Será que o brasileiro trabalha pouco? Números respondem:apostaganha com
"O PIBapostaganha comum país é medido por horas trabalhadas vezes a produtividade por hora, sendo assim, só há duas formasapostaganha comuma nação ficar mais rica: aumentando a produtividade ou as horas trabalhadas", explica Poschen.
Ele diz acreditar que,apostaganha comtermosapostaganha comhoras trabalhadas, os brasileiros estão dentro da média mundial, chegando muito perto da média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o "clube" das nações mais ricas.
Em 2014, a média anual brasileira foiapostaganha com1711 horas por ano, segundo o escritórioapostaganha comSt. Louis do Federal Reserve, o banco central americano, e a da OCDE,apostaganha com1763 horas por ano.
"É muito próximo. O Brasil está praticamente no mesmo grupo que Japão, Canadá, Itália e Estados Unidos", afirma Poschen.
Os japoneses trabalharamapostaganha commédia 1729 horas por anoapostaganha com2014, os canadenses, 1703, os italianos, 1719, e os americanos, 1.789. A organização não oferece esse dado sobre o Brasil, porque o país não é seu membro.
Dias livres
Aferir se uma população profissional trabalha pouco ou muito depende não somente da quantidadeapostaganha comférias ou folgas remuneradas desfrutadas por ela, mas também do contexto mundial.
"Na Europa, maisapostaganha com94% dos países têm maisapostaganha com20 dias úteisapostaganha comférias remuneradas, e, no Brasil, é semelhante a isso", diz Poschen.
O tema gerou polêmica após o Ministério do Trabalho publicar nas redes sociaisapostaganha comoutubro um vídeo sobre o assunto e que foi criticado por comparar, com baseapostaganha comdados equivocados, os diasapostaganha comfériasapostaganha comdiversos países.
O diretor da OIT acredita que os dias livres não sejam um bom parâmetro, porque há um desequilíbrio encoberto por outras variáveis, como os direitos específicosapostaganha comcada categoria. Por exemplo, pilotos precisamapostaganha commais horasapostaganha comdescanso do que auxiliaresapostaganha comescritório.
Além disso, calendáriosapostaganha comferiados mudam anualmenteapostaganha compaís para país, o que oferece uma baseapostaganha comcomparação apenas aproximada. Em 2016, o Brasil teve 19 feriados reconhecidos pelo governo.
"O Canadá oferece menos dias úteisapostaganha comférias remuneradasapostaganha comcomparação com o Brasil, mas, por outro lado, tem uma semanaapostaganha comapenas 40 horasapostaganha comtrabalho, enquanto, no Brasil, são até 44 horas semanais", argumenta Poschen.
"Portanto, se a questão é 'quanto as pessoas trabalham', avaliar apenas as folgas não dá uma resposta."
Férias
A legislação brasileira estabelece uma relação proporcional entre o direito a férias e o comparecimento ao trabalho - quem falta mais ao serviço têm menos dias para descansar.
Se uma pessoa falta ao trabalho até cinco dias no ano, pode tirar férias integrais,apostaganha com30 dias corridos. Entre seis e 14 dias, o empregado tem direito a 24 diasapostaganha comférias. Se faltar entre 15 e 23 dias, pode descansar 18. E, entre 24 e até 32 dias, terá apenas 12 diasapostaganha comférias.
"Maisapostaganha com96% dos países do mundo têm leis que estipulam férias remuneradas, o que estáapostaganha comacordo com a convenção da OIT, que o Brasil ratificou", afirma.
"Não podemos dizer que a quantidadeapostaganha comférias do brasileiro é extraordinária. É mais do que a médiaapostaganha comfolga remunerada nas Américas, mas nada excepcional."
No Brasil, a situação seria ainda mais complexa, porque só 60% dos empregados têm carteira assinada, diz Poschen. Para os cercaapostaganha com40% dos trabalhadores informais, as regras da legislação sobre dias livres "não se aplicamapostaganha comforma alguma".
O presidente da Confederação Sindical Internacional, João Felício, aponta que a informalidade da economia brasileira resulta, na prática,apostaganha commais horas trabalhadas. "São pessoas com uma jornada excessiva, que ultrapassa 50 a 60 horas semanais."
Países avançados
Nos Estados Unidos, a legislação não prevê um mínimoapostaganha comférias remuneradas, um benefício normalmente negociado entre empregado e empregador.
Se por um lado trabalhadoresapostaganha comatividades consideradas mais simples, como atendentesapostaganha comlanchonete, podem não conseguir muitas férias, por outro, executivos certamente obtêm um bom descanso remunerado nos seus pacotesapostaganha combonificações.
