O que são os 'caçadoresgalera.bet apprisco' e como eles trabalham nos morrosgalera.bet appSP:galera.bet app
Todos os anos, eles visitam ocupaçõesgalera.bet appmorrosgalera.bet apptodo o Estadogalera.bet appSão Paulo para encontrar e classificar esses pontosgalera.bet appperigo iminente.
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Também produzem relatórios com sugestõesgalera.bet appobras públicas e outras ações para diminuir os riscos para a população socialmente vulnerável desses locais.
"Quem chega pela primeira vez, olha para cima, vê as casas e logo pensa: está tudogalera.bet appalto risco. Mas não é bem assim", explica a geóloga Alessandra Corsi,galera.bet app52 anos, que trabalha no IPT desde 2004.
"Com o tempo e a experiência, você consegue identificar que há uma escala, riscos maiores e menores."
No verão, com chuva forte e tempestades, áreas como o morro Itaquari costumam aparecer no noticiário por contagalera.bet apptragédias causadas por deslizamentosgalera.bet appterra ou rochas.
Um levantamento do próprio IPT aponta que 4.210 pessoas morreram desde 1988 no Brasil nos chamados "escorregamentos", que costumam ser mais mortais do que alagamentos e transbordamentosgalera.bet apprios, segundo os geógrafos.
Como o riscogalera.bet appcada local é calculado
O instituto classifica quatro grausgalera.bet appriscos quando se tratagalera.bet apppontos com possibilidadegalera.bet appescorregamentos.
R1 e R2 são áreas, ocupadas ou não, onde o perigo é menor e que devem ser monitoradas. Já o grau R3 apresenta "risco alto". E R4, "muito alto".
Segundo Corsi, o que diferencia "alto"galera.bet app"muito alto" são “evidênciasgalera.bet appmovimentação" do solo.
Um estudo do próprio IPT explica que,galera.bet appR3, há "significativas evidênciasgalera.bet appinstabilidade" do solo, sendo "perfeitamente possível a ocorrênciagalera.bet appeventos destrutivos durante episódiosgalera.bet appchuvas intensas e prolongadas".
Jágalera.bet appR4, "as evidências são expressivas e estão presentesgalera.bet appgrande número e/ou magnitude. Mantendo essas condições, é muito provável a ocorrênciagalera.bet appeventos destrutivos".
Corsi explica que a formagalera.bet appocupação do solo aumenta os riscosgalera.bet appescorregamentos.
"A gente tem a culturagalera.bet appocupar no plano, porque é melhor ter uma casagalera.bet appuma área plana. Então, as pessoas cortam a terra do morro, fazem um aterro na frente e ocupam no plano", diz.
"Com isso, você induz o risco. Às vezes, o corte tem cinco metrosgalera.bet appaltura e a casa, dois. O que fica atrás é a terra que pode cair."
Em seus relatórios, os geólogos do IPT não indicam a remoção imediatagalera.bet appfamíliasgalera.bet appáreasgalera.bet appperigo iminente - ou seja, nos graus R3 e R4.
"Apontamos para a Prefeitura quais são as obras e soluçõesgalera.bet appengenharia necessárias para reduzir o risco, como alargamentosgalera.bet appruas, murosgalera.bet appcontenção, saneamento básico", diz Corsi.
"Mas a decisãogalera.bet appretirar os moradores cabe ao prefeito. A remoçãogalera.bet appuma família tem um custo social grande: às vezes, vão para áreas distantes, as crianças precisam mudargalera.bet appescola, a mãe fica mais longe do trabalho, e se rompem vínculosgalera.bet appanos com o território."
Outra solução recomendada pelo IPT é "capacitar e engajar os moradores como parceiros, para que eles saibam identificar os riscos e possam informar a Defesa Civil quando a situação piora, quando começa a chover muito forte na região", explica Corsi.
Os fatoresgalera.bet apprisco que os 'caçadores' buscam
Na partegalera.bet appcima do morro do Itaquari, Corsi mostrou a “fichagalera.bet appcampo” que ela e outros dois geólogos - Lucas Henrique Sandre e Larissa Mozer Blaudt - tiveramgalera.bet apppreencher para classificar os pontos da ocupação.
Em um ponto da comunidade, Blaudt identifica um cano que despeja esgoto diretamente na terra.
“Toda essa água vai para a encosta. Isso é um complicador, porque ela se infiltra e deixa o solo mais úmido”, diz a geóloga, fotografando a tubulação.
