O ex-jogadorcassino aviãozinhovôlei que virou 'rei do sonho olímpico' e acabou preso com ouro para 2.388 medalhas:cassino aviãozinho

A prisão temporáriacassino aviãozinhoNuzman foi decretada como parte da Operação Unfair Play, que investiga a suposta compracassino aviãozinhovotoscassino aviãozinhodirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI) na eleição que escolheu o Riocassino aviãozinhoJaneiro para se tornar sede da Olimpíadacassino aviãozinho2016.

O Comitê Olímpico Internacional anunciou, no dia seguinte à prisão, a suspensãocassino aviãozinhoNuzmancassino aviãozinhotodas as suas atividades relacionadas ao movimento olímpico. O COB também foi suspenso da entidade internacional, tendo todas as verbas destinadas a ele congeladas.

Já nesta quarta-feira, a entidade máxima do esporte brasileiro anunciou a renúncia do então presidente do cargo por meiocassino aviãozinhouma carta assinada por ele.

"Venho pela presente, reiterar os termoscassino aviãozinhominha correspondência, datadacassino aviãozinho6cassino aviãozinhooutubrocassino aviãozinho2017,cassino aviãozinhoespecial a minha completa exoneraçãocassino aviãozinhoqualquer responsabilidade pelos atos a mim injustamente imputados, os quais serão devidamente combatidos pelos meios legais adequados", afirmou Nuzman no documento, que marca o fim do 'reinado'cassino aviãozinhoNuzmancassino aviãozinho22 anos à frente do Comitê Olímpico Brasileiro

'Reinado'

Carlos Arthur Nuzman começoucassino aviãozinhocarreira no esporte dentrocassino aviãozinhoquadra. Jogou vôlei até os 31 anos, quando decidiu entrar para o mundo dos dirigentes e se candidatou para o comando da Federaçãocassino aviãozinhoVôlei do Riocassino aviãozinhoJaneiro. Daí para a Presidência da Confederação Brasileiracassino aviãozinhoVôlei (CBV) foram mais dois anos e foi nela, a partircassino aviãozinho1975, que começou a construir seu "reinado" no esporte.

Sob seu comando, o vôlei foi transformadocassino aviãozinhouma modalidade atrativa e rentável ecassino aviãozinhogestão passou a ser vista como "modelo" no país. E foi ali que seu estilo veio à tona - uma mesclacassino aviãozinhoautoritarismo com articulação política, segundo pessoas ligadas ao esporte ouvidas pela reportagem.

A BBC Brasil conversou com ex-atletas do vôlei que atuaram entre 1975 e 1995, durante a vitoriosa "era Nuzman", e todos elogiaram o lado "gestor" do presidente. Muitos atribuem a ele a profissionalização da modalidade e o descrevem como gestor "fora da curva" comparado aoscassino aviãozinhooutras confederações.

Foi Nuzman que conseguiu o primeiro patrocinador oficial da seleção brasileira - e por causa dele, veio seu primeiro episódio polêmico no comando do esporte.

Em 1984, depoiscassino aviãozinhoter sido considerada a melhor levantadora dos Jogos Olímpicoscassino aviãozinhoLos Angeles, Jacqueline foi surpreendida com um súbito corte emcassino aviãozinhoconvocação para a seleção brasileira. A decisãocassino aviãozinhoexcluí-la do time, no entanto, não foi técnica. Foi um pedido - no caso, uma ordemcassino aviãozinhoNuzman - que veio por contacassino aviãozinhoum questionamento da jogadora a uma decisão do presidente.

"Nessa época, houve um patrocínio que a CBV conseguiu para as duas camisas da seleção, a feminina e masculina. Mas só quem recebia verba era o masculino. E aí eu fui perguntar para ele por que havia essa diferença. Ele não respondeu e logo depois acabou me cortando", contou Jackie à BBC Brasil.

Diante da faltacassino aviãozinhoresposta, Jacqueline optou por utilizar o uniforme da seleção do avesso, para não exibir um patrocínio pelo qual não recebia. Mas isso só durou um dia - no seguinte, ela foi cortada da seleção.

"Isso virou um grande conflito. Fiquei conhecida como uma atleta rebelde, não foi uma coisa boa pra mim", disse.

Como bom político que sempre foi, segundo os ex-atletas ouvidos pela BBC, Nuzman conseguia sair por cima das situações e "blindar"cassino aviãozinhoconfederação das notícias negativas. A repercussão desse caso, por exemplo, deixou Jacqueline como a famacassino aviãozinhoatleta "indisciplinada" e manteve a imagem do presidente como "bom gestor".

