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Por que brasileiros não são considerados latinos nos EUA:das slot
Quem é considerado latino nos EUA?
Oficialmente, brasileiros não são considerados "hispânicos ou latinos" nos Estados Unidos.
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A origem disso está numa lei aprovadadas slot1976 pelo Congresso Americano, que determinou a coletadas slotdados no país sobre um grupo étnico específico: "americanosdas slotorigem ou descendência espanhola".
Essa legislação classificava esse grupo da seguinte maneira: “Americanos que se identificam como sendodas slotlíngua espanhola e traçamdas slotorigem ou descendência no México, Porto Rico, Cuba, América Central e do Sul e outros paísesdas slotlíngua espanhola.”
Dessa forma, estavam incluídos na classificação 20 países falantesdas slotespanhol na América Latina, mas não o Brasil, falantedas slotportuguês, ou outros países latinos, mas não hispânicos.
Em 1977, o Escritóriodas slotAdministração e Orçamento dos EUA publicou então os padrões para a coletadas slotdados étnicos e raciais no país com cinco classificações: indígena americano ou nativo do Alasca; asiático ou ilhéu do Pacífico; negro; hispânico; ou branco.
Pela definiçãodas slot1977, "hispânico" era considerado uma etnia, não uma raça — a raça dizia respeito a características físicas, herdadas entre gerações; enquanto a etnia dizia mais respeito à identidade cultural e linguística, nessa classificação.
Assim, na coletadas slotdados americana, os hispânicos podem serdas slotqualquer raça.
Vinte anos depois, no entanto, essa classificação foi revisada. E,das slot1997, a categoria "hispânico" mudou para "hispânico ou latino".
À época, o Escritóriodas slotAdministração e Orçamento dos EUA justificou a mudança dizendo que o uso dos termos tinha variações regionais, com "hispânico" sendo mais usado no Leste do país e "latino" mais no Oeste.
"Essa mudança pode contribuir para melhores taxasdas slotresposta", argumentava o departamento americano.
Aí criou-se a confusão para a classificação dos brasileiros.
Porque, embora para o governo americano, a classificação "hispânico ou latino" diga respeito somente às pessoasdas slot"cultura ou origem espanhola", para nós, o termo "latino" remete ao fatodas slotsermos latino-americanos e falarmos uma língua latina, o português.
A reclassificação no Censo americano
Nos censosdas slot1980 e 1990 nos EUA, valia a autodeclaração. Então,das slot1980, 18% dos brasileiros vivendo nos EUA foram contabilizados como hispânicos. Em 1990, foram 33%.
Mas, a partirdas slot2000, o Departamento do Censo dos EUA passou a fazer uma recategorização posterior.
Assim, quem dizia ser "hispânico ou latino", mas, ao mesmo tempo, informava ser brasileiro, era então reclassificado como "não hispânico ou latino".
O mesmo acontecia com pessoasdas slotoutros países não falantesdas slotespanhol, que porventura se declarassem latinos, como filipinos, portugueses e nativosdas slotoutros países centro-americanos e caribenhos não-hispânicos, como Belize, Haiti, Jamaica, Guiana, entre outros.
Desde 2006, além do Censo decenal, os EUA passaram a contar também com a American Community Survey (ACS), uma contagem populacional anual.
Com esse esquemadas slotreclassificaçãodas slotvigor, a parceladas slotbrasileiros quantificados como "hispânicos ou latinos" caiu para 4% ou menosdas slotquase todas as edições da ACS.
Esse percentual residualdas slotbrasileiros contados como "hispânicos ou latinos", mesmo nos anosdas slotque a reclassificação funcionou adequadamente, se explica porque, quando a pessoa responde ser hispânica "de outra origem", mas não preenche essa origem, o Departamento do Censo não faz a reclassificação.
O Pew Reserach Center consegue identificar que são brasileiros olhando para dadosdas slotpaísdas slotnascimento e ancestralidade,das slotoutra parte do formulário da ACS, o que não é considerado pela autoridade censitária americana no processodas slotreclassificação.
Mas por que dizemos que o percentualdas slotbrasileiros classificados como "hispânicos ou latinos" caiu para 4% ou menosdas slot"quase" todas as edições da ACS? Porque,das slot2020, foi diferente.
