'Argentina está inviável': os brasileiros que estão abandonando o país com a explosão do custoroleta decisivavida:roleta decisiva

Jovem brasileiroroleta decisivapele clara e barba abraça senhora idosaroleta decisivacabelo compridoroleta decisivaum porto

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Lucas dos Anjos, na foto com a avó, morouroleta decisivaBuenos Aires

Isso piorou, segundo Lucas, após a posse do novo presidente Javier Milei,roleta decisivadezembro.

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"Subiu tudo. Um arroz que a gente pagava R$ 2 foi para R$ 10. Um absurdo", diz Lucas, que viu seus custos mensais passaremroleta decisivaR$ 3 mil, bem mais do que os R$ 600 com que conseguia viver na Argentina há cinco anos.

A Argentina, sob o comandoroleta decisivaMilei, enfrenta um rigoroso ajuste econômico. Herdando um paísroleta decisivarecessão, com inflação descontrolada e dívida pública crescente, Milei implementou um corte abrangenteroleta decisivagastos públicosroleta decisivauma tentativaroleta decisivaestabilizar a economia.

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Uma toneladaroleta decisivacocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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Desde que assumiu a Presidência, paralisou obras federais e interrompeu o repasseroleta decisivaverbas para as Províncias.

Subsídios a serviços essenciais, como água, gás, luz e transporte público, foram eliminados, resultandoroleta decisivaum aumento significativoroleta decisivapreços ao consumidor.

Essas medidasroleta decisivaausteridade geraram uma resposta mista, com muitos argentinos e brasileiros sentindo o peso no bolso do encarecimentoroleta decisivaitens essenciais e do mercado imobiliário.

Por causa disso, Lucas decidiu que era o momentoroleta decisivair embora. “Em um mês arrumei tudo, consegui trazer meu gato e me mudei com o meu namorado”, conta Lucas, que hoje viveroleta decisivaCiudad del Este, no Paraguai.

"Aqui consigo comer bem, sem ter o desespero se eu vou ter comida no fim do mês. Aqui é bem mais barato."

Ele não é um caso isolado. A BBC News Brasil conversou com outros brasileiros que já deixaram a Argentina ou que pretendem se mudarroleta decisivabreve, principalmente, pelo aumento do custoroleta decisivavida.

Disparadaroleta decisivapreços

Homem brasileiroroleta decisivapele clara, barba e calvoroleta decisivaum estádioroleta decisivafutebol

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Leonardoroleta decisivaSouza mora na Argentina há 15 anos

Um levantamento do Centroroleta decisivaEstudos Scalabrini Ortiz, que analisa índices socioeconômicos na Argentina, mostrou que inquilinos enfrentaram no país no último ano,roleta decisivajaneiro a dezembro, aumentosroleta decisiva285% a 309% nos aluguéisroleta decisivaimóveisroleta decisivaum a três quartos.

Isso ocorreu porque uma legislação que estavaroleta decisivavigor desde a pandemia foi extinta.

A Lei do Aluguel, aprovadaroleta decisiva2020 pelo Congresso argentino, impunha limites aos aumentos dos aluguéis e havia estendido a duração dos contratosroleta decisivadois para três anos.

O objetivo era proteger os inquilinos durante a crise sanitária e social provocada pela covid-19.

Já nesta época, muitos proprietáriosroleta decisivaimóveis optaram por venderroleta decisivavezroleta decisivaalugar ou priorizam as locações por temporada, consideradas mais rentáveis, explica Gustavo Perego, diretor da ABCEB, consultoriaroleta decisivagestão e desenvolvimentoroleta decisivanegócios da América Latina.

Isso gerou uma crise no mercado imobiliário, porque reduziu o númeroroleta decisivaimóveis disponíveis para locação.

"Os poucos que estavam para alugar subiam o preço, então, era caro e tinha poucos", afirma Perego.

Os preços subiram ainda mais depois que Milei chegou ao poder. O novo governo revogouroleta decisivadezembroroleta decisiva2023, por meio do Decretoroleta decisivaNecessidade e Urgência (DNU), a lei que limitava o aumento do aluguel — assim como outras medidasroleta decisivacontroleroleta decisivapreços.

