'Qualquer coisa é melhor que a Venezuela': os efeitos do deslocamentoaposta segura betfairmassaaposta segura betfairBoa Vista:aposta segura betfair

María José Pacheco

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Legenda da foto, María José Pacheco vende laranjasaposta segura betfairum semáforoaposta segura betfairBoa Vista há cinco anos, quando deixou seu empregoaposta segura betfairprofessora na Venezuela

A capital do Estadoaposta segura betfairRoraima, com menosaposta segura betfair300 mil habitantes, teveaposta segura betfairtranquilidade abalada.

A chegadaaposta segura betfairestrangeiros provocou reclamações entre a população local e sobrecarregou os serviçosaposta segura betfairsaúde, levando a governadora, Suely Campos, a decretar,aposta segura betfairdezembro passado, um estadoaposta segura betfairemergência - que ainda estáaposta segura betfairvigor.

Abrigo criado para atender imigrantes

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Legenda da foto, Dezenasaposta segura betfairvenezuelanos fogem diariamente para o Brasil para escapar da crise

O traçado urbanísticoaposta segura betfairBoa Vista lembra o do centroaposta segura betfairParis, com uma praça central para a qual convergem,aposta segura betfairleque, longas e largas avenidas, como na região apelidadaaposta segura betfairÉtoile (Estrela) da capital francesa.

Apesar da semelhança com Paris não ir além do traçado das ruas, para muitos venezuelanos Boa Vista é um sonho.

Em alguns cruzamentosaposta segura betfairsuas artérias planejadas, você pode vê-los, sob o sol forte e constante.

María José trabalhaaposta segura betfairum dos cruzamentos da avenida Venezuela. Ao lado dela está seu irmão. Em outro ponto da cidade, seu marido. Os três dividem um quarto, no qual não podem cozinhar, o que gera mais despesas. Ainda assim, eles conseguem economizar e mandar dinheiro para o restante da família que ficou na Venezuela.

Em uma semana, María José chega a ganhar o mesmo que recebiaaposta segura betfairum mêsaposta segura betfairtrabalho como professoraaposta segura betfairseu país.

Mulher vende frutas no farol

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Legenda da foto, Alguns venezuelanos encontram nos semáforos uma opção para ganhar a vida

Além disso, ela encontraaposta segura betfairBoa Vista comida a preços mais baixos do que emaposta segura betfaircidade natal, devido à acentuada crise econômica no país vizinho, que gera escassezaposta segura betfairalimentos básicos e inflação alta.

Por isso, milharesaposta segura betfairvenezuelanos emigraram nos últimos anos, para países como Colômbia, Panamá, Brasil, Espanha ou Estados Unidos.

Muitos também mencionaram a incertezaaposta segura betfairrelação ao futuro como a causa que os fez decidir deixar o país.

'Qualquer lugar é melhor que a Venezuela'

A espaçosa Boa Vista, onde quase não existem edifícios altos, é a primeira cidade grande que você encontra depoisaposta segura betfaircruzar a fronteira entre Venezuela e Brasil, a cercaaposta segura betfair200 quilômetros.

Na sexta-feira, dia 24aposta segura betfairfevereiro, a reportagem teve que esperar na fronteira por até sete horas para receber a aprovação dos dois únicos agentes da polícia federal brasileira que atendiam centenasaposta segura betfairpessoas. Havia brasileiros, alguns turistas, mas, acimaaposta segura betfairtudo, venezuelanos.

Yosleidis esperava calmamente comaposta segura betfairsogra. "Qualquer lugar é melhor do que a Venezuela", afirma ela.

A razãoaposta segura betfairtanta certeza é que seu marido está há seis mesesaposta segura betfairBoa Vista, onde encontrou trabalhoaposta segura betfairum fast food venezuelano.

Ela está indo visitá-lo. Yosleidis diz que todos da família se mudarão para o Brasil assim que terminar o ano escolar das crianças,aposta segura betfairjulho.

Ao seu lado, Julia,aposta segura betfair19 anos, carregava uma mala volumosa.

Crianças venezuelanas

Crédito, Governoaposta segura betfairRoraima

Legenda da foto, Chegadaaposta segura betfairimigrantes gerou reclamações entre moradores

Ela agora está indo definitivamente para Boa Vista, ondeaposta segura betfairmãe passou vários meses com seu irmãoaposta segura betfair6 anos.

"Ele já fala português fluentemente", diz ela, orgulhosa do pequeno que domina a nova língua que a espera.

Julia faz contas. No momento, ela suspendeu seus estudos na Venezuela. Ela quer trabalhar e acredita que pode ganhar R$ 400 por mês - que, no câmbio informal da fronteira equivalem a cercaaposta segura betfair480 mil bolívares, muito mais que os 40 mil (mais o vale-refeição) do salário mínimo mensalaposta segura betfairseu país.

Tanto o maridoaposta segura betfairYosleidis como a mãeaposta segura betfairJulia pediram refúgio no Brasil e conseguiram. Agora, elas esperam conseguir o mesmo.

É a melhor maneiraaposta segura betfairobter residência legal no país vizinho; os venezuelanos que entram com vistoaposta segura betfairturista podem permanecer no país por apenas 90 dias.

O governoaposta segura betfairRoraima estimaaposta segura betfair30 mil o númeroaposta segura betfairvenezuelanos que vivem no Estado.

Segundo os dados da Polícia Federal fornecidos à BBC, 2.238 venezuelanos pediram refúgioaposta segura betfair2016. Somente cinco casos foram negados.

Emergência

O fluxo venezuelano tem gerado alguns problemas na tranquila Boa Vista.

Em dezembroaposta segura betfair2016, a governadora, Suely Campos, declarou estadoaposta segura betfairemergênciaaposta segura betfairsaúde pública por 180 dias "devido ao intenso e constante fluxo migratório".

Venezuelano com a perna quebrada

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Legenda da foto, Hospital Geralaposta segura betfairRoraima viu seu númeroaposta segura betfairatendimentos aumentar após a chegada dos venezuelanos

A medida tinha o objetivoaposta segura betfairchamar a atenção para o problema e pedir ajuda ao governo federalaposta segura betfairBrasília.

O Hospital Geralaposta segura betfairRoraima,aposta segura betfairBoa Vista, é talvez o melhor indicador da sobrecarga do sistema causada pela chegada maciçaaposta segura betfairvenezuelanos.

Em 2014, o hospital atendeu 324 venezuelanos. Em 2016, foram 1.240. Dos 2.517 casosaposta segura betfairmalária detectados no Estadoaposta segura betfair2016, 1.947 se originaram no país vizinho,aposta segura betfairacordo com dados do governo.

"Tem havido um aumento desproporcional dos venezuelanos e isso tem um grande impactoaposta segura betfairum país com limitações", diz Douglas Teixeira, diretor do departamentoaposta segura betfairemergência do Hospital Geral.

O hospital diz que sofre as consequências da chegada não apenas dos venezuelanos que se instalaram na cidade, mas também dos que são forçados a buscar atendimentoaposta segura betfairBoa Vista devido à precariedade dos hospitais próximos da fronteira.

Filaaposta segura betfairpessoas na imigração

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Legenda da foto, Algumas pessoas passam horas na fila para tentar entrar no Brasil

"Nós tratamos todos os pacientesaposta segura betfairgraça e sem distinção", diz o doutor Teixeira.

E um dos beneficiados é a famíliaaposta segura betfairAlexis Diaz, vestido com a camisetaaposta segura betfairum timeaposta segura betfairfutebol venezuelano e sentado ao ladoaposta segura betfairuma cama ocupada há uma semana pelo seu sobrinho, que quebrou o fêmur.

A internação e a operação do adolescente representam um alto custo - coberto pelo Brasil.

"Os serviços daqui são muito melhores", diz Diaz,aposta segura betfairum quarto limpo com três camas, três pacientes e seus acompanhantes.

Tio e sobrinho vivemaposta segura betfairuma comunidade indígena venezuelana perto da fronteira. O hospital mais próximo e mais bem equipado é oaposta segura betfairBoa Vista.

"Voltar será um problema porque não temos recursos", diz Diaz, cujo sobrinho será submetido a uma cirurgia no dia seguinte.

