'Essa guerra não é nossa, mas nós morremos por conta dela': os jovensbolsa de apostas ufc hojefavelas que querem ter voz na políticabolsa de apostas ufc hojedrogas:bolsa de apostas ufc hoje

Operação no complexo do alemão
Legenda da foto, Famílias frequentemente se veembolsa de apostas ufc hojemeio ao fogo cruzado entre polícia e tráfico. Foto: Bento Fábio

O Movimentos é um grupobolsa de apostas ufc hoje15 jovens que começou a se reunir há maisbolsa de apostas ufc hojeum ano e lançou neste sábado o primeiro resultado desses encontros - uma cartilha sobre políticabolsa de apostas ufc hojedrogas que começa com a questão: "Por que jovensbolsa de apostas ufc hojefavelas precisam falar sobre drogas?"

"Nós nunca fomos inseridos nesse debate, mas nós vivemos a políticabolsa de apostas ufc hojedrogas", diz Jéssica Souto,bolsa de apostas ufc hoje24 anos, compositora e videomaker, também do Alemão.

"Quando entrei no projeto, eu não me dava contabolsa de apostas ufc hojeque tudo que a gente vivia - um vizinho morrendo a cada semana, a escola fechada, o medobolsa de apostas ufc hojesairbolsa de apostas ufc hojecasa - é por causa das drogas. Por causa dessas substâncias ebolsa de apostas ufc hojeseus efeitos, morre essa cambadabolsa de apostas ufc hojegente. São anos e anosbolsa de apostas ufc hojeações truculentas, tirando vidas, acabando com milharesbolsa de apostas ufc hojefamílias", diz ela.

"A gente não conseguia assimilar o quanto a políticabolsa de apostas ufc hojedrogas afetava as nossas vidas", complementa André Galdino,bolsa de apostas ufc hoje30 anos, do Complexo da Maré. "Nossos encontros e a formulação da cartilha permitiram desenvolver essa consciência."

Operação policial pertobolsa de apostas ufc hojeescola
Legenda da foto, Joven relatam experiências negativas no contato com a polícia. Foto: Bento Fábio

Tão longe, tão perto

A cartilha vai ser apresentada no Complexo da Marébolsa de apostas ufc hojeum evento que inclui debate, rap e poesia. Haverá vans saindobolsa de apostas ufc hojediferentes pontos do Rio para incentivar interessados a irem ao evento - simbolizando a dificuldadebolsa de apostas ufc hojefazer a voz das favelas chegar ao asfalto ebolsa de apostas ufc hojetranspor a distância entre dois mundos tão próximos e tão díspares na mesma cidade.

A BBC Brasil conversou com parte dos jovens do Movimentosbolsa de apostas ufc hojeoutro encontro simbólicobolsa de apostas ufc hojemundos: a Escola Parque, na Barra da Tijuca, colégio particular construtivista frequentado por uma elite que almeja uma educação alternativa.

Jéssica, André e Aristênio Gomes,bolsa de apostas ufc hoje24 anos, saíram cedobolsa de apostas ufc hojesuas casas, na Maré e no Alemão, para chegar ao campus arborizado na Barra. Segundo André, o encontro foi "uma troca saudável", interessante para "confrontar realidades", mas com perguntas que expunham a faltabolsa de apostas ufc hojeconhecimento sobre a vida nas favelas - desconhecimento que o grupo está lutando para reduzir.

Fotobolsa de apostas ufc hojeprisão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Leibolsa de apostas ufc hojeDrogasbolsa de apostas ufc hoje2006 provocou aumento na população carcerária brasileira

Jéssica emocionou os estudantes ao apresentar umabolsa de apostas ufc hojesuas composições, Aborto Social. A música narra a breve vidabolsa de apostas ufc hojeum "famoso pivete", abandonado pelo pai após um aborto malogrado, antes mesmobolsa de apostas ufc hojenascer. "Nasce outro feto sem afeto nesse mundo complicado", diz a canção, sobre uma criança que logo virará bandido e não chegará à vida adulta.

Drogas sem mitos

O guia apresenta informações sobre quando jovens começam a ser criminalizados e as consequências da guerra às drogas - citando o aumentobolsa de apostas ufc hoje90% no númerobolsa de apostas ufc hojepessoas presas no Brasil entre 2005 e 2013, relacionado à Leibolsa de apostas ufc hojeDrogasbolsa de apostas ufc hoje2006.

A cartilha será distribuída entre ativistas, militantes e liderançasbolsa de apostas ufc hojefavelas, no Rio ebolsa de apostas ufc hojeoutras cidades. O objetivo é oferecer subsídios para multiplicar o debate.

"A cartilha é para discutir como a guerra às drogas afeta as favelas e a sociedade como um todo", opina Jéssica. "Um dos pontos centrais é olhar para o usuário pela ótica da saúde. Assim como temos usuários pesadosbolsa de apostas ufc hojeálcool, e eles não são tratados à mirabolsa de apostas ufc hojeum fuzil."

Jéssica diz ter perdido um amigo há dois meses no Alemão, baleado durante uma trocabolsa de apostas ufc hojetiros. Aristênio diz ter perdido a contabolsa de apostas ufc hojequantas vezes viveu ou presenciou "achaques" da polícia na Maré, ou que teve a casa revistada, inclusive no meio da noite.

