‘Estamos sob ataque’: como a vida está mudando para casais gays na Itália:casas de apostas esports

Maurizio e Mauro com os dois filhos no colo
Legenda da foto, Maurizio e Mauro estão juntos há 20 anos e tiveram gêmeos graças a uma barrigacasas de apostas esportsaluguel

Essa prática, conhecida como barrigacasas de apostas esportsaluguel, é proibida na Itália e na maioria dos países europeus. Por isso, muitos casais viajam para países onde isso é legalizado — como Estados Unidos e o Canadá —, fazem o processo com uma mulher que se oferece como barrigacasas de apostas esportsaluguel e depois levam consigo o bebê nascido no exterior.

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Mas o Senado italiano está prestes a aprovar uma lei que tornará a barrigacasas de apostas esportsaluguel um “crime universal” — ou seja, punível mesmo que seja praticada fora do país, tal como acontece com o tráficocasas de apostas esportsseres humanos ou a pedofilia.

Nenhum outro país tem uma proibição semelhantecasas de apostas esportsvigor.

Se a proposta se tornar lei, casais como Cláudio e Davide poderão enfrentar multas próximascasas de apostas esportsUS$ 900 mil (cercacasas de apostas esportsR$4,4 milhões) e até dois anoscasas de apostas esportsprisão.

“Tenho medocasas de apostas esportsque meu filho não cresça com os pais porque vamos acabar na cadeia”, diz Cláudio.

O casal teme o que pode acontecer com eles, por isso pediu que os nomes deles não fossem revelados. Eles têm medo que o governo italiano os identifique e passe a persegui-los.

Ambos indicam que estão prontos para fugir e procurar asilo políticocasas de apostas esportsum país mais amigável para a comunidade LGTBQIA+.

Casal com ursocasas de apostas esportspelúcia nas mãos
Legenda da foto, A mulher que está gestando o filhocasas de apostas esportsCláudio e Davide deu a eles um ursinhocasas de apostas esportspelúcia que reproduz uma gravação ultrassonográfica dos batimentos cardíacos do bebê

“Sinto que estão me forçando ao exílio só por querer ser pai”, lamenta Davide, que está aprendendo holandês e maltês.

O exílio seria uma mudança extremamente difícil para eles, que perderiam a proximidade da família e dos amigos.

“No nosso círculo íntimo, estão ansiosos para conhecer o bebê”, diz Cláudio.

O casal não tem consolo quando pensa numa saída forçada da Itália.

“Não quero sair do meu país. Sinto orgulhocasas de apostas esportsser italiano”, explica Davide.

“Tentei ser o melhor cidadão possível e agora me sinto tratado como um criminoso só porque quero constituir uma família”, declara.

Proposta polêmica

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que as crianças merecem ser criadas por uma mãe e um pai
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A propostacasas de apostas esportslei contra a barrigacasas de apostas esportsaluguel faz parte da agenda do grupo político conservadorcasas de apostas esportsGiorgia Meloni, a primeira mulher a ser primeira-ministra na história da Itália. O partido dela, os Irmãos da Itália, é originadocasas de apostas esportsum movimento formado por ex-membros do partido fascista fundado por Mussolini.

Meloni se descreve como uma mãe cristã e acredita firmemente que os filhos devem ser criados apenas por uma mãe e um pai.

A Itália é um país onde a influência da Igreja Católica é muito forte. Por lá, o casamento gay é ilegal e os casais do mesmo sexo têm menos direitos do quecasas de apostas esportsoutros países da Europa Ocidental.

Por essa razão, a inseminação artificial ou mesmo a adoção não são opções para casais LGBTQIA+. Assim, para muitos, procurar uma mãecasas de apostas esportsaluguel fora do país é a única opção para aumentar a família.

Agora, a prática está no centrocasas de apostas esportsvários debates políticos do país.

Meloni descreveu a barrigacasas de apostas esportsaluguel como um “símbolocasas de apostas esportsuma sociedade abominável que confunde desejo com direitos e substitui Deus por dinheiro”.

O vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, comparou a barrigacasas de apostas esportsaluguel a um caixa eletrônico.

“É uma caixa que produz bebês. Para mim, é uma aberração”, declarou. “Vou lutar contra essa prática bárbara, sócasas de apostas esportspensar nisso fico doente.”

Já para Angelo Schillaci, professorcasas de apostas esportsdireito da Universidade Sapienza, a proposta é “irracional”. Ele defende que não faz sentido colocar a barrigacasas de apostas esportsaluguel no mesmo nível da pedofilia e dos crimes contra a humanidade.

“A lei procura punir o que é perfeitamente legalcasas de apostas esportspaíses aliados, como os EUA e o Canadá”, diz Schillaci. “É como punir alguém por fumar maconhacasas de apostas esportsAmsterdã quando estácasas de apostas esportsvolta ao país."

Para o acadêmico, a lei também é problemática porque é um claro ataque aos direitos da comunidade LGTBQIA+ na Itália.

Carolina Varchi, que é parlamentar do partidocasas de apostas esportsMeloni, foi quem apresentou o projeto e rejeita esse tipocasas de apostas esportsinterpretação.

“A maioria das pessoas que usam barrigacasas de apostas esportsaluguel são heterossexuais”, afirma a parlamentar.

Os especialistas apontam que quase 90% dos casais que recorrem a uma barrigacasas de apostas esportsaluguel na Itália são heterossexuais, muitos dos quais escondem o fatocasas de apostas esportsterem viajado para o exterior para ter o filho.

No entanto, os casais do mesmo sexo que regressam à Itália com filhos não podem esconder esse fato.

Proteção para a mulher

Protestocasas de apostas esportsfamílias LGBTQIA+
Legenda da foto, 'Famílias arco-íris'casas de apostas esportsVicenza protestam contra as novas medidas que as afetam

Varchi argumenta que a nova lei “protegerá as mulheres e acasas de apostas esportsdignidade”.

“É intolerável. O corpo da mulher fica reduzido a um objeto que é alugado por nove meses para trazer ao mundo um bebê, que deve sair imediatamentecasas de apostas esportsseus braços para entregá-lo aos seus clientes”, declara a parlamentar.

“Não estamos discriminando crianças. Essa lei foi elaborada para pais que encomendam, como qualquer outra compra, um filho.”

Varchi disse à BBC que a barrigacasas de apostas esportsaluguel deveria ser vista como um crime tão grave quanto a pedofilia — e processadacasas de apostas esportsacordo.

No entanto, a parlamentar dá a entender que a maioria das pessoas receberia multacasas de apostas esportsvezcasas de apostas esportsir para a prisão.

Nos países onde a barrigacasas de apostas esportsaluguel é legalizada, as normas variam e incluem considerações sobre o consentimento livre e esclarecido e sobre os valores que a mulher que irá gestar pode receber.

Mas Varchi observa que mesmocasas de apostas esportspaíses como os EUA e o Canadá, onde a prática é altamente regulamentada, as mulheres fazem isso por dinheiro.

“É um negócio que vale milhões. Em 2023, devemos ter coragemcasas de apostas esportsdizer que o dinheiro não compra tudo. E certamente não se pode comprar o corpocasas de apostas esportsuma mulher, muito menos uma vida humana”, argumenta.

Entretanto, as famílias com quem a BBC conversou dizem que têm um ótimo relacionamento com as mulheres que tiveram ou ainda geram seus bebês.

A mulher que carrega o bebêcasas de apostas esportsCarlo e Davide entregou para eles um ursinhocasas de apostas esportspelúcia no qual é possível ouvir os batimentos cardíacos do filho — som que ela registrou durante uma ultrassonografia.

Mauro e o filho no colo
Legenda da foto, Mauro teme que a nova lei estigmatize seus filhos

“Quando os políticos falam sobre barrigacasas de apostas esportsaluguel, usam termos como ‘úteros alugados’”, diz Maurizio, cujos filhos gêmeos também nasceram por meiocasas de apostas esportsbarrigacasas de apostas esportsaluguel.

