Brasil tem chances reaisroleta dos numerosmediar negociaçõesroleta dos numerospaz na Ucrânia?:roleta dos numeros

Lula e Zelenskyroleta dos numerosvídeo chamada sobre planosroleta dos numerospaz

Crédito, Ricardo Stuckert (PR)

Legenda da foto, Lula e Zelenskyroleta dos numerosvídeo chamada sobre planosroleta dos numerospaz

Esta foi apenas a última das declarações do presidente brasileiro a respeito do chamado “clube da paz”, que ele tem tentado articular com outros líderes globais desde que assumiu o Palácio do Planalto. Já o Itamaraty nega que o Brasil tenha intençãoroleta dos numerosser um mediador do conflito.

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A posiçãoroleta dos numerosLula, porém, tem sido vista como ambivalente internacionalmente. Embora formalmente o Brasil condene a invasão russa a territórios ucranianosroleta dos numerosorganismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) eroleta dos numerosuma declaração conjunta com os Estados Unidos - o único integrante do bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a fazê-lo -, Lula já disse que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, era tão responsável pela crise quanto o líder russo, Vladimir Putin.

Recentemente, Lula sugeriu que a Ucrânia teria que abrir mão do território da Crimeiaroleta dos numerosprol do fim do conflito, o que foi rechaçado pelos ucranianos e desagradou potências ocidentais.

Do pontoroleta dos numerosvista da diplomacia brasileira, seria justamente o não alinhamento a qualquer dos lados que tornaria o Brasil um ator credenciado a participar da costuraroleta dos numerosuma saída para o impasse.

“Eu tenho proposto a eles (líderes mundiais) que é preciso criar uma espécieroleta dos numerosG-20 para discutir a paz (...). Então o Brasil está se colocando para discutir paz, a gente quer juntar a China, vou falar com o Xi Jinping isso, se for necessário discuto com o Putin isso, porque é necessário a gente entender que primeiro a gente precisa parar a guerra”, disse Lula há um mêsroleta dos numerosentrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo.

A China, aliás, parecia um elemento central na ideiaroleta dos numerosLula. Em janeiro, após a visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, a Brasília, Lula afirmou que "nossos amigos chineses têm um papel muito importante".

"Está na hora da China colocar a mão na massa", declarou.

Xi Jinping e Lula,roleta dos numerosencontroroleta dos numerosPequim

Crédito, Ricardo Stuckert (PR)

Legenda da foto, Xi Jinping e Lula,roleta dos numerosencontroroleta dos numerosPequim,roleta dos numerosonde não saiu "clube da paz"

Um plano que não decolou nem com EUA nem com China

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Mas diplomatas e analistas brasileiros e estrangeiros lançam dúvidas sobre as condições do Brasilroleta dos numerosser protagonista nesta história. Mais do que isso, o discursoroleta dos numerosLula não tem ganhado muita tração com os líderes globais.

Lula já apresentouroleta dos numerosideia ao presidente americano, Joe Biden, e ao chanceler alemão Scholz, que a receberam com ceticismo e reserva. E, agora, o brasileiro viu frustradaroleta dos numerosideiaroleta dos numerosvoltar da China com “um grupo pela paz” chancelado por Xi Jinping.

Dos 49 tópicos do comunicado conjunto que resultou do encontroroleta dos numerosmaisroleta dos numerosuma hora entre Lula e Xi, apenas um menciona o que caracteriza como “crise na Ucrânia”.

O termo “guerra”, rechaçado pela Rússia, foi evitado no texto diplomáticoroleta dos numerosBrasil e China, que não traz nenhum compromisso concreto no tema alémroleta dos numeros“manter os contatos sobre o assunto”.

“As partes (Brasil e China) afirmam que diálogo e negociação são a única saída viável para a crise na Ucrânia e que todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados”, diz o texto, que afirma que o Brasil “recebeu positivamente” os 12 pontos para a paz propostos pela China no Conselhoroleta dos numerosSegurança da ONU no início do ano - mas não os endossou. Já a China “recebeu positivamente” as gestõesroleta dos numerosLularoleta dos numerosprolroleta dos numerosum clube para a paz - e ficou nisso.

“As partes apelaram a que mais países desempenhem papel construtivo para a promoção da solução política da crise na Ucrânia”, afirma ainda o comunicado.

Putin visita área ucraniana ocupada por tropas russas

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Putin visita área ucraniana ocupada por tropas russas

O que quer o Brasil?

