'Fico muito feliz por celebrar meu funeralsorte esporte betvida': a professora com câncer terminal que optou por não fazer tratamentos agressivos:sorte esporte bet
"E esses dias extrassorte esporte betvida (não importa quantos) servem para quê? São para resistir a possíveis efeitos adversos disso?", perguntou a economista, historiadora e professora da Universidade dos Andes emsorte esporte betcolunasorte esporte betdespedida no site Razón Pública, onde há meses compartilhasorte esporte betvida com a doença.
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Fim do Matérias recomendadas
Andia dedicou o tempo que lhe foi concedido a se despedir, recordar, celebrar e viajar. Resumindo: a viver.
Suas colunas têm sido amplamente compartilhadas e divulgadas nas redes sociais.
Seu caso é admirado num paíssorte esporte betforte tendência conservadora, onde a vida é muitas vezes considerada uma dádiva divina que deve ser estendida a todo custo.
O mesmo não aconteceu com Andia, que optou por olhar para o seu câncer "de modo tranquilo" e até agradecer pela oportunidade "de encerrar completamente uma vida plena".
Como parte do seu processosorte esporte betdespedida do mundo, dos ciclos que fecha com gratidão e do desejosorte esporte bettransmitir como encontrou a realização e a felicidade emsorte esporte betjornada final, ela quer compartilhar essas reflexões. Abaixo, o relato dela.
'Eu gostaria que todos pudessem morrer como eu'
Há alguns dias sofri convulsões. Isso é, literalmente, como reiniciar o cérebro.
Muita tensão foi gerada pela urgência, por tentar me dar mais alguns diassorte esporte betvida com qualidade e poder continuar me despedindo, mas nunca foi cogitado que me colocassem na UTI, ou que me intubassem ou qualquer uma dessas coisas.
Fui muito enfática desde o início que não queria ficar no hospital. É algo que meu pai, meus médicos e meu marido deixaram bem claro.
Então estousorte esporte betcasa, vivenciando um processosorte esporte betdespedida muito gostoso.
Me sinto muito feliz por celebrar meu próprio funeralsorte esporte betvida. As pessoas vêm, contam histórias, relembramos momentos.
É algo que eu desejaria para todos. Se fosse possível, adoraria que as pessoas morressem como eu: muito felizes, muito amadas, com tranquilidade,sorte esporte betpaz. É muito especial.
'Não acredito que alguém venha à Terra para sofrer'
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Episódios
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Desde o início tive certezasorte esporte betque não queria coisas que me fizessem sofrer: nadasorte esporte betquimioterapia ou tratamentos agressivos.
Não acredito que alguém venha à Terra para sofrer. Nunca foi minha filosofiasorte esporte betvida.
Tive um grande amigo com quem trabalhei durante muitos anossorte esporte betquestõessorte esporte betsaúde e que me ensinou uma liçãosorte esporte betvida.
Ele teve um câncer horrível no esôfago e a forma como reagiu foi muito paradoxal.
Sempre discutimos muito sobre o custo-benefício dos tratamentos contra o câncer e o quantosorte esporte betqualidadesorte esporte betvida estaríamos dispostos a sacrificar.
Ele, sempre um cara muito liberal e progressista, havia dito que não queria que fizessem nada com ele.
Mas quando veio o câncer, não sei o que aconteceu com ele. Ele estava angustiado por não ter conseguido terminar suas coisas. Acho que ele teve a sensaçãosorte esporte betdeixar as questões da vida insatisfeitas.
De repente, ele estava pronto para fazer qualquer coisa com ele. Ele se submeteu a coisas horríveis.
Ele morreu muito rapidamente, algosorte esporte bettornosorte esporte betseis meses. Mas foram seis mesessorte esporte betinfâmia,sorte esporte bettortura.
Foi uma liçãosorte esporte betvida para mim e para aquelessorte esporte betnós que morávamos nas proximidades.
Estarei viva pelo tempo que for necessário, mas sem que isso se tornasse uma tortura.
Minhas linhas vermelhas, o que eu estava disposta ou não a fazer, eram muito importantes para mim porque os médicos podem ser muito agressivos.
