'O momento não precisava ser sofrido': a história das grávidas que aliviaram tensão do parto com 'humanização' e coreografias:aposta presidente bets
Não foi o que aconteceu dessa vez. Naquela segunda-feira, dia 7, deu à luzaposta presidente betsforma natural à Marina, do jeito que escolheu. "Foi cercadaaposta presidente betscarinho".
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Dois meses depois, na mesma cidade, a empresária Camila Rocha, 28, também dançou à espera do filho, João Homero. E sorriuaposta presidente betsmeio a um "vai nascer" que deixou escapar durante a coreografia. Ela se "sentiu muito acolhida e segura" no momento e estava certaaposta presidente betsque o processo "não precisava ser tenso e sofrido".
Exemplosaposta presidente betstécnicas usadas nos chamados "partos humanizados", as coreografias realizadas nos minutos finaisaposta presidente betsgravidez das duas brasileiras foram registradasaposta presidente betsvídeos, postadasaposta presidente betsredes sociais e alcançaram milharesaposta presidente betsvisualizações e compartilhamentos.
A mais recente,aposta presidente betsCamila, foi divulgadaaposta presidente bets10aposta presidente betsoutubro e vista por maisaposta presidente bets180 mil pessoas apenas na publicação original, feita pelo ginecologista e obstetra Fernando Guedes da Cunha.
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"Humanização"
Mas o que é o "parto humanizado" - conceito que está por trás daquelas coreografias?
Cunha define como "tratar com respeito a mulher - respeitando acimaaposta presidente betstudo a autonomia dela - e agiraposta presidente betsmaneira a promover um ambiente adequado e seguro" para o parto.
Esse tratamento, porém, não é esperado apenas no parto normal. Também vale para a cesariana, procedimento que representa mais da metade dos partos realizados no país mas que só deveria ser indicado se a mãe ou o feto demonstrassem alguma "anormalidade" e precisassemaposta presidente bets"ajuda" no processo, diz o médico João Alfredo Piffero Steibel, membro da comissãoaposta presidente betsassistência ao abortamento, parto e puerpério da Federação Brasileira das Associaçõesaposta presidente betsGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
"Não existe nenhuma situaçãoaposta presidente betsque o parto humanizado não seja possível, pois isso significa fazer um atendimento adequado para quem está precisando", frisa.
Era esse atendimento que estava "nos sonhos"aposta presidente betsLiz desde a primeira gravidez.
"É que não se trata só da viaaposta presidente betsnascimento,aposta presidente betster o parto vaginal, masaposta presidente betsum conjunto. De ter um médico que te respeita,aposta presidente betster aaposta presidente betsdoula por perto,aposta presidente betster apoio físico e emocional,aposta presidente betster um espaço adequado", enumera.
Camila, que teve os dois filhosaposta presidente betsparto normal, também sempre quis a "humanização".
Ela justifica: "É um momento único na vida da mulher e podendo seraposta presidente betsum ambiente favorável, acolhedor, com as pessoas que você ama por perto, é muito melhor".
Liz concorda e define a humanização no seu segundo parto como momentoaposta presidente bets"cura".
Foi com esse sentimento,aposta presidente betscura, que a gaúcha dançou no dia do nascimentoaposta presidente betsMarina. Um mês antesaposta presidente betsa filha nascer, viu um vídeoaposta presidente betsque duas grávidas dançavam Despacito, música do cantor porto-riquenho Luis Fonsi e do rapper Daddy Yankee. Gostou da ideia e marcou na postagem o marido, o médico eaposta presidente betsdoula.
No dia do parto, porém, diz ter sido surpreendida. "Morrendoaposta presidente betsdor", tomou analgésico - para aliviar o quadro sem perder os movimentos - e começou a caminhar pelo hospital com o médico. Ouviu então dele: "É agora que a gente vai dançar".
A coreografia foi criada na hora. Ensaiaram na salaaposta presidente betsparto e, depois, posicionados no corredor, se entregaram à performance filmada pela enfermeira obstétrica.
O vídeo foi postado nas redes sociais e tomou uma proporção que ela não esperava. "A dança foi um momentoaposta presidente betsdescontração, depoisaposta presidente betsum processo tão cansativo,aposta presidente betsdor. Foi um momentoaposta presidente betsacolhimento", diz Liz.
Ela executou cada passo na presença da mãe, do marido, da equipe médica e da doula. A filha nasceu cercaaposta presidente bets40 minutos depoisaposta presidente betsum parto que, "com ou sem dança", afirma, teria sido humanizado.
"A dança foi um plus, um momentoaposta presidente betsalegria quando a dor não estava presente. Foi um êxtase".
Para Camila, a ideia da dança partiu do médico e, apesaraposta presidente betsnão ter sido planejado, foi uma formaaposta presidente bets"humanizar, relaxar". "O momento não precisava ser tenso e sofrido", resume.
Mãe tambémaposta presidente betsHelena,aposta presidente bets1 ano e 2 meses, ela afirma que o primeiro parto "foi muito mais sofrido e demorado".
