Ter Ministério da Cultura é frutobwin kontakt emailmentalidade patriarcal, burocrática e centralizadora, diz ex-diretor do Masp:bwin kontakt email

O museólogo e professor Teixeira Coelho

Crédito, Leonor Calasans/IEA-USP

Legenda da foto, Para Teixeira Coelho, Ministério da Cultura funcionavabwin kontakt emailforma obsoleta

No bate-papo, o ex-diretor do Masp (Museubwin kontakt emailArtebwin kontakt emailSão Paulo) expõe uma preocupação maior com a rediscussão do papel do Estado na área do que com a resistência culltural ao fim do MinC: "O Estado não é um salvador da cultura, ela existe fora dos jogos governamentais".

A seguir, os principais trechos da entrevista.

bwin kontakt email BBC Brasil: O momento mais recente na nossa históriabwin kontakt emailque não tivemos um Ministério da Cultura foi na era Collor. Quais as principais diferenças daquele para este momento e o potencial impacto da ausência da pasta?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Eu acho que a gente tem que colocar essa discussão num contexto mais amplo sobre a função da intervenção do governo na cultura. Eu brinco com as pessoas que estudam política cultural que quando foi criado o ministério autônomo, lá atrás, antes do Collor, eu defendi e assinei a favor. Antesbwin kontakt emailacontecer tudo isso aqui, eu disse que, se fosse o casobwin kontakt emailpassar pela mesma experiência, eu pensaria duas vezes.

As pessoas estão colocando a salvação da cultura na existênciabwin kontakt emailum ministério específico. Eu acho que isso é, antesbwin kontakt emailtudo, fruto da mentalidade bacharelesca, administrativa, cartorial, burocrática que invade toda a esfera da vida brasileira,bwin kontakt emailtodos os setores.

Se você fizer um mapeamento do que acontece fora do Brasilbwin kontakt emailtermos da institucionalidade da cultura, vai ver que a maior parte dos ministérios existentes nos paísesbwin kontakt emailreferência não tem um ministério autônomo: caso da França, Itália, Inglaterra, Espanha. A existênciabwin kontakt emailum ministério autônomo para a Cultura não é sinônimobwin kontakt emailsucesso da intervenção do Estado na prática da cultura.

Protesto contra o fim do Ministério da Cultura na Funarte, no Rio

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Fim do ministério levou a protestos como esse na Funarte, no Rio, na segunda

bwin kontakt email BBC Brasil: Com base no que o senhor coloca, será que não precisamos aindabwin kontakt emailum ministério por conta do nosso tamanho, das dimensões do Brasil, e por ainda lidarmos tão precariamente com o conceitobwin kontakt emailcultura, com as relações e as práticas culturais? É só pensar nas discussões que se teve na época do lançamento do Vale-Cultura...

bwin kontakt email Teixeira Coelho: É justamente porque o Brasil é deste tamanho que um Ministério da Cultura centralizadobwin kontakt emailBrasília não se recomenda. A gente precisa terbwin kontakt emailmente onde está a cultura, qual é o ente da cultura. A cultura sempre está nas cidades.

A cidade é a única realidade social concreta das pessoas - as pessoas não vivem no Estadobwin kontakt emailSão Paulo, o Estado nesse sentidobwin kontakt emaildivisão administrativa é uma ficção e a nação hojebwin kontakt emaildia é outra ficção. Então a gente deveria aproveitar o momento atual - se é que dá para aproveitá-lo - para rediscutir o Brasil como federação, porque somos uma falsa federação.

Toda riqueza econômica e cultural que é gerada nas cidades sobe para Brasília, para depois ser distribuída ou não distribuída. A sede da cultura é a cidade, e hoje as cidades brasileiras não têm recursos para decidir que cultura elas querem ou não querem. O Brasil é autoritário, paternalista, patriarcal e centralizador. A cultura não é para ser centralizada.

bwin kontakt email BBC Brasil: Se olharmos para programas dos anos PT, como os Pontosbwin kontakt emailCultura, o Sistema Nacionalbwin kontakt emailCultura, havia tentativabwin kontakt emaildescentralizar, investir nas culturas locais. Pensando nesses programas, perde-se alguma coisa? Havia alguma política cultural que era essencial nesse sentido?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Nessa ótica que eu coloco, não creio que a gente perca. Por que temos que ir à Brasília para discutir um sistemabwin kontakt emailredistribuição? Precisamos reconhecer a autoridade das cidades nos assuntosbwin kontakt emailcultura e dotar a cidadebwin kontakt emailorçamento necessário.

Precisa ter um ministério? Eventualmente, sim. Para fazer a coordenação? Pode ser. Mas não vejo a justificativa mais para um ministério centralizador.

Marta Suplicy

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Vale-Cultura foi lançado na gestãobwin kontakt emailMarta Suplicy (hoje no PMDB) no ministério

bwin kontakt email BBC Brasil: A política cultural vinha tentando se atualizar? E aí pensando nas redes sociais, na tecnologia e seu impacto na cultura - para além do compromisso com as manifestações regionais, da cultura mais tradicional?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Existe um setor, um departamento, uma unidade, uma secretaria. Essa é a solução no Brasil, criar um departamento para isso. Se você olhar para trás, as políticas culturais existiam pela escassez cultural - não existiam bens culturais suficientes. A razãobwin kontakt emailser benévola da política cultural era a escassez.

