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Confronto entre Irã e Israel pode se espalhar para além do Oriente Médio?:
Mas qual o potencial desse confronto escalar ainda mais e arrastar outros atores regionais e globais para a disputa?
Segundo analistas, é difícil fazer previsões. Mas o que acontece a seguir dependerágrande partecomo Israel responderá aos acontecimentos do finalsemana.
Para May Darwich, professoraRelações Internacionais do Oriente Médio da UniversidadeBirmingham, no Reino Unido, a situação está relativamente contida no momento, mas não há garantiasque se manterá assim.
"Tudo pode mudar no futuro, são muitas variáveis", diz a pesquisadora egípcia. "Mas é fato que esse ataque foi muito significativo para a dinâmica regional."
"No passado, a dissuasão entre Irã e Israel era mantida por meiouma guerra por procuração [jargão que indica um conflito armado no qual dois países se utilizamterceiros como intermediários ou substitutos, para não lutarem diretamente entre si],rivalidades indiretas e ataques indiretos. Mas esta é a primeira vez que há um confronto direto entre os dois."
O fator americano
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Após o ataque iraniano, Benny Gantz, líder da oposição israelense que integra o gabineteguerra do governo desde os ataques do Hamas7outubro, disse que Israel vai responder "quando chegar a hora" e vai "cobrar o preço".
"Israel contra o Irã, o mundo contra o Irã. Este é o resultado. Esta é uma conquista estratégica que devemos aproveitar para a segurançaIsrael."
As palavras que Gantz não excluíram ataques a alvos iranianos ou um ataque diretoIsrael dentro do Irã.
Mas os Estados Unidos, os mais importantes aliados israelenses no momento e cuja assistência foi essencial para bloquear os mísseis e drones iranianos na noitesábado, pedem contenção a Israel.
Segundo Jeremy Bowen, editornotícias internacionais da BBC, o governo americano e seus aliados receberam diversos alertas sobre a investidaTeerã.
O presidente Joe Biden teve tempo suficienteretornar à Casa Branca depoisuma viagemfimsemana ao seu Estado natal, Delaware.
O Irã também optou por iniciar o ataque não com seus mísseis balísticos supersônicos, mas com drones lentos, identificados pelos radares durante duas horas à medida que se aproximavam dos seus alvos.
O ataque foi maior do que muitos analistas esperavam do inimigo mais ferrenhoIsrael. Pela primeira vez o Irã lançou bombardeios – cerca300 drones, mísseiscruzeiro e mísseis balísticos – do seu próprio território contra oIsrael.
Mas quase todos foram interceptados pelas armasdefesaIsrael, reforçadas pelos EUA, Reino Unido, França e Jordânia.
Ao longo da noite, o governo israelense recebeu diversos sinais do presidente Joe Biden, que reafirmou "o firme compromisso da América com a segurançaIsrael".
Em troca, os americanos pedem moderação. Segundo Bowen, Biden enviou ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu uma mensagem clara.
Algo na linha"o ataque do Irã foi frustrado, Israel obteve uma vitória. Não agrave ainda mais a situação respondendo com ataques militaressolo iraniano."
Para May Darwich, os EUA enfatizaram que não estão interessadosfazer parteuma guerra – e antes mesmo dos ataques iranianos esclareceram que não participaram ou tiveram conhecimento prévio do atentado ao consuladoDamasco.
E essa posição pode ser essencial para coibir a expansão do confronto.
"Neste momento, a escalada estácerta forma contida e é controlada pelo fatoos EUA manterem as coisasum certo nível que não pode ser ultrapassado", diz a pesquisadora.
E se os Estados Unidos não estão interessadosmais um confronto expandido, também não há qualquer indicaçãoque outros importantes atores globaisfora do Oriente Médio possam se envolver diretamente.
"Para China e Rússia, uma guerra pode ser uma boa notícia se os EUA forem arrastados e tivereminfluência a nível global diminuída", diz Darwich.
