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Por que inventei 'infância pobre' para me encaixarfreebet esc onlineestereótipofreebet esc onlinenegra bem-sucedida:freebet esc online
Minha mãe não conseguiu manter o padrão que meu pai nos proporcionara. Precisou trabalhar como feirante. Eu tinha 13 anos e, com irmãos mais velhos, passei a ajudá-la a manter a família. Despencamos do topo da pirâmide.
Olhando para essas duas etapas da minha vida, começo a me perguntar: por que me apeguei à narrativa da pobreza que enfrentei na adolescência e não à da sólida formaçãofreebet esc onlineclasse média alta na infância que relatei acima - e que dificilmente menciono?
A resposta está na incredulidade que me acostumei a enfrentar desde cedo.
Eu me lembro do diafreebet esc onlineque meu pai tevefreebet esc onlineir à escola para confirmar a históriafreebet esc onlinemeu irmãofreebet esc onlineque havíamos viajado até o Riofreebet esc onlineJaneiro e visto o oceano Atlântico.
O relato dele após as férias foi recebido com gargalhadas pelos colegas. Fomos tachadosfreebet esc onlinementirosos. Mencionar qualquer sinal da vida privilegiada que tínhamos era tratado com desconfiança, chacota. "Vocês são parentes do Pelé?", diziam alguns com sarcasmo.
Curiosamente, só parei para pensar sobre isso quando, ao trabalhar com a BBC Brasil na sériefreebet esc onlinereportagens sobre os negros que fazem parte do 1% mais rico do país, nos deparamos com uma foto do meu pai, cercado pelos filhos na frente da estantefreebet esc onlinemogno que tínhamos na sala com o melhor da literatura brasileira e mundial.
"Que família pobre tem uma estantefreebet esc onlinemogno?", foi a pergunta feita pela editora, lembrandofreebet esc onlineuma conversa inicial que tivemosfreebet esc onlineque relatei as dificuldades enfrentadas por minha família.
Transitandofreebet esc onlinelugaresfreebet esc onlineelite, seja no trabalho, socialmente e até mesmo no bairro onde moro, noto que, aos olhos do senso comum, uma mulher negra culta, bem arrumada e autoconfiante causa espanto a muita gente.
Quase sempre, a primeira impressão éfreebet esc onlineque sou "metida" ou arrogante. É o estereótipo: se uma negra não é subalterna, ela é subversiva. E como tal, antipática e perigosa. É preciso se rebaixar para não incomodar.
Passei por experiências traumáticas na universidade e no trabalho. Já jornalista, tive uma chefe que ridicularizava minhas opiniões, usandofreebet esc onlinesarcasmo disfarçadofreebet esc onlinebrincadeira. Em reuniõesfreebet esc onlinepauta, quando eu falava alguma coisa, ela me cortava dizendo: "Ah, essa neguinha, eu vou amarrá-la no tronco, está falando demais".
Todos riam, menos eu. Aquilo doía. Impassível, eu pedia para continuar, no que ela respondia: "Vai minha Glória Maria, continua, mas não muito, senão o tronco vai ter que ser muito grosso". Sabe como é, brincadeiras carinhosas (afinal, eu erafreebet esc onlineGlória Maria, o que subentendia competência) perdoam qualquer discriminação.
Esses fatos infelizmente não eram isolados. Precisei sair do país e me tornar estrangeira para descobrir que a cor da minha pele e meu jeitofreebet esc onlineser não tinham a menor importância aos olhos das pessoas diferentes do meu convívio no Brasil.
Fui morar na Dinamarca, país predominantemente branco. Lá, fiz meu mestradofreebet esc onlineComunicação. Tinha colegas e professoresfreebet esc onlinetodas as cores e partes do planeta. Todos falavam inglês com sotaque (até os dinamarqueses).
Todo mundo ali era "estranho". E, ali, estranhamente, eu me sentia "normal". Minhas opiniões eram ouvidas e eu não percebia aquela antipatia instantânea que eu costumava provocar. Naquele lugar, minha cor não era relevante, não fazia a menor diferença.
Tenho muita fé que meu filho possa se sentir assimfreebet esc onlineseu próprio país. Acho que, para chegar lá, precisamos continuar denunciando o racismo. É chocante ver a tentativa constantefreebet esc onlinealgumas pessoasfreebet esc onlineclassificarfreebet esc online"mimimi" qualquer tentativafreebet esc onlinegrupos que são reconhecidamente alvofreebet esc onlinediscriminação, entre eles os negros,freebet esc onlinedenunciar o que é,freebet esc onlinemuitos casos, crime.
"É mimimi", bradam principalmente sob a proteção da distância e muitas vezes do anonimato da internet. Querem "mimimizar", ou seja, tacharfreebet esc online"mimimi" para desprezar experiências fundamentais para que a sociedade brasileira caminhe não para a desunião, mas para cicatrizar feridas e evitar novas. É "mimimi" reclamar da piada do tronco?
Mas não podemos reservar para o negro apenas o espaço do sofrimento, da humilhação. As histórias positivas são fundamentais, não podem ser ignoradas. Tentei trazer um pouco desse olhar para a série da BBC Brasil, que me levou a analisar minha própria história.
Não vou mais pedir licença para entrar no clube do 1%,freebet esc onlinecabeça baixa, falandofreebet esc onlinesuperação da pobreza e provações. Para não ser chamadafreebet esc onlinementirosa, para não ouvir as gargalhadas que meu irmão ouviu ao relatar nossa viagem ao Atlântico, acabei adotando um discurso mentiroso.
Da próxima vez que alguém me perguntar como cheguei aonde cheguei, responderei que sim, passamos por dificuldades, mas não cheguei a lugar nenhum, já nasci aqui entre o 1%, com um padrãofreebet esc onlinevida que gostariafreebet esc onlinever compartilhado por todos os brasileiros.
*Noemia Colonna é jornalista pela Universidade Católicafreebet esc onlineBrasília, mestrefreebet esc onlineComunicação pela Universidadefreebet esc onlineCopenhague, professorafreebet esc onlineMídia no Centro Universitáriofreebet esc onlineBrasília (UniCEUB) e servidora pública federal. Por dez anos foi apresentadora e profissionalfreebet esc onlineaudiovisualfreebet esc onlineTVs públicas e institucionais. Atualmente, faz pesquisa sobre Mídia, Gênero e Raça e é colaboradora da BBC Brasil. Este artigo faz parte da série que mergulha no universo dos negros que fazem parte do 1% mais rico do Brasil.
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