As vítimas 'invisíveis' da crescente inflação global:deposito 1 real aposta

Meseret Addis

Crédito, Beka Atoma/BBC

Legenda da foto, Aos 83 anos, Meseret Addis luta para se manter viva e seus netos alimentados

Ela só faz uma refeição por dia - e não todos os dias.

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"A gente só come Qolo (mistura tradicionaldeposito 1 real apostagrãos torrados), bebe água e vai dormir. Quando falta até isso, não há o que fazer."

Sua história não é um caso isolado.

'Eles não são visíveis'

Durante semanas, a BBC conversou com idosos e idosasdeposito 1 real apostatodo o mundo para entender o impacto da crise global da inflação.

Os testemunhos revelam extrema vulnerabilidade, dependência crescentedeposito 1 real apostainstituiçõesdeposito 1 real apostacaridade e desafios para atender às suas necessidades básicas.

"Os dados sobre os idosos estão completamente inexistentes", disse à BBC Claudia Mahler, especialista independente da ONU sobre os direitos humanos dos idosos.

"Eles são deixados para trás quando se tratadeposito 1 real apostasistemasdeposito 1 real apostasuporte porque não são visíveis", diz ela.

Para a especialista, outros grupos com maior ativismo acabam abafando a voz dos que defendem os idosos.

Um novo estudo realizadodeposito 1 real aposta10 países pela HelpAge, uma rededeposito 1 real apostacaridade financiada por agências internacionais, mostra que os idosos estão tomando "medidas drásticas para sobreviver", desde pedir comida nas ruas pela primeira vez a abandonar tratamentos hospitalares.

Meseret Addisdeposito 1 real apostacasa

Crédito, Beka Atoma/BBC

Legenda da foto, Meseret só faz uma refeição por dia e não consegue comer todos os dias

"Você pode ver que estou doente. Eu estou na minha cama. Se não receber ajuda, só posso esperar a morte", diz Meseret Addis, enquanto se tapa com um cobertordeposito 1 real apostaseu quarto frio.

Em outro leito a maisdeposito 1 real aposta4 mil kmdeposito 1 real apostadistância,deposito 1 real apostaBeirute, na capital do Líbano, Alice Chobanian,deposito 1 real aposta67 anos, faladeposito 1 real apostaum desespero semelhante.

"Não quero falar sobre o númerodeposito 1 real apostavezesdeposito 1 real apostaque tentei me matar", diz ela.

Chobanian divide seu pequeno quarto na capital libanesa com 10 pessoas no total, duas filhas recém-divorciadas e seus oito filhos.

Ela diz que a situação financeiradeposito 1 real apostasua família piorou desde 2020 e "as coisas nunca estiveram tão difíceis como agora".

Especialistas dizem que o impacto dessa crise na saúde mental dos idosos é grave.

"As depressões não são vistas como depressões. Elas são vistas apenas como 'algo relacionado à idade', algo que 'não é tão sério'. Mas esta é uma questão enorme que é totalmente ignorada", diz Claudia Mahler.

Uma sériedeposito 1 real apostacrises simultâneas

O Programa Mundialdeposito 1 real apostaAlimentos da ONU diz que o númerodeposito 1 real apostapessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda aumentoudeposito 1 real aposta135 milhõesdeposito 1 real aposta2019 para 345 milhõesdeposito 1 real aposta2022.

Além da covid e das mudanças climáticas, a invasão russa da Ucrâniadeposito 1 real apostafevereirodeposito 1 real aposta2022 levou a uma interrupção global nas cadeiasdeposito 1 real apostasuprimentosdeposito 1 real apostaalimentos, energia e remédios, alémdeposito 1 real apostafazer disparar a inflação.

O Líbano já estavadeposito 1 real apostacrise antes da guerra e a inflação dos alimentos atingiu 372,8% no país no ano passado.

Alice

Crédito, Zakaria Jaber/BBC

Legenda da foto, Alice agora divide seu quarto com 10 familiares

"Minhas netas gostamdeposito 1 real apostapassar pelo restaurantedeposito 1 real apostafrango frito só para sentir o cheiro do frango", diz Chobanian.

"Ontem elas disseram que estavam com fome. Eu não tinha nada e elas falaram: 'Vamos dormir e torcer para sonhar com frango'."

A renda mensal da famíliadeposito 1 real apostaChobanian édeposito 1 real apostaUS$ 20 por mês (cercadeposito 1 real apostaR$ 100) e vemdeposito 1 real apostasua filha, que trabalha como cuidadora.

"Antes da crise eu vendia peçasdeposito 1 real apostacrochê. Com a crise ninguém compra nada. O que eu faço é considerado um luxo e as pessoas não podem mais pagar", diz.

Mulheres idosas mais atingidas

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Mulheres idosas como Addis e Chobanian são quem "sofrem com o peso desta crise", dizem os especialistas.

"Normas sociais e culturais muitas vezes obrigam as mulheres a serem as primeiras a desistirdeposito 1 real apostasuas refeições quando a comida é limitada. Também por causa das desigualdades sociais existentes, as mulheres têm menos capacidadedeposito 1 real apostater renda", diz Bob Babajanian, da entidadedeposito 1 real apostacaridade HelpAge.

"Isso também se traduzdeposito 1 real apostadinâmicas intrafamiliares específicas, onde elas têm menos controle sobre os recursos."

Mulheres são as principais cuidadorasdeposito 1 real apostacrianças e parentes. E muitas vezes ganham menos do que os homens quando trabalham foradeposito 1 real apostacasa, alémdeposito 1 real apostafazerem trabalhos mais informais.

"Falamos muito sobre a disparidade salarial entre homens e mulheres, mas também existe uma disparidade nas aposentadorias", diz a especialista da ONU Claudia Mahler.

