É justo as mulheres se aposentarem aos 65 anos, como os homens?:futebol 365 apostas
Igualar a idadefutebol 365 apostasaposentadoria e o tempofutebol 365 apostascontribuição entre homens e mulheres é um dos pontos da propostafutebol 365 apostasReforma da Previdência anunciada pelo governo. Em discussão na Câmara dos Deputados, o texto estabelece um mínimofutebol 365 apostas65 anosfutebol 365 apostasidade e 25 anosfutebol 365 apostascontribuição para ambos os sexos.
Hoje, os números são menores para elas: 30 anosfutebol 365 apostascontribuição ou 60 anosfutebol 365 apostasidade contra os 35 anosfutebol 365 apostascontribuição ou 65futebol 365 apostasidade dos homens.
O argumento do governo Michel Temer é que as mulheres vivem mais -futebol 365 apostasmédia até os 79,1 anos -, e acabam recebendo o benefício por mais tempo. Estabelecer os mesmos limites corrigiria essa distorção.
A justificativa oficial não é consenso entre especialistas. Defendida por parte dos economistas como medida necessária para amenizar o rombo previdenciário, é considerada por outros como ameaça à qualidadefutebol 365 apostasvida das mulheres.
A BBC Brasil conversou com os dois lados. Ambos reconhecem a posição mais vulnerável da mulher no mercadofutebol 365 apostastrabalho, mas discordam na horafutebol 365 apostasdizer se mexer na Previdência é a melhor formafutebol 365 apostasatenuar essas disparidades.
futebol 365 apostas L futebol 365 apostas ógica da solidariedade
Para os críticos à proposta do governo, estabelecer os mesmos critérios previdenciários significa aumentar a desigualdade entre os sexos. Eles dizem que não é possível partir do pressupostofutebol 365 apostasque homens e mulheres têm direitos iguais - e aí cobrar os mesmos deveres.
Números do IBGE mostram a diferença no mercadofutebol 365 apostastrabalho. Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios)futebol 365 apostas2015, as brasileiras trabalham mais, ganham menos e ocupam vagas piores.
Permitir a aposentadoria mais cedo, dizem esses especialistas, seria um jeitofutebol 365 apostasamenizar as diferenças.
"Estamos quebrando a lógica da solidariedade. Você não tem um graufutebol 365 apostascooperação só entre as gerações novas e antigas, mas entre homens e mulheres. Elas têm uma inserção no mercado muito mais instável. Evidentemente a maternidade dificulta", diz a economista do trabalho e professora da UFRJ (federal do Rio) Lena Lavinas.
A extensão da jornada é uma das principais discrepâncias citadas.
Aindafutebol 365 apostasacordo com os dados do IBGE, as brasileiras trabalham,futebol 365 apostasmédia, 55 horas por semana, incluindo os afazeres domésticos. Os homens dispendem 50,5 horas.
Baseadas nesse parâmetro, acadêmicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) produziram um artigofutebol 365 apostasque defendem que equiparar as regrasfutebol 365 apostasacesso à Previdência fará a mulher trabalhar mais.
Segundo seus cálculos, a cada ano as mulheres trabalham,futebol 365 apostasmédia, 12% a mais do que os homens. De acordo com a lógica, um tempo mínimofutebol 365 apostascontribuiçãofutebol 365 apostas25 anos, como propõe a reforma do governo, representaria 28 anosfutebol 365 apostastrabalho para as brasileiras.
A mestranda Fernanda Félix e as professoras Luana Myrrha e Cristiane Corrêa escreveram ainda que o descontofutebol 365 apostascinco anos concedido hoje nas regras "ainda é insuficiente para compensar a dupla jornada".
Para a economista e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Hildete Melo, a matemática da expectativafutebol 365 apostasvida, segundo a qual as mulheres são privilegiadas porque vivem mais, é enganosa. O cálculo não só exclui as tarefas domésticas, diz a professora, como ignora a reprodução.
"Alémfutebol 365 apostascarregarmos um filho na barriga, quando ele coloca a cabeça no mundo é tudo responsabilidade feminina", diz Melo, editora da revista Gênero, da UFF, onde o trabalho será publicado.
Filhos e salários menores
Ser a principal responsável pelas crianças também prejudica as brasileiras na busca e na manutenção do emprego, afirma Melo.