"Portanto, eles não precisam e não tem interesseestarem envolvidos diretamente. Digamos que os EUA estejam fazendo isso por eles."
A pesquisadora, porém, não descarta a possibilidade dessas duas potências se envolveram por meioapoio logístico e fornecimentoarmas, caso o conflito escale.
'Assunto concluído'
Contenção também parece ser o desejo do Irã no momento.
Após os ataques, a missão iraniana na ONU afirmou que "o assunto pode ser considerado concluído".
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, disse ainda ter informado os EUAque os ataques contra Israel seriam "limitados" e para autodefesa.
Segundo Siavash Ardalan, da BBC Persa, a ação iraniana foi uma retaliação ao que o governo local considera como operações "cada vez mais ousadas" dos israelenses.
O Irã culpa Israel pelo ataque ao edifício da embaixadaDamasco que matou 13 pessoas, incluindo o brigadeiro-general Mohammad Reza Zahedi, uma figura importante da força Quds, ramo paramilitarelite da Guarda Revolucionária do Irã, responsável pelo relacionamento com governos e grupos aliadosTeerã.
Teerã também estaria respondendo a agressões contra grupos aliados na Síria e no Líbano, assassinatoscientistas nucleares e outras ações que atribuem a Israel, diz Ardalan.
"O ponto da virada foi o ataque ao consulado. Acho que o cálculo e o pensamento iranianos envolveram algo como 'se não traçarmos uma linha agora, onde isso irá parar'?", avalia Ardalan.
Lina Khatib, pesquisadora especialistaOriente Médio ligada à Chatham House, uma consultoria e centropesquisasLondres, afirmou à BBC que o objetivo do Irã foi "proporcionar uma espécieespetáculo para o mundo testemunhar".
Para ela, a ofensiva foi amplamente coreografada e bastante limitada – e "o Irã não quer que a coisa se torne uma escaladatensões."
"O Irã queria enviar uma mensagem muito clara e firme para impor respeito e ser visto como capazresponder diretamente a Israel [após o ataqueDamasco]", diz.
Lyse Doucet, correspondente internacional chefe da BBC, concorda.
"Ficou muito claro pela natureza desse ataque que ele foi cuidadosamente calibrado. Ainda estamos esperando o que Israel vai fazer, mas o Irã não quer provocar uma espiral crescente", diz.
Para Jeremy Bowen, editornotícias internacionais da BBC, o Irã possui força militar suficiente para realizar um ataquemaior escala, mas escolheu não usar todo seu arsenal. Da mesma maneira, seu aliado Hezbollah poderia ter se juntado à ofensiva direta contra o território israelense, algo que não aconteceu.
O grupo apoiado pelo Irã no Líbano disse ter disparado duas barragensfoguetes contra uma base militar israelense nas ColinasGolã ocupadas, um planalto que Israel capturou da Síria,um movimento não reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
Segundo May Darwich, o próprio fato do governo iraniano ter informado Washington sobre seus planos e ter garantido que bases e alvos militares americanos não seriam atingidos se o país não se envolvesse corrobora essa visão.
Entretanto, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, major-general Mohammad Bagheri, alertou Israel que aresposta "será muito maior do que a ação militar desta noite se Israel retaliar".
Ele afirmou aindauma entrevista à televisão local que as bases dos EUA também seriam atacadas se Washington participassequalquer retaliação israelense.
Os EUA têm instalações militarestodos os seis Estados árabes do Golfo, bem como na Síria, no Iraque e na Jordânia.
'Ambos podem reivindicar vitória'
A decisão israelenseseguir ou não as advertências dos EUA eoutros aliados regionais trará "consequências enormes", avalia Gordon Corera, correspondentesegurança da BBC.
Até o momento, porém, a posição oficial do governo não foi suficiente para desvendar o que pode vir a seguir.
O próprio gabineteguerra israelense – formado por Netanyahu, Gantz e o ministro da Defesa, Yