Por que Brasil resiste a entrarblazer cassinosNova Rota da Seda da China:blazer cassinos

Chineses com bandeiras do país aguardam a passagem do presidente Xi Jinping por Copacabana, no Rioblazer cassinosJaneiro, durante a reuniãoblazer cassinoscúpula do G20,blazer cassinos19blazer cassinosnovembro

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Visita oficialblazer cassinosXi Jinping ocorre após participação do presidente chinês na cúpula do G20 no Rioblazer cassinosJaneiro

Trata-seblazer cassinosum programa trilionário chinês iniciadoblazer cassinos2013 que prevê a realizaçãoblazer cassinosobras e investimentos para ampliar mercados para a China e a presença do país no mundo.

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Nos bastidores, os chineses vêm cortejando o Brasil a aderir ao projeto há anos.

Havia até a expectativablazer cassinosque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse anunciar uma adesão ao projetoblazer cassinos2023, quando fez uma visita oficial à China.

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Isto, porém, não se concretizou e governo brasileiro vem mantendo a políticablazer cassinosseguir perto o suficiente dos chineses sem aderir ao projeto do país asiático.

As investidas chinesas vêm incluindo acenos ao Brasil como a concordância do país para que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) assumisse a presidência do Novo Bancoblazer cassinosDesenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, visitasblazer cassinosdelegações governamentais chinesas ao Brasil eblazer cassinosbrasileiros à China, alémblazer cassinosbilhõesblazer cassinosdólaresblazer cassinosinvestimentosblazer cassinosdiversas áreas.

Mas, mesmo com todas as investidas chinesas, contudo, a expectativa erablazer cassinosque não fosse dessa vez que o Brasil aderisse à “Nova Rota da Seda”.

Confirmando o que já era esperado,blazer cassinosseu discurso ao receber Xi Jinping, Lula descreveu a forma como o Brasil equilibra o desejo chinêsblazer cassinoster o país na "Nova Rota a Seda" e o pragmatismo brasileiro.

Em vezblazer cassinosadesão, Lula prometeu uma espécieblazer cassinosconexão entre o programa chinês e projetosblazer cassinosinteresse do Brasil. Para isso, usou o termo que vem sendo repetido por diplomatas brasileiros quando o assunto é mencionado: sinergias.

"Estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileirasblazer cassinosdesenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programablazer cassinosAceleração do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Planoblazer cassinosTransformação Ecológica, e a Iniciativa Cinturão e Rota", disse o presidente brasileiro.

Nas últimas semanas, a BBC News Brasil conversou com diplomatas e especialistasblazer cassinosrelações internacionais para entender o que faz com que o país, um dos principais aliados da China fora da Ásia, hesite tantoblazer cassinosaderir à “Nova Rota da Seda”.

Segundo eles, a decisão faz parteblazer cassinosuma misturablazer cassinosfatores que envolve a tradição diplomática brasileira, o cenário internacional conturbado e a percepção entre os tomadoresblazer cassinosdecisão brasileirosblazer cassinosque o país teria pouco a ganhar com uma eventual adesão ao projeto.

Inauguração do portoblazer cassinosChancay, no Peru, financiado pela Nova Rota da Seda da China,blazer cassinos14/11

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Peru inaugurou na última semana o portoblazer cassinosChancay, financiado pela Nova Rota da Seda

O que é a “Nova Rota da Seda”

O “Belt and Road Initiative” é o nomeblazer cassinosinglês ao que ficou conhecido como “Nova Rota da Seda” ou “Iniciativa Cinturão e Rota”, na tradução direta para o português.

Lançadoblazer cassinos2013 pelo governo chinês, é um projeto trilionário voltado à construçãoblazer cassinosinfraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos e obras no setor energético, como oleodutos e gasodutos que conectam a Ásia à Europa.

Estima-se que, desde o início, os investimentos variem entre US$ 890 bilhões (R$ 4,46 trilhões) e US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões).

O nome “Nova Rota da Seda” remete à histórica rota comercial do primeiro milênio que ligava a Ásia à Europa Central.

Originalmente focado na região conhecida como Eurásia, o projeto expandiu-se para regiões como África, Oceania e América Latina.

Segundo o centroblazer cassinosestudos norte-americano sobre relações internacionais Council on Foreign Relations (CFR), 147 países aderiram formalmente ou demonstraram interesse no plano. Isso representa dois terços da população mundial e 40% do PIB global.

Na América Latina,blazer cassinostornoblazer cassinos20 países integram a iniciativa, incluindo a Argentina, que assinou um memorandoblazer cassinosadesãoblazer cassinosabrilblazer cassinos2022.

