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Ruptura entre PCC e Comando Vermelho pode gerar 'carnificina', diz pesquisadora:plataforma de aposta
Leia os principais trechos da entrevista da pesquisadora à BBC Brasil.
plataforma de aposta BBC Brasil - O que pode ter motivado as mortes recentes nos presídiosplataforma de apostaRondônia e Roraima?
plataforma de aposta Camila Nunes Dias - As informações ainda são muito escassas, mas está claro que houve uma ruptura entre o PCC e o CV. Pelo que tenho acompanhado, a ruptura está ligada à dinâmica expansionista das facções dentro dos presídios. Desde julho se tem notíciaplataforma de apostaameaças mútuas entre CV e PCC nas prisões, mas até então essa tensão não tinha resultadoplataforma de apostamortes. Parecia que os grupos estavam tentando evitar uma ruptura.
Neste fimplataforma de apostasemana, 70 presos do PCC foram transferidosplataforma de apostaunidades prisionais controladas pelo CV para prisões controladas pela ADA (Amigos dos Amigos, segunda maior facção do Rioplataforma de apostaJaneiro). Isso é muito surpreendente e muda completamente o xadrez do sistema prisional do Brasil inteiro.
Essa reconfiguração também cria a possibilidadeplataforma de apostaque o PCC atue ao lado da ADA contra o CV na guerra por territórios do Rioplataforma de apostaJaneiro. Não sei se para o PCC valeria a pena - eles teriam um desgaste muito grandeplataforma de apostatermosplataforma de apostapessoal, custos, armas -, mas a possibilidade está posta.
plataforma de aposta BBC Brasil - Quais consequências essa ruptura poderá ter nas demais partes do país?
plataforma de aposta Dias - Em São Paulo, não vejo nenhum grande impacto - talvez no litoral, onde há presença mais significativa do CV. Mas nos outros Estados a consequência imediata pode ser uma maior violência nas prisões, como ficou claroplataforma de apostaRondônia e Roraima. Pode haver maior instabilidade no sistema prisional do Brasil inteiro, principalmente no Norte e Nordeste, onde há um equilíbrioplataforma de apostapoder entre os dois grupos dentro e fora das prisões.
Recentemente, ganguesplataforma de apostarua do Ceará e do Rio Grande do Norte celebraram um pactoplataforma de apostapaz para não haver mais mortes. Há informaçõesplataforma de apostaque esse pacto teria sido costurado pelo PCC e pelo CV. Com essa ruptura, não sabemos se vão manter o pacto. Geralmente as disputas nas prisões acabam reverberando nas ruas, então a situação nos Estados pode tensionar ainda mais.
plataforma de aposta BBC Brasil - Qual o tamanho do PCC e do CV foraplataforma de apostaseus Estadosplataforma de apostaorigem hoje?
plataforma de aposta Dias - O PCC e o CV são hoje os dois principais grupos que atuam no tráficoplataforma de apostadrogas e no controle das unidades prisionais no Brasil. Há maisplataforma de apostadez anos eles vêm se expandindo alémplataforma de apostaseus Estadosplataforma de apostaorigem.
O CV é mais antigo que o PCC. Ele surgiu no fim dos anos 1970, enquanto o PCC éplataforma de aposta1993. Mas hoje o PCC é bem mais forteplataforma de apostatermosplataforma de apostaorganização e estrutura que o CV. O PCC está presenteplataforma de apostatodos os Estados do país. Em alguns, como São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, ele tem hegemonia e é praticamente o único grupo criminoso a atuar.
O CV, alémplataforma de apostaatuar no Rioplataforma de apostaJaneiro, tem hegemoniaplataforma de apostaMato Grosso e Tocantins. No Norte e no Nordeste, há um maior equilíbrio entre PCC e CV, com ligeiro predomínioplataforma de apostaum ouplataforma de apostaoutro. No Sul, grupos locais têm mais força, e PCC e CV se colocam como aliados ou inimigos desses grupos.
plataforma de aposta BBC Brasil - Como PCC e CV se aliaram?
plataforma de aposta Dias - Desde o surgimento do PCC e do primeiro estatuto do grupo, escrito entre 1996 a 1997, já havia a ideiaplataforma de apostabuscar uma aliança com o CV. Inclusive o lema do CV, "Paz, Justiça e Liberdade", também foi adotado pelo PCC.
Essa aliança nunca foi ideológica, mas sim comercial e por conveniência. Quando um membro do PCC era presoplataforma de apostaáreas controladas pelo CV, recebia a proteção do CV nas prisões dominadas por esse grupo. E vice-versa.
Os dois grupos também faziam uma espécieplataforma de apostaconsórcio para a aquisiçãoplataforma de apostamercadorias - como armas, maconha e pasta base (matéria-prima da cocaína) - e para negociar melhores preços com fornecedores nas fronteiras.
Nunca houve nada além disso. Na cúpula que fundou o PCC, alguns membros tinham o idealplataforma de apostacriar uma união nacional do crime, mas isso nunca foi adiante.
plataforma de aposta BBC Brasil - O que impediu uma aproximação maior entre PCC e CV?
plataforma de aposta Dias - Membros do PCC sempre dizem que o CV busca muito a guerra, está muito preocupado com armas, enquanto eles, do PCC, dizem buscar a paz.
