O que faz do Brasil uma ameaça ao futuro dos tubarões - que muita gente come sem saber:onabet medication
Essas frotas internacionais, no entanto, estão proibidasonabet medicationpraticar o finning, ou seja, manter as nadadeiras e descartar a carcaça no mar a fimonabet medicationliberar seus porões para mais barbatanas. Em 1998, diante do iminente colapsoonabet medicationalgumas populações do peixe, uma convenção internacional transformou a práticaonabet medicationcrime - o Brasil foi o primeiro país a assinar tratado ratificando essa proibição.
Ocorre que, ansiosas por continuar explorando o mercadoonabet medicationnadadeiras e, ao mesmo tempo, repassar o restante, esse setor encontrou no maior país da América do Sul um caisonabet medicationconsumo.
"Essas frotas expõem aqui uma carne que praticamente ninguém quer", diz Barreto.
O biólogo paulistano, que hoje moraonabet medicationItajaí (SC), afirma que, tirando Brasil e México, as postasonabet medicationtubarão não são vendidasonabet medicationnenhum outro lugar.
"São países com grande deficiênciaonabet medicationórgãosonabet medicationvigilância sanitária, sem manejo pesqueiro e que, além disso, convivem com graves problemasonabet medicationanalfabetismo funcional, condições estratégicas para o consumo do produto", explica Barreto.
Um fatoronabet medicationpeso
A rejeição generalizada quanto à carneonabet medicationtubarão tem um motivoonabet medicationpeso. Grande predador, animal encontra-se no topo da cadeia alimentar. Por um processoonabet medicationbioacumulação, ele agrega metais pesados, como mercúrio e arsênio, presentes nos organismos que lhe serviramonabet medicationalimento. Ingeridas além da conta, essas substâncias podem causar danos cerebrais.
Um parâmetroonabet medicationconsumoonabet medicationmercúrio vem da Organização Mundialonabet medicationSaúde (OMS). Ela preconiza o limite diárioonabet medication0,5 miligrama desse metal por quilo. Estudo publicado nos Cadernosonabet medicationSaúde Públicaonabet medication2008, porém, revela que,onabet medicationamostrasonabet medicationPrionace glauca, ou tubarão-azul, a espécieonabet medicationtubarão mais pescada no mundo, o índice presente excedeuonabet medicationmaisonabet medicationduas vezes o limite diário.
Não à toa, a Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana, não recomenda a inclusãoonabet medicationtubarão no cardápioonabet medicationgrávidas,onabet medicationmulheres que estejam amamentando eonabet medicationcrianças, sejaonabet medicationque quantidade for.
Outro dado que ajuda a emoldurar esse cenário é o mislabeling, termoonabet medicationinglês que os pesquisadores traduzem como "rotulagem errada". A maioria da população estaria consumindo tubarão sem saber disso. Isso porque, nas prateleiras dos supermercados, nas bancasonabet medicationpeixe, nos restaurantes e nas merendas escolares, o animal é oferecido apenas sob o nome genéricoonabet medication"cação", carne bem-aceita especialmente pela faltaonabet medicationespinhos.
"Maisonabet medication70% das pessoas não sabem que cação é tubarão", afirma Hugo Bornatowski, professor do Centroonabet medicationEstudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos autores do texto publicado na Marine Policy.
Em pesquisa feita por ele e mais três estudiosos sobre rotulagemonabet medicationCuritiba, a maioria dos entrevistados afirmou já ter comido cação, mas nunca tubarão.
Responsável no país pela regulamentação da rotulagemonabet medicationalimentos embalados, a Agência Nacionalonabet medicationVigilância Sanitária (Anvisa) afirma não existir regra específica para a designaçãoonabet medicationprodutosonabet medicationorigem animal nas embalagens, competência que seria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Nesse sentido, remete à instrução normativa MAPA nº 29,onabet medication23onabet medicationsetembroonabet medication2015, que determina que a rotulagemonabet medicationpeixes e derivados deve conter o nome comum da espécie, conforme estabelecido na lista anexa à instrução. Na lista, é permitido o uso tanto do nome comum "cação" quanto "tubarão" para diversas espécies.
"Desta forma", continua a Anvisa, "o uso do termo cação, quando realizadoonabet medicationacordo com o previsto na regulamentação do MAPA, não é considerado enganoso e, portanto, não contraria o disposto na legislação sanitária brasileira".
Conservação
"Não dissemos que a rotulagem da carneonabet medicationtubarão no Brasil é ilegal", rebate Bornatowski. "Mas o consumidor deve saber o que está comendo eonabet medicationonde está vindo o produto, o que facilita quanto à conservação e conscientização."
