O raptoapostas na copa do brasilcrianças indígenas por cientistas alemãesapostas na copa do brasilexpedição pelo Brasil no século 19:apostas na copa do brasil

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Celebração indígena no Mato Grosso registradaapostas na copa do brasilgravura presenteapostas na copa do brasilobraapostas na copa do brasilCarl Friedrich Philipp von Martius

Dois séculos após serem louvadas por suas conquistas científicas, somente nos últimos anos esse lado mais problemático da expedição, o rapto das crianças, tem ganhado os holofotes.

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Esse outro lado da históriaapostas na copa do brasilSpix e Martius foi explorado pela exposição Travelling Back: A Change of Perspective on an expedition from Munich to Brazil in the 19th century [A viagemapostas na copa do brasilvolta: Uma mudançaapostas na copa do brasilperspectiva sobre a expediçãoapostas na copa do brasilMunique para o Brasil no século 19], que ficouapostas na copa do brasilcartaz até 5apostas na copa do brasilabril no instituto Zentralinstitut für Kunstgeschichte,apostas na copa do brasilMunique, na Alemanha.

Crédito, Divulgação/Felix Ehlers

Legenda da foto, Colagem com imagem da criança indígena Miranhaapostas na copa do brasilexposiçãoapostas na copa do brasilMunique

Com curadoria da historiadora brasileira Sabrina Moura, a mostra reuniu obrasapostas na copa do brasilartistas contemporâneos que revisitam criticamente o episódio, alémapostas na copa do brasilum material diverso, como jornais da época revelando um grande interesse público pelas crianças.

No Brasil, o raptoapostas na copa do brasilJuri e Miranha despertou maior interesse após o lançamento do livro O Som do Rugido da Onça (2021), da escritora e historiadora brasileira Micheliny Verunschk. Vencedor do Prêmio Jabutiapostas na copa do brasil2022, o romance narra a história especialmente a partir do pontoapostas na copa do brasilvistaapostas na copa do brasilIñe-e, nome que Miranha ganha na trama.

Trechos da publicação foram traduzidos para o alemão e incluídos na exposiçãoapostas na copa do brasilMunique. A programação da mostra incluiu também uma conferência, realizadaapostas na copa do brasilfevereiro, com a participaçãoapostas na copa do brasilVerunschk.

Episódio desconfortável

Crédito, Litografiaapostas na copa do brasilCarl Friedrich Heinzmann

Legenda da foto, A litografia Yögel teich am rioapostas na copa do brasilS. Francisco, um dos registros da expediçãoapostas na copa do brasilSpix e Martius
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Fim do Que História!

Na conferência, comentários na plateia deixavam claro como o episódio ainda provocava reações confrontantes.

Houve quem tentasse relativizar, afirmando que também havia raptoapostas na copa do brasilcrianças entre povos indígenas inimigos. Ou, ainda, quem justificasse que elas foram trazidas com objetivos científicos.

"Eu achei que essa história já tivesse sido mais discutida e digerida pela sociedade da Baviera [Estado alemão onde fica Munique]. Mas não,apostas na copa do brasilfato é algo ainda permeadoapostas na copa do brasilausências e bastante sensível", diz Moura, doutoraapostas na copa do brasilHistória da Arte pela Universidade Estadualapostas na copa do brasilCampinas (Unicamp) que hoje viveapostas na copa do brasilMunique, onde realiza o pós-doutorado no centroapostas na copa do brasilpesquisas Käte Hamburger Research Center global dis:connect.

"Enquanto a gente vê a relevância desses cientistasapostas na copa do brasilMunique, há uma grande ausência sobre outros aspectos dessa prática científica."

De acordo com a curadora, o debate sobre esse outro lado da expediçãoapostas na copa do brasilSpix e Martius tem sido levantado por instituições e cientistas mais ligados aos debates pós-coloniais (abordagemapostas na copa do brasilestudo que olha criticamente para o passado e para as consequências atuais do colonialismo e do imperialismo), mas "grandes instituições da Bavária pouco falam sobre essa história".

O legado da viagemapostas na copa do brasilSpix e Martius ao Brasil para a ciência já foi devidamente reconhecido, assim como os louros dos cientistas foram colhidos o suficiente no antigo reino da Baviera — que existiuapostas na copa do brasil1806 até 1918, quando, após a Revolução Alemã, foi sucedido pelo então Estado Livre da Baviera.

Três anos após voltarem da expedição na qual percorreram 14 mil quilômetros do território brasileiro, coletando e catalogando maisapostas na copa do brasil22 mil espéciesapostas na copa do brasilplantas, o botânico Martius e o zoólogo Spix foram agraciados com o títuloapostas na copa do brasilnobreza, incorporando o "von" antesapostas na copa do brasilseus sobrenomes.