Não foi surpresa para o Itamaraty o desfecho lacônico para o assunto, apesar das declaraçõesroleta dos numerosLularoleta dos numerossentido contrário.

Diplomatas com conhecimento das negociações ouvidos reservadamente pela BBC News Brasil recusavam há semanas o termo “mediação” para tratar das pretensões do país no tema e diziam que o Brasil queria apenas deixar “um canal aberto” para tratar do conflito com os chineses e servir como “um facilitador” para possíveis futuras conversas sobre o assunto - sem trazer à mesa nenhuma proposta ou processo estruturado para chegar à paz.

“O Brasil está apenas se colocando como disponível para colaborar. Seria muita arrogância chegar com um plano, é um governo recém-empossado, estamos ouvindo, não queremos sentar na janelinha”, afirmou um embaixador brasileiro.

Seria com esse espírito que o assessor especialroleta dos numerospolítica externaroleta dos numerosLula, Celso Amorim, esteve com o líder russo Vladimir Putinroleta dos numerosMoscou recentemente e que, na semana que vem, o chanceler russo, Serguei Lavrov, visitará Brasília.

Há algumas semanas, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin,roleta dos numerosentrevista à agência russa Tass, afirmou que “tomamos nota das declarações do presidente do Brasil sobre o temaroleta dos numerosuma possível mediação, a fimroleta dos numerosencontrar caminhos políticos para evitar a escalada da guerra na Ucrânia”.

Galuzin acrescentou que estão “examinando as iniciativas, principalmente do pontoroleta dos numerosvista da política equilibrada do Brasil e, claro, levandoroleta dos numerosconsideração a situação in loco”. De outro lado, Lula fez uma ligaçãoroleta dos numerosvídeo com Zelensky.

Para diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil, as condições para a construçãoroleta dos numerosqualquer diálogo pela paz ainda não estão dadas, já que tanto russos quanto ucranianos nutrem esperançasroleta dos numerosuma vitória militar.

Em Pequim, durante as negociações para a reunião bilateral, os chineses já haviam deixado claro que tinham disposiçãoroleta dos numerosouvir as ideiasroleta dos numerosLula, mas demonstraram que não pretendiam avançarroleta dos numerosqualquer tiporoleta dos numeroscompromisso quanto ao tema.

Às vésperas do encontroroleta dos numerosXi com Lula, o jornal chinês Global Times, ligado ao Partido Comunista Chinês, deu manchete à visita do líder brasileiro ao país asiático. Entretanto, no longo textoroleta dos numerosreportagem, não foram mencionados nem uma única vez os termos "guerra" ou "Ucrânia".

Considerado um bom termômetro dos interessesroleta dos numerosXi, o jornal se estendeu sobre planos sobre comércio bilateralroleta dos numerosyuan (e sem o dólar), sobre o fortalecimento dos Brics e o aumento do fluxoroleta dos numerosnegócios. E apenas citou marginalmente que os dois líderes deveriam tratarroleta dos numeros“temas regionais e internacionais quentes” eroleta dos numeros“sua devida contribuição para a paz”.

Xi Jinping e Vladimir Putin se encontram na Rússia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Xi Jinping e Vladimir Putin se encontram na Rússia

A China é superpotência. O Brasil, não

A faltaroleta dos numerosentusiasmo dos chineses com a ideiaroleta dos numerosLula se explica. Assim como a Ucrâniaroleta dos numeroshoje não é mais aquela que Lula visitouroleta dos numeros2004, Brasil e China também mudaram. Em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês era apenas três vezes maior que o brasileiro, e os dois países eram nações emergentes.

Em 2022, o PIB chinês foi 9,2 vezes maior que o do Brasil, e a China se consolidou como uma superpotência global, capazroleta dos numerosrivalizar com os Estados Unidos por poder e influência.

Em março, os chineses foram os responsáveis por reestabelecer relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita, algo desejado internacionalmente - e celebraram o acordoroleta dos numerosPequim, para deixar clara a autoria da mediação.

Já o Brasil amargou uma décadaroleta dos numerosrecessão ou crescimento modesto; com a crise do Mercosul, viu a reduçãoroleta dos numerosseu papel como liderança regional; e enfrentou um processoroleta dos numerosdescrédito internacional até na questão ambiental, na qual era um líder desde os anos 1990.