Os contratos passaram a poder ser negociados livremente, explica Perego, e os proprietários também puderam passar a cobrarroleta decisivadólar, tornando oficial uma prática que já ocorria informalmente.

O economista Alberto Ajzental, coordenador do cursoroleta decisivaNegócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que, com a lei anterior, os valores dos aluguéis ficaram defasados porque não puderam ser reajustados conforme a inflação.

“Isso prejudicou os proprietários e desestimulou a ofertaroleta decisivaimóveis", diz Azental.

"Agora, com a liberação, os proprietários estão buscando atualizar os valores para o patamarroleta decisivamercado, o que gera um aumento considerável nos preços."

Embora o país viva com a crise imobiliária há anos, além da leiroleta decisivaaluguéis que contribui para esse aumento, segundo especialistas, o problema também faz parteroleta decisivauma crise imobiliária global.

A pandemiaroleta decisivacovid-19 causou um grande impacto no mercado imobiliário, segundo Ajzental, com a diminuição da renda das famíliasroleta decisivacontraponto com um aumento do preço dos imóveis.

Com a compra da casa própria mais distante, explica o economista, a locação se tornou a principal alternativa para muitas famílias, aumentando a demanda e, consequentemente, os preços dos aluguéis.

A disparidade entre o câmbio oficial e o paralelo na Argentina impactou o mercadoroleta decisivaaluguel no país, segundo Perego.

Na Argentina, o câmbio oficial é a taxa controlada pelo governo, enquanto o paralelo, também conhecido como "dólar blue", é uma taxa informal negociada fora dos canais oficiais.

Contratosroleta decisivalocaçãoroleta decisivapesos, atrelados ao câmbio oficial e à inflação, tornaram-se desvantajosos para os proprietários, explica o diretor da ABCEB.

A possibilidaderoleta decisivaalugar por curtos períodosroleta decisivadólares, via plataformas como o Airbnb, mostrou-se mais lucrativa, especialmenteroleta decisivaáreas turísticas.

Aindaroleta decisivaacordo com Perego, os novos preços são uma realidade do país e ficarão bem parecidos com os das cidadesroleta decisivaSão Paulo e Rioroleta decisivaJaneiro.

Para o especialista, a queda no valor dos aluguéis vai acontecer, mas será gradual.

Casal brasileiro branco com roupas azuis

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Thais e o marido se mudaram para o Paraguai

'A Argentina está inviável'

A médica brasileira Amanda Oliveira vive há 14 anosroleta decisivaBuenos Aires com o marido, que é argentino, e não tinha planosroleta decisivavoltar a morar no Brasil, porque viver na capital argentina era mais barato do que no Rioroleta decisivaJaneiro

Mas ela diz que essa realidade mudou no primeiro semestre deste ano com o encarecimento do custoroleta decisivavida. Agora, o casal está cogitando seriamente se mudar para o Brasil.

Só no aluguel, o aumento foiroleta decisivamaisroleta decisiva270%,roleta decisivauma só vez. O valor passouroleta decisivaR$ 500 para R$ 1,75 mil, o que ela considera caro para um apartamentoroleta decisiva40 m²roleta decisivaPalermo, bairro nobre da capital.

“Nosso contrato ainda estava na lei antiga. Para se ter uma ideia, ele vencia dia 30roleta decisivaabril, e a gente só soube qual seria o valor novo dois dias antes”, conta Amanda.

“Deram duas opções para a gente. Pagar um valor semestral fixoroleta decisivadólar ou um aumento a cada três meses conforme a inflação.”

Desde a publicação do DNU, os preços dos convênios também dispararam. No casoroleta decisivaAmanda, o aumento foiroleta decisiva89%.

“Ficamos meio sem parâmetro, porque tudo aumentou”, diz a médica.

Após a escalada nos preços dos planos, o governo determinouroleta decisivamaio que as mensalidades não podem subir acima da inflação.