Os técnicos precisam observar, por exemplo, se no morro há áreas com erosões, fossas, água acumulada, vazamentos nas tubulações, postes inclinados, entre outros itens. Quanto mais dessas marcas, maiores os riscosgalera.bet appdeslizamento.
Corsi explica como identificar as chamadas “cicatrizes”, que são “rachaduras na terra, escombrosgalera.bet appcasas, árvores inclinadas, trincas nas moradias, tudo que demonstre evidênciasgalera.bet appmovimentação da terra.”
De fato, na beiragalera.bet appum barranco do Itaquari existem algumas cicatrizes visíveis: um troncogalera.bet appárvores totalmente torto, vegetação morta amontoada embaixo, grandes rachaduras na terra e restosgalera.bet appcasas derrubadas.
Segundo moradores, um bebêgalera.bet apptrês meses morreu soterrado quando uma parte do morro desabougalera.bet appcima da casa onde ele estava, há dois anos.
Depois, as moradias próximas dessa áreagalera.bet apprisco “muito alto” foram derrubadas pela Prefeitura a pedido da Justiça.
Outra característica observada pelos geólogos são os chamados “taludes”, uma área inclinada que sustenta o solo - ela pode ser natural ou mesmo construída como um muro.
Segundo os técnicos, o risco é maior se a moradia está próximagalera.bet appum talude com perigogalera.bet appceder. A textura da terra também é um indicativo importante, segundo Corsi.
“Se pega a terra na mão e consegue fazer um rolinho, ela está muito úmida e pode se movimentar. Se ela se esfarela quando você aperta, é porque está seca.”
Rotinagalera.bet apprisco e medogalera.bet appmeio a novas ocupações
O IPT, fundadogalera.bet app1899, é uma empresa vinculada ao governogalera.bet appSão Paulo, embora apenas 30%galera.bet appseu orçamento saia dos cofres públicos - o restante é arrecadado com a vendagalera.bet appserviços e projetos desenvolvidos emgalera.bet appsede, no campus da Universidadegalera.bet appSão Paulo (USP).
Normalmente, o IPT realiza o trabalhogalera.bet appanálisegalera.bet appriscogalera.bet appcidades da região metropolitana e do interiorgalera.bet appSão Paulo, porque a prefeitura da capital tem uma equipe própriagalera.bet appgeólogos.
Neste ano, o instituto foi contratado pela Prefeituragalera.bet appItapevi para mapear o morro do Itaquari.
Segundo a gestão municipal, a ideia é regularizar a área e, depois, fazer obrasgalera.bet appurbanização e contenção dos riscos.
Itapevi é uma das 39 cidades da Grande São Paulo e faz partegalera.bet appuma região conhecida como “margalera.bet appmorros”, ao norte e oeste da capital.
Parte dos municípios dali passou por um boom habitacional nas últimas décadas, com milharesgalera.bet appfamílias pobres indo vivergalera.bet appáreasgalera.bet apprisco.
A populaçãogalera.bet appItapevi cresceu 356% nas últimas quatro décadas, chegando a 248 mil habitantesgalera.bet app2023, segundo a Fundação Seade.
Uma dessas famílias é formada pela enfermeira Manoela Santana,galera.bet app30 anos, seu companheiro, o vendedor Caio Leite, 34, e dois filhos pequenos.
Sem conseguir pagar o aluguel, o casal ficou sabendogalera.bet appum lote vazio no morro do Itaquari,galera.bet app2021. Ocupou.
Eles começaram com um pequeno barracogalera.bet appmadeira que "mal cabia a cama", segundo Manoela.
Hoje, estão construindo o segundo andargalera.bet appum sobrado no alto do morro, bem ao ladogalera.bet appuma áreagalera.bet appmata ainda preservada. “A gente mora dentro da obra”, diz Caio.
“Sempre tem o risco e o medo, mas a gente sonha e constrói devagarinho. Vai ter até piscina ali na frente”, diz Manoela, que se formou na faculdade recentemente e melhorougalera.bet apprenda a pontogalera.bet appconseguir investir na casa.
Para os geólogos do IPT, a área onde está o sobrado do casal precisa ser monitorada: é grau R2.
Poucos metros à frente, uma fileiragalera.bet appnovos barracosgalera.bet appmadeira ocupam lotesgalera.bet appum ponto desmatado recentemente. As moradias estão bem pertogalera.bet appoutro barranco com cicatrizes. Ali, a situação é pior: risco alto, R3.
