O que podemos dizer sobre o futuro das cidades no Brasil e no mundo?:

Urna eletrônica chegando à seção eleitoral2014

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Legenda da foto, Eleitores5.568 municípios brasileiros vão às urnas escolher prefeitos e vereadores no dia 2
Trânsito pesadoSão Paulo

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Legenda da foto, Ver a cidade coletivamente demanda um entendimento sobre os entraves e caminhos

Para os estudiososcidades e planejadores urbanos - muitos dos quais estarão presentes na cúpula Habitat III - o Brasil sempre ofereceu alguns dos mais destacados casosestudo sobre extrema desigualdade e extraordinária inovaçãocidades, agindo como um comparador central para processos urbanos similares mundo afora. É um momento, portanto,ensinar e tambémaprender.

O Brasil se urbanizou cedo. Em meados do século 20, o país já tinha alcançado níveisconcentração populacionalcidades muito superiores aos vistos na Ásia e na África.

Entre 1970 e 2000, o sistema urbano absorveu mais80 milhõespessoas.

Esse intenso processourbanização gerou inúmeros exemplosque cidades brasileiras viraram objetoestudo. O planejamento modernista, a militarização das favelas, a criação das Zonas EspeciaisInteresse Social (ZEIS) e também a observação antropológica da informalidade e o chamado 'urbanismo insurgente' são apenas alguns dos temas que põem as cidades brasileiras no focopesquisasplanejamento urbano. Frequentemente, são casoestudoproblemas e tambémsoluções.

Por exemplo, mundo a fora a oferta limitadamoradiascidades com elevada taxacrescimento populacional leva a crises habitacionais e migração forçada. No Brasil, contudo, a autoconstrução, onde moradores erguem suas próprias casas e supremdemanda imediata por habitação, é, ao mesmo tempo, um problema e solução. A criaçãoassentamentos sem adequada infraestrutura desafia autoridades locais, porém, tal enfrentamento regula a especulação imobiliária. O desafio é discutir a suspensãoregimes regulatórios e pensar no investimentoengenharia e arquitetura social, sem, contudo, levar ao crescimento insustentável das cidades.

Garoto da favela assiste a rugby nos jogos do Rio 2016

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Legenda da foto, DepoisCopa e dos Jogos do Rio, cidades se tornam o foco para todos os tiposglória e aflição no país

Cúpulas e grandes eventos globais também deram visibilidade à abundante e rica tradição brasileiraestudos urbanos no discurso global.

Após o Brasil ter sediado a Copa do Mundo 201412 capitais diferentes e as Olimpíadas no Rio, por exemplo, cidades se tornaram o foco central para todos os tiposglória e aflição no país: Brasília invocando o modernismoNiemeyer; Porto Alegre internacionalmente conhecida pelo orçamento participativo que identificou a era PT; Recife talvez injustamente associada com o vírus zika; São Paulo como um dos locais com maior concentraçãohelicópteros particulares per capita no mundo; e o Rio, sede do urbanismo cultural carioca que inspira artistas e invoca a ambivalênciasonhos e pesadelos metropolitanos.

Depois da Copa e dos Jogos do Rio, cidades se tornam o foco para todos os tiposglória e aflição no país

Entraves e caminhos para cidades autônomas

Porém, uma preocupação central para as eleições que se aproximam é que a grande visibilidade das cidades brasileiras não levou necessariamente a maior habilidade dos gestores e cidadãos para determinar seu próprio futuro.

Municípios continuam a dependerrecursos federais para cobrir despesas locais e prefeitos precisam seguir elaborados planos regulatórios nacionais. Esforços anterioresdescentralização da governança urbana no Brasil - bem-recebidos por cidadãos, planejadores e pesquisadores emcriação - têm, sem dúvida, resultados ambíguos emimplementação.

O Estatuto das Cidades (2001) é um exemplo. Centradoplanejamento participativo (por meioconferências, planos diretores participativos, colegiados e projetosleiiniciativa pública), ele presenteou os cidadãos com a oportunidadeser parte na criação e administração da cidade.

Contudo, o Estatuto muitas vezes demanda participação local. Pequenos municípios então sofrem com poucos participantes, enquanto grandes municípios realizam eleições para limitar o númeromilitantes.