"Por isso, no segundo escolhi um médico que fosse adepto do parto humanizado", conta.
Camila conta que, no caso da primogênita, ficou muito tempo no hospital entre a bolsa ter estourado e o bebê nascer.
"Foram 12 horasaposta presidente betsum ambiente não acolhedor. Dessa vez, foi apenas 1 hora e 50 minutos entre internar e o nascimento. Passou muito rápido", lembra.
João Homero nasceu 10 minutos depoisaposta presidente betsela ter dançado Paradinha, da cantora brasileira Anitta.
Vantagens
Steibel, da Febrasgo, explica que a dança é só mais uma técnica no caminho da humanização. "O que encurta, alivia e melhora a evolução do trabalhoaposta presidente betsparto é o movimento da gestante. A dança funcionaria como uma distração que pode propiciar descontração, interação e atenção e disso ela também precisa, porque parto dói", diz ele.
Segundo o médico, outros movimentos e exercícios são igualmente bem-vindos porque podem fazer a mulher, alémaposta presidente betsrelaxar, mudar a posição favorecendo a descida do bebê. A lista inclui, por exemplo, fazer movimentos sentadaaposta presidente betsuma bola ouaposta presidente betsum cavaloaposta presidente betspau, daqueles tipos para crianças, que permitem um vai e vém adequado ao momento.
O obstetra Fernando Guedes da Cunha reforça sobre as vantagens da dança: "A posição (em pé) junto com movimentosaposta presidente betsagachamento, rotaçãoaposta presidente betsquadril, e elevação dos membros inferiores (pernas) favorece o processoaposta presidente betsdilatação do colo uterino e descida do bebe na pelve".
Segundo ele, já é comprovado que fazer tais movimentos separadamente estimula um trabalhoaposta presidente betsparto mais rápido.
"Dançar simplesmente é uma formaaposta presidente betsempregar todos esses movimentosaposta presidente betsuma forma mais descontraída, aliviando a tensão e diminuindo o processoaposta presidente betsdor. Fisiologicamente, temos uma diminuiçãoaposta presidente betsadrenalina e maior liberação e açãoaposta presidente betsoxitocina, hormônios ligados ao processoaposta presidente betstrabalhoaposta presidente betsparto", explica.
Outras técnicas, como acupuntura, pilates, aromaterapia e cromoterapia podem ajudar a mulher a relaxar e melhorar o trabalhoaposta presidente betsparto, segundo ele.
Raquel Oliva, da Comparto, acrescenta à lista: "Massagens, banhos mornos, música ambiente, mobilidade e posicionamento, técnicasaposta presidente betsrespiração e até mesmo meditação!".
'Desafios'
Cheiosaposta presidente betsvantagens, tanto o parto humanizado quanto o parto normal ainda enfrentam, porém, dificuldades no Brasil. A lista, segundo especialistas, vai desde faltaaposta presidente betsrecursos e estrutura até conscientização dos profissionais da área eaposta presidente betsparte da população.
É justamente a faltaaposta presidente betsconscientização que ajuda a explicar, na visãoaposta presidente betsLiz, o comportamento da médica que a atendeu no diaaposta presidente betsque nasceu Pietro, o primeiro dos dois filhos. Uma experiência que descreve como "traumatizante".
Não era para menos. A gaúcha tentava engravidar havia dois anos. Precisou fazer um tratamento hormonal e já com o sucesso do procedimento praticamente descartado pelo médico, soube que estava grávida. Passou então a se preparar "de todas as formas possíveis". Buscou informação, entrouaposta presidente betsum grupoaposta presidente betsapoio sobre parto, infância e amamentação, fez pré-natal e conquistou uma doula voluntária. Tudo a encaminhava para o parto normal. Mas ela não conseguiu que fosse desse jeito.
Para ter o filho, viajou da cidade onde morava para Vila Velha, onde vivia a mãe. Precisaria, dessa maneira, ser atendida pelo médico que estivesseaposta presidente betsplantão na maternidade e, segundo conta, a profissionalaposta presidente betsserviço não foi acolhedora.
"Eu tinha ido ao hospital previamente e tinha plena certezaaposta presidente betsque seria acolhida e teria minha vontade respeitada. Mas caí no azaraposta presidente betspegar uma médica que não pensava da mesma forma. Ela já me recebeu dizendo que minha barriga estava grande, reclamou porque não havia ultrassom recente e disse que se eu tivesse que parir ali que fosse do jeito dela".
Liz insistia no parto normal. Mas a médica teria dito ao marido, o biólogo chileno José Alejandro, que a mulher e o filho poderiam morrer no processo. Isso o fez autorizar a cirurgia.
"Só consegui me curar emocionalmente com o nascimento da minha filha, Marina. Havia uma mágoa, um vácuo, uma coisa mal resolvida na minha vida por causa disso", diz.
'Longo caminho'
Sem comentar problemasaposta presidente betsestrutura apontados por profissionais da área, o Ministério da Saúde afirmou à BBC Brasil que o movimentoaposta presidente betsprol da humanização do parto no país é crescente e estimulado por investidas como o programa Rede Cegonha, que o governo federal implantou na rede pública e engloba hoje 1.600 maternidades que atendem ao Sistema Únicoaposta presidente betsSaúde (SUS).