O conflito

A chegadaaposta segura betfairmassaaposta segura betfairimigrantes também está criando tensõesaposta segura betfairparte da população local, que os culpa por causar insegurança, um aumento da prostituição e por tirar proveito dos serviços gratuitos.

Imigrantes venezuelanos

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Legenda da foto, Centro para imigrantes ajuda muitos venezuelanos que chegam ao Brasil

"Há pessoas que te humilham", diz Eugenia, uma venezuelana que limpa para-brisasaposta segura betfairsemáforos.

"Eu até chorei. Mas estou batalhando pelo pão para os meus filhos", diz ela, usando uma grossa jaqueta apesar do forte calor da cidade perto do Amazonas.

Vários moradoresaposta segura betfairBoa Vista chamaram a minha atenção para a calorosa recepção dada por muitos ao deputado federal Jair Bolsonaroaposta segura betfairnovembro do ano passado.

O políticoaposta segura betfairextrema-direita pretende se candidatar à presidência do Brasilaposta segura betfair2018. Ele se compara a Donald Trump e defende uma política dura contra a imigração. No casoaposta segura betfairRoraima, contra a imigração da Venezuela.

Ele se refere ao governoaposta segura betfairNicolás Maduro como exemplo do que pode ocorrer no Brasil com um governoaposta segura betfairesquerda.

Mas nem todas as experiências com os boa-vistenses são negativas. Eugenia conta que todos os domingos uma senhora leva comida para ela no semáforo.

Refúgio

No fim do ano passado, o Estadoaposta segura betfairRoraima criou,aposta segura betfairuma quadra poliesportiva abandonada distante do centro, o Centroaposta segura betfairReferência do Imigrante (CRI), que serve como um abrigo para cercaaposta segura betfair200 venezuelanos - a maioria deles, índios da etnia warao.

Índios warao

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Legenda da foto, Índios warao são maioria no centroaposta segura betfairimigrantesaposta segura betfairBoa Vista, onde recebem cuidados

Eles dormem e empilharam seus poucos pertences nas arquibancadas do ginásio. Do ladoaposta segura betfairfora, a terra vermelha mancha seus pés e sapatos, uns lavam roupas, as crianças correm seminuas, os adultos jogam futebol e vôlei ou balançamaposta segura betfairredes.

"Fornecemos a eles o café da manhã, chá da tarde e jantar, alémaposta segura betfairassistência médica, aulasaposta segura betfairportuguês e assessoria para o mercadoaposta segura betfairtrabalho", explica o tenente do corpoaposta segura betfairbombeiros e defesa civil Fernando Troster, chefeaposta segura betfairum abrigo transitório, que tenta impedir que os imigrantes acampem nas ruas.

Troster espera manter o limiteaposta segura betfair200 moradores, e que muitos doadores ajudem.

"Mas, enquanto continuar a crise na Venezuela, eles continuarão vindo", prevê.

Entre essas 200 pessoas está Charly Gomez, um jovem que chegou com apenas uma mochila.

Jovens praticam esportesaposta segura betfaircentroaposta segura betfairimigração

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Legenda da foto, Jovens passam horas jogando futebol e vôlei no centro para imigrantesaposta segura betfairRoraima

"A língua é difícil", diz, enquanto coloca maquiagem para apareceraposta segura betfairfrente a uma câmera. "Às vezes, você tem que ficar com homens e fazer coisas que não quer, por necessidade", revela, sobre como ganha a vida.

Nenhuma dificuldade parece, no entanto, fazê-lo voltar para casa. "Nem que eu tenha que morar na rua, não vou voltar para a Venezuela, até que a situação mude", diz ele com firmeza. "Busco segurança, trabalho, pessoas que me respeitem, comida. Aqui, pelo menos como".

Jefferson Mejia está há apenas três semanas no abrigo e na cidade. Ele é colombiano e, depoisaposta segura betfairpassar dez anos na Venezuela, se mudou para Boa Vista comaposta segura betfairesposa e seus três filhos venezuelanos.

"Me disseram que aqui tem emprego e vive-se bem", diz, com a mesma esperança dos milharesaposta segura betfairvenezuelanos que estão indo para Boa Vistaaposta segura betfairbusca do que não conseguem encontrar no país vizinho.