Contra superbactérias, hospitais tentam conter abuso na prescriçãorecopa 2024antibióticos:recopa 2024

Placarecopa 2024Petri

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Legenda da foto, Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivorecopa 2024antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar

Adrielly foi vítimarecopa 2024uma infecção por uma versão resistente da bactéria Staphylococcus aureus. Alémrecopa 2024ter que se submeter a uma cirurgia para limpeza da área, a estudante perdeu a chancerecopa 2024continuar com as transfusões.

Diante disso, a estudante teve que entrarrecopa 2024emergência na filarecopa 2024transplante. Ela recebeu um novo órgãorecopa 2024abril. Após idas e vindas, teve alta definitiva na última terça-feira, maisrecopa 2024seis meses depois da infecção bacteriana.

Assim como Adrielly, casosrecopa 2024pacientes infectados por bactérias resistentes vêm crescendo no Brasil e já causam ao menos 23 mil mortes por ano, estimam especialistas.

Uma das principais causas da resistência bacteriana é o uso excessivorecopa 2024antibióticos, inclusive dentro do ambiente hospitalar. Por esse motivo, hospitais brasileiros vêm implantando um novo sistema para controlar o consumo desses medicamentos e evitar abusos.

"Há uma dificuldade estrutural para enfrentar a resistência antimicrobiana, mas hoje sabemos que é preciso implementar regras básicas para diminuir o usorecopa 2024antimicrobianos. O paciente chega com um problema e o médico já prescreve o antibiótico," afirma Sylvia Lemos Hinrichsen, médica infectologista e professora da Universidade Federalrecopa 2024Pernambuco (UFPE).

Desde o ano passado, Sylvia vem treinando hospitais brasileiros a racionalizar o usorecopa 2024antibióticos, após estudar programasrecopa 2024gestãorecopa 2024uso desses medicamentos no Reino Unido.

Gestão racional

Chamadasrecopa 2024Antimicrobial Stewardship Program (ASM), as iniciativas começaram nos anos 2000 e se tornaram comuns na Europa e nos Estados Unidos com a preocupação crescente sobre superbactérias. No Brasil, programas para controle do usorecopa 2024antibióticos também não são novos, mas as iniciativas ainda estãorecopa 2024fase inicial.

O objetivo é que os médicos usem antibióticosrecopa 2024maneira mais precisa e evitem desperdícios. Quanto mais se usa um antibiótico sem necessidade, maior o riscorecopa 2024se criar uma superbactéria.

Cápsulasrecopa 2024remédio

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Legenda da foto, Iniciativas para usar antibióticosrecopa 2024forma mais precisa ainda estãorecopa 2024fase inicial no Brasil, apesarrecopa 2024não serem novas

De acordo com informações compiladas pelo Centrosrecopa 2024Controle e Prevençãorecopa 2024Doenças (CDC) dos Estados Unidosrecopa 20242014, cercarecopa 202420% a 50% dos antibióticos prescritosrecopa 2024hospitaisrecopa 2024cuidados intensivos naquele país são ou desnecessários ou foram prescritos incorretamente.

No Brasil, as estatísticas não são melhores, segundo os médicos.

"Costumávamos tratar pacientes antes mesmo da cirurgia. A pessoa ia tirar um dente e começava com o antibiótico dias antes. E isso traz riscos muito graves", explica a médica Maria Manuela Alves dos Santos, superintendente do Consórcio Brasileirorecopa 2024Acreditação, que certifica a qualidaderecopa 2024hospitaisrecopa 2024parceria com a Joint Commission International.

Desde julho, a JC incluiu gestão racionalrecopa 2024antibióticos como um dos requisitos para seu selorecopa 2024qualidade. Para usar esses medicamentosrecopa 2024maneira mais eficiente, os hospitais precisam mapear os organismos infecciosos mais comuns emrecopa 2024unidade e criar mecanismos para identificar rapidamente as reais causas das infecçõesrecopa 2024pacientes.

"Da mesma forma que um hospital precisarecopa 2024uma equiperecopa 2024limpeza, precisarecopa 2024uma equiperecopa 2024microbiologia para saberrecopa 2024realidade microbiológica. Porque é a partir disso que vou sugerir guias terapêuticos para os meus médicos", diz Pedro Mathiasi, infectologista do HCor,recopa 2024São Paulo, que desde 2013 lidera um programarecopa 2024gestão racionalrecopa 2024usorecopa 2024antibióticos.

Demora

Quando um doente chega ao hospital, os médicos muitas vezes não conseguem identificar prontamente a causa da infecção, mas colocam o paciente sob antibióticos, para evitar que a doença se alastre, enquanto colhem amostras para investigar o problema.

Essa investigação é feita pelo laboratóriorecopa 2024microbiologia, que determina quais bactérias, fungos ou vírus são a causarecopa 2024determinada doença. Em países desenvolvidos, esses testes saemrecopa 2024até duas horas, mas, no Brasil, médicos relatam que resultados podem levar até sete dias para ficar prontos.

"Se o laboratóriorecopa 2024microbiologia dá retorno rápido, o médico ajusta o tratamento. Isso traz resultados melhores para o paciente e reduz o tempo dele no hospital", explica José Martinsrecopa 2024Alcântara Neto, farmacêutico do Hospital Universitário Walter Cantídio,recopa 2024Fortaleza, querecopa 2024fevereiro desse ano também implantou um programa para racionalizar o usorecopa 2024antibióticos.