Mas os dois grupos têm histórias bem diferentes, que ajudam a explicar as diferentes formasplataforma de apostaoperar. Menosplataforma de apostacinco anos após o surgimento do CV, houve uma dissidência que deu origem ao Terceiro Comando (atual Amigos dos Amigos, ou ADA). Essa dissidência, aliada à especificidade geográfica do Rioplataforma de apostaJaneiro, fez com que o CV nunca fosse um grupo hegemônico e desde o início estivesse envolvidoplataforma de apostaguerras por disputaplataforma de apostaterritórios. Isso impediu que o CV fosse forte como o PCC.
Em São Paulo, o PCC enfrentou dissidênciasplataforma de apostaseus primeiros dez anos, mas conseguiu sufocá-las ou eliminar os grupos rivais, que ficaram reduzidos a penitenciárias específicas, sem expressão fora das prisões.
Nos pontosplataforma de apostavendaplataforma de apostadroga do PCCplataforma de apostaSão Paulo, o grupo proíbe o usoplataforma de apostaarmas. Isso só é possível por conta da hegemonia do PCC, por não haver grupos rivais que imponham algum risco àquele comércio. No Rio, essa atitude seria impensável.
plataforma de aposta BBC Brasil - Há diferenças na maneira como as duas facções operam foraplataforma de apostasuas bases?
plataforma de aposta Dias - De dez anos para cá, o CV passou por momentosplataforma de apostaque esteve bem enfraquecido por conta das UPPs (Unidadesplataforma de apostaPolícia Pacificadora, política do governo do Rio que instalou dezenasplataforma de apostabases policiaisplataforma de apostaáreas controladas pelo tráfico) e das disputas com a ADA.
Mas nos últimos anos o CV se fortaleceu novamente e passou a se expandir para outros Estados. Diferentemente do PCC, o CV não atuaplataforma de apostamaneira centralizada fora do Rio. Suas unidadesplataforma de apostaoutros Estados agem como franquias, elas não precisam se submeter às ordens do Rio.
Já o PCC no Acre, no Paraná ouplataforma de apostaqualquer outro lugar do Brasil está dentroplataforma de apostauma estrutura unificada. São células que atendem às diretrizes da cúpula. As ordens que saemplataforma de apostaSão Paulo são atendidasplataforma de apostatodos os Estados.
plataforma de aposta BBC Brasil - Essas facções são tão poderosas quanto os cartéis colombianos dos anos 1990, como o que era chefiado por Pablo Escobar?
plataforma de aposta Dias - A diferença principal entre os grupos reside no tamanhoplataforma de apostaseus mercados. Os cartéis colombianos, assim como os cartéis mexicanosplataforma de apostahoje, têm como principal alvo o maior mercado consumidorplataforma de apostadrogas do mundo, os Estados Unidos.
O PCC e o CV atuam basicamente com o mercado brasileiro. Os dois grupos estão no Paraguai e na Bolívia, mas essa presença é muito mais um pontoplataforma de apostacontato com fornecedores do que um controleplataforma de apostatodas as etapas do comércio.
Já os cartéis colombianos se envolviam com o controle da produção, do processamento, do transporte e da venda das drogas. Essa diferençaplataforma de apostamagnitude fez com que os cartéis colombianos tivessem outra estrutura interna, outra organização hierárquica, e até outro nívelplataforma de apostainfiltração no poder político.
plataforma de aposta BBC Brasil - O que o poder público pode fazer diante da ruptura entre as facções?
plataforma de aposta Dias - Em termos imediatos, atender às demandas por transferênciasplataforma de apostapresos, porque se não atender vai haver uma carnificina, comoplataforma de apostaRoraima e Rondônia. No longo prazo, se quiser enfrentar o problema, não poderá fugirplataforma de apostauma políticaplataforma de apostadescarcerização.
A resposta do poder público nas últimas décadas tem sido sempre equivocada. Constróem-se mais prisões, mas esse investimento não vem acompanhadoplataforma de apostainvestimentos no sistema penal como um todo, como na contrataçãoplataforma de apostaagentesplataforma de apostasegurança. Houve um aumento gigantesco da população carcerária e também um aumento na relação entre presos e funcionários. Em prisõesplataforma de apostaSão Paulo, temos muitas vezes um funcionário para cada 300 presos, situação que se reproduzplataforma de apostaoutras partes do país.
É evidente que o Estado não controla a população carcerária. Quem exerce o controle nas cadeias são as facções. Isso vale para o país todo. O Estado é conivente com isso - e mais do que isso, o Estado depende do controle das facções para continuar mantendoplataforma de apostapolíticaplataforma de apostaencarceramento.
Com as atuais taxasplataforma de apostaencarceramento e superlotação dos presídios, não há nenhum tipoplataforma de apostapolítica prisional que vá dar conta disso. Deve-se reservar a prisão apenas para quem cometer crimes violentos e adotarplataforma de apostamaneira efetiva alternativas penais, como a tornozeleira eletrônica não só para presos do regime semiaberto, mas para evitar que quem cometa um furto vá para a prisão.
Também deveria haver uma discussão séria sobre a descriminalização das drogas. Mas tenho certezaplataforma de apostaque isso não vai ocorrer e vão adotar apenas medidas paliativas. Logo um novo equilíbrio vai se impor no sistema prisional e seguiremos até a próxima crise.
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