Para ele, essa definição tem o objetivocasas de apostas esportshumilhar.

Mas não se trata apenas da barrigacasas de apostas esportsaluguel: o governo italiano também está usando outros meios para tornar ainda mais difícil que casais da comunidade LGBTQIA+ possam constituir uma família.

Sob ataque

Antescasas de apostas esportsMauro e Maurizio conseguirem que a Itália reconhecesse as certidõescasas de apostas esportsnascimento dos gêmeos, o municípiocasas de apostas esportsMilão, tal como outras localidades do país, recebeu uma ordem do governo central para pararcasas de apostas esportsregistrar filhoscasas de apostas esportscasais do mesmo sexo.

O casal conta que essa decisão fez com que os dois filhos até agora não tenham cidadania italiana. Com isso, as crianças terão dificuldades no acesso ao sistemacasas de apostas esportssaúde gratuito ou à creche.

“Os nossos filhos não existem aos olhos do Estado italiano. Eles são tratados como imigrantes ilegais. É uma discriminação total”, explica Mauro.

Essa situação tem causado muita ansiedade no casal: sempre que saem com os gêmeos Luisa e Giorgio, devem tercasas de apostas esportsmãos uma sériecasas de apostas esportsdocumentos caso tenham que provar que são realmente seus pais.

A parlamentar Varchi afirma que “os pais não biológicos podem solicitar a adoção dessas crianças e,casas de apostas esportscircunstâncias especiais, isso será aprovado”.

Valentina, Daniela e a filha delas

Crédito, FRANCESCO TOSTO/BBC

Legenda da foto, 'O governo italiano estácasas de apostas esportsguerra contra os nossos filhos', diz Valentina

No entanto, esse processo, denominado “adoçãocasas de apostas esportsenteado”, é caro e pode levar anos.

“É humilhante que você tenha que adotar seu próprio filho. É um ato homofóbico o governo acreditar que os pais homossexuais não podem criar os seus próprios filhos”, diz.

Na cidadecasas de apostas esportsPádua, no norte da Itália, as coisas tomaram um rumo mais drástico.

Um promotor exigiu o cancelamentocasas de apostas esports33 certidõescasas de apostas esportsnascimentocasas de apostas esportsfilhoscasas de apostas esportscasaiscasas de apostas esportslésbicas emitidas nos últimos seis anos.

Todas as mães não biológicas perderão os direitos sobre os seus filhos.

Caterina é uma das meninas cujo mundo viroucasas de apostas esportscabeça para baixo.

Filhacasas de apostas esportsum doadorcasas de apostas esportsesperma dinamarquês, ela tem cabelos loiros e olhos azuis. Suas mães, Valentina e Daniela, decidiram registrá-lacasas de apostas esportsPádua porque o prefeito da cidade estava disposto a incluir pais do mesmo sexo nas certidõescasas de apostas esportsnascimento.

Mas, agora,casas de apostas esportsfilha está presacasas de apostas esportsum limbo jurídico.

"Todas as pessoas LGBT na Itália estão sob ataque. Para o governo, as nossas famílias não são famílias reais", diz Valentina, contendo as lágrimas enquanto observa a filhacasas de apostas esports16 meses correndo atráscasas de apostas esportscoelhos no parque.

Como mãe biológica da criança, o seu direito dela está assegurado. Mas a ordem do Ministério Público é que o sobrenome da outra mãe, Daniela, seja retirado da certidãocasas de apostas esportsnascimentocasas de apostas esportsCaterina.

“Não poderei levar minha filha à escola, não poderei tomar decisões por ela no hospital, não poderei viajar com ela para o exterior sem a autorização por escrito da Valentina”, lamenta Daniela.

“Se Valentina morresse, a nossa filha ficaria órfã à disposição do Estado e eu também estaria perdida”, acrescenta.

As mães afetadascasas de apostas esportsPádua se preparam para ir ao tribunal para pedir a anulação da decisão, mas pais do mesmo sexo já foram derrotados na Justiça anteriormente.

