Lula e Macron: o que une e o que afasta o presidente francês do brasileiro:esportes da sorte recife
"Essa visita é simbólica para romper um períodoesportes da sorte recifetensão nas relações entre o Brasil e a França vivido durante o governo Bolsonaro", diz Pavese à BBC News Brasil.
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Durante os quatro anosesportes da sorte recifeque o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) governou, ele e o presidente francês chegaram a trocar farpas públicas. A visita marca, portanto, uma reaproximação.
"É uma aproximação tardia, uma vez que Macron ainda não havia vindo ao Brasil ou à América Latina, mas que finalmente está ocorrendo."
O presidente francês será recebidoesportes da sorte recifeBelém por Lula, com quem mantém um relacionamento aparentemente mais amistoso do que o que teve com Bolsonaro.
Segundo o Itamaraty, o comércio, o combate às mudanças climáticas e a cooperação militar serão alguns dos principais eixos da visitaesportes da sorte recifeMacron ao Brasil.
Lula e Macron já deram demonstraçõesesportes da sorte recifeconvergênciasesportes da sorte recifetemas que vão do combate ao avanço da extrema-direita no mundo, defesa do meio ambiente e a necessidadeesportes da sorte recifeum cessar-fogo no conflito na Faixaesportes da sorte recifeGaza.
Apesar disso, diplomatas e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que a viagemesportes da sorte recifeMacron também deverá deixar evidentes as principais divergências entre os dois presidentes.
Entre elas estão a oposiçãoesportes da sorte recifeMacron ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul e o tratamento dado pelo Brasil durante as reuniões do G20, presidido pelo Brasil, à guerra na Ucrânia.
Submarinos, combate à direita radical e Gaza
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Um dos principais pontosesportes da sorte recifeconvergência entre Lula e Macron é a cooperação militar entre os dois países. Há expectativaesportes da sorte recifeque os dois países assinem memorandosesportes da sorte recifeentendimento nesta área durante a passagemesportes da sorte recifeMacron pelo Brasil. De um lado, a França é um importante fornecedoresportes da sorte recifeprodutosesportes da sorte recifedefesa no mercado internacional. Do outro, o Brasil é um importante consumidoresportes da sorte recifetecnologia militar francesa.
"Para além dos ganhos diplomáticos dessa visita, há uma agenda objetiva e pragmáticaesportes da sorte recifecooperaçãoesportes da sorte recifeáreas importantes da agenda brasileira e francesa. Entre elas, uma das principais é a cooperaçãoesportes da sorte recifeassuntosesportes da sorte recifedefesa", disse Carolina Pavese.
Um dos principais eventos da viagemesportes da sorte recifeMacron ao país seráesportes da sorte recifeparticipação na cerimôniaesportes da sorte recifelançamento ao mar do submarino "Toneleiro", o terceiro produzido pelo Programaesportes da sorte recifeDesenvolvimentoesportes da sorte recifeSubmarinos (Prosub), frutoesportes da sorte recifeum acordo firmado pelo Brasil e a Françaesportes da sorte recife2008, quando Lula estavaesportes da sorte recifeseu segundo mandato.
No total, o programa prevê a construçãoesportes da sorte recifequatro submarinos convencionais e um movido a propulsão nuclear. O custo estimado das embarcações éesportes da sorte recifeR$ 31 bilhões. O projeto é considerado estratégico pelo Brasil pois apenas seis países no mundo têm submarinos nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Índia.
Esse tipoesportes da sorte recifeembarcação utiliza um reator nuclear para gerar a energia que vai impulsioná-lo. Esse tipoesportes da sorte recifepropulsão dá mais autonomia ao submarino. Isso não significa, porém, que ele carregará armas nucleares.
O Brasil é signatárioesportes da sorte recifetratados internacionais contra a utilizaçãoesportes da sorte recifearmas desse tipo.
A vindaesportes da sorte recifeMacron aconteceesportes da sorte recifeum momentoesportes da sorte recifeque França e Brasil vem aumentando o diálogoesportes da sorte recifetorno da parte mais sensível do Prosub, que é a parte nuclear. Até agora, o acordo com a França previa cooperação e trocaesportes da sorte recifetecnologia na parte naval dos submarinos e não na parte nuclear.
O Brasil vem encontrando dificuldadeesportes da sorte recifeobter auxílio tecnológico para a parte nuclear do projeto, que inclui o acondicionamento do reator no casco eesportes da sorte recifeconexão com o sistema que vai gerar aesportes da sorte recifepropulsão.
Nos últimos meses, o governo francês enviou emissários ao Brasil para tratar do assunto e, na sexta-feira (22/03), a secretária para Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que os dois países vêm conversando sobre a possibilidadeesportes da sorte recifeos franceses ajudarem o Brasil na fase nuclear do projeto.
"É uma áreaesportes da sorte recifeque talvez houvesse uma resistência no passado, mas hoje já há conversas sobre essa possibilidade:esportes da sorte recifeque a França coopere conosco inclusive nesse aspecto à luz da energia nuclear, do combustível nuclear", disse a embaixadora Maria Luisa Escorelesportes da sorte recifeMoraes, Secretáriaesportes da sorte recifeEuropa e América do Norte do Itamaraty durante uma entrevista coletiva à qual a BBC News Brasil participou.