“Falandoroleta dos numerosum pontoroleta dos numerosvista bem realista, se o presidente Xi Jinping percebesse a possibilidaderoleta dos numeroscosturar a paz nesse momento, ele já teria feito isso, e não ia dividir esse protagonismo com o Brasil. Ele teria saído da Rússia, onde estava conversando com o presidente Putin, foi convidado pelo presidente Zelensky a ir a Ucrânia, e iria sair como o salvador da pátria, como o cara que conseguiu a paz”, afirma o coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestreroleta dos numerosEstudosroleta dos numerosDefesa Estratégica pela Universidade Nacionalroleta dos numerosDefesa da Chinaroleta dos numerosPequim, na China, e pesquisadorroleta dos numerosRelações Internacionais da Universidaderoleta dos numerosBrasília.

Gomes Filho se refere à recente visitaroleta dos numerosXi a Putinroleta dos numerosMoscou, o 40º encontro dos dois líderes - no qual, supostamente, ambos tratariam da paz, assunto sobre o qual não houve, porém, nenhum anúncio.

A proximidade entre Putin e Xi e o peso da China no xadrez global têm levado líderes ocidentais, como o presidente francês, Emmanuel Macron, a pedirem que Xi interceda mais decisivamente pelo fim da guerra. A China, no entanto, repete com frequência que esta não é uma guerra dela. O líder chinês se resumiu a pedir que os diálogosroleta dos numerospaz fossem retomados no âmbito da ONU, “levandoroleta dos numerosconsideração as preocupaçõesroleta dos numerossegurançaroleta dos numerostodos os lados”,roleta dos numerosuma alusão aos argumentos russosroleta dos numerosque a invasão à Ucrânia foi uma resposta à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) entre os países da antiga cortinaroleta dos numerosferro.

Lula e o então presidente iraniano Ahmadinejad durante negociaçãoroleta dos numerosacordo nuclear

Crédito, AFP

Legenda da foto, Lula e o então presidente iraniano Ahmadinejad durante negociaçãoroleta dos numerosacordo nuclearroleta dos numeros2010

A Ucrânia é o novo Irã?

No caso do Brasil, é Lula quem tem batido na porta dos líderes internacionais para propor a ideia do clube da paz. Com o bordãoroleta dos numerosque “o Brasil voltou”, o presidente brasileiro adotou uma agenda internacional caracterizada como “frenética” pelo Itamaraty.

Ou como “hiperativa” e “ingênua” pela revista britânica The Economist, que esta semana relembrouroleta dos numerosartigo a tentativaroleta dos numerosLularoleta dos numerosfirmar um acordo nuclear com o Irãroleta dos numeros2010, quando acabou ignorado por europeus e americanos. Em carta a Lula, o então presidente americano Barack Obama endossou o plano brasileiro, mas depois recuou. E a diplomaciaroleta dos numerosIsrael chegou a dizer que o Brasil estaria sendo “manipulado” pelos iranianos.

Membro não permamente do Conselhoroleta dos numerosSegurança da ONU, como também o é agora, o país àquela altura tentava evitar novas sanções americanas a Teerã. Em 2015, os Estados Unidos lideraram um novo pacto que praticamente interrompeu o programa nuclear iranianoroleta dos numerostroca do fim imediato das sanções contra o país.

“A situação da Ucrânia e do Irã tem vários paralelos: um grande conflitoroleta dos numerosrepercussão global, sem envolvimento direto do Brasil e a partir do qual o Brasil vai capitalizar a política externa. Os atores também são os mesmos: o Celso Amorim e o Lula pelo Brasil, e o ceticismo americano do governo Obama, que tinha o Biden como vice. Agora, entre as principais diferenças está o fatoroleta dos numerosque o mundo mudou muitoroleta dos numeroslá para cá e que essas mudanças estruturais reorganizaram um pouco a dinâmicaroleta dos numerosatores que se fazem relevantes”, afirma Fernanda Magnotta, coordenadora do cursoroleta dos numerosRelações Internacionais da FAAP.

Segundo ela, o Brasil tenta, legitimamente, retomar a imagemroleta dos numerosum país que conversa com muitos grupos distintos: é parte dos Brics, forte com os latinos, tem interlocução aberta com europeus e americanos para se afirmar como um ator global, e não apenas uma potência regional.

Mas se esse já era um argumento complicadoroleta dos numeros2010, a centralidade da China no mundoroleta dos numeros2023 e a presença política mais decisivaroleta dos numerosatores como a Turquia, com um históricoroleta dos numerosmediaçãoroleta dos numerosconflitos que o Brasil não tem, devem reduzir ainda mais o espaço para que o país possa manobrar mediações internacionais.