Especialistas consideram o projeto uma estratégiablazer cassinosexpansão econômica e política da China, hoje a segunda maior economia global, com previsões anteriores à pandemia indicando que poderia ultrapassar os Estados Unidos até 2028.

No entanto, o projeto enfrenta críticas junto à comunidade internacional, como o riscoblazer cassinossuperendividamentoblazer cassinospaíses que contratam os financiamentos. Um exemplo foi o Sri Lanka, queblazer cassinos2018 transferiu para o governo chinês o controleblazer cassinosum porto construído no país com recursos chineses depois que a nação asiática não conseguiu mais pagar as parcelasblazer cassinossua dívida com o governoblazer cassinosPequim.

A China rebate essas acusações, alegando que as críticas visam prejudicarblazer cassinosreputação internacional.

Mas se a China aparenta estar disposta a investir seus recursos e ampliar o fluxo comercial com países como o Brasil, por que o país vem evitando aderir à iniciativa?

Obra no Sri Lanka financiada pela Nova Rota da Seda da Chinablazer cassinos2018

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Obras no Sri Lanka acabaram transferidas para a China após país não conseguir arcar com financiamento

Tradição e cálculo

Um diplomata brasileiro ouvidoblazer cassinoscaráter reservado pela BBC News Brasil disse que um dos motivos pelos quais o Brasil não adere à “Nova Rota da Seda” é tradição da política externa brasileira.

Historicamente, o Brasil evita alinhamentos automáticos com superpotências como a China. Mesmo durante a ditadura militar, fortemente apoiada pelo regime norte-americano entre os anos 1964 e 1985, o regime dos generais brasileiros manteve certo distanciamentoblazer cassinosrelação aos Estados Unidos.

Conhecido como uma potência média ou uma potência regional, o Brasil é conhecido (e eventualmente criticado), por adotar uma política externa que tenta manter diálogo com diferentes blocos e nações enquanto tenta fazer avançar suas próprias agendas no cenário internacional.

A tese por trás desse comportamento é ablazer cassinosque o alinhamento do Brasil a um determinado bloco econômico ou político não gera, necessariamente, benefícios ao país e ainda pode prejudicá-loblazer cassinosnegociações com outros blocos ou nações.

O diplomata disse, por exemplo, que uma adesão à “Nova Rota da Seda” poderia prejudicar as relações do país com outros blocos ou países como os Estados Unidos, que oficialmente vê a China comoblazer cassinosprincipal adversária geopolítica no mundo.

“Os diplomatas também temem que o Brasil perderia voz e influência nas relações com a China, tendo que negociar com as dezenasblazer cassinospaíses que formam a iniciativa. Há o riscoblazer cassinosretaliações comerciais por parte dos Estados Unidos. Tudo isso somado fez com que o governo brasileiro optasse por não aderir à Nova Rota da Seda”, afirma o professor.

Pablo Ibañez, coordenador do Centroblazer cassinosAltos Estudos da Universidade Federal Rural do Rioblazer cassinosJaneiro (UFRRJ) e ex-pesquisador visitante da Universidade Fudan,blazer cassinosXangai, na China, também descreve esse cenário.

“O Itamaraty pensa assim: ‘Por que a gente vai passar a ter um alinhamento ainda maior com esse grupo (a China)blazer cassinosum momento extremamente delicadoblazer cassinosque, no Ocidente, entende-se que a China é uma aliada da Rússia?’”, diz à BBC News Brasil.

Países europeus e os Estados Unidos veem com desconfiança iniciativas como os Brics, grupo inicialmente fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que vem se expandindo nos últimos anos.

Entre as várias iniciativas discutidas pelo grupo está a adoçãoblazer cassinostransações comerciais nas moedas locais dos seus países e não do dólar. A ideia é diminuir a dependência dessas naçõesblazer cassinosrelação à moeda norte-americana.

Mas, durante a campanha presidencial, o então candidato Donald Trump, que venceu a disputa, prometeu aumentar as tarifas sobre as importaçõesblazer cassinospaíses que adotarem este tipoblazer cassinosmedida, o que poderia ter impactos sobre o Brasil e China, por exemplo.

O cientista político e professorblazer cassinosRelações Internacionais do Centroblazer cassinosEstudos Políticos-Estratégicos da Marinha do Brasil, Maurício Santoro, destaca que, no cálculo do governo brasileiro, também pesa o fatoblazer cassinoso país já contar com vultosos investimentos chineses.

