Não há condições éticasbets 99Temer seguir no cargo, diz secretário-geral da CNBB:bets 99
"Se alguém vem e diz que está subornando juiz e o Ministério Público, não é possível que quem está à frente do Estado não se mexa", afirma Steiner, enfatizando se tratarbets 99opinião pessoal sua, e não uma posição oficial da CNBB.
Mas Steiner diz que a nota emitida pela presidência da CNBB no dia 19bets 99maio, um dia após a divulgação da conversabets 99Joesley com Temer, com o título "Pela Ética na Política" (dizendo estar acompanhando "com espanto e indignação as graves denúnciasbets 99corrupção política acolhidas pelo STF"), foi uma resposta da entidade "para dizer que, para alguém que exerce um cargo público, a idoneidade é tudo".
Principal organização ligada à Igreja Católica no Brasil, a CNBB foi fundadabets 991952 e desenvolveu uma forte atuação política. O grupo se tornou uma das principais vozes contrárias à ditadura militar (1964-1985), embora tivesse apoiado o golpe no início. Paralelamente, aproximou-sebets 99movimentosbets 99esquerda e teve influência na fundação do PT.
A CNBB tem mantido postura crítica ao governo Temer e se pronunciado contra algumas das principais propostas do presidente, como o projetobets 99reforma da Previdência.
Em entrevista à BBC Brasil na sede do órgão, na terça-feira, Steiner diz preferir a realizaçãobets 99eleições diretas numa eventual saídabets 99Temer. Porém, se houver eleição indireta, afirma que a escolha deve ser debatida com a sociedade e não pode ser imposta pelo Congresso ou por grupos "ligados ao mercado", sob o riscobets 99haver uma convulsão social.
Bispo auxiliarbets 99Brasília, Steiner é secretário-geral da CNBB desde 2011, posto que assumiu após atuar na prelaziabets 99São Félix,bets 99Mato Grosso. Catarinensebets 99Forquilha e franciscano da Ordem dos Frades Menores, foi ordenado padre pelo ex-arcebispobets 99São Paulo dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), seu primo.
Confira os principais trechos da entrevista.
bets 99 BBC Brasil - Como o senhor recebeu a notícia sobre a delação da JBS envolvendo o presidente Michel Temer?
bets 99 Leonardo Ulrich Steiner - Quase atônito. Nós pensávamos que o pior já tivesse passado. Claro que,bets 99alguém que está há tanto tempo na política e num partido que também vinha sendo acusado na Lava Jato, se podia esperar alguma coisa, mas não nesse montante. Por isso a presidência [da CNBB] tomou a iniciativabets 99emitir uma nota para dizer que, para alguém que exerce um cargo público, a idoneidade é tudo.
Não estávamos nos referindo apenas ao presidente da República, mas também ao deputado [Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR)] e ao senador [Aécio Neves (PSDB-MG)] envolvidos, e também a outros que agora começam a aparecer com mais nitidez. Talvez seja a continuidadebets 99uma crise que estamos vendo já há um bom tempo no Brasil, que não é uma crise econômica-política, mas uma crise ética.
A coisa pública é tratada como vantagem pessoal, ou como vantagem do partido,bets 99determinados grupos. O que espanta é que falembets 99bilhões como se fossem mil reais.
bets 99 BBC Brasil - Qual o melhor desfecho para o impassebets 99relação à permanência do presidente no cargo?
bets 99 Steiner - A CNBB está discutindo essa questão internamente. Não temos ainda uma posição. Estamos nos encontrando com muitas pessoas e vendo qual seria a melhor saída. Várias pessoas têm sugerido eleições diretas para presidente e vice. A questão é: é necessário mexer na Constituição? Como a questão não foi regulamentada ainda, vê-se alguma possibilidadebets 99haver eleições diretas para presidente e vice sem mexer na Constituição.
A outra saídabets 99que se fala mais é do próprio Congresso eleger um novo presidente e um novo vice, no casobets 99renúncia oubets 99cassação do atual presidente. Mas penso que é sempre importante passar pelo voto, é sempre importante ouvir a sociedade.
bets 99 BBC Brasil - O senhor não vislumbra a permanênciabets 99Temer no cargo?
bets 99 Steiner - Por aquilo que ele mesmo tem falado nas entrevistas, não vejo condições éticasbets 99ele continuar. Não se trata apenas do áudio, trata-sebets 99uma questão ética. Se alguém vem e diz que está subornando juiz e o Ministério Público, não é possível que quem está à frente do Estado não se mexa, não denuncie. Isso é gravíssimo.
bets 99 BBC Brasil - Temer diz que não acreditava que o empresário Joesley Batista estivesse falando a verdade, que as afirmações eram uma "fanfarronice" dele.
bets 99 Steiner - Pode ser que sejam, mas mesmo assim ele tembets 99ser investigado. Não se pode ficar quieto. A ética está acimabets 99qualquer outra coisa para o exercício do próprio mandato. Estou falando isso como uma opinião pessoal - a CNBB não discutiu internamente essas questões. Mas o próprio presidente, ao se defender, está dizendo que a situação ficou extremamente frágil para continuar a exercer o seu mandato.
bets 99 BBC Brasil - É desejável que Temer renuncie?
bets 99 Steiner - Não tenho como dizer, porque isso é algo que depende da pessoa.
bets 99 BBC Brasil - Há clima para o avanço das reformas que o governo vinha defendendo?
bets 99 Steiner - Penso que não. Como podem pessoas que estão tão envolvidas na Lava Jato decidir os destinos da população brasileira? Depois, há a necessidadebets 99maior diálogo com a sociedadebets 99relação, por exemplo, à [reforma da] legislação trabalhista. Sobre a terceirização, não houve diálogo. Sobre a reforma da Previdência, até agora não se mostraram os dados reais. Fala-sebets 99deficit, mas como funciona a Previdência brasileira? É preciso debater muito mais.
Em todas essas questões, sempre se fala num ponto: que é preciso sinalizar ao mercado, que é preciso colocar a economiabets 99ordem. Não se falabets 99pessoas, não se falabets 99Brasil. Isso é grave. É uma mentalidadebets 99mercado.
É preciso que o Congresso, diantebets 99uma crise dessas, comece a rever as próprias ações e atitudes para o bem do povo brasileiro, e não para o bembets 99um determinado grupo. Veja o que está sendo feitobets 99relação à [diminuição das áreas protegidas na] Amazônia. Não é uma questão apenas sobre a preservação da natureza, mas uma questão éticabets 99relação à casa comum, para usar uma expressão do Santo Padre.
bets 99 BBC Brasil - Uma das principais saídas discutidas seria uma eleição indiretabets 99que o ex-presidente FHC, o ministro Henrique Meirelles ou ex-ministro Nelson Jobim assumiriam a Presidência até próxima eleição. Como enxerga essas hipóteses?
bets 99 Steiner - Não citaria nomes, mas, se houver uma eleição indireta, é preciso um debate para chegar num consensobets 99um nome que não esteja ligado a falcatruas, que não esteja ligado a essa questão toda da Lava Jato, que tenha dignidade do cargo e também consiga dialogar e levar o país adiante.
Um partido não vai poder impor um nome, o Congresso Nacional não vai poder impor um nome à sociedade, um pequeno grupo que esteja interessado no mercado não pode impor ao Brasil um presidente. Senão corremos o riscobets 99ter uma convulsão social.
bets 99 BBC Brasil - Na oposição ao governo, há uma aglutinaçãobets 99torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a expectativabets 99que ele volte à bets 99 P bets 99 residência numa eventual eleição direta. Como o senhor vê essa movimentação?
bets 99 Steiner - Quanto ao Lula ser candidato, ele tem esse direito, assim como tem o Fernando Henrique (Cardoso), o (Geraldo) Alckmin, o (Jair) Bolsonaro e outros que estão se propondo a ser candidatos. A dificuldade pessoal que eu vejo é a resistênciabets 99uma parcela da sociedade à pessoa dele, dadas as contínuas notíciasbets 99que estaria implicado na Lava Jato. E nós não superaríamos esse momentobets 99tanta tensão no Brasil.
Existe uma tensão muito grande, e essa tensão talvez poderia até crescer [se Lula for eleito]. Precisaria haver gestos muito significativos dele para ajudar numa reconciliação da sociedade brasileira.
bets 99 BBC Brasil - Do pontobets 99vista ético, Lula teria condiçõesbets 99assumir esse papel?
bets 99 Steiner - Ele precisaria primeiro mostrar para a Justiça a inocência.
bets 99 BBC Brasil - Como o senhor avalia a Operação Lava Jato?
bets 99 Steiner - Ela tem sido muito importante para o Brasil. Ela tem mostrado onde estamos, esse envolvimento das empresas na política, esse beneficiamento mútuo, um Congresso eleito pelo poder das empresas. Creio que a sociedade brasileira está tomando consciênciabets 99que isso não pode continuar assim.
Mas também a Lava Jato veio demonstrar algumas incoerências. Por que esse alarde no momentobets 99prender pessoas? Quando vão prender, os jornalistas já estão lá. O Ministério Público não precisa disso pra exercer seu trabalho. E a Lava Jato não tomou cuidadobets 99relação às nossas empresas. As nossas empresas envolvidas estão numa situação muito difícil, ao passo que as pessoas envolvidas estão livres e soltas. Então existem algumas dificuldades que precisariam ser discutidas para que a Lava Jato realmente ajudasse, como alguns querem, numa expressão que não é muito feliz, a passar o Brasil a limpo.
bets 99 BBC Brasil - Como o senhor vê o crescimentobets 99figuras que tentam se projetar como alheias à política tradicional, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ)?
bets 99 Steiner - Com uma dificuldade muito grande. Você certamente acompanhou as eleições nos EUA e deve estar acompanhando o momento crítico que vive o país. Normalmente os salvadores da pátria não dão certo. Diante do descrédito da política e dos políticos, existe essa tentaçãobets 99buscar alguémbets 99fora da política para salvar a pátria. Não é o melhor caminho.
Há cada vez mais a necessidadebets 99esclarecer às pessoas a importância da política, mas também a importânciabets 99termos no meio político pessoas que tenham condiçõesbets 99governar o país. Normalmente os salvadores da pátria têm um espiritozinho um pouco ditatorial.
bets 99 BBC Brasil - Tem se falado no prefeitobets 99São Paulo, João Doria (PSDB), e até no apresentador Luciano Huck como figuras que poderiam tentar voos mais altos na política, promover alguma renovação. Que acha dos dois?
bets 99 Steiner - Não os conheço. Não sei se seriam a solução. Deseja-se que a velha política desapareça, isso é verdade, a gente sente. Mas creio que encontraremos políticos, que possam exercer seu mandato com dignidade e integridade.
bets 99 BBC Brasil - Recentemente o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à CNBB, foi alvo da CPI da Funai, que investigou processosbets 99demarcaçõesbets 99terras indígenas. Deputados ruralistas acusaram o Cimibets 99estimular "demarcações fraudulentas". Como o senhor encarou o processo?
bets 99 Steiner - A instalação dessa CPI tinha apenas o interessebets 99encostar na parede diversas entidades que assumiram a causa indígena. Não havia nenhum interesse nessa CPIbets 99realmente defender os povos indígenas. Por que, ao apresentar o relatório, eles não incriminaram nenhum grande fazendeiro?
O Cimi tem feito um trabalho extraordinário. Vivi numa região do Mato Grosso onde tínhamos vários povos indígenas e um trabalho muito importante na área educacional,bets 99saúde, no resgate das tradições, dos rituais. Quando um povo se sente inteiro nabets 99identidade, ele começa a exigir mais. Ele também cria autoconsciênciabets 99que precisabets 99espaço para viver. A terra para eles não é uma propriedade, a terra é uma casa. E isso incomoda muita gente.
Acho que no futuro [os deputados da CPI] vão se envergonhar do que fizeram, porque não se faz com irmãos o que eles estão fazendo com os índios. E eles não estão por dentro da questão indígena, estão somente interessados na questão das terras. É preciso dizer isso.