O que explica a surpreendente votação no Senado pelo fim do foro privilegiado:betboo tr

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil

Legenda da foto, Aprovaçãobetboo trmedida foi unânime e sem abstenções entre 75 senadores

betboo tr A aprovaçãobetboo trprimeiro turno pelo Senado da Propostabetboo trEmenda Constitucional (PEC) que acaba com o foro privilegiado para crimes comuns trouxe surpresas e algumas dúvidas.

A PEC, se sobreviver intacta até aprovação final, tira o foro privilegiadobetboo trquase todas as 38.431 autoridades que têm o privilégio previsto pela Constituição Federal. Quatro cargos mantêm o foro, mesmobetboo trcrimes comuns: o do presidente da República, do Senado, da Câmara e do STF.

Vale lembrar que os crimes cometidos no exercício da função, como improbidade administrativa, continuam protegidos pelo foro privilegiado. O que muda é onde serão julgados os acusadosbetboo trcrimes comuns, como corrupção, se no STF ou na Vara Federalbetboo trCuritiba, por exemplo.

Surpresas

Em primeiro lugar, surpreendeu a rapidez com que a medida, que nem sequer estavabetboo trpauta, foi aprovada na quarta-feira, 26betboo trabril. A votação ocorreu logo após a PEC passar, no mesmo dia, sem dificuldades pela Comissãobetboo trConstituiçãobetboo trJustiça (CCJ).

A segunda surpresa veio com a aprovação unânime e sem abstenções por 75 senadoresbetboo truma proposta que, na prática, retira direitos da própria classe. Se houve debate, não foi no plenário.

Crédito, Agência Senado

Legenda da foto, Senado aprovou na quarta-feira fim do foro privilegiado; proposta ainda precisa ser votada mais uma vez pelos senadores e passar pela Câmara para valer

A terceira surpresa veio com a divulgaçãobetboo trum número pouco conhecido do totalbetboo trautoridades que, afinal, contam com a proteção, vista como sinônimobetboo trprivilégio e impunidade no Brasil.

A imprensa vinha falandobetboo trmaisbetboo tr30 mil. De fato, o totalbetboo trautoridades cujo foro é garantido pela Constituição Federal ébetboo tr38.431, segundo um estudo dos consultores jurídicos João Trindade Cavalcante Filho e Frederico Retes Lima.

Nesse total, estão incluídos o presidente, ministros, 5.570 prefeitos, 513 deputados, 14.882 juízes, 10.687 membros do Ministério Público, alémbetboo trvárias outras autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário nas esferas federal, estadual e municipal.

Mas o alcance do foro privilegiado não termina aí. O estudo dos consultores mapeia também o foro privilegiado garantido pelas constituições estaduais que,betboo trum primeiro momento, não é afetado pela PEC.

São 16.559 pessoas que gozam dessa proteção amparadabetboo trconstituições estaduais. Para que isso fosse mudado, cada assembléia estadual teriabetboo trmudar suas regras. E a proteção garantida por leis estaduais é díspare no que se refere a quantos e quais cargos contam com foro privilegiado.

Em alguns Estados, dezenasbetboo trautoridades contam com foro privilegiado,betboo troutros, centenas e,betboo trtrês - Riobetboo trJaneiro, Bahia e Piauí-, milhares.

Nesses três casos, a extensão do foro privilegiado a vereadores eleva os númerosbetboo trforma desproporcional. São 4.578 mil vereadres na Bahia, 2.143 no Piauí e 1.190 no Riobetboo trJaneiro. Ou seja, do totalbetboo trautoridades com foro privilegiado garantido por constuições estaduais, quase a metade é formada por vereadoresbetboo trapenas três Estados.

Somando as autoridades protegidas pela Constituição Federal e pelas constituições estaduais, chega-se a um totalbetboo tr54.990 cargos, que os próprios autores do levantamento classificambetboo tr"espantoso".

A grande dúvida que a aprovação-surpresa gera é o que vai acontecer com a PEC. O leitor da BBC Brasil Renato Lourenço resumiubetboo tropinião: "Foi uma votação só. Faltam 3. Vão postergar até todo mundo esquecer".

De fato, a PEC ainda precisa ser aprovada mais uma vez pelos senadores para,betboo trseguida, ser apreciada pela Câmara dos Deputados. Na terça-feira desta semana, o plenário do Senado fez a primeira sessãobetboo trdiscussão. O regimento da casa exige um totalbetboo trtrês sessõesbetboo trdiscussão antesbetboo tro Senado votarbetboo trsegundo turno e a proposta seguir para a Câmara. Lá, ela precisa também ser aprovadabetboo trdois turnos. Se os deputados federais mudarem qualquer detalhe do texto, ela volta ao Senado antesbetboo treventualmente virar regra.

Dá para esperar a mesma urgência e unanimidade no processo daqui para frente? Em meio à surpresa, surgiram análises que trazem explicações nada abonadoras para a decisão histórica dos senadores. "Tem caroço nesse angu", "É cortinabetboo trfumaça" e "Me engana que eu gosto" foram apenas algumas das reações céticas nas redes sociais.

Crédito, Agência Senado

Legenda da foto, Relator da proposta, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirma que há 34 mil pessoas com foro privilegiado no Brasil

Críticos dizem que os senadores - e vale lembrar que 29 deles são investigados pela operação Lava Jato - estariam simplesmente acumulando munição na quedabetboo trbraço com o Judiciário.

Muitos queriam aprovada uma legislação dura sobre abusobetboo trautoridade, que permitiria que juízes e procuradores fossem alvo mais fácilbetboo trprocessos, mas parte dos pontos controversos foi retirada do projetobetboo trlei também aprovado pelos senadores na quarta-feira, e que agora segue para a Câmara.

Parcialmente derrotados, levantam agora a bandeira da PEC, que tira o foro privilegiado também do Judiciário. Vale lembrar que o próprio STF deve julgarbetboo trmaio uma proposta do ministro Luís Roberto Barroso para limitar o foro, mas apenas dos políticos.

O Senado reagiu, talvez também, sugerem alguns, tentando esvaziar essa discussão no Supremo. É que o andamento da PEC vai dar argumento pra quem é a favor da manutenção do foro dentro da corte,betboo trdizer que o Congresso já está analisando a questão e não cabe ao STF decidir no lugar dos parlamentares.

Mas, para alguns analistas, deputados e senadores podem alongar eternamente a tramitação da PEC. Como propostas que alteram a Constituição têmbetboo trser aprovadas com texto idêntico na Câmara e no Senado, basta ficar "aperfeiçoando eternamente" o texto para que a urgência e unanimidade da primeira votação se diluam no tempo.