A malévola é a proteção do Estado. Nós temos uma superabundânciabwin kontakt emailbens culturais, você levanta as luzes amarelas para essa função do Estadobwin kontakt emaildotar o paísbwin kontakt emailcultura. Havia antes também uma concentração da cultura nas mãosbwin kontakt emailalgumas pessoas, mas nós estamos no século 21. O conhecimento e a informação se difundiram. A gente tem que pensar nisso e não ficar defendendo somente uma instituição que já é do século passado.

bwin kontakt email BBC Brasil: O fim do MinC nesse momento do país não significa a entrega da cultura para o mercado? Não é simbólicobwin kontakt emailuma atitude que pode representar que nesse momento não cabe ao Estado pensar na importância da cultura para a sociedade?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Eu não estou dizendo que o ministério tinha que desaparecer, mas que temos que aproveitar o momento para rediscutir. A grande oposição não é entre Estado e mercado, isso é um simplismo.

O que está na oposição é a sociedade civil. Tem o Estado num polo do eixo e a sociedade do outro. O mercado está dentro da sociedade. E tem outro problema: a cultura no Brasil não tem mercado - então até quando a gente vai ficar esperando que um Estado benévolo fique nos dando umas migalhas? Não temosbwin kontakt emailfato um mercado.

O professor Teixeira Coelho

Crédito, Leonor Calasans/IEA-USP

Legenda da foto, Ex-diretor do Masp afirma que Lei Rouanet "moveu montanhas"

bwin kontakt email BBC Brasil: Mas com base nisso dá para argumentar que as exposições passaram a ter mais público, os musicais lotam todos as sessões. Isso é só um recorte da cultura mais como entretenimento? Porque aí parece ter plateia, mercado. Em que sentido não tem o mercado? Para que áreas da cultura?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Não tem poder aquisitivo e formação, prática, costume para comprar cultura. Isso poderia nos dar autonomia. Na décadabwin kontakt email40, a tiragembwin kontakt emailum livro erabwin kontakt email4 mil exemplares. Hoje um livro que não seja best-seller não tem nem isso. O mercado regrediu, sumiu.

Houve mais shows musicais, mais exposições? Foi por causa da Lei Rouanet, basicamente isso, que foi um grande salto para qualitativo e quantitativo para o país. Você pode até discutir na mãobwin kontakt emailquem acabavam ficando os recursos, mas ela foi importante, abriu espaços.

bwin kontakt email BBC Brasil: Falemos dela. Havia algumas distorções - artistas renomados e que poderiam facilmente financiar suas atividades acabavam recorrendo à Lei Rouanet...

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Claro, tem muita coisa que pode viver no mercado, que não precisaria (de apoio financeiro). Mas ela (a Lei Rouanet) moveu algumas montanhas, cumpriu seu papel. E ela não deve acabar, pelo menos eu não ouvi esse argumentobwin kontakt emailque ela acabaria. Mas a gente não pode deixarbwin kontakt emaillutar pela existênciabwin kontakt emailum mercado.

O Vale-Cultura poderia ser outro embriãobwin kontakt emailcriaçãobwin kontakt emailum mercado, você dá dinheiro na mão da pessoa e ela compra o que quer. Ela vai comprar revista pornográfica? Aí precisamos ver isso na educação.

Por isso fundir cultura e educação aqui no Brasil pode não ser algo tão absurdo assim. Ainda mais se você contar que o Ministério da Educação tem orçamento maior do que o da Cultura. Mas a Lei Rouanet é importante, eu não vejobwin kontakt emailonde o Brasil iria arrumar recursos para suprir aquilo que essa lei permite.

O ministro Mendonça Filho; o presidente interino, Michel Temer; e o secretário da Cultura, Marcelo Calero

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Na gestão Temer, Cultura tem um secretário, Marcelo Calero (à. dir.), que responde ao ministro Mendonça Filho (esq.)

bwin kontakt email BBC Brasil: Um papel do MinC que acabou ficando à margem da discussão sobre o fim do ministério é a funçãobwin kontakt emailpensar a nação como identidade, como preservação - algo que mais recentemente começou a se chamarbwin kontakt email bwin kontakt email nation branding bwin kontakt email . E essa parte, não se perde com a extinção da pasta?

bwin kontakt email Teixeira Coelho: Eu espero que a gente não discuta identidade nunca mais. O (escritor) Salman Rushdie fala que o ser humano não tem raízes, tem pés - ele pode passar daqui pra lá. A identidade é um conceito básicobwin kontakt emailfilosofia e sociologia do século passado.

Hojebwin kontakt emaildia no lugarbwin kontakt emailidentidade você usa identificação. Hoje eu soubwin kontakt emailesquerda, amanhã soubwin kontakt emailcentro, não venha me cobrar uma corrente que me amarre. Você junta toda a tendência das pessoas: hoje é homossexual, amanhã é bi, as coisas estão flutuando.

O Estado sempre se serviu da cultura para se defender. Com uma identidade, você tem controle mais fácil sobre as pessoas. Se não tiver um Estado para nos dizer isso, vamos viver num mundo bem melhor.

bwin kontakt email BBC Brasil: Nesse sentido, um Ministério da Cultura nesse nosso mundo atual seria obsoleto? Sua análise parece ir nesse sentido...

bwin kontakt email Teixeira Coelho: A cultura existe fora do ministério, fora dos jogos governamentais. Tem gente que diz: "veja como o Ministério da Cultura é importante, criou um departamentobwin kontakt emailcultura digital". Ué, a cultura digital vai continuar sendo cultura, vai continuar existindo. Por que tem que ter um departamento para ela?

Essa mentalidade é fruto desse pensamento cartorial. A maior parte da cultura do mundo é feita fora dos ministérios, no mundo todo. A cultura vai continuar existindo.