“No Itamaraty, há forte ceticismo quanto aos benefícios que a Nova Rota da Seda poderia trazer ao Brasil. Como o país já recebe muitos investimentos chineses — é o principal destino deles entre as nações do Sul Global — não haveria muitos ganhos a extras”, diz Santoro.

O cálculo levablazer cassinosconta a atual situação do Brasilblazer cassinosrelação à China.

A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil. Entre janeiro e setembro deste ano, o fluxo comercial entre os dois países foiblazer cassinosUS$ 122 bilhões, um crescimentoblazer cassinos5%blazer cassinosrelação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Além disso, a China é um dos principais investidores diretos no Brasil.

Em 2023, a os chineses investiram US$ 1,73 bilhão no país, um aumentoblazer cassinos33%blazer cassinosrelação a 2022, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Aindablazer cassinosacordo com a instituição, desde 2007, a China destinou US$ 72 bilhõesblazer cassinosinvestimentos no Brasil.

Nos últimos anos, a China passou a investir pesadamenteblazer cassinossetores como a construçãoblazer cassinoslinhasblazer cassinostransmissão, exploraçãoblazer cassinospetróleo, energia e, mais recentemente, na implantaçãoblazer cassinosfábricasblazer cassinoscarros elétricos ou híbridos.

Lula e Xi Jinping posam para foto durante encontro do G20 no Rioblazer cassinosJaneiro,blazer cassinos18/11

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Especialistas veem pressão chinesa, mas não creemblazer cassinosretaliação por Brasil não aderir à iniciativa

Retaliação chinesa?

Os dois especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem considerar remota a possibilidadeblazer cassinosa China retaliar o Brasil por não aderir à iniciativa.

“O governo chinês certamente preferiria que o Brasil se tornasse parte da Nova Rota da Seda, pois isso seria um grande incentivo para outros paísesblazer cassinosdesenvolvimento, particularmente na América Latina. Mas a decisãoblazer cassinosnão ingressar também não cria grandes problemas para o Brasil”, diz Santoro.

O professor Pablo Ibañez diz acreditar que uma retaliação seria improvável.

“Até agora, não fomos. O Brasil é o maior parceiro da China na América Latina e há muitos investimentos e sinergias entre os dois países. Além disso, a China é muito pragmática”, diz o professor.

De toda forma, diz Ibañez, o Brasil deverá tentar evitar se indispor com a Chinablazer cassinosmeio à hesitaçãoblazer cassinosaderir à iniciativa.

“Os chineses estão pressionando bastante. O assunto, com certeza, está na pauta. Mas Lula tem uma capacidade grandeblazer cassinosconvencimento. Ele deverá explicar que Donald Trump está vindo aí e que uma adesão poderia prejudicar a relação do Brasil com os Estados Unidos”, afirma.

Conhecido por seu pragmatismo, o governo chinês já vem dando mostrasblazer cassinosque poderá lidar sem maiores complicações com o fatoblazer cassinoso Brasil não ter aderido formalmente à "Nova Rota da Seda".

O exemplo mais recente foi um artigo publicado no jornal Folhablazer cassinosS. Paulo na semana passada e assinado por Xi Jinping. Nele, o líder chinês defende o aumento das parcerias entre os dois países, mas dentroblazer cassinosum cenárioblazer cassinosque o Brasil não faz parte formal do projeto.

"Vamos promover continuamente o reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégiasblazer cassinosdesenvolvimento do Brasil", diz um trecho do artigo.

Enquanto a adesão à "Nova Rota da Seda" não vem (se é que um dia virá), China e Brasil deverão assinar acordosblazer cassinosdiversas áreas nesta quarta-feira. Entre eles estão acordos nas áreas cultural, energética, mineral e espacial.

Um deles, aliás, prevê a entradablazer cassinosfuncionamento no Brasil da empresa SpaceSail, que opera satélitesblazer cassinosórbita baixa para transmissãoblazer cassinosinternetblazer cassinosbanda largablazer cassinoslocais sem acesso à rede cabeada.

Ainda não há previsão para que o serviço comece a funcionar, mas o acordo é visto como uma tentativablazer cassinosBrasil e Chinablazer cassinosdiminuírem a dependência do mercadoblazer cassinosrelação à empresa Starlink, do bilionário sul-africano Elon Musk.

Nos últimos meses, o empresário entroublazer cassinosembates com o Supremo Tribunal Federal (STF) apósblazer cassinosplataformablazer cassinosrede social, o X (antigo Twitter) descumprir ordens expedidas pela Corte.

Atualmente, segundo dados da Agência Nacionalblazer cassinosTelecomunicações (Anatel), a Starlink é líder no mercadoblazer cassinosinternet via satélite.