Um dos objetivos é incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúdeaposta presidente betsmulheres para, com isso, reduzir cada vez mais a taxaaposta presidente betsmortalidade materna e neonatal e as ocorrênciasaposta presidente betscesarianas desnecessárias.
Sóaposta presidente bets2015, dado oficial mais recente, foram realizados cercaaposta presidente bets2,9 milhõesaposta presidente betspartos no Brasil e mais da metade (55,6%) foram cesáreas.
Essa proporção caiuaposta presidente betsrelação a 2014 - quando representavam 57,1% do total - e a expectativa é que o número seja ainda mais reduzido, segundo o Ministério.
"O objetivo é incentivar o parto normal", diz.
Há, no entanto, um longo caminho pela frente.
Um estudo da Escola Nacionalaposta presidente betsSaúde Pública - Fiocruz aponta que a recomendação da Organização Mundialaposta presidente betsSaúde (OMS) é para que as cesarianas não excedam 15% do totalaposta presidente betspartos, "pois estudos internacionais vêm demonstrando os riscos das elevadas taxasaposta presidente betscesariana tanto para a saúde da mãe quanto a do bebê".
O mesmo estudo, com dados coletados entre 2011 e 2012, aponta que o índiceaposta presidente betscesarianas alcançava 88% na rede privada brasileira.
O elevado númeroaposta presidente betscesarianas coloca o Brasilaposta presidente betssegundo lugar no mundoaposta presidente betspercentual deste tipoaposta presidente betsparto.
De acordo com dados da OMS, que consideram os índices da rede pública,aposta presidente betsprimeiro lugar nesse ranking está a Republica Dominicana, onde a taxa chega a 56,4%.
O Ministério da Saúde diz que "sempre promoveu o parto normal como prioridade e que as cesarianas, sem regulamentação da pasta, eram a escolha principal das mães, mesmo quando não havia indicação clínica".
"Agora, com os protocolos e recomendações da pasta, as cesarianas são utilizadas apenas nos casosaposta presidente betsque houver real necessidade", garante, se referindo ao lançamentoaposta presidente betsdiretrizesaposta presidente betsassistência ao parto normal no Brasil, no primeiro semestre.
Com o documento, diz o Ministério, toda mulher terá direitoaposta presidente betsdefinir o seu planoaposta presidente betsparto que trará informações como local onde será realizado, orientações e benefícios do parto normal.
"Assim, o parto deixaaposta presidente betsser tratado como um conjuntoaposta presidente betstécnicas, e sim como um momento fundamental entre mãe e filho", alega.
Para Oliva, da Comparto, ainda há, no entanto, uma "cultura popular brasileiraaposta presidente betsque cesárea é mais segura" e isso emperra o avanço do movimentoaposta presidente betsprol da humanização.
"Essa cultura inclui, por exemplo, o medo das mulheres, a conveniência dos médicos, os interesses das instituiçõesaposta presidente betssaúde, a ideiaaposta presidente betsstatus relacionada ao acesso à cesárea eletiva, a má formação médica, a faltaaposta presidente betsparteiras...", acrescenta ela, que já acompanhou maisaposta presidente bets300 partos na funçãoaposta presidente betsdoula, profissional que oferece apoio físico e emocional à mulher eaposta presidente betsfamília antes, durante e após o nascimento do bebê.
Na visão da especialista, "ao mesmo tempoaposta presidente betsque cresce a busca pela humanização, não cresce na mesma velocidade a oferta deste modeloaposta presidente betsassistência (no país)".
"O movimento", diz ela, "ganha adeptos exponencialmente, mas ainda há muito preconceito e confusãoaposta presidente betsconceitos".
Também falta estrutura.
Segundo Cunha, obstetra que dançou com Liz e Camila, os médicos da rede pública trabalham acima da capacidade e isso prejudica o atendimento.
Chega-se a realizar entre 10 e 15 partosaposta presidente bets12 horas, com equipes reduzidas e a missãoaposta presidente betsatender, ainda, todas as grávidas que chegam para consultas, afirma.
Raquel Oliva, da Comparto, concorda com as dificuldades descritas pelo médico, também vistas na rede privada: "A maioria das equipes humanizadas é totalmente particular. Pelos convêniosaposta presidente betssaúde é quase impossível encontrar equipes coerentes com esse modelo e no SUS são poucas as referênciasaposta presidente betshumanização".
Ela cita o Institutoaposta presidente betsSaúde Elpídioaposta presidente betsAlmeida (ISEA),aposta presidente betsCampina Grande, na Paraíba, e o Hospital Sofia Feldman,aposta presidente betsBelo Horizonte,aposta presidente betsMinas Gerais.
E acrescenta: "Há cada vez mais políticas públicas pela adequação da assistência, mas ainda temos um longo caminho a percorrer até que essa seja uma opção para todas as mulheres".