Reação ao fim da Renca foi 'histeria', 'infantilidade' e 'desinformação', dizem geólogos:grupo telegram f12 bet

Renca
Legenda da foto, Extinçãogrupo telegram f12 betreserva foi promovida sem consulta ao Congresso e à sociedade civil | Foto: WWF-Brasil/Zig Koch

A Renca foi criadagrupo telegram f12 bet1984, no regime militar, para evitar a exploração da área por capital estrangeiro - embora as formações geológicas sejam promissoras, não se conhece seu potencial real e ainda seriam necessários anosgrupo telegram f12 betpesquisa para que mineradoras iniciem operação.

Enquanto as pesquisas estão paralisadas, os geólogos sustentam que a reserva está hoje ocupada por garimpeiros ilegais que não seguem qualquer legislação ambiental, enquanto a mineração feita por empresas estaria sujeita a uma sériegrupo telegram f12 betregras que mitigam seu impacto. Segundo estimativa do instituto Imazon, a partir dos voos que partemgrupo telegram f12 betLaranjal do Jari (AP), cercagrupo telegram f12 bet2 mil garimpeiros atuariam na Renca hoje.

"A Renca não é o paraísogrupo telegram f12 betAdão e Eva intocável. É uma região onde está havendo garimpagem violenta sem respeito à lei, aos padrõesgrupo telegram f12 betexploração mineral avançados e sem recolher impostos", afirma o geólogo Onildo Marini, professor aposentado da UnB e hoje diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb).

Mineração x outras atividades

Os geólogos ouvidos pela BBC Brasil dizem também que a presençagrupo telegram f12 betmineradoras na Amazônia coíbe o avançogrupo telegram f12 betoutras atividadesgrupo telegram f12 betmaior impacto, como agropecuária e extraçãogrupo telegram f12 betmadeira. Assim como o governo tem feito, eles citam o exemplo da exploraçãogrupo telegram f12 betminériogrupo telegram f12 betferrogrupo telegram f12 betCarajás, pela Vale.

Imagensgrupo telegram f12 betsatélite do Googlegrupo telegram f12 betárea protegida da Vale
Legenda da foto, Área protegida pela Valegrupo telegram f12 betparceria com o governo está preservada, enquanto todo ogrupo telegram f12 bettorno fora dessa área foi devastado | Foto: Google

Em parceria com o ICMBio, órgãogrupo telegram f12 betconservação ambiental do governo, a mineradora banca a preservaçãogrupo telegram f12 betcinco unidadesgrupo telegram f12 betconservação no entorno da mina. Elas somam cercagrupo telegram f12 bet7,6 mil quilômetros quadrados (cinco vezes a cidadegrupo telegram f12 betSão Paulo), dos quais a operação da Vale ocupa menosgrupo telegram f12 bet2%.

Imagensgrupo telegram f12 betsatélite mostram que nos últimos 40 anos a área ao redor dessas cinco unidades foi intensamente devastada por madeireiros e pela agropecuária. Ambientalistas, porém, consideram que a atividade mineradora acabou atraindo população para a região, indiretamente provocando o desenvolvimento dessas atividades mais predatórias.

"No caso da Renca, virou uma histeria por uma grande desinformação. Qualquer área do Brasilgrupo telegram f12 betque a mineração acontece tem um impacto, não se pode negar isso. Mas o impacto é pontual, muito menor que a agricultura. Sou suspeito, pois sou geólogo, mas falo com conhecimentogrupo telegram f12 betcausa", afirma Claudio Gerheim Porto, professor do departamentogrupo telegram f12 betGeologia da UFRJ.

O jornalista Lúcio Flávio Pinto, referência na cobertura da Amazônia e na denúnciagrupo telegram f12 betilegalidadesgrupo telegram f12 betgrandes empresas na região, concorda com a maioria das críticas feitas pelos geólogos e defende a extinção da Renca.