Crédito, Münchner Stadtmuseum, Sammlung Angewandte Kunst

Legenda da foto, Placa mortuária encomendada pela Rainha Carolina da Baviera ao artista Johann Baptist Stiglmaier para adornar o túmulo das crianças indígenas

Foi tambémapostas na copa do brasil1823 que lançaram o primeiro volume do livro Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil, na versãoapostas na copa do brasilPortuguês), com textos onde mesclavam relatosapostas na copa do brasiluma visão romântica da natureza tropical com observações atestando a superioridade europeiaapostas na copa do brasilrelação aos povos nativos.

Hoje, grande parte dos itens levados por Spix e Martius integra uma coleção do museu etnológicoapostas na copa do brasilMunique.

O historiador Markus Wesche, autor do livro Zwei Bainer in Brasilien (Dois Bávaros no Brasil,apostas na copa do brasiltradução livre), foi uma das vozes locais que criticou a maneira como o assunto foi abordado na exposição.

Segundo ele, o foco na história das crianças levadas por Spix e Martius é problemático pois ignora que houve "um grande númeroapostas na copa do brasilindígenas levados para a Europa sobre os quais praticamente nada sabemos", escreveu à BBC News Brasil por e-mail.

Ele questiona também a denominaçãoapostas na copa do brasilsequestro, afirmando que esse "é um termo do Direito Penal [atual] e não descreve adequadamente o caso."

O historiador relata que Martius "sentiu a morte do menino como um 'veredito pesado'", citando as palavras do cientista.

"Os feitos do jovem Martius [o botânico tinha 23 anos quando deixou a Europa] foram motivados pelaapostas na copa do brasilprofunda crença como cristão e cientistaapostas na copa do brasilque desvendar os segredos da natureza e a educação levaria ao enobrecimento humano", defende Wesche.

Micheliny Verunschk, cujo romance também revisita trechos dos diáriosapostas na copa do brasilMartius e Spix, foi enfática ao responder aos argumentosapostas na copa do brasilWesche na conferência.

"Causa espanto que, dentre as milharesapostas na copa do brasilanotações feitas minuciosamente pelos cientistas a respeito da expedição e seus resultados, apenas as informações sobre as crianças tenham sido reescritas diversas vezes. As rasuras dizem que von Martius e Spix sabiam muito bem o que estavam fazendo", afirmou a autora à BBC News Brasil, depois do evento.

Quando menciona trechos reescritos, Verunschk está se referindo a relatos contraditórios e rasuras nos escritosapostas na copa do brasilMartius já observados por pesquisadores.

Sobre o uso do termo "sequestro", adotado tambémapostas na copa do brasildiversos artigos acadêmicos, a escritora justificaapostas na copa do brasilpertinência.

"O tráfico infantil indígena no contexto colonial ainda é pouquíssimo estudado, mas todo tráfico, sabemos, é antecedido por atosapostas na copa do brasilviolência: a separaçãoapostas na copa do brasilalguémapostas na copa do brasilsua família, terra, cultura. Talvez possamos,apostas na copa do brasilcerta medida, chamar a esse ato violentoapostas na copa do brasilsequestro, ainda mais quando temos informações tão díspares sobre o queapostas na copa do brasilfato aconteceu com essas crianças."

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Colagemapostas na copa do brasilGê Viana reconstroi imagemapostas na copa do brasilMiranha (aqui, a obra original não aparece na íntegra por questõesapostas na copa do brasilformatação)

Até hoje não se sabe como se chamavam originalmente Johannes e Isabella, nomes que as crianças ganharam após serem batizadas na Alemanha.

Em 1824, a rainha Carolina da Baviera encomendou ao artista Johann Baptist Stiglmaier uma placa mortuária para adornar o túmulo das crianças indígenas no antigo cemitério sulapostas na copa do brasilMunique, levada depois para o Stadtmuseum, um museuapostas na copa do brasilMunique.

A placa mortuária foi emprestada pelo museu e foi um dos destaques da exposição Travelling Back: A Change of Perspective on an expedition from Munich to Brazil in the 19th century.

A mostra também teve obras dos artistas visuais Frauke Zabel, Yolanda Gutiérrez, Igor Vidor, Elaine Pessoa e Gê Viana.

É dessa última uma colagem digital inspiradaapostas na copa do brasiluma litografia presente no livro Reise in Brasilien, com um retratoapostas na copa do brasilMiranha — a qual faz parte da Coleção Brasiliana do Itaú Cultural,apostas na copa do brasilSão Paulo (SP).

Na versãoapostas na copa do brasilGê Viana, a menina é adornada com penas, folhas e um halo azul justaposto a facões — uma reinterpretação da violência colonial.