Em 2015, havia cercafutebol 365 apostas54 milhõesfutebol 365 apostaspessoas fora do mercadofutebol 365 apostastrabalho - 69% eram mulheres.
A professora diz que a grande presença feminina no mercado informal também é alimentada pela dificuldadefutebol 365 apostasconciliar família e carreira.
Desempregada há um ano, Elineiafutebol 365 apostasMoura,futebol 365 apostas27 anos, perdeu várias entrevistas porque o filho estava doente. Enquanto não arranja uma vaga, "se vira" como pode.
"Faço bolo, faço torta, lavo para fora. Troco com as vizinhas a roupa que não serve mais, troco arroz por açúcar. A gente vai se virando."
Temendo deixar os filhos com desconhecidos enquanto o marido procura emprego, a vendedora Agnes Milan prefere não ter carteira assinada. Assim pode escolher seus horários e faltar quando for preciso.
"Tenho um meninofutebol 365 apostastrês anos e uma meninafutebol 365 apostasquatro. Por eles, não aceito algo fixo. Se ficam doentes, vou prejudicar os patrões. Quem nessa crise vai querer isso?"
Sem registro, nem Elineia nem Agnes contribuem para o INSS. Esse dinheiro faria muita falta, dizem
Vulnerabilidade
Com tantas mulheres às margens da formalidade, o riscofutebol 365 apostasserem maioria entre os que não conseguem se aposentar é grande, afirma Jorge Félix, professor convidado do USP e autorfutebol 365 apostasvários livros sobre o tema.
Segundo ele, a chance delas terem um emprego formal cai a partir dos 25 anos.
"Os dados mostram que a vulnerabilidade da mulher vai aumentandofutebol 365 apostasacordo com a idade. Aos 60 anos, só 10% estão no formal. O fatofutebol 365 apostasigualar as idades mínimas intensifica esse problema, e cresce o riscofutebol 365 apostasela não se aposentar."
Mesmo que recebam o benefício no futuro, o tipofutebol 365 apostasposto e os salários são problemáticos no presente, dizem os especialistas.
A professora Hildete Melo, da UFF, lembra que um dos bolsões do emprego feminino é a funçãofutebol 365 apostasdoméstica.
"Ainda é uma das principais formasfutebol 365 apostastrabalho das brasileiras. 93% das empregadas são mulheres."
Melo destaca ainda a áreafutebol 365 apostasserviços, que recebeu muitas mulheres durantefutebol 365 apostasexpansão nos governos petistas e é marcada por saláriosfutebol 365 apostasaté 1,5 salário mínimo. Elas se tornaram cabeleireiras, manicures, auxiliaresfutebol 365 apostaslimpeza, às vezes entrando no mercado formal por meio desses cargos.
Ao ocupar postos menos prestigiados, a vulnerabilidade das mulheres aumenta, diz Maria Rosa, socióloga e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.
"São pessoas que estão à beira do formal. Grande parte do tempo elas ficam na informalidade, sem direito a auxílio desemprego e outros benefícios."
Parte da "legiãofutebol 365 apostasmanicures" citada por Rosa, Naelma Lima tem 26 anos e só contribui para a Previdência há um ano.
Ela tem um pequeno salão com a tia e paga como MEI (Microempreendedor Individual) um valor para o INSSfutebol 365 apostasR$ 50 mensais. O que a atraiu foi o fatofutebol 365 apostaster algum seguro, como pensão por morte ou aposentadoria por invalidez, já quefutebol 365 apostasprofissão não lhe dá garantias.
"É um ofíciofutebol 365 apostasque a pessoa sente muita dor nos braços, tem tendinite, não dá para ficar muito tempo."
Alémfutebol 365 apostasnão oferecerem proteção às trabalhadoras, essas vagas pagam mal, o que joga a média salarial para baixo. Segundo o IBGE, a mulher recebe,futebol 365 apostasmédia, 76% do rendimento dos homens. No mercado informal é ainda menos: 68%.
Elas também aceitam pagamentos menores para a mesma função, acrescenta a professorafutebol 365 apostaseconomia da PUC-SP Anita Kon. O motivo? Os filhos.