"[A participaçãoesportes da sorte recifeMacron no lançamento do submarino] talvez será será um dos momentos mais importantes da visita à luz da importância do setor da defesa (para os dois países), não só para defesa, mas porque o desenvolvimentoesportes da sorte recifeequipamentosesportes da sorte recifedefesaesportes da sorte recifeum, modo geral, costumam transbordar para outros setores da nossa economia", disse diplomata.
Além da cooperação militar, Macron e Lula também convergem quando o assunto é combate ao crescimento da direita radical.
Na França, a principal adversária políticaesportes da sorte recifeMacron durante as eleiçõesesportes da sorte recife2022 foi Marine Le Pen, maior liderança do partidoesportes da sorte recifedireita Reagrupamento Nacional. No Brasil, o principal adversário político também é um políticoesportes da sorte recifedireita: Jair Bolsonaro.
Lula e Macron já fizeram discursos críticos à ampliação da direita radical.
“Muitos dos nossos compatriotas votaramesportes da sorte recifemim não pelas minhas ideias, mas para barrar as ideias da extrema direita”, disse Macron logo após ser reeleitoesportes da sorte recife2022.
Em setembro do ano passado, foi a vezesportes da sorte recifeLula se manifestar sobre o assunto.
"O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massaesportes da sorte recifedeserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureirosesportes da sorte recifeextrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas", disse Lulaesportes da sorte recifediscurso na Assembleia Geral da ONU.
Ainda no âmbito político, os governos do Brasil e da França vêm convergindoesportes da sorte reciferelação às tentativasesportes da sorte recifepôr um fim ao conflito na Faixaesportes da sorte recifeGaza.
Em outubro do ano passado, pouco depois do início da ofensiva israelense sobre o território palestino, a França apoiou uma proposta que o Brasil havia feito ao Conselhoesportes da sorte recifeSegurança da ONU propondo pausas humanitáriasesportes da sorte recifemeio ao conflito.
A França é membro permanente do conselho e tem direito a veto e, na época, o Brasil exercia a presidência rotativa do colegiado.
A proposta, no entanto, acabou sendo rejeitada pelo veto dos Estados Unidos.
Publicamente, Macron e Lula condenaram as ações terroristas praticadas pelo Hamas contra Israel, mas vêm criticando o governo israelense pela escala da reação militar na Faixaesportes da sorte recifeGaza, embora o tom adotado pelo brasileiro tenha causado reação por parteesportes da sorte recifeIsrael.
"De fato, hoje, civis estão sendo bombardeados. Esses bebês, essas senhoras, esses idosos são bombardeados e mortos. Então, não há razão para isso e não há legitimidade. Por isso, nós instamos Israel a parar", disse Macronesportes da sorte recifeentrevista à BBC Newsesportes da sorte recifenovembro do ano passado.
Lula, poresportes da sorte recifevez, classificou a açãoesportes da sorte recifeIsrael na Faixaesportes da sorte recifeGaza como um "genocídio" e fez uma menção ao extermínioesportes da sorte recifejudeus pelo regime nazista.
"O que está acontecendo na Faixaesportes da sorte recifeGaza e com o povo palestino não existeesportes da sorte recifenenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus."
Após a fala, o governoesportes da sorte recifeIsrael reagiu e declarou que o presidente brasileiro é persona non grata no país.
Na linguagem diplomática, a expressão se aplica a um representante estrangeiro que não é mais bem-vindoesportes da sorte recifemissões oficiaisesportes da sorte recifedeterminado país.
Autoridades francesas afirmaram, na semana passada, que a crise no Oriente Médio estará na agendaesportes da sorte recifediscussões entre Lula e Macron.
Acordo com União Europeia e guerra na Ucrânia
A relação entre Lula e Macron também é marcada por divergências. A principal delas, apontam especialistas, é a oposiçãoesportes da sorte recifeMacron à conclusão do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, negociado desde 1999.
Em 2019, durante o governoesportes da sorte recifeBolsonaro, Mercosul e União Europeia assinaram o acordo. Para entraresportes da sorte recifevigor, no entanto, o acordo precisava passar por uma revisão técnica e pela ratificação dos parlamentosesportes da sorte recifetodos os países envolvidos.
Após quatro anos paralisado, o acordo voltou a ser negociado após a mudançaesportes da sorte recifegoverno no Brasil, com a chegadaesportes da sorte recifeLula ao Palácio do Planalto,esportes da sorte recife2023.
As negociações, no entanto, foram travadas após os europeus fazerem novas exigências ambientais que foram consideradas descabidas pelos negociadores do Mercosul.
Nos últimos meses, Macron deu diversas declarações contrárias ao acordo. Segundo ele, as regras poderiam acabar permitindo a entradaesportes da sorte recifeprodutos oriundos do Mercosul produzidos sem o respeito às normas ambientais europeias.
"O que é incompreensível e que e eu mesmo não sei explicar é que, enquanto nós mesmos colocamos regrasesportes da sorte recifeprodução, importamos produtos que não respeitam essas regras", afirmou Macronesportes da sorte recifefevereiro.
Lula, poresportes da sorte recifevez, rechaçou a oposição ao acordoesportes da sorte recifedezembroesportes da sorte recife2023, após Macron fazer novas críticas ao tratado.
"Se não tiver acordo, paciência. Não foi por faltaesportes da sorte recifevontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil e que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidadeesportes da sorte recifeque os países ricos não querem fazer um acordo na perspectivaesportes da sorte recifefazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais", disse Lula.
Para o professoresportes da sorte recifeRelações Internacionais da ESPM, Demetrius Pereira, a oposiçãoesportes da sorte recifeMacron é uma resposta à pressão contra o acordo feita por agricultores franceses.
"É um lobby muito forte e que, historicamente, realiza protestos muito ruidosos contra a possibilidadeesportes da sorte recifemaior entradaesportes da sorte recifeprodutos agrícolas estrangeiros", disse o professor à BBC News Brasil.
Para a professora Carolina Pavese, apesar do tom amistoso entre Lula e Macron, os dois deverão agiresportes da sorte recifeforma pragmáticaesportes da sorte reciferelação ao acordo.
"Amigos, amigos, negócios à parte. Essa relação pode ser amistosa, mas os presidentes continuarão a demonstrar suas insatisfaçõesesportes da sorte recifetorno desse temaesportes da sorte recifeque há uma divergência tão clara. É óbvio que o fatoesportes da sorte recifeserem próximos facilita as conversas, mas não é suficiente para resolver esse impasse", disse a professora.
A embaixadora Maria Luísa Escorelesportes da sorte recifeMoraes afirmou que o acordo comercial entre os dois blocos deverá ser discutido por Lula e Macron nesta semana, mas disse que, por se trataresportes da sorte recifeuma visita bilateral, o tema não será central ao longo da viagem.
"Esse assunto poderá ser tocado [...] mas essa negociação é entre o Mercosul e a Comissão Europeia. Não é uma negociação com os países da União Europeia individualmente. A Comissão Europeia fala por todos os países. E a grande maioria é a favor (do acordo)", disse a diplomata.
A segunda divergência que poderá ficar evidente durante a passagemesportes da sorte recifeMacron pelo Brasil é com relação à guerra na Ucrânia.
Especialistas avaliam que Macron tentará influenciar o governo brasileiro a dar mais espaço para o conflito ucraniano durante as reuniões do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo que, neste ano, é presidido pelo Brasil.
O tema vem causando entraves nas reuniõesesportes da sorte recifelíderes já realizadas até o momento. Em março, por exemplo, houve um impasse durante a reuniãoesportes da sorte recifeministrosesportes da sorte recifefinanças do grupo sobre como o conflito seria tratado no comunicado final do encontro.
Segundo o jornal "O Estadoesportes da sorte recifeS.Paulo", o impasse se deu porque um grupoesportes da sorte recifepaíses defendia que o tema fosse tratado como "War on Ukraine", ou seja: Guerra contra a Ucrânia. Outro grupo, defendia que o tema fosse tratado como "War in Ukraine", ou seja: Guerra na Ucrânia.
"A expectativa éesportes da sorte recifeque Macron tente influenciar a agenda do G20 para que o Brasil dê mais importância ao conflito na Ucrânia. Apesaresportes da sorte recifeo Brasil condenar a invasão russa, o país vem tratando esse assunto com muita cautela e Macron gostariaesportes da sorte recifeuma posição mais enfática", disse Carolina Pavese.
Na semana passada, autoridades do governo francês disseram a jornalistas que Macron tentará encontrar "convergências" sobre o tema com Lula para definir uma possível agendaesportes da sorte recifesuporte à Ucrânia.
O presidente francês têm sido um dos principais aliados do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desde que a Rússia iniciouesportes da sorte recifeofensiva militar sobre o paísesportes da sorte recife2022.
Lula, poresportes da sorte recifevez, vem sendo criticado por parte da comunidade internacionalesportes da sorte reciferazão daesportes da sorte recifeposturaesportes da sorte reciferelação ao conflito.
Ele deu declarações apontando que tanto Zelensky quanto o presidente russo, Vladimir Putin, seriam responsáveis pela guerra.
Em fevereiro do ano passado, por exemplo, Lula disseesportes da sorte recifeentrevista que o Brasil não forneceria armas para a Ucrânia, contrariando diversos aliados europeus e os Estados Unidos.
Em abril do ano passado, Lula chegou a criticar os Estados Unidos e a Europa por fornecerem armamentos para a Ucrânia, o que, para os europeus, é considerado fundamental para evitar o avanço russo sobre o país.
O governo aliás, não atendeu a pedidos para fornecer armamentos ao país.
A diplomata Maria Luísa Escorelesportes da sorte recifeMoraes disse, na semana passada, que a guerra na Ucrânia, assim como o conflitoesportes da sorte recifeGaza, deverá fazer parte das conversas entre os dois presidentes.
A expectativa éesportes da sorte recifeque Lula e Macron se dirijam à imprensa na quinta-feira (28/03), último dia da viagem do presidente francês.