“Neste sentido, seroleta dos numeros2010 o Brasil já não encontrou muito espaço para defender a mediação do Irã,roleta dos numeros2023, o Brasil vai encontrar menos espaço ainda. Não me parece que nem os americanos necessariamente veem o Brasil dessa forma (como um ator global), nem os chineses veem o Brasil assim. E cada um vai dispensar o Brasil do modo que mais lhe convém”, diz Magnotta.

Para o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Ricupero, além das baixas chancesroleta dos numerosproduzirem a paz, as investidasroleta dos numerosLula no tema trazem um risco embutido ao Brasil.

“Talvez a iniciativa do Lula, embora a intenção dele seja outra, acabe sendo uma operaçãoroleta dos numerospropaganda para os russos e para os chineses, porque seria uma operação que mostraria que países do terceiro mundo estão mais favoráveis à paz, mas que a coisa não anda porque a Ucrânia não quer, porque os Estados Unidos não querem. Acaba sendo objetivamente uma açãoroleta dos numerosfavor do lado chinês, russo e contra o lado americano, ocidental. Objetivamente, é isso que vai provavelmente acontecer”, afirma Ricupero.

Diplomatas americanos ouvidos pela BBC News Brasil afirmam acreditar nas intenções verdadeiramente pacíficasroleta dos numerosLula, mas aventaram a possibilidaderoleta dos numerosque os chineses usem o discurso do brasileiroroleta dos numerosfavorroleta dos numerosseus 12 pontos pela paz — visto pelas potências ocidentais como contraditório e cínico por defender a soberania dos países ao mesmo temporoleta dos numerosque indica limites ao poderroleta dos numerosdecisão da Ucrânia sobre seu próprio destino.

O Brasil não se comprometeu com o planoroleta dos numerospazroleta dos numerosXi Jinping. Mas, recentemente, também se recusou a chancelar a declaração do Encontro da Democraciaroleta dos numerosBiden, que fazia uma nova condenação à invasão russa.

“O Brasil deveria sim ter um papel numa eventual negociaçãoroleta dos numerospaz como um líder do Sul Global. O que é mais problemático é como Lula tem retoricamente abordado o assunto, o que tem criado descrédito e ofensa desnecessários entre os ocidentais”, afirma Nick Zimmerman, ex-assessorroleta dos numerosassuntos internacionaisroleta dos numerosObama.

Para Zimmerman, chama a atenção o quanto o Brasil defenderoleta dos numerossoberania sobre o próprio território - especialmenteroleta dos numerosqualquer discussão que envolva a Amazônia -, ao mesmo temporoleta dos numerosque estaria disposto “a ceder territórioroleta dos numerosoutro país”roleta dos numerosbusca da paz,roleta dos numerosalusão ao comentário recenteroleta dos numerosLula sobre a Crimeia.

“Há uma sensação crescenteroleta dos numerosque essas ideias (de Lula) são, na verdade, mais unilaterais do que neutras ou equidistantes. E isso não ajudará a criar a confiança que seria necessáriaroleta dos numerosWashington DC, na Europa eroleta dos numerosKiev para considerar ativamente um projeto brasileiro para a paz”, diz Zimmerman.

Em um ataque direto à postura americana na questão, Lula afirmou na manhã deste sábado (15, no horário local)roleta dos numerosPequim que os EUA deveriam pararroleta dos numerospromover a guerra e promover a paz.

A declaração é uma referência aos maisroleta dos numerosUS$ 50 bilhõesroleta dos numerosarmamentos que o governo Biden já enviou aos ucranianos. Os americanos afirmam que não patrocinam a guerra, apenas viabilizam a defesaroleta dos numerosum Estado soberano cujo território foi invadido contrariando o direito internacional e que este tiporoleta dos numerosdeclaração retira da Rússia a responsabilidade por ter iniciado o conflito.

Em tom cético sobre as chancesroleta dos numerossucessoroleta dos numerosLularoleta dos numerosajudar na obtenção da paz, a revista britânica Economist sugeriu que o Brasil deveria concentrarroleta dos numerospolítica externa no que teria real vocação para liderar: a batalha global contra as mudanças climáticas. E que o ativismoroleta dos numerosLula sobre a Ucrânia poderia atrapalhar os objetivos verdes do país.

Nos últimos dias, enquanto Lula se preparava para a viagem à China, recebeu do Japão o convite, intermediado por Biden, para participar da Cúpula do G7roleta dos numerosHiroshima,roleta dos numerosmaio. Se for, ele terá a chanceroleta dos numeroschecar na prática se o tema Ucrânia gerou ruídosroleta dos numerosseu intentoroleta dos numerosnegociar recursos para a Amazônia.

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