Jovens reunidos
Legenda da foto, Grupobolsa de apostas ufc hojejovens, que começou a se reunir há maisbolsa de apostas ufc hojeum ano, quer protagonismo no debate sobre políticabolsa de apostas ufc hojedrogas. Foto: Divulgação

"Acordei com os gritos da minha mãe. Saí do quarto correndo e deibolsa de apostas ufc hojecara com um fuzil no peito", lembra. Os três relatam "quase ter morrido" algumas vezes, e delatam a truculência policial como corriqueira nas favelas cariocas.

Questionada sobre as críticas feitas pelo grupo, a Polícia Militar não atendeu ao pedidobolsa de apostas ufc hojeresposta da BBC Brasil.

A assessoriabolsa de apostas ufc hojeimprensa da Secretariabolsa de apostas ufc hojeSegurança Pública ressaltou que o secretário Roberto Sá formou, como umabolsa de apostas ufc hojesuas ações estratégicas, um grupobolsa de apostas ufc hojetrabalho para debater políticabolsa de apostas ufc hojedrogas. Com a participaçãobolsa de apostas ufc hojedez instituições - que reúne das polícias Militar e Civil à Uerj e ao Instituto Igarapé -, o grupo se reuniu três vezes desdebolsa de apostas ufc hojecriação neste ano para "estabelecer um diagnóstico sobre a políticabolsa de apostas ufc hojedrogas e fomentar parcerias para elaborar ações preventivas".

"Criminalizados, estigmatizados"

A crise econômica no Rio e o aumento da criminalidade no Estado levaram o governo federal a enviar,bolsa de apostas ufc hojejulho, o Exército para reforçar a segurança.

Mas os confrontos entre facções criminosas ou entre tráfico e polícia têm sido constantesbolsa de apostas ufc hojefavelas cariocas. Na quinta-feira, maisbolsa de apostas ufc hoje5 mil alunos ficaram novamente sem aulas, com 17 escolas fechadas devido a confrontosbolsa de apostas ufc hojefavelas cariocas. A rede municipalbolsa de apostas ufc hojeensino só teria funcionadobolsa de apostas ufc hojemaneira plena durante oito dias neste ano.

Um vídeo lançado pelo governo federal para promover a atuaçãobolsa de apostas ufc hojemilitares causou polêmica ao contrapor imagens idílicasbolsa de apostas ufc hojepaisagens do Rio à presençabolsa de apostas ufc hojetanquesbolsa de apostas ufc hojefavelas, dizendo que o Rio está "ferido", mas seguebolsa de apostas ufc hojefrente cheiobolsa de apostas ufc hoje"vida, alegria e beleza", e resiste, sabendo que a luta "ébolsa de apostas ufc hojetodos nós" - exibindo o aparato militar nas comunidades.

"A guerra às drogas criminaliza e cria estigmas sobre quem vive nas periferias", diz André. "Esse recorte racial ocasiona o genocídio da juventude negra e pobre das favelas."

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Crédito, Bento Fabio

Legenda da foto, Policiais fazem mira com armasbolsa de apostas ufc hojealto calibre, apesar da presençabolsa de apostas ufc hojecrianças ao redor

Sem apologia

O Movimentos nasceubolsa de apostas ufc hojemaio do ano passado, quando uma oficina promovida pelo Centrobolsa de apostas ufc hojeEstudos e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec) juntou jovens do Rio,bolsa de apostas ufc hojeSão Paulo e da Bahia para discutir políticabolsa de apostas ufc hojedrogas.

A partirbolsa de apostas ufc hojeentão, os encontros se tornaram regulares, passando a ocorrer cercabolsa de apostas ufc hojeduas vezes por mêsbolsa de apostas ufc hojefavelas ou no Cesec, n o Centro do Rio, com um intercâmbio constante entre a pesquisa acadêmica e a vivência nas comunidades - palavra que o grupo se nega a usar, preferindo falar semprebolsa de apostas ufc hojefavelas.

Jéssica, Aristênio, André e Ana Clara Teles
Legenda da foto, Da esquerda para a direita: Jéssica, Aristênio, André e Ana Clara Teles, pesquisadora do Cesec. Foto: Júlia Dias Carneiro

"Ninguém está fazendo apologia do uso ou da vendabolsa de apostas ufc hojedrogas. O que esses jovens querem é desafiar o senso comum, desafiar ideias preconcebidasbolsa de apostas ufc hojerelação à políticabolsa de apostas ufc hojedrogas e contribuir para mostrar que a atual políticabolsa de apostas ufc hojedrogas acaba por legitimar a violência da polícia dentro das favelas", diz a socióloga Julita Lemgruber, uma das coordenadoras do Cesec.

Ana Clara Teles, pesquisadora do Cesec, considera que o grupo tem um duplo papel: trazer o debate sobre políticabolsa de apostas ufc hojedrogas para dentro das favelas, aumentando a conscientização o impacto da guerra às drogas sobre seu dia a dia; e levar a favela para o centro do debate na cidade, que vê a favela como "coadjuvante".

"A academia tende a construir um olhar enviesado sobre políticabolsa de apostas ufc hojedrogas. Quando se adota a perspectiva da favela, surgem problemas e questões que precisam estar no centro da discussão. A partir daí, podemos chegar a soluções mais pertinentes e justas para a população como um todo", avalia Teles.

Depoisbolsa de apostas ufc hojelançar a cartilha, o grupo vai começar a trabalharbolsa de apostas ufc hojeum documento propositivo para políticabolsa de apostas ufc hojedrogas e planeja para o fim do ano um encontro nacional reunindo jovensbolsa de apostas ufc hojefavelas e periferias para ampliar o debate.