Porém, quanto mais esses testes demoram, maior o riscorecopa 2024pacientes receberem antibióticos fortes demais, que atacam múltiplas bactérias ao mesmo tempo. Chamadosrecopa 2024amplo espectro, esses medicamentos são efetivos, mas selecionam mais bactérias resistentes.

"Quando chega o resultado, vejo se posso diminuir o espectro do antibiótico, se posso dar uma dose mais branda. Esse é o pulo do gato. Porque às vezes você está dando um tirorecopa 2024canhão na bactéria quando um tirorecopa 2024chumbinho resolveria", compara Mathiasi.

Desde 2014, o HCor diz ter reduzidorecopa 202460% o usorecopa 2024antifúngicos erecopa 2024carbapenêmicos, uma classerecopa 2024antibióticosrecopa 2024amplo espectro. A queda foi registrada na UTIrecopa 2024cardiopediatria, que faz cirurgiasrecopa 2024alta complexidaderecopa 2024crianças.

A instituição também reduziu à metade casosrecopa 2024diarréia causadas pela bactéria Clostridium difficile, que é associada ao usorecopa 2024antibióticos. "Conseguimos praticamente tudo: redução dos índicesrecopa 2024resistência,recopa 2024custo com antibióticos erecopa 2024efeito adverso para os pacientes", enumera Mathiasi.

Bactéria

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Legenda da foto, Medicamentos que atacam múltiplas bactérias são efetivos, mas selecionam as mais resistentes

A passos lentos

O HCor faz parterecopa 2024uma rederecopa 2024220 hospitais nacionais que têm sido treinados dentrorecopa 2024um programa internacional da empresa farmacêutica MSD. A companhia diz que já levou a iniciativa a 26 países.

Oferecido gratuitamente, o programa faz parte dos esforços da companhia para que seus antibióticos durem mais. Com a capacidaderecopa 2024bactériasrecopa 2024se adaptar rapidamente aos medicamentos desenvolvidos para eliminá-las, remédios às vezes podem se tornar inúteisrecopa 2024poucos anos, gerando perdas às farmacêuticas.

A ideia é elogiada por especialistas, mas ainda está longerecopa 2024representar a realidade brasileira.

"Não estamos onde deveríamos estar," resume Ana Gales, coordenadora do Comitêrecopa 2024Resistência Antimicrobiana da Sociedade Brasileirarecopa 2024Infectologia. "Um programa como esse deveria estarrecopa 2024todos os hospitais brasileiros. Mas, como país subdesenvolvido, temos instituições onde isso está completamente implantado, mas outras que ainda nem começaram", diz.

Parte dos entraves é estrutural. O Brasil tem cercarecopa 20246,2 mil hospitais, e nem todos possuem laboratóriosrecopa 2024microbiologia, o que dificulta tratamentos precisos.

Um levantamento preliminar da Agência Nacionalrecopa 2024Vigilância Sanitária (Anvisa)recopa 20242015 indicou que o país tinha 660 laboratórios do gênero cadastradosrecopa 2024seu sistema - praticamente um para cada dez hospitais. A agência diz que abriu nova chamada para cadastrar essas instituições.

Também não há ainda um guia nacional para as instituições hospitalares. Aqueles que adotaram tais iniciativas recorreram a publicações internacionais, como a da Sociedade Americanarecopa 2024Doenças Infecciosas (IDSA, na siglarecopa 2024inglês).

Em nota, a Anvisa informou que trabalha desde novembrorecopa 2024uma diretriz nacional para hospitais e que irá publicá-la até o final do ano.

"Um modelo nacional vai sem dúvida estimular os hospitais a adotar o modelo", avalia Alcântara Neto, do Hospital Walter Cantídio. "Você imagina, vários hospitais do Ceará, trabalhando com uma mesma metodologia. Tem chancerecopa 2024dar resultados melhores."

Lucro

Outro entrave é comercial. Ainda perdurarecopa 2024muitos hospitais, principalmente privados, a visãorecopa 2024que usar antibióticos é uma prática lucrativa. As instituições, ao medicar pacientes, cobram dos convênios o uso desse medicamento, num modelorecopa 2024revenda, no qual garantem margemrecopa 2024lucro.

Mas especialistas dizem que a prática está cada vez maisrecopa 2024declínio. "A gente já identifica que esse pagamento por serviçorecopa 2024antibiótico está morrendo. Poucos hospitais ainda sobrevivem disso", diz Mathiasi, do HCor.

Sylvia Hinrichsen, da UFPE, acredita que a mentalidade econômica do usorecopa 2024antibióticos e a culturarecopa 2024usar o medicamentorecopa 2024excesso precisam mudar por inteiro - e que o paciente também faz parte dessa mudança.

"Essa cultura vai precisar mudar porque a própria população vai começar a entender que não é para tomar antibiótico por 21 dias, não é para tomar quatro tiposrecopa 2024antibióticos numa tacada só", diz.

"Vai ser igual a quando começamos a usar cintorecopa 2024segurança - vamos entender que o riscorecopa 2024não utilizar corretamente pode ser fatal."