"Está aumentando o númerofutebol 365 apostasfamílias que são chefiadas por figuras femininas. E isso agrava a situação, porque elas ficam sozinhas com as crianças e então aceitam trabalho com menor remuneração, sem carteira. Não podem ter muitas exigências."
Corrigir pela Previdência?
A professora Anita Kon faz parte do grupofutebol 365 apostaseconomistas que considera necessário ter regras únicas para todos. Para ela, se a reforma não for postafutebol 365 apostasprática, nenhum brasileiro vai receberfutebol 365 apostasaposentadoria.
"O que a gente debate agora não é o mundo que gostaríamosfutebol 365 apostaster, mas o mundo que a gente consegue ter para a Previdência se efetivar. Cada membro da sociedade vai perder alguma coisa."
Ela concorda que as mulheres podem ser mais prejudicadas, dadas as desvantagens citadas acima, mas não acha que mudar a idade mínima vá solucionar o problema. A maneira mais adequada, diz, seria por meiofutebol 365 apostaspolíticas públicas, como o aumento do auxílio-maternidade ou a melhora do sistemafutebol 365 apostascreches.
As diretrizes empresariais também precisariam ser repensadas, opina o professor da FEA-USP José Roberto Savoia, para que as profissionais fossem mais valorizadas.
Savoia considera a equalização entre os sexos não só necessária, mas razoável.
Ele explica que a renda menor das mulheres é compensada porfutebol 365 apostasmaior expectativafutebol 365 apostasvida. Enquanto elas ganham 24% menos dos que os colegas homens, costumam receber o benefício por um tempo 25% maior - a média deles éfutebol 365 apostas16 anos após a aposentadoria e a delas, 21 anos.
"Elas acabavam recebendo por um prazo extremamente longo. Dessa forma, você produz um maior equilíbrio da renda dos dois sexos."
Savoia destaca a importânciafutebol 365 apostaspolíticas públicas que promovam as mesmas oportunidadesfutebol 365 apostascarreira. Caso não haja um compromisso do governofutebol 365 apostasdiminuir os prejuízos para o público feminino, ele vê um quadro social desfavorável para a mulher.
Envelhecimento
Para parte dos entrevistados, esse cenário desfavorável consistiriafutebol 365 apostasbrasileiras que, trabalhando mais efutebol 365 apostascondições ruins, teriam menos filhos. Isso aceleraria o envelhecimento populacional do país e repercutiria na própria Previdência - com mais idosos exigindo a aposentadoria e menos jovens ativos para mantê-la.
"Vai ser um tiro no pé. Com a aprovação da reforma, as mulheres já terão menos filhos do que estão tendo, porque vão ter a perspectivafutebol 365 apostastrabalhar sem parar e atéfutebol 365 apostasnão se aposentar", diz Jorge Felix.
Segundo dados do IBGE, a taxafutebol 365 apostasfecundidade no país no ano passado erafutebol 365 apostas1,72 filho por mulher. A partirfutebol 365 apostas2010, o indicador começou a se aproximar dosfutebol 365 apostaspaíses desenvolvidos. Hoje, fica pouco acima da taxafutebol 365 apostasfecundidade total dessas nações entre 2010 e 2015: 1,67.
Os filhos da vendedora Agnes Milan poderiam ter sido dois a menos nessa conta. Se tivesse que escolher hoje, a vendedora não sabe se teria engravidado. A primeira gravidez foi desejada. Na segunda,futebol 365 apostas2012 e com a crise se aproximando, chorou por três dias logo após fazer o teste.
Mais do que a vida reprodutiva das mulheres, as transformações na Previdência podem devolvê-las mais cedo ao lar, opina a economista e professora da UFRJ Lena Lavinas.
Com mais brasileiros não conseguindo se aposentar ou na labuta até idade avançada, são elas que cuidarão dos maridos e pais na velhice, diz a professora.
Agnes diz se identificar com a situação.
"Vou ter três criançasfutebol 365 apostascasa, incluindo meu marido, que tem 65 anos. Ele não consegue um emprego. Vou precisar cuidar dele também, porque com a ajuda do governo não dá para contar. Tudo vai dependerfutebol 365 apostasmim", afirma, enquanto continua colando miçangas na tiarafutebol 365 apostasprodução.