Com todas essas mudanças, Amanda, que se formouroleta decisivamedicina na Argentina, está estudando para fazer a prova do Revalida no Brasil, exame que médicos formados no exterior precisam fazer para poder trabalhar no Brasil.

Se conseguir a pontuação necessária, seu plano é voltar ao Brasil até o final do ano.

“Por mais que a gente gosteroleta decisivamorar aqui, para nós, que somos jovens, não temos o que projetar para o futuro. É tudo imprevisível”, lamenta Amanda.

Leonardo Souza,roleta decisiva44 anos, é outro brasileiro que estároleta decisivamalas prontas, depoisroleta decisivaviver 15 anos na Argentina.

Ele pretende deixar o país mesmo tendo apartamento próprio e um salário que considera bom para os padrões argentinos.

Leonardo trabalha no departamento financeiroroleta decisivauma empresa, já pediu transferência e está só esperando para saber onde vai morar agora com a mulher e as duas filhas.

Ele conta que o valor do planoroleta decisivasaúde para a família toda quadruplicou desde que Milei assumiu.

Os alimentos também encareceram bastante. Um litroroleta decisivaleite, que custava R$ 2,50roleta decisivadezembro, agora sai por R$ 7,50, conta Leonardo.

“A Argentina está inviável. Com R$ 4 mil, você conseguia viver bem antes, hoje não consegue mais”, diz ele.

“Buenos Aires está mais ou menos como seria o custoroleta decisivaRioroleta decisivaJaneiro e São Paulo. Acredito que esteja até mais cara.”

Jovem brancaroleta decisivafrente a uma escada

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Desirée Pacheco procurou nova moradia no Paraguai

Transformação drástica na economia

Desde a posseroleta decisivaJavier Milei,roleta decisivadezembroroleta decisiva2023, a Argentina tem vivenciado um períodoroleta decisivatransformação econômica.

Autodeclarado libertário, Milei chegou ao poder prometendo cortar drasticamente os gastos públicos, desregular a economia e privatizar empresas estatais.

Suas propostas também incluíam o fechamento do Banco Central, a reduçãoroleta decisivaimpostos e a eliminação das indenizações por demissão.

Antesroleta decisivaMilei assumir, a Argentina enfrentava uma forte recessão. O governo anterior, liderado por Alberto Fernández, continuou com políticasroleta decisivaintervenção estatal, como subsídios para serviços essenciais e controleroleta decisivapreços.

No entanto, segundo especialistas, essas medidas não conseguiram conter a inflação crescente e a deterioração econômica, agravadas pela pandemiaroleta decisivacovid-19, que trouxe desafios adicionais.

Ao assumir, o novo presidente implementou uma políticaroleta decisivaausteridade que fez a vida dos consumidores encarecer expressivamente.

Por outro lado, Milei obteve o primeiro superávit orçamentário desde 2008 no primeiro trimestreroleta decisiva2024, como parteroleta decisivasua metaroleta decisivaalcançar o "déficit zero" até o final do ano.

Embora o superávit represente um avanço significativo, a inflação ainda é uma preocupação constante.

Os dados mais recentes mostram que a inflação na Argentina ficouroleta decisiva4,6%roleta decisivajunhoroleta decisiva2024, conforme o Índiceroleta decisivaPreços ao Consumidor (IPC) divulgado pelo Instituto Nacionalroleta decisivaEstatísticas e Censos (Indec), no início do mêsroleta decisivajulho.

O resultado quebrou uma sequênciaroleta decisivacinco meses seguidosroleta decisivadesaceleração. Em maio, a inflação ficouroleta decisiva4,2%.

Em termos anuais, os preços aumentaram 271,5% nos últimos 12 meses.

Embora tenha havido uma desaceleraçãoroleta decisivarelação aos 25,5%roleta decisivainflação registradosroleta decisivadezembroroleta decisiva2023, a taxa permanece alta, com 79,8% acumulados no primeiro semestre deste ano.

Com a hiperinflação que atinge a Argentina, o consumidor perde a noção dos preçosroleta decisivaforma rápida, explica o economista Alberto Ajzental, da FGV.

Apesar dessas mudanças, a queda nas taxasroleta decisivainflação ainda não se refleteroleta decisivauma diminuição dos preçosroleta decisivaserviços públicos, transporte e alimentos,roleta decisivaacordo com brasileiros que vivem no país.

Contudo, segundo os especialistas, isso já era esperado, porque os preços praticados antes no país não eram “reais” devido às políticas praticadas pelo governo anterior.

“A economia ainda vai demorar um ano para mais até estabilizar”, destaca Roberto Dumas, professorroleta decisivaeconomia do Insper.

“Os preçosroleta decisivaantes não refletiam a realidade, mas agora tendem a estabilizar. Não é que o preço vai cair, mas significa que vai aumentar menos.”

Nova vida no Paraguai

O Paraguai, país com a terceira maior comunidaderoleta decisivabrasileiros no exterior, segundo o Itamaraty, foi a escolharoleta decisivavários dos brasileiros ouvidos pela reportagem que decidiram deixar a Argentina.

Desirée Pacheco,roleta decisiva29 anos, se mudou para lá com seu companheiroroleta decisivajunho deste ano.

Vivendo agora na cidaderoleta decisivaSanta Rita, eles dizem que sentiram uma melhora na qualidade significativa nos gastos mensais e na qualidaderoleta decisivavida.

As comprasroleta decisivasupermercado e outras despesas ficaram mais baratas no Paraguai e, mesmo pagando um pouco maisroleta decisivaaluguel do queroleta decisivaLa Rioja, no interior da Argentina, onde o casal vivia, ela diz que, no fim, a troca compensou.

“Eu não tinha muito luxo e eu estava no interior. Mas, quando o Milei assumiu, as coisas começaram a ficar mais caras, e o câmbio começou a não acompanhar a subida do preço”, diz Desirée.

A decisãoroleta decisivamudar veio depois que a contaroleta decisivaluz deixouroleta decisivaser subsidiada pelo governo, a faculdade passou a aumentar todo mês e o aluguel, a cada seis meses —roleta decisivaambos os casos, os reajustes eram antes anuais.

Desirée conta que seus custos mais do que dobraramroleta decisivatrês meses. Ela afirma que a incertezaroleta decisivanão saber se ia dar para continuar pagando as contas e o preconceito contra brasileiros a levaram a mudar.

“Eu costumo dizer que não estava pagando com dinheiro, estava pagando com a minha saúde mental”, diz Desirée.

“Os professores na Argentina eram preconceituosos, tinha episódiosroleta decisivaxenofobia. Eu tinha a documentação toda, estava legal no país, mas mesmo assim não contratavam.”

Agora, ela e o marido complementam a renda fazendo trabalhos extras enquanto seguem com os estudos no Paraguai.

A estudante Thaís Rabelo,roleta decisiva29 anos, também conseguiu aumentarroleta decisivarenda ao se mudar para Santa Rita, no Paraguai.

“Eu tinha toda documentação para trabalhar na Argentina, mas não compensava”, diz Thaís.

“Para fazer esses tiposroleta decisivatrabalhoroleta decisivaatendente,roleta decisivacaixa, mas ganha-se mal. Você vai perder seu horárioroleta decisivaestudo ali e não vai conseguir pagar nem metade da faculdade.”

Ela trocou o apartamento pequenoroleta decisivaque viviaroleta decisivaLa Rioja, na Argentina, por uma casa grande com quintal no Paraguai, pela qual ela e seu companheiro pagam cercaroleta decisiva40% a menosroleta decisivaaluguel.

Thais conta que a faculdaderoleta decisivamedicina sai um pouco mais cara, mas que, no final das contas, a vida ficou mais confortável porque consegue trabalhar.

Ela diz que também sentiu uma melhora no convívio com as pessoas no seu dia a dia.

“Falam dessa rixa entre Argentina e Brasil, e tem mesmo. A gente pôde sentir na pele ser estrangeiro lá”, diz Thais.

“Aqui, onde estamos agora, tem uma comunidade granderoleta decisivabrasileiros e todos são bem receptivos com a gente.”