Daniela e Valentina
Legenda da foto, Daniela e Valentina se preparam para ir a um comíciocasas de apostas esportsapoio às 'famílias arco-íris' e aos pais LGBTQIA+

“Sentimos que o governo italiano está travando uma guerra contra os nossos filhos”, diz Valentina.

Tal como outros pais LGBTQIA+, ela acredita que o governocasas de apostas esportsdireita quer impor a ideiacasas de apostas esportsuma “família tradicional”.

“Estou muito revoltada. É uma injustiça total: nossos filhos estão sendo agredidos por uma questão ideológica”, afirma Daniela.

Até o momento, não há indicaçãocasas de apostas esportsque o governo recuará.

A propostacasas de apostas esportstornar a barrigacasas de apostas esportsaluguel um crime universal irá provavelmente se tornar lei, minando o já frágil estatuto da comunidade LGBTQIA+ da Itália.

As pessoas com quem conversamos nos disseram que não querem que os seus filhos sejam tratados como cidadãoscasas de apostas esportssegunda classe e que continuarão lutando pelo direitocasas de apostas esportster uma família.

“Estamos todos furiosos”, diz Daniela.

“Isso faz o nosso sangue ferver e nos dá energia para continuar lutando. Comocasas de apostas esportstodos os períodos sombrios, temos que enfrentar isso com coragem.”

As leis sobre a barrigacasas de apostas esportsaluguel pelo mundo

  • Itália, Espanha, França e Alemanha estão entre os países europeus que proíbem todas as formascasas de apostas esportsbarrigacasas de apostas esportsaluguel.
  • Na Irlanda, nos Países Baixos, na Bélgica e na República Tcheca não é possível ir ao tribunal para fazer cumprir um acordocasas de apostas esportsbarrigacasas de apostas esportsaluguel se ele for violado.
  • No Reino Unido, é ilegal que terceiros façam barrigacasas de apostas esportsaluguel com fins lucrativos e a gestante registrará a criança por meio da certidãocasas de apostas esportsnascimento até que a guarda seja transferida por ordem judicial.
  • A Grécia aceita casais estrangeiros e proporciona proteção legal aos futuros pais (a mãecasas de apostas esportsaluguel não tem direitos legais sobre a criança). Porém, o país determina que é preciso haver uma mulher no casal que busca uma barrigacasas de apostas esportsaluguel (excluindo assim casaiscasas de apostas esportshomens ou homens solteiros).
  • Os Estados Unidos e o Canadá permitem a barrigacasas de apostas esportsaluguel para casais do mesmo sexo e os reconhecem como pais legais desde o nascimento do bebê.
  • Tentativas anteriorescasas de apostas esportsproibir a barrigacasas de apostas esportsaluguel no exterior, como foi proposto na Itália, falharamcasas de apostas esportsoutros países — incluindo Austrália e Hong Kong. “As leis eram inaplicáveis ​​— não havia vontadecasas de apostas esportsprocessar porque seria desastroso para a criança”, explica a advogada Natalie Gamble, do escritório britânico NGA Law.
  • No Brasil, a barrigacasas de apostas esportsaluguel ou gestaçãocasas de apostas esportssubstituição é permitida quando a gestante é parente consanguíneacasas de apostas esportsaté quarto graucasas de apostas esportsum dos parceiros. Recentemente, o Conselho Federalcasas de apostas esportsMedicina (CFM) também passou a permitir que "na impossibilidadecasas de apostas esportsatender à relaçãocasas de apostas esportsparentesco”, é possível pedir “ao Conselho Regionalcasas de apostas esportsMedicina (CRM) da jurisdição" uma autorização para que uma pessoacasas de apostas esportsfora do círculo familiar do casal gere o bebê. No entanto, o Brasil proíbe que essa prática tenha qualquer fim lucrativo. Além disso, também é permitido que pais brasileiros busquem barrigacasas de apostas esportsaluguelcasas de apostas esportsoutros países (onde a prática com fins lucrativos seja permitida) e tragam seus filhos para cá após o nascimento.