Ele é críticogrupo telegram f12 betCarajás pelo fatogrupo telegram f12 beta maior parte da produção ser exportada como matéria bruta,grupo telegram f12 betvezgrupo telegram f12 betser processadagrupo telegram f12 betaço no país, o que geraria mais riqueza. Considera, porém, que a operação da Valegrupo telegram f12 betfato gerou preservação.

"Eu combato Carajás porque é um projeto colonial, mas, se não fosse Carajás, não teria mais floresta nesta área. As pessoas (que estão criticando o fim da Renca) ou estãogrupo telegram f12 betboa intenção enganadas, ou com excessogrupo telegram f12 betboa intenção, ou têm má-fé", afirmou à BBC Brasil.

O jornalista defende que a área seja aberta para mineração e que as empresas paguem taxas para bancar a conservação das reservas florestais e indígenas.

"Há riscogrupo telegram f12 betimpacto ambiental (com a mineração) na Renca? Sim, toda vez que você adensa a população (na área devido a uma nova atividade econômica), aumenta o riscogrupo telegram f12 betimpacto, mas é muito mais fácil você prevenir e controlar com a mineradora do que com garimpeiro, com soja, com madeireiro, com assentamento rural", disse.

Protestos contra o fim da reserva
Legenda da foto, Governo enfrentou duras críticas após decretogrupo telegram f12 betextinção da Renca | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Apesar disso, Pinto reconhece que a forte reação da sociedade acabou tendo efeitos positivos.

Após as críticas, Temer revogou o primeiro decreto e publicou um novo prevendo a criação do Comitêgrupo telegram f12 betAcompanhamento das Áreas Ambientais da Extinta Renca, que será consultado sobre a concessãogrupo telegram f12 betoutorgas para a exploração mineral na área. O órgão terá representantesgrupo telegram f12 betministérios, Funai, Agência Nacionalgrupo telegram f12 betMineração e dos governos do Amapá e do Pará.

Ele comemorou a iniciativa, "inédita, uma grande vitória", mas apontou a necessidadegrupo telegram f12 betque o comitê tenha também a participação do Ministério Público e da sociedade civil, para que possa atuar com isenção.

'Gota d'água'

Adriana Ramos, coordenadoragrupo telegram f12 betPolítica e Direito do Instituto Socioambiental (ISA), rebate as críticas aos que se opuseram ao fim da Renca - e aponta riscos ambientais caso isso se confirme.

Ela nota que a extinção da reserva mineral vem acompanhadagrupo telegram f12 betoutras propostas do governo, como flexibilização do licenciamento ambiental, regulamentação da mineraçãogrupo telegram f12 betterra indígena e reduçãogrupo telegram f12 betunidadesgrupo telegram f12 betpreservação como a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.

Michel Temer
Legenda da foto, Temer minimizou polêmica sobre reserva: 'De uma singeleza ímpar' | Foto: Isac Nóbrega/PR

"A revogação da Renca foi uma gota d'água. Ela pegou uma sociedade insegura, preocupada e vendo uma movimentação absolutamente errática do governogrupo telegram f12 betrelação à conservação da Amazônia como um todo", afirma.

"A preocupação é com o conjunto da obra. Se o Congresso aprovar as mudanças do licenciamento ambiental nos termos que o governo negociou com diferentes setores, vai retirar uma sériegrupo telegram f12 betsalvaguardas importantíssimas que teriam que ser cumpridas pela mineração", reforça.

Ramos também considera que não há garantiagrupo telegram f12 betque a presença das mineradoras vai coibir o garimpo ilegal e teme que os garimpeiros acabem migrando para outras áreasgrupo telegram f12 betpreservação. Ele cita também o desastre ambientalgrupo telegram f12 betMariana, devido ao rompimento da barragemgrupo telegram f12 betrejeitosgrupo telegram f12 betuma mineradora da Vale, para argumentar que a fiscalização sobre as empresas é falha.

A coordenadora do ISA defende o desenvolvimentogrupo telegram f12 betatividades que não impliquemgrupo telegram f12 betqualquer desmatamento, como manejo florestal e extrativismo vegetal (óleos, seringa, castanha, etc.).

"O maior patrimônio da Amazônia é ser a maior áreagrupo telegram f12 betfloresta tropical contínua do planeta. Qualquer opção que signifique retirada da floresta não deveria ser a nossa primeira opção", defende.

'Infantilidade'

Os geólogos ironizam a proposta: "A Amazônia intocável é uma infantilidade, não melhora a vida do povo amazônico, nem traz recursos para o país como um todo. Se olhar a nossa balança comercial, o que está salvando o Brasil é a agricultura e a mineração", afirma Marini.

"Essa é a perspectiva que queremos para a população amazônica? Vivergrupo telegram f12 betsalário mínimo, catando castanha, retirando borracha? Um país com 13 milhõesgrupo telegram f12 betdesempregados não pode se dar ao luxogrupo telegram f12 betbloquear uma atividade como a mineração, que com um dano mínimo gera alto valor", crítica também Elmer Prata Salomão, dono da consultoria Geos e presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira das Empresasgrupo telegram f12 betPesquisa Mineral.

Com um cálculo que publicou no livro Recursos Minerais no Brasil: problemas e desafios junto com o geólogo Tadeu Veiga, ele busca fundamentar seu argumento.

A partir dos números do Departamento Nacionalgrupo telegram f12 betProdução Mineral - que apontam quegrupo telegram f12 bet2013 foram extraídas 175 milhõesgrupo telegram f12 bettoneladasgrupo telegram f12 betminérios diversos na Amazônia, no valorgrupo telegram f12 betUS$ 14,7 bilhões - os dois calculam que a atividade naquele ano gerou US$ 26,6 milhõesgrupo telegram f12 betdólares por hectare lavrado.

Para chegar nesse cálculo, eles estimaram que as 175 milhõesgrupo telegram f12 bettoneladasgrupo telegram f12 betminérios extraídas implicaram na remoçãogrupo telegram f12 bet566 milhões toneladasgrupo telegram f12 betsolos e rochas. Isso, segundo eles, caberiagrupo telegram f12 betum buraco com superfície equivalente a uma "pequena fazenda"grupo telegram f12 bet554 hectares (um terço da cidadegrupo telegram f12 betSão Paulo) e profundidadegrupo telegram f12 bet50 metros (um prédiogrupo telegram f12 betpouco maisgrupo telegram f12 bet15 andares).

Amazônia

Crédito, AFP

Legenda da foto, Governo federal reabriu a área na Amazônia para a exploração mineral

"Apenas para comparação, a produtividade da soja na região Norte égrupo telegram f12 bet3 toneladas por hectare. A cotaçãogrupo telegram f12 bet2013 oscilavagrupo telegram f12 bettornogrupo telegram f12 betUS$ 420 por tonelada. A receita do agronegócio alcançaria então US$ 1.260 por hectare, muito menor do que a receita média proporcionada pelas jazidasgrupo telegram f12 betlavra", comparam no artigo.

A coordenadora do ISA responde à ironia: "As populações que são da Amazônia vivemgrupo telegram f12 betcoletar castanha. Tem comunidade que vende castanha para o pão da Wickbold, tem comunidade que vende óleos para os produtos da Natura. Isso é uma economiagrupo telegram f12 betbase florestal, sustentável e que atende a inclusão social das comunidades locais, que não são geólogos para trabalhar na mineração".

Lúcio Pinto ressalta que as cidades do Pará impactadas pela mineração são as que têm maior renda per capita do Estado e também as prefeituras com maior receita - mas, por causa da corrupção e da má administração, persistem problemas gravesgrupo telegram f12 betsaúde, moradia e saneamento, observa.