"Se as mulheres ou meninas não tiverem acesso a boa educação, nunca terão as mesmas possibilidadesdeposito 1 real apostaemprego que os homens. Isso também passa por não haver apoio e ajuda suficientes por meiodeposito 1 real apostapensões ou outros subsídios", diz ela.

Mas os homens mais velhos também enfrentam sérios desafios.

É fimdeposito 1 real apostatarde e Ziauddin Khilji está sentado na portadeposito 1 real apostasua oficinadeposito 1 real apostaIslamabad, no Paquistão. Sua esposa morreu no mês passado depoisdeposito 1 real apostafazer diálise por sete anos.

Ziauddin

Crédito, Kiran Fatima/BBC

Legenda da foto, Ziauddin dormedeposito 1 real apostaum colchão dobrável no fundodeposito 1 real apostasua oficina

Aos 68 anos, ele ainda precisa trabalhar porque não tem aposentadoria. Mas ele perdeu a maioriadeposito 1 real apostaseus clientes no ano passado.

"Houve um tempodeposito 1 real apostaque não tínhamos tempo livre o dia inteiro. Agora, este é o primeiro trabalho que tenho desde o início da manhã", diz Khilji, apontando para as máquinas cobertasdeposito 1 real apostapoeira.

Em fevereirodeposito 1 real aposta2023, os preços ao consumidor do Paquistão tiveram o maior salto ano a anodeposito 1 real apostaquase 50 anos.

Ele agora dormedeposito 1 real apostaum colchão dobrável nos fundosdeposito 1 real apostasua oficina. Mas mesmo isso também estádeposito 1 real apostarisco, já que o aluguel da oficina mais que dobrou no mês passado.

Os empréstimos que ele fez para pagar o tratamento médicodeposito 1 real apostasua esposa estão ficando mais caros porque as taxasdeposito 1 real apostajuros também dispararam.

"Sou diabético e tenho um stent cardíaco. Meus rins doem. Mas meus comprimidos estão muito caros agora. Às vezes, simplesmente parodeposito 1 real apostatomá-los. Quando posso pagar, tomo. Caso contrário, o que posso fazer?"

Idosa emdeposito 1 real apostacama
Legenda da foto, Meseret Addis passa dias emdeposito 1 real apostacama na capital etíope

Addis, na Etiópia, também paroudeposito 1 real apostacomprar a maioria dos medicamentos vitaisdeposito 1 real apostaque necessita para seus pulmões.

São casos que corroboram os resultados da pesquisa da HelpAge, que mostra que o aumento dos preços está impedindo que os idosos tenham acesso a tratamento médico e remédios.

Outros interrompem tratamentos porque não podem pagar pelo transporte até hospitais e farmácias.

Primeira vez no bancodeposito 1 real apostaalimentos

O impacto da crise nos idosos vai além dos paísesdeposito 1 real apostadesenvolvimento como Etiópia, Líbano e Paquistão.

Também é visível no Reino Unido, um país rico.

Thabani Sithole,deposito 1 real aposta74 anos, é uma enfermeira aposentada que mora no suldeposito 1 real apostaLondres. Ela dependedeposito 1 real apostaum bancodeposito 1 real apostaalimentos para comer.

“Nunca penseideposito 1 real apostausar um bancodeposito 1 real apostaalimentos, nunca, porque tudo parecia bem. Com o poucodeposito 1 real apostadinheiro que eu tinha, pensei 'Por que essas pessoas estão usando bancosdeposito 1 real apostaalimentos?'

"E agora é minha vezdeposito 1 real apostaentrar na fila", diz ela, apontando para as latas na mesa da cozinha.

Mulher idosa
Legenda da foto, Thabani mora comdeposito 1 real apostafilha, que trabalha

Quando se aposentoudeposito 1 real aposta2019, ela pensou que "a vida estava apenas começando".

Mas a disparada dos preços mudou tudo.

"Às vezes você deseja algo. Mas agora não se tratadeposito 1 real apostauma guloseima. É sobre ter comida para comer, ter comida suficiente."

Sithole ficou viúva quandodeposito 1 real apostafilha tinha dois mesesdeposito 1 real apostaidade. Ela mora com a filha única, cujas fotos cobrem as paredes da sala.

"Pelo menos ela está aqui para me ajudar. É por isso que posso comprar as coisas."

Mas dependerdeposito 1 real apostamembros da família, embora comum, não é uma abordagem sustentável à medida que as populações envelhecem.

Wei Yang, diretor do Institutodeposito 1 real apostaGerontologia do King's College London, diz: "No Reino Unido, aqueles com 65 anos ou mais vão dobrar ou triplicar nas próximas décadas, então é quase impossível que as pessoas sempre tenham familiares mais jovens que os ajudem."

"Os governos precisam pensardeposito 1 real apostanovas maneirasdeposito 1 real apostafinanciar cuidadosdeposito 1 real apostalongo prazo para idosos", diz Yang.

Sithole diz que também depende da ajudadeposito 1 real apostainstituiçõesdeposito 1 real apostacaridade como a Independent Age para sobreviver e teme que o pior ainda esteja por vir.

"A prestação do nosso imóvel continua subindo a cada dois meses", diz ela.

"Perderemos a casa porque não podemos pagar agora. Teremos que vendê-la e nos mudar para um lugar um pouco mais barato, o que dificultará a vida da minha filha, que precisa sair para trabalhar."

Idosa mostrando latadeposito 1 real apostacomida

Ela faz um apelo para que as pessoas mais velhasdeposito 1 real apostasituação precária se manifestem mais.

"Não seja tímido. Não sinta medo. Não sinta vergonha."