'Aos 12 anos fui vendida por R$ 40 ao meu marido':grupo aposta esportiva

Legenda do áudio,

Ele fugiu depois que os serviçosgrupo aposta esportivaassistência social foram enviados para resgatar Tamara do casamento ilegal.

O homem partiu antesgrupo aposta esportivaos assistentes sociais chegarem e deixou a menina sozinha, dormindo no chão da pequena cabana dagrupo aposta esportivatia por vários meses.

Muita coisa mudou na vidagrupo aposta esportivaTamara nos últimos anos.

Nascidagrupo aposta esportivauma comunidade agrícola rural no distritogrupo aposta esportivaNeno, no sul do Maláui, agrupo aposta esportivafamília vivia abaixo da linha da pobreza, assim como 65% das pessoas na região.

A invasão da Ucrânia, um aliado comercial do Maláui, aumentou a pressão econômica sobre o país ao interromper o fornecimentogrupo aposta esportivatrigo e fertilizantes e fazer os preços dispararem.

Quando os paisgrupo aposta esportivaTamara adoeceram e morreramgrupo aposta esportivapouquíssimo tempo,grupo aposta esportivaúnica filha foi acolhida pela avó.

Mas depoisgrupo aposta esportivaum mês, quando um dia Tamara voltou da escola,grupo aposta esportivaavó compartilhou as novidades.

"Ela me disse que eu precisava me casar", diz Tamara. "Ela já havia recebido dinheirogrupo aposta esportivaum homem."

Um homem que Tamara nunca conheceu pagou 15.000 kwachas malauianos por ela — cercagrupo aposta esportivaR$ 43.

A avógrupo aposta esportivaTamara já tinha gasto o dinheirogrupo aposta esportivamilho para a família e o homem estava impaciente. Ele queria que a garota por quem ele havia pago —grupo aposta esportiva"esposa" — deixasse a escola e fosse morar com ele.

O casamento infantil é ilegal no Maláui desde 2017, mas é culturalmente aceito e ainda ocorregrupo aposta esportivacomunidades rurais como agrupo aposta esportivaTamara, onde vive cercagrupo aposta esportiva85% da população do país.

Maisgrupo aposta esportiva40% das meninas do país se casam com menosgrupo aposta esportiva18 anos, segundo a ONG Girls Not Brides.

"A vida era difícil porque o homem era mais velho", diz Tamara. "Ele costumava abusargrupo aposta esportivamim fisicamente, me mordendo toda vez que fazia algo errado."

Ela morou com ele durante três meses, até que alguém alertou os serviçosgrupo aposta esportivaassistência social.

Após algumas semanas, enquanto faziam os preparativos para que Tamara voltasse à escola, ela percebeu quegrupo aposta esportivamenstruação estava atrasada por alguns meses.

Tamara tinha 12 anos e estava esperando um filho.

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A quase 100 quilômetros da cabana da tiagrupo aposta esportivaTamara, a uma curta distânciagrupo aposta esportivacarro da fronteira com Moçambique, um pequeno edifício verde brilhante toca música pop do Maláui. É o escritório da Rádio Mzati, uma estaçãogrupo aposta esportivarádio local.

Um grupogrupo aposta esportivajovens glamurosas na casa dos 20 anos está reunidogrupo aposta esportivaum estúdio da rádio, ajustando seus microfones e rindo enquanto se preparam para ir ao ar.

"Olá! Olá! Bem-vindo a mais uma edição do Ticheze Atsikana", diz a apresentadora Chikondi Kuphata, "um programa que servegrupo aposta esportivaplataforma para nós, lindas garotas, discutirmos questões que nos afetam!"

Kuphata e a co-apresentadora Lucy Morris alternam entre inglês e a língua local chichewa — o nome do show significa "Vamos conversar".

É um programa semanal, patrocinado pela AGE Africa, uma ONG que luta pelo acesso à educaçãogrupo aposta esportivameninasgrupo aposta esportivasituaçãogrupo aposta esportivavulnerabilidade, e atinge maisgrupo aposta esportiva4 milhõesgrupo aposta esportivaouvintesgrupo aposta esportivatodo o Maláui.

A maioria do público égrupo aposta esportivamulheresgrupo aposta esportivacomunidades rurais como agrupo aposta esportivaTamara.

Crédito, Yousef Eldin / BBC

Legenda da foto, Lucy Morris diz que, se as meninas conhecerem os seus direitos, poderão evitar o casamento infantil

O tema do programa no dia da nossa visita é casamento infantil.

"A principal razão aqui é a pobreza", diz Morris.

"Como a maioria das famíliasgrupo aposta esportivaonde viemos são pobres, os nossos pais não são capazesgrupo aposta esportivacuidar dos filhos, por isso a melhor solução é enviar as meninas para o casamento. Elas se casam com homens muito mais velhos do que elas, que as possam sustentar."

As mulheres incentivam seus ouvintes a enviarem comentários via WhatsApp, antesgrupo aposta esportivacolocarem uma música chamada Come Back para tocar. Diz a letra:

Agora você precisa da escola para tudo!

É melhor você voltar para a escola!

Casamento precoce não é bom!

"Quando as meninas recebem educação e conhecem os seus direitos, sabem que podem obter ajuda para acabar com o casamento infantil. Isso faz parte da nossa missão, fazer com que elas falem, compartilhem as suas histórias e saibam que existem outros caminhos", diz Morris.

O vilarejogrupo aposta esportivaLucy Morris, Gulumba, no pé do Monte Mulanje, tem um clubegrupo aposta esportivamulheres que escutam o Ticheze Atsikan.

O líder local, Benson Kwelani, é fã do programa, embora nunca tenha sido convidado para o grupogrupo aposta esportivaescuta.

Ele diz que incentiva as meninas a permanecerem na escola e não dágrupo aposta esportivabênção para um casamento se a menina tiver menosgrupo aposta esportiva18 anos.

Casada na infância

  • Cercagrupo aposta esportiva650 milhõesgrupo aposta esportivamulheres vivas hoje se casaram antesgrupo aposta esportivacompletar 18 anos,grupo aposta esportivaacordo com o fundo da ONU para a infância, Unicef
  • O sul da Ásia abriga o maior númerogrupo aposta esportivanoivas crianças, com maisgrupo aposta esportiva40% do total global, seguido pela África Subsaariana, com 18%
  • Em todo o mundo, cercagrupo aposta esportiva21% das meninas se casam na infância, segundo a organização humanitária World Vision
  • As taxasgrupo aposta esportivacasamento infantil diminuíram na Ásia e na África durante a última década, mas na América Latina e Caribe não houve progresso durante 25 anos, segundo a ONG Girls Not Brides.

Há duas semanas, após uma visita ao Maláui da ex-primeira-dama Michelle Obama, da advogadagrupo aposta esportivadireitos humanos Amal Clooney e da filantropa Melinda French Gates, o presidente Lazarus Chakwera anunciou mais financiamento para a estratégia nacional contra o casamento infantil.

As três influentes ativistas também atuam no país, apoiando organizações locais que lutam contra o casamento infantil.

A Girls Opportunity Alliancegrupo aposta esportivaMichelle Obama, por exemplo, está apoiando a AGE África, enquanto a iniciativa Waging Justice for Womengrupo aposta esportivaAmal Clooney apoia a Associaçãogrupo aposta esportivaMulheres Advogadas do Maláui para ajudar a informar as meninas da zona rural sobre os seus direitos legais.

French Gates financia projetos que melhoram os cuidadosgrupo aposta esportivasaúde das mulheres, incluindo meninas que dão à luz no início da adolescência.

Ainda é incomum que os serviços sociais se envolvamgrupo aposta esportivacasosgrupo aposta esportivacasamento infantil, dizem as ONG, mas a abordagem dos líderes locais parece estar mudando.

Depoisgrupo aposta esportivauma iniciativa do Fundogrupo aposta esportivaPopulação das Nações Unidas (UNFPA)grupo aposta esportiva2020, maisgrupo aposta esportiva100 dos chefes tradicionais do Maláui — cercagrupo aposta esportivaum quarto do total — prometeram combater o casamento tradicional nas suas comunidades.

No entanto, eles dizem que não há muito o que fazer quando as próprias famílias entregam suas meninas a homens muito mais velhos.

Crédito, Yousef Eldin / BBC

Legenda da foto, Tamara continuou a trabalhar no campo quando estava grávidagrupo aposta esportivanove meses

Dois líderes do distritogrupo aposta esportivaNeno, onde Tamara vive, disseram que não podem ter a certezagrupo aposta esportivaque os casamentos infantis não estão acontecendo secretamente nas suas comunidades.

"Alguns pais se aproximamgrupo aposta esportivanós, mas nós os desencorajamos e recusamos esses casamentos", diz John Juwa, lídergrupo aposta esportivauma comunidadegrupo aposta esportivamaisgrupo aposta esportiva2 mil pessoas.

"Às vezes os pais insistem que suas filhas estão prontas para o casamento, mas consultamos os registros médicos para confirmar a idade".

George Mphonda, chefegrupo aposta esportivamaisgrupo aposta esportivamil pessoas, diz: "Não estamos dizendo que o casamento infantil não está acontecendo, mas que se estiver, então eles serão mantidosgrupo aposta esportivasegredo".

Masgrupo aposta esportivaquem é a responsabilidadegrupo aposta esportivaimpedir os casamentos infantis que ocorremgrupo aposta esportivasegredo?

Após uma longa pausa, Juwa diz: "É nossa responsabilidade como líderes, com o apoio da família".

Tamara deu à luz um menino saudável. Uma pequena ONG do Maláui com sede na cidadegrupo aposta esportivaBlantyre, chamada People Serving Girls At Risk, pagou um homem com uma bicicleta para levá-la até à clínicagrupo aposta esportivasaúde local quando ela entrassegrupo aposta esportivatrabalhogrupo aposta esportivaparto.

Eles também estãogrupo aposta esportivacontato regularmente com ela egrupo aposta esportivatia.

Felizmente, o partogrupo aposta esportivaTamara foi simples. As complicações da gravidez e do parto são a principal causagrupo aposta esportivamortegrupo aposta esportivamulheres jovens e adolescentes, segundo a OMS, por isso havia grande preocupação.

"Tamara estágrupo aposta esportivavoltagrupo aposta esportivacasa e passando bem com seu filho,grupo aposta esportivafamília está muito feliz comgrupo aposta esportivachegada", diz Caleb Ng'ombo, diretor-executivo da People Serving Girls At Risk.

"Ela tem o apoio da comunidade e da tia, mas o verdadeiro trabalho começa agora. Seria melhor para ela voltar à escola, mas ela também precisa apoiar o filho. Não temos certeza do que acontecerá agora."

Tamara diz à BBC quegrupo aposta esportivagrande esperança para seu filho, Prince, é que ele consiga terminar a escola.

A tiagrupo aposta esportivaTamara possui uma barracagrupo aposta esportivafrutas e vegetais que rende menosgrupo aposta esportivaUS$ 50 (R$ 250) por mês. Fica a poucos passos da cabana deles.

Tamara ajuda quando pode e consegue ver seus amigos. Na barraca, várias meninas vêm buscar mantimentos para suas famílias.

Na última vez que a reportagem da BBC visitou o local, pelo menos duas adolescentes grávidas, com os braços cheiosgrupo aposta esportivalegumes e verduras, cumprimentavam Tamara.

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