"Os Estados Unidos são a única economia avançada no mundo que não garante aos trabalhadores folga remunerada", afirmam os pesquisadores Rebecca Ray e John Schmittapostaganha comestudo publicado pela Faculdadeapostaganha comDireito da Universidadeapostaganha comHarvard.
A pesquisa No-vacation nation, USA - a comparison of leave and holiday in OECD countries (Nação sem férias, EUA - uma comparaçãoapostaganha comlicença e férias nos países da OCDE) faz um apanhado da legislação dos países da OCDE sobre férias e feriados.
Segundo o levantamento, alémapostaganha comnão haver férias garantidas, não há feriados remunerados nos Estados Unidos.
Em outros países, a realidade é diferente. No Canadá, são dez diasapostaganha comférias e nove feriados remunerados por ano. No Japão, dez diasapostaganha comfolga e um dia extra a cada ano que permanecer no emprego, mas não há feriados remunerados.
Na Europa, os números variam. A Alemanha ofereceapostaganha comquatro a cinco semanasapostaganha comférias e mais dez feriados. A França prevê 30 dias úteisapostaganha comdescanso e um feriado. No Reino Unido, são 28 dias e nenhum feriado. Em Portugal, são 22 dias úteisapostaganha comférias e 13 feriados compulsórios.
O problema da não regulamentação, afirmam os pesquisadores, é que há uma distorção nas estatísticasapostaganha comprodutividade e crescimento. O que faz com que o cálculo do PIB americano não seja claro.
"A disponibilidadeapostaganha comfolgas anuais e feriados remuneradas têm implicações na avaliação do bem-estar econômico e social, particularmente quando se usam indicadores comparativos como PIB per capita e produtividade por trabalhador, que tendem a obscurecer grandes diferenças entre trabalho e lazer nos países."
Produtividade é a chave
Se o trabalhador brasileiro não pode ser considerado, então, um "sortudo" que tira muitas férias e, na média, trabalha tanto quantoapostaganha compaíses ricos, por que o avanço da riqueza nacional não acompanha o das nações desenvolvidas?
Poschen acredita que, mais do que horas trabalhadas por ano, a produtividade seja determinante para aferir a eficiência econômica.
"Em 1970, brasileiros trabalhavam 2145 horas por anoapostaganha commédia,apostaganha comcomparação com 1711apostaganha com2014. Então, houve uma forte reduçãoapostaganha comhoras trabalhadas, mas isso, obviamente, não deixou o país mais pobre. O Brasil se desenvolveu enormemente nesse tempo. Por isso, é importante observar os ganhosapostaganha comprodutividade", exemplifica.
"Veja, por exemplo, a Alemanha, onde a médiaapostaganha comhoras trabalhadas éapostaganha com1366 por ano, enquanto o PIB per capita alemão é três vezes superior ao do Brasil."
Relatóriosapostaganha comorganizações como OCDE, OIT e Banco Mundial afirmam que o aumentoapostaganha comprodutividade per capita é resultado, entre outros fatores, da maior capacitação dos trabalhadores, por meioapostaganha comestudo e treinamento, e do desenvolvimento e aplicaçãoapostaganha comnovas tecnologiasapostaganha comprodução e logística.
"Nas próximas décadas, o crescimento global será afetado pelo envelhecimento da população. Mais do que nunca, a produtividade será o principal motor para o crescimento e a prosperidade futuros", diz o vice-diretor para Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE, Mark Pearson, à BBC Brasil.
A médiaapostaganha comprodutividade por hora por trabalhador nos países da OCDE éapostaganha comcercaapostaganha comUS$ 50 (R$ 169), apontam os dados mais recentes,apostaganha com2014. Dentre os mercados analisados, o México estáapostaganha comúltimo, com cercaapostaganha comUS$ 20 (R$ 68). Luxemburgo vem no topo, com pouco maisapostaganha comUS$ 90 (R$ 304).
Por não fazer parte da organização, o Brasil não está incluído nesta média produtiva. Uma outra comparação feita pela própria OCDE sugere, no entanto, que o país ainda pode melhorar bastanteapostaganha comgeraçãoapostaganha comriquezaapostaganha comrelação ao mundo.
Sem levarapostaganha comconta a economia informal do país, a estimativa feita há dois anos aponta que cada trabalhador brasileiro produz por ano menosapostaganha com20% da riqueza gerada no mesmo período por um trabalhador médio da OCDE.
Portanto, ao mesmo tempo que no Brasil já se trabalha quase tanto quanto nos países ricos, a qualidade desse trabalho e as estruturasapostaganha comprodução disponíveis ainda podem melhorar muito, com investimentosapostaganha comeducação, pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e logística.