletaprimeiro lugar nesse ranking está a Republica Dominicana, onde a taxa chega a 56,4%.

O Ministério da Saúde diz que "sempre promoveu o parto normal como prioridade e que as cesarianas, sem regulamentação da pasta, eram a escolha principal das mães, mesmo quando não havia indicação clínica".

"Agora, com os protocolos e recomendações da pasta, as cesarianas são utilizadas apenas nos casossport bet365 roletaque houver real necessidade", garante, se referindo ao lançamentosport bet365 roletadiretrizessport bet365 roletaassistência ao parto normal no Brasil, no primeiro semestre.

Com o documento, diz o Ministério, toda mulher terá direitosport bet365 roletadefinir o seu planosport bet365 roletaparto que trará informações como local onde será realizado, orientações e benefícios do parto normal.

"Assim, o parto deixasport bet365 roletaser tratado como um conjuntosport bet365 roletatécnicas, e sim como um momento fundamental entre mãe e filho", alega.

Camila com o marido Romero Lopes, a filha Helena e o filho João Homero

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Camila com o marido Romero Lopes, a filha Helena e o filho João Homero | Crédito: Arquivo pessoal

Para Oliva, da Comparto, ainda há, no entanto, uma "cultura popular brasileirasport bet365 roletaque cesárea é mais segura" e isso emperra o avanço do movimentosport bet365 roletaprol da humanização.

"Essa cultura inclui, por exemplo, o medo das mulheres, a conveniência dos médicos, os interesses das instituiçõessport bet365 roletasaúde, a ideiasport bet365 roletastatus relacionada ao acesso à cesárea eletiva, a má formação médica, a faltasport bet365 roletaparteiras...", acrescenta ela, que já acompanhou maissport bet365 roleta300 partos na funçãosport bet365 roletadoula, profissional que oferece apoio físico e emocional à mulher esport bet365 roletafamília antes, durante e após o nascimento do bebê.

Na visão da especialista, "ao mesmo temposport bet365 roletaque cresce a busca pela humanização, não cresce na mesma velocidade a oferta deste modelosport bet365 roletaassistência (no país)".

"O movimento", diz ela, "ganha adeptos exponencialmente, mas ainda há muito preconceito e confusãosport bet365 roletaconceitos".

Também falta estrutura.

Segundo Cunha, obstetra que dançou com Liz e Camila, os médicos da rede pública trabalham acima da capacidade e isso prejudica o atendimento.

Chega-se a realizar entre 10 e 15 partossport bet365 roleta12 horas, com equipes reduzidas e a missãosport bet365 roletaatender, ainda, todas as grávidas que chegam para consultas, afirma.

Raquel Oliva, da Comparto: Parto normal e humanizado é cheiosport bet365 roletavantagens, mas ainda não está disseminado no Brasil

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Legenda da foto, Raquel Oliva, da Comparto: Parto normal e humanizado é cheiosport bet365 roletavantagens, mas ainda não está disseminado no Brasil

Raquel Oliva, da Comparto, concorda com as dificuldades descritas pelo médico, também vistas na rede privada: "A maioria das equipes humanizadas é totalmente particular. Pelos convêniossport bet365 roletasaúde é quase impossível encontrar equipes coerentes com esse modelo e no SUS são poucas as referênciassport bet365 roletahumanização".

Ela cita o Institutosport bet365 roletaSaúde Elpídiosport bet365 roletaAlmeida (ISEA),sport bet365 roletaCampina Grande, na Paraíba, e o Hospital Sofia Feldman,sport bet365 roletaBelo Horizonte,sport bet365 roletaMinas Gerais.

E acrescenta: "Há cada vez mais políticas públicas pela adequação da assistência, mas ainda temos um longo caminho a percorrer até que essa seja uma opção para todas as mulheres".