Por que tantos evangélicos defendem Israel?:sportingbet spfc

Mulher levanta bandeirasportingbet spfcIsrael durante marcha para Jesus

Crédito, AFP via Getty Images

Legenda da foto, Bandeirasportingbet spfcIsrael durante "Marcha para Jesus"

Apesar do fundo religioso, afirma o teólogo Sergio Dusilek, ex-presidente da Convenção Batista Carioca, a maneira como muitos líderes têm se posicionado sobre o assunto nos últimos anos tem um forte caráter político. Eles têm usado interpretaçõessportingbet spfcconceitos do antigo testamento para se inserirem no meio político. Bolsonaro, diz, soube ler bem esse momento e aproveitá-lo politicamente.

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“Embora acredite que Bolsonaro mesmo não esteja nem aí para esse movimentosportingbet spfcapoio ao Estadosportingbet spfcIsrael, ele fez a leitura correta (e esperta)sportingbet spfcque muito da liturgia praticadasportingbet spfcmuitas igrejas evangélicas incorporou elementos judaicos”, explica Dusilek, que também é pesquisador do Núcleosportingbet spfcEstudos e Pesquisasportingbet spfcFilosofia da Religião, da Universidade Federalsportingbet spfcJuizsportingbet spfcFora. “O que Bolsonaro fez foi colocar um holofote institucionalsportingbet spfcuma situação que já estava posta.”

Se o apoio à Israel e à agenda política do país já existia muito antessportingbet spfcBolsonaro se tornar influente entre evangélicos, o bolsonarismo trouxe uma novidade para esse apoio, segundo Teixeira: o discurso bélico-religioso. Ou seja, a ideiasportingbet spfcque uma disputa entre o bem o mal justificaria o uso da violência.

Sua pesquisa tem apontado para "uma aposta numa naturalização da violência ou da guerra."

"Tem me chamado a atenção a tentativasportingbet spfcconstruçãosportingbet spfcuma justificação ética para os bombardeios, para as políticassportingbet spfcviolência esportingbet spfcguerra que Israel tem lançado sobre o povo palestino", explica Teixeira.

A naturalização entre religiosossportingbet spfcmedidas como restriçãosportingbet spfccomida e água para os palestinos, seria, segundo a pesquisadora, resultadosportingbet spfcuma "circulação mais preeminentesportingbet spfcimagens do bolsonarismo no contexto das igrejas", que permitiu uma "naturalização um pouco maior da guerra e da desumanização" dos palestinos.

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Homem segura bandeirasportingbet spfcIsrael

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Usosportingbet spfcsímbolos como a estrelasportingbet spfcDavid ou a bandeirasportingbet spfcIsraelsportingbet spfceventos evangélicos no Brasil se tornou comum nos últimos anos, especialmente entre grupos religiosos ligados ao bolsonarismo

‘Relógio do fim do mundo’

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A ideiasportingbet spfcque Israelsportingbet spfchoje como uma espéciesportingbet spfc“sinal divino” para o cristianismo vemsportingbet spfcuma teologia protestante que começou a surgir no início do século 19, explica Alexandre Gonçalves, quando um períodosportingbet spfccrise econômica e escassez deu origem a correntes evangélicas voltadas para a interpretaçãosportingbet spfcprofecias e previsões sobre o apocalipse.

“Havia uma interpretaçãosportingbet spfcque, antes do fim do mundo, Deus faria com que o seu povo voltasse para a terra prometida, isso seria um sinal”, explica Gonçalves.

A criação do Estadosportingbet spfcIsraelsportingbet spfc1948, diz ele, foi entendida por essa corrente como esse sinalsportingbet spfcque o fim do mundo está próximo. Ou seja, o relógio do apocalipse teria sido disparado a partir da criação do Estadosportingbet spfcIsrael, explica Dusilek, e seria necessário prestar muita atençãosportingbet spfctudo o que acontece nesse local.

Para essa corrente, que Dusilek define como ‘sensacionalista’, a região é entendida como uma espéciesportingbet spfccamposportingbet spfcbatalha do fim do mundo. “Ela localiza o fim do mundosportingbet spfcJerusalém, onde haverá o grande Armagedom, a batalha final entre a luz e as trevas, entre Deus e seus anjos por um lado, e o Diabo e seus demônios por outro lado”, explica Dusilek.

Essa corrente teológica é partesportingbet spfcuma teoria chamada “dispensacionalismo” e é muito popular - ela é difundida tanto entre evangélicos neopentecostais quanto entre seguidoressportingbet spfccorrentessportingbet spfcprotestantismo histórico mais adeptos a um fundamentalismo cristão, afirma o teólogo.

“Muitas vezes, mesmo que a pessoa não conheça essa corrente teológica ou saiba o nome, ela adere a esse pensamento, acaba assimilando essa ideia, que é bastante popular no Brasil”, afirma o pastor e teólogo Kenner Terra. Para essa corrente, explica Terra,sportingbet spfcposiçãosportingbet spfcrelação a Israel definiria se você é fiel ou não o povosportingbet spfcDeus.