"Na época, eu fiquei muito doente, fiquei mal. Perdi o chão. Minha vida era jogar vôlei."

Autoritarismo

Alguns anos depois, Jacqueline e Nuzman se "reencontraram" no esporte. Ele como presidente do COB, ela como atleta do vôleicassino aviãozinhopraia. A jogadora foi morar nos Estados Unidos, onde descobriu a modalidade, que se tornou olímpicacassino aviãozinho1996. Para poder competir representando o Brasil nos Jogoscassino aviãozinhoAtlanta, precisou recorrer a Nuzman.

"Ele (Nuzman) fez eu escrever uma carta dizendo que nunca mais voltaria para os Estados Unidos. Para jogar, ele me fez assinar um documento dizendo que eu ficaria no Brasilcassino aviãozinhovez. Eu assinei a bendita carta, voltei e venci."

Jacqueline conquistou o ouro no vôleicassino aviãozinhopraia ao ladocassino aviãozinhoSandra e recebeu a medalha justamente das mãoscassino aviãozinhoNuzman. No entanto, ela não deixoucassino aviãozinhofigurar na listacassino aviãozinhoseus "desafetos" e não foi convidada para nenhum evento dos Jogos do Rio no ano passado.

"Quando soube que eu não seria convidada para abertura dos Jogos (sua parceira Sandra, foi convidada para carregar a bandeira dos anéis olímpicos na cerimônia), me veio uma sensação muito estranha. Trinta anos depois, eu sofri o mesmo corte. Mas é isso, eu não faço parte dessa turma", afirmou.

Outros atletas do vôlei também reclamam do autoritarismocassino aviãozinhoNuzman no comando da CBV. Em seu livro Pelas Minhas Mãos, a ex-jogadora Ana Moser conta que, nos Jogos Olímpicoscassino aviãozinho1992, quando a seleção masculina conquistou o ouro, Nuzman fez questãocassino aviãozinhodar uma bronca categórica nas mulheres do time pelo "decepcionante" quarto lugar.

"Ele esculachou a gente, disse que o quarto lugar era um vexame. Esses sermões já eram conhecidos por nós", afirmou a ex-atleta.

Porcassino aviãozinhopostura contestadora dentro e fora das quadras - como presidente da ONG Atletas pelo Brasil, ela luta por maior transparência e democracia no esporte -, Ana Moser também virou "persona non grata" nas esferas do COB e foi ignorada pelos eventos olímpicos do Rio.

Segundo fontes ouvidas pela BBC, o "estilo" Nuzman conseguiu manter um ambientecassino aviãozinhosilêncio entre os atletas, que temiam represálias.

Poder

Em 1995, Nuzman chegou à presidência do COB, cargo que manteve por maiscassino aviãozinhoduas décadas, sendo reeleito seis vezes -cassino aviãozinhomuitas ocasiões, foi candidato único.

A faltacassino aviãozinhooposição tem menos a ver com a eficiênciacassino aviãozinhosua gestão na entidade e mais com o poder que acumulou e com estratégias que adotou para se manter no cargo - o termo "estrategista" para descrevê-lo foi quase unânime entre as pessoas ouvidas pela BBC Brasil.

Uma delas menciona o estatuto criado pelo presidente no COB que dificulta bastante o surgimentocassino aviãozinhoqualquer candidatocassino aviãozinhooposição. "Ele fechoucassino aviãozinhotal maneira que ninguém consegue se candidatar."

O presidente da Confederação Brasileiracassino aviãozinhoTêniscassino aviãozinhoMesa, Alaor Azevedo, por exemplo, foi um dos que tentou enfrentar Nuzman nas urnas.

"Esse estatuto do COB é foracassino aviãozinhotodos os princípioscassino aviãozinhogovernança. Ele exige que a chapa tenha pelo menos 10 confederações apoiando, que você tenha pelo menos 5 anos na presidênciacassino aviãozinhouma entidade e que você apresente a chapa até 30cassino aviãozinhoabril do ano da eleição, quando o pleito só acontece no segundo semestre", explicou Azevedocassino aviãozinhoentrevista à ESPN no ano passado.

"Então isso significa que você e seus apoiadores ficam ali quase 8 meses sujeitos a todo tipocassino aviãozinhorepresália."

O COB detém grande podercassino aviãozinhoinfluência sobre as confederações esportivas do país. No Brasil, uma das principais fontescassino aviãozinhoinvestimento no esporte é a Lei Agnelo Piva sancionadacassino aviãozinho2001, que determina que 2% da arrecadação brutacassino aviãozinhotodas as loterias federais do país sejam repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro - e é ele quem repassa a verba às outras confederações.

Candidatura olímpica e 'politicagem'

Logocassino aviãozinhoseus primeiros anos na gestão do COB, Nuzman indicou que queria que o Riocassino aviãozinhoJaneiro fosse sedecassino aviãozinhoOlimpíada. Em 1997, ele levou a candidatura da cidade ao COI (para os Jogoscassino aviãozinho2004) pela primeira vez- e acabou eliminado na primeira fase. Na segunda tentativa, para os Jogoscassino aviãozinho2012, a campanha também não deu certo - a escolhida foi Londres.

Mas segundo as fontes ouvidas pela BBC Brasil, esse tempo teria dado ao presidente do COB a chancecassino aviãozinhoentender a políticacassino aviãozinhoagrados que poderia ajudá-lo a emplacar uma candidatura.

Assim, entraramcassino aviãozinhocena jantares e eventos com a presençacassino aviãozinhoícones brasileiros, como o escritor Paulo Coelho e o ex-jogador e "Rei do Futebol" Pelé, oferecidos a presidentescassino aviãozinhoConfederações vinculadas ao COI.

Na investigação da Operação Unfair Play, a polícia federal cita o pagamentocassino aviãozinhosuposta propina a pelo menos um dos dirigentes - Papa Diack, filhocassino aviãozinhoLamine Diack, então presidente da Federação Internacionalcassino aviãozinhoAtletismo e com direito à voto na eleição para sede da Olimpíada.

Pessoas do esporte que já tiveramcassino aviãozinholidar com o presidente do COB ressaltaram muitocassino aviãozinho"articulação política" e atribuíram a ela suas conquistas no Comitê - tanto para vencer as eleições, quanto para ganhar a candidatura do Rio.

Quando o Rio finalmente foi escolhido para sediar uma Olimpíada,cassino aviãozinho2009, Nuzman recebeu boa parte do crédito pela façanha, e acumulou o cargocassino aviãozinhopresidente do Rio-2016, o comitê organizador do evento.

Muitos dirigentes questionavam a atuaçãocassino aviãozinhoNuzman e o "conflitocassino aviãozinhointeresses", que chegou a ser alertado também pelo Tribunalcassino aviãozinhoContas da União por causa do acúmulocassino aviãozinhofunções. "Ele assinava contratos com ele mesmo", disse o presidente da Confederação do Têniscassino aviãozinhoMesa, Alaor Azevedo.

À época, por meiocassino aviãozinhonota do Comitê Organizador, o órgão negou que houvesse conflitocassino aviãozinhointeresses.

cassino aviãozinho E agora?

Em 22 anos no COB - e há 42 trabalhando com gestão do esporte no Brasil -, Nuzman colecionou algumas desavenças, mas soube "se blindar" delas com o poder que acumulou. Muitos atletas evitaram fazer críticas, muitos dirigentes preferiram se aliar a elecassino aviãozinhovezcassino aviãozinhotentar mudar a situação.

Por causa disso, poucos acreditamcassino aviãozinhomudanças no esporte brasileiro após a prisãocassino aviãozinhoNuzman. Bebetocassino aviãozinhoFreitas, por exemplo, técnico da primeira medalha olímpica do vôlei sob a tutela do então presidente da CBV, virou desafeto dele após alguns desentendimentos dentro da confederação e hoje diz que o "sistema" que rege o esporte brasileiro é o mesmo, ainda que um dos líderes dele esteja preso.

"Pelo poder que sempre teve, ele impedia que as pessoas falassem. Então enquanto os fracos não se unirem pra derrubar o cara que se acha mais forte, nada vai acontecer. Ele foi preso hoje, mas o esporte do Brasil é a mesma coisa, o mesmo sistema, as mesmas federações", afirmou à BBC Brasil.

"É o sistema que dá o poder. O esporte é muito rico, só quem não é são os atletas", finalizou Jacqueline, outra desafeta do presidente.

A reportagem tentou contato com pessoas que trabalharam ao ladocassino aviãozinhoNuzman no COB, mas não obteve sucesso. A entidade não se pronunciou sobre a prisão, mas confirmou que o vice-presidente da entidade, Paulo Wanderley Teixeira, assumirá o posto na ausência do presidente.