Eventos climáticos extremos
Os técnicos do IPT também atuam quando a área passou do risco a lugargalera.bet apptragédia.
Quando há soterramentosgalera.bet appcasas e pessoas, a equipegalera.bet appgeólogos vai até o local para analisar a situação e indicar - até para as equipesgalera.bet appresgate - se há perigogalera.bet appnovos deslizamentos e os pontos que precisam ser isolados.
Foi o que aconteceugalera.bet appfevereiro deste ano, quando pelo menos 65 pessoas morreram no litoral nortegalera.bet appSão Paulo durante um temporal que foi classificado como o maior já registrado na história do Brasil.
Em 24 horas daquele 19galera.bet appfevereiro, choveu 683 milímetrosgalera.bet appágua sobre a regiãogalera.bet appBertioga e São Sebastião, segundo o Centro Nacionalgalera.bet appMonitoramento e Alertasgalera.bet appDesastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacionalgalera.bet appMeteorologia (Inmet).
A geóloga do IPT Larissa Mozer Blaudt,galera.bet app26 anos, tem uma história pessoal com tragédias assim.
A casa onde ela vivia foi soterradagalera.bet appPetrópolis (RJ),galera.bet appfevereirogalera.bet app2022, quando 241 pessoas morreramgalera.bet appdeslizamentos após um volumegalera.bet appchuva muito acima do normal.
“Tinha acabadogalera.bet appme formar e trabalhava na Defesa Civil do município. Decidi morar na áreagalera.bet apppesquisa, pagando aluguel. Não estavagalera.bet appcasa no momento, foi minha sorte", conta Blaudt, que se mudou para São Paulo neste ano.
"Precisei deixar tudo e trabalhar na tragédia, morandogalera.bet apphotel. Fiquei seis meses trabalhando direto, foi um aprendizado muito grande, não imaginava que enfrentaria tudo isso no primeiro anogalera.bet appcarreira.”
Tempestades como estas estão sendo chamados por ambientalistasgalera.bet app“eventos extremos” e são apontados como uma das consequências das mudanças climáticas.
Enquanto descia outra escada do morro, Alessandra Corsi explicou que as análisesgalera.bet apprisco no Brasil ainda não consideram esses eventos, mas isso deve mudargalera.bet appbreve.
“Me perguntam por que já não coloco ‘mudanças climáticas’ no relatório? Se eu fizer isso, vou pintar a cidade todagalera.bet appvermelho”, diz.
"Primeiro, as prefeituras precisam resolver os problemas das chuvas normais e, depois, incorporar os eventos extremos, que vão precisargalera.bet appoutros tiposgalera.bet appobras e recursos."
Neste mês, geólogos do Brasil inteiro vão se reunir no Ministério das Cidades para discutir possíveis mudanças nas avaliaçõesgalera.bet apprisco e tambémgalera.bet apppolíticas públicas que possam diminuir as consequências desses eventos.
Os geólogos que atuam nos morros, no entanto, já estão preocupados com os próximos meses.
No verão, os profissionais do IPT trabalhamgalera.bet appregimegalera.bet appplantão no Plano Preventivogalera.bet appDefesa Civil (PPDC),galera.bet appparceria com outros órgãos estatais.
Ou seja,galera.bet appcasogalera.bet appescorregamentos, os geólogos são chamados e precisam se deslocar para qualquer pontogalera.bet appSão Paulo emergencialmente.
Com 20 anosgalera.bet appIPT, Corsi já passou por vários desses plantões, mas diz que a experiência não diminuigalera.bet appansiedade nessa época do ano.
"Não durmo bem, fico mais tensa. A gente lembra até das áreas que visitou no ano. E, com os últimos eventos, a preocupação aumentou muito”, diz.
Esse será o primeiro plantãogalera.bet appLucas Henrique Sandre,galera.bet app29 anos, que começou como estagiário do instituto e, hoje, faz parte da equipegalera.bet appgeólogos.
“Nesse períodogalera.bet appchuvas, a gente já fica ansioso esperando a notíciagalera.bet appalgum deslizamento com morte”, diz ele, que alimenta o bancogalera.bet appdados do IPT sobre vítimasgalera.bet appescorregamentos no Brasil.
Para ele, os geólogos que prestam esse serviço cumprem uma missão: “Entendo nosso papel como parte do processo, não vamos resolver tudo sozinhos, mas,galera.bet appmaneira prática, muitas vezes nós salvamos a vida das pessoas”.