Mesmo porque, diz o professor da UFPR, o termo "cação", importado do espanhol "cazón", é muito amplo, e várias espécies vendidas sob esse rótulo estão ameaçadasonabet medicationextinção - é o caso do tubarão-martelo. Na mesma linhaonabet medicationraciocínio estariam as raias, outro elasmobrânquio bastante apreciado fora do país, mas que também tem seu mercado interno como ingredienteonabet medicationmoquecas, pastéis e outras iguarias.
"Ninguém sabeonabet medicationqual raia estamos falando porque nunca houve no Brasil uma resolução taxonômica adequada que ajudasse no controle desses recursos", lembra Fabio Motta, professor do Instituto do Mar da Universidade Federalonabet medicationSão Paulo (Unifesp)onabet medicationSantos, também autor do artigo publicado na revista científica.
"Quando faloonabet medicationcação ou raia, faloonabet medicationum mundoonabet medicationespécies", enfatiza.
Entre elas, Motta destaca a raia viola e as raias emplastro, estas últimas endêmicas no sul da América do Sul,onabet medicationdistribuição restrita, crescimento lento e poucos filhotes. Uma pescaria direcionada para elas seria crítica. "Se sumirem dali, sumiram do mundo", diz.
Atualmente, a proporçãoonabet medicationelasmobrânquios ameaçados no Brasil (33%onabet medication145 espécies) excede a taxa global identificada para o grupo (25%).
Segundo o Sistemaonabet medicationPermissionamentoonabet medicationEmbarcações Pesqueiras Marinhas, tubarões são considerados "pescaria incidental". A Secretariaonabet medicationAquicultura e Pesca afirma que, como os dadosonabet medicationprodução das pescarias gerados oficialmente são voltados para as espécies-alvo da captura dentro desse sistema estabelecido, o órgão não tem informações atuaisonabet medicationespécies desses animais pescadas no Brasil.
"Ninguém admite que o tubarão-azul, por exemplo, é espécie-alvo", diz Motta. "Mas, do jeito que as pessoas comem carneonabet medicationtubarão no Brasil, isso não é mais assim."
Nessa pesca direcionada, seriam enredados também tubarões e raiasonabet medicationsituação vulnerável.
'Apagão'
O Brasil não apenas consome, como pesca tubarões. Somos o 11º país que mais os captura, e o 17º que mais exporta suas barbatanas.
O grosso, porém, vem da importação. De acordo com tabela enviada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, sob o qual está a Secretariaonabet medicationAquicultura e Pesca, o Brasil liderou as importaçõesonabet medicationdogfish (chamadosonabet medicationesqualos,onabet medicationportuguês) e outros tubarõesonabet medication2014, quando atingiu o patamaronabet medicationUS$ 45,2 milhões. Nos dois anos seguintes, Hong Kong assumiu a liderança.
Na segunda colocação, a importação brasileira teria sidoonabet medicationUS$ 26,8 milhõesonabet medication2015 eonabet medicationUS$ 24,8 bilhõesonabet medication2016. O ministério não soube informar quais espécies estariam sob o chapéu "outros tubarões".
Barreto destaca que muita dessa importação se refere a animais pescados no Atlântico Sul por países como Espanha, China e Portugal. Esses países têm atuado no Brasil desde a décadaonabet medication1970,onabet medicationuma políticaonabet medicationarrendamento. Donosonabet medicationembarcações nas quais conseguem resfriar o cação, eles já o congelam fatiadoonabet medicationpostas, prontos para o consumo no Brasil.
Os estudiosos afirmam ainda que não se colocaonabet medicationprática a obrigatoriedadeonabet medicationobservadoresonabet medicationbordo nas viagensonabet medicationpescaonabet medicationembarcações com maisonabet medication15 metros, prevista na portaria nº 166 do Ibama,onabet medication18onabet medicationjulhoonabet medication2007. "O observadoronabet medicationbordo seria uma contrapartida, ele colheria informações e faria a resolução taxonômica adequada", explica Motta.
Para os pesquisadores, aflige a faltaonabet medicationinformações eonabet medicationestatísticas do setor no país. O último dado seriaonabet medication2007.
"Faz dez anos que não sabemos o que se capturaonabet medicationpeixes na costa brasileira", contabiliza Motta. "Temos um apagão da infraestruturaonabet medicationgestão pesqueira no Brasil, na qual as arenas estão enfraquecidas e algumas nem existem mais."