O errodas slotpesquisa que revelou a identidade latina dos brasileiros
Durante o processodas slotedição dos dados da ACSdas slot2020, o Departamento do Censo dos EUA cometeu um erro e deixou brasileiros e outros grupos sem esse processodas slotreclassificação.
Com isso, o númerodas slotbrasileiros que se identificaram como "hispânicos ou latinos" saltoudas slot14 mildas slot2019, para 416 mildas slot2020.
Entre os filipinos, o número passoudas slot44 mil para 67 mil; entre belizenhos,das slot4 mil para 19 mil; e entre pessoasdas slotpaíses caribenhos não-hispânicos,das slot36 mil para 71 mil.
Mesmo o fenômeno afetando outros grupos, o caso dos brasileiros se destaca, pois 70% da comunidade brasileira nos EUA contabilizada na ACS se declarou "hispânica ou latina", revelou o errodas slotpesquisa, comparado a 41% dos belizenhos, 3% dos filipinos e 3% dos caribenhos não-hispânicos.
"O grande númerodas slotbrasileiros que se identificam como hispânicos ou latinos destaca como a visão delesdas slotsua própria identidade não necessariamente se alinha com as definições oficiais do governo", observam Jeffrey S. Passel e Jens Manuel Krogstad, autores do estudo publicado pelo Pew Research Center.
"Também ressalta que ser hispânico ou latino significa coisas diferentes para pessoas diferentes", acrescentam os pesquisadores.
EUA pode mudar classificaçãodas slotbrasileiros?
Para o brasileiro Raphael Nishimura, diretordas slotamostragem do Survey Research Center na Universidadedas slotMichigan, o caso serve para refletir sobre como pesquisas são feitas.
"Metodologicamente, isso [o erro na ACSdas slot2020] é bastante interessante para ilustrar um dos aspectos do errodas slotmensuraçãodas slotpesquisas: o impacto do entendimento da pergunta por parte do respondente no que se pretende mensurar", escreveu Nishimura, sobre o estudo do Pew Research Center.
"Nesse caso, me parece que o U.S. Census Bureau [Departamento do Censo dos EUA] deveria deixar mais claro nessa questão o que é e o que não é considerado como latino, hispânico ou origem espanhola", defendeu o estatístico.
Segundo Nishimura, apesar da desconexão entre classificação oficial e identidade dos brasileiros revelada pelo errodas slotpesquisadas slot2020, parece improvável que o governo americano reveja essa classificaçãodas slotalgum momento próximo.
Em junhodas slot2022, o governo anunciou uma revisão na coletadas slotdados sobre raça e etnia nos EUA, que poderá valer já para o Censodas slot2030.
Mas essa reavaliação parece estar mais focada nas comunidades do Oriente Médio e Norte da África, que podem ganhar uma classificação própria nas pesquisas demográficas americanas, separada da categoria "branco", observa o estatístico, que mora nos EUA há 13 anos.
Se os brasileiros fossem oficialmente considerados "hispânicos ou latinos", seríamos o 14º maior grupo latino dos EUA, acima da Nicarágua (395 mil) e abaixo da Venezuela (619 mil).
Ainda assim, a população hispânica é tão grande nos EUA (61,1 milhões), que a comunidade brasileira contabilizada (569 mil na ACSdas slot2021) não chegaria a 1% do totaldas slotlatinos.
"Aparentemente, apesardas slotsermos algo como a 14ª maior população latina nos EUA, mal contaríamos como uma casa decimal nessa população como um todo. Então não deve nem haver um incentivo para isso [mudar a classificaçãodas slot'hispânico ou latino' para incluir os brasileiros]. Mas quem sabe agora que temos um brasileiro no Congresso", brinca Nishimura, fazendo referência ao congressista republicano George Santos, filhodas slotbrasileiros, envolvidodas slotdiversas polêmicas nos últimos meses.
A comunidade brasileira contabilizada na ACS pode, no entanto, estar subestimada. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil calcula o númerodas slotbrasileiros vivendo nos EUAdas slot1,9 milhão — trata-se da maior comunidade brasileira no exterior, segundo relatóriodas slotagostodas slot2022 sobre o tema.
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