Os desafiosverbalizar publicamente as demandas locais variam desde problemasauto-representação,que discussões podem se tornar meramente palanques para aspirantes políticos, até uma percepção compartilhadaameaça entre participantes que não têm casas legalizadas, empregos formais estáveis e, muitas vezes, permanecemsilêncioreuniões para evitar confrontar poderes econômicos e políticos locais.

Em tais reuniões, é comum que residentes iniciem suas falas, quando o fazem, se apresentando da seguinte forma: "Eu não sou um arquiteto, eu não sou um planejador urbano, eu não sou um político, eu não sou um geógrafo, mas eu acho que é necessário…"

Helicóptero sobrevoa São Paulo

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Legenda da foto, Em São Paulo o helicóptero gera até um novo urbanismo

Dessa forma, ver a cidade coletivamente demanda um entendimento dos diferentes entraves que limitam o potencial da cidade.

O futuro das cidades

Nesse contexto, o Economic and Social Research Council do Reino Unido,parceria com entidadesfinanciamentopesquisa brasileiras, criou uma sérieprojetospesquisa colaborativos entre pesquisadores brasileiros e britânicos que aumenta nossa capacidadever a cidade brasileira, a partir da ciência global sobre cidades, para entender particularmente o Brasil metropolitano a emergir.

As pesquisas convidam a um entendimento, por exemplo, sobre a forma como as pessoas estão envelhecendo nas cidades brasileiras que são feitas pelos e para os jovens. Entender o envelhecimento no Brasil é não apenas urgente, dada a rapidez na mudança do perfil da população, mas ainda convidativo, pois, se o Brasil envelhece rápido, ele não envelhece sozinho, e cidades no mundo também enfrentam os desafiosenvelhecer com saúde e têm muito a ensinar.

Pesquisas urbanas também podem analisar a maneira como sistemastransporte podem reproduzir por décadas ambos segregação e integração social, não apenasáreas metropolitanas como São Paulo, como tambémmunicípios pouco visitados no Amazonas.

No Amazonas, por exemplo, os desafios na áreasaúde vão além da ausênciaprofissionais qualificados ou das grandes filaspostossaúde, o desafio é chegar até locaisatendimento, já que populações ribeirinhas no norte do país enfrentam isolamento.

É possível pesquisar ainda como divisõesgênero podem estruturar geografiasviolência esegurança doméstica e pública, e pesquisas permitem entender sugestõesmulheres vítimasviolência para o problema que as aflige diretamente.

Ciência e tecnologia podem também auxiliar no melhoramentoum dos gargalos principais das cidades brasileiras, o saneamento básico. O monitoramento do saneamento por meionovas tecnologias pode permitir uma melhor qualidadevida e até o controledoenças. Essa ciênciacidades permite também compreender um dos grandes desafios para o país, a geraçãoalimentos, energia e água.

Eleitora vota nas eleições presidenciais2014 acompanhadauma criança

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Legenda da foto, O futuro das cidades pode estar na ponta dos dedoseleitores

Como pensardesenvolvimento econômico e social sem esses elementos que estão correlacionados? E pensar nesses elementos é olhar para o futuro das cidades, a forma como crianças e jovens lidam com as ameaças na ofertaalimentos, energia e água.

Interpretando a cidadetempo real

Esse esforço pode ainda ser usado para interpretar a cidadetempo real no momentoque ela se desenvolve.

Mas o futuro é um artigo defeituoso.

O horizontepossibilidades futuras para a jovem mulher na favela pode focar nas próximas 24 horas. Em contraste, um moradorum condomínioluxo pode registrar seu tempocarreiramaneira precisa, calibrando cada década.

Assim, o desafio é reconciliar esses horizontes temporaissistemas urbanos com imperativos políticos da metrópole democrática, onde futuros são medidosciclos que duram quatro anos.

Em nossas pesquisas, consequentemente, temos uma obrigaçãotornar visíveis os acordos, negociações e alternativas que as próximas eleições municipais podem gerar para o futuro das cidades do Brasil. Enquanto o futuro da cidade pode ser unicamente brasileiro, nosso entendimento éque esse futuro pode se beneficiarcolaborações que, por exemplo, explorem a diversidadesistemas abertos que a cidades mundo afora trazem à tona.

Esse é o primeirouma sérieartigos que será publicada pela BBC Brasilparceria com o Urban Transformations Network e o UK Economic and Social Research Council (UT-ESRC) sobre presente e o futuro das cidades brasileiras. Os artigos publicados não traduzem a opinião da BBC.