Cidadesportingbet spfcJerusalem

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Jerusalém é importante para judeus, cristãos e muçulmanos

Importância teológica

Para o teólogo Guilherme Carvalho, a questãosportingbet spfcIsrael e do judaísmo é importante para os cristãos mesmo entre quem não segue a teologia do dispensacionalismo, porque o judaísmo está na origem do cristianismo e existe toda uma discussão teológica sobre o papel da nação judaica "nos planos divinos".

“Existe um hipocrisiasportingbet spfcdizer que Israel não tem nada a ver” com discussões relevantes para o cristianismo, diz Carvalho.“É claro que o Estadosportingbet spfcIsrael não representa o Reinosportingbet spfcDeus, não é o Israel bíblico. Mas o Estado modernosportingbet spfcIsrael é uma reencarnação histórica das lutas do povo judeu.”

Nasportingbet spfcvisão, isso subsidia a ideiasportingbet spfcque o povo judeu é importante para Deus, mas não deveria resultarsportingbet spfcapoio sem questionamentos ao Estadosportingbet spfcIsrael.

“A existência do povo judeu - que no mundosportingbet spfchoje envolvesportingbet spfcexistência como Estadosportingbet spfcIsrael - é uma das estruturassportingbet spfcplausabilidade da igreja cristã. Isso significa apoio incondicional a Israel? Não. Mas significa um compromisso especial com esse povo.”

Questão política e religiosa

No Brasil, o apoiosportingbet spfclíderes evangélicos a Israel também está ligado a uma adesão a valores e símbolos do Antigo Testamento, segundo Dusilek.

Segundo o teólogo, alémsportingbet spfcpossibilitar a justificativa da chamada Teologia da Prosperidade (onde os servossportingbet spfcDeus seriam recompensados com bens materiais), o Antigo Testamento também traz noções que ajudam algumas lideranças evangélicas a se inserir no espaço público e na política.

“É no primeiro testamento que está a noçãosportingbet spfcterritorialidade,sportingbet spfcgoverno,sportingbet spfcuma ação política, teocrática até. Neste sentido, tal apoio ganha um caráter mimético e balizador”, afirma Dusilek. “A questão é que essa inserção se dá com interesses governamentais.”

É por isso, que para ele, o apoiosportingbet spfcevangélicos a Israel na verdade tem um fundo que é até mais político do que religioso.

“O apoio, e aí voltamos ao cerne do fundamentalismo, ésportingbet spfcfundo político sob o verniz religioso. A ideia subjacentesportingbet spfccertos líderes, ao que parece, ésportingbet spfcinstaurar um 'evangelistão'. O primeiro testamento, então, funciona como base desse ideário.“

A antropóloga Jacqueline Teixeira, da UNB, afirma que é importante lembrar que a centralidade do Antigo Testamento também acompanhou movimentos missionários nos séculos 18 e 19.

"Surge uma inspiração protestante muito significativasportingbet spfcconstituir uma relação com trechos específicos do Antigo Testamento. As promessas, as batalhas enfrentadas pelo povosportingbet spfcIsrael, o períodosportingbet spfcescravização do povosportingbet spfcIsrael", explica. Desses momentos vem a ideiasportingbet spfcque a libertação do povo resultaria na criaçãosportingbet spfcum estado, um país.

"Uma nação eleita e consequentemente, a constituição dessa nação seria fruto do cumprimentosportingbet spfcuma promessa divina", explica.

Para Teixeira, se tratasportingbet spfcum casosportingbet spfcque religião e política andam cruzados.

"Existe um repertório teológicosportingbet spfcque se espera a instauraçãosportingbet spfcum reino divino e consequentemente o cumprimentosportingbet spfcalgumas promessas divinas", explica ela. "E parte do comprimento dessas promessas está totalmente relacionado à construçãosportingbet spfcuma gramática política, que garante uma centralidade para a ideiasportingbet spfcIsrael como uma nação escolhida por Deus", diz ela.

Brasileiros se batizando no rio Jordão

Crédito, AFP via Getty Images

Legenda da foto, Caravanassportingbet spfcevangélicos a Israel levam fieis para se batizar no rio Jordão

Alexandre Gonçalves afirma que a noçãosportingbet spfcque Israel hoje representa os valoressportingbet spfcuma “sociedade ocidental judaico-cristã” também foi muito difundida entre conservadores evangélicos a partir da ideiasportingbet spfcuma guerra cultural entre esquerda e direita.

“Eu vi muitos jovens da igreja ouvindo o (escritor) Olavosportingbet spfcCarvalho, que difundia essa ideiasportingbet spfcguerra cultural”, conta Gonçalves. Por essa perspectiva, defender Israel seria defender esses valores.

Para Kenner Terra, a corrente teológica do dispensacionalismo foi cooptada por tradições conservadoras evangélicas e sionistas, muitas vezes ligadas a um fundamentalismo cristão, para quem essa confusão entre a nação histórica e o Estado modernosportingbet spfcIsrael é interessante.“É uma teologia que tem origem nos EUA, país que é aliado históricosportingbet spfcIsrael”, afirma o teólogo.

Terra critica esse apoio incondicional que muitos líderes evangélicos dão a Israel hoje.

“É um apoio que ignora uma sériesportingbet spfcperspectivas históricas, como os tratados internacionais que Israel rompeu, os territórios que tomou e a forma como tratam os palestinos.”