Eles têm o instintosorte esporte betsalvação e oferecem alternativas e recomendações.
Agora que tive convulsões, me pareceu desumano ser intubada ou colocada na UTI.
Mas é claro que chega um momentosorte esporte betque aparecem os tonssorte esporte betcinza na balança, quando não se antecipa mais as coisas que podem acontecer com você ou o que vão lhe oferecer para ajudar.
'Não quero estender a minha vida só por prolongá-la'
Alguns dos meus oncologistas, com quem tenho uma relação muito especial, mudaramsorte esporte betperspectiva e perceberam o que pode acontecer do outro lado, o do paciente.
Eu valorizo muito porque é fácil falar que é preciso ter empatia e ficar do outro lado, mas uma coisa é falar e outra é fazer.
Ao desenvolver esse relacionamento especial com eles, me ofereceram alternativas dentro dos meus parâmetros para dar um pouco maissorte esporte betmim.
E então passa para outro plano. Reconhecer as alternativas e aceitá-las, mas você fica se perguntando: 'até que ponto eu quero?', 'por quanto tempo?', 'para que eu quero esse tempo?'
Existe um mantra na saúde que é prolongar a vida a todo custo, mas acho que vale a pena pararsorte esporte betalgum momento e dizer: 'por que prolongar se você não sabe o que vai fazer com esse tempo extra?'
Não preciso prolongar minha vida. Não sinto dívidas. O que experimentei foi o mais completo possível. Curto, mas substancial. Estender por estender não é o que eu quero fazer.
Ao receber o diagnóstico, os médicos me falaram sobre um medicamento que é eficaz por um ano com esse raro câncersorte esporte betpulmão, com uma mutação genética específica que o torna mais agressivo esorte esporte betreprodução mais rápida.
Antes não existia nada semelhante e o câncersorte esporte betpulmão era muito dramático.
Te diagnosticavam, você morria pouco depois e não havia muito a oferecer. Exceto a quimioterapia, que é como matar tudo.
Já o tratamento, chamadosorte esporte betterapia direcionada, se apega à mutação, à rápida reprodução das células, e a interrompe por um tempo.
É pouco tóxico, sem efeitos adversos. É tomadosorte esporte betcasa, por via oral, um comprimido ao dia.
Exceto pela acne juvenil e alguns problemas estomacais, proporcionou uma boa qualidadesorte esporte betvida que me permitiu viajar, interagir, dançar e pular.
Me disseram que esse tratamento durasorte esporte betmédia um ano, embora também existam casossorte esporte betpacientes que duraram até oito.
Me preparei para um ano e para os check-ups que eram feitos a cada três meses.
'Olha, vamos viversorte esporte bettrêssorte esporte bettrês meses e faremos tudo o que puder ser feito a cada três meses para sermos o mais felizes possível', disse ao meu marido.
Aí começamos a viajar, fomos para a Itália, fizemos muitas viagens, viagens para ver amigos, pessoas que amamos.
Limpamos nossas vidassorte esporte bettodo o excessosorte esporte betlixo, das besteiras e das coisas insípidas que fazemos por estupidez.
Sou professora, gostosorte esporte betensinar e isso também me deu vida e frutos nessa época.
'Meus familiares são meus primeiros fãs'
Ninguém na minha família se opôs à minha decisãosorte esporte betnão me submeter a tratamentos agressivos.
Meu pai é médico e, embora seu instinto natural seja salvar vidas, ele também é muito humano. Discutimos muito esses assuntos.
Ele tem uma visão muito holística da medicina, liberal, progressista.
Ele sempre respeitou minha decisão, embora isso também não significasse que ele não me contra-argumentaria se não concordasse com alguma coisa. Afinal, meu pai é meu grande fã, um admirador da minha capacidadesorte esporte bettomar decisões com argumentos.
O apoio da minha família tem sido excepcional e, mais uma vez, tenho muita sorte pela família que tive. Eles têm personalidades diferentes, uns mais receptivos que outros, mas sempre me apoiaram.
Repito, isso não significa que eles não contra-argumentem.
Minha tia, irmã da minha mãe, por exemplo, com aquele instintosorte esporte betmãe que ela tem porque minha mãe não está mais aqui, me diz que me falta um "fervor” antessorte esporte betmorrer.
Algo lhe diz que não posso avançar ou atrasar a minha morte.
O que vivencio com minha família é um feedback amoroso, muito bacana, que aprecio e sei receber.
'Meu câncer me deu uma oportunidade única'
Como tudo na vida, o câncer pode ter uma dimensão positiva.
No meu caso, a abertura para me fazer muitas perguntas que tentei respondersorte esporte betminhas colunas.
É uma oportunidade únicasorte esporte betencerrar completamente uma vida plena, que é o que sinto que está acontecendo comigo agora.
É câncer, não um acidente. Qualquer dia alguém pode sofrer um acidente, ser atropelado, e não sei se nesse caso estaria pronto para morrer.
O câncer me permitiu fechar, me despedir, curtir, refletir sobre a vida, vermeus projetos se cumprirem.
E, além disso, me permitiu fazer isso com uma qualidadesorte esporte betvida bastante significativa durante um períodosorte esporte bettempo razoável.
Um ano é muito tempo para viver feliz.
Poderíamos enquadrar esta experiência com outros olhos, como ruim, mas me senti muito bem com tudo.
As memórias dos últimos dias
À medida que o fim se aproxima, meu cérebro faz conexões incomuns.
Ao contar isso tenho a sensaçãosorte esporte betestar aqui, mas também fora. Acontece comigo enquanto interajo, mas também quando estou sozinha,sorte esporte betsilêncio.
Sinto que estousorte esporte betvários lugares, que tenho conversas simultâneas.
Acontece muito comigo, quando durmo, que tenho alucinações com conversas não-verbais, mas existenciais, onde me despeço das pessoas, dos momentos, e encerro ciclos.
Não sei se isso seria agradável para todos. No começo não foi legal porque senti puxões, energias extra-sensoriais que poderiam ser angustiantes.
Eu estava conversando com meu pai que me frustra o fatosorte esporte bethaver poucos registros existenciais ou clínicos sobre o que está acontecendo comigo.
Eu entendo que as pessoas morrem e não começam a registrar como é morrer.
É por isso que me esforço para transmitir isso, para dizer ao meu pai para anotar tudo, porque acho que é útil para outras pessoas que vivenciam isso e não encontram ferramentas.
Nos últimos dias, a infância também é muito lembrada, quando eu era pequena, muito pequena.
Justamente, um dia depois das convulsões, sem ligar para elas, pessoas daquela época me visitaram, amigos do jardimsorte esporte betinfância.
Muitos nem sabiam que eu havia sofrido convulsões. Acontece que a tarde toda foi sobre isso, minha infância.
Nesse processosorte esporte betmorte tranquila, na minha casa, há momentossorte esporte betviagem,sorte esporte betreviravolta na vida.
Quando eu não estiver mais...
Pensei no momentosorte esporte betque ele não estiver mais aqui.
Por um lado, como facilitar o luto das pessoas que amo.
Comecei a escrever colunas sobre isso, para que meu ‘velho’, meus irmãos, meu marido e demais entes queridos entendessem como passar por isso juntos, na vida, antessorte esporte beteu morrer.
Acho que as pessoas adiam isso para o fim e isso pode ser feito antes.
Em geral, o sentimento agora, do meu ambiente e do meu círculo, é que esse luto será muito mais fácil porque percorremos esse caminho juntos.
O luto na vida é lindo e mais amoroso porque se está mais acompanhado.
Também se pode sentir medosorte esporte betperder, embora eu ache que não ter filhos, não ter esse amor, me libertou muito desse medo.
Acho que esse seria o pior temorsorte esporte betalguém da minha idade se estivesse na minha situação.
Embora, para dizer a verdade, não tenha levado a sério pensar nas coisas que vou sentir falta.
Tenho a sensaçãosorte esporte betque serei a mesma, puxandosorte esporte betalguma forma as pernassorte esporte betcada ente querido que está tendo dificuldades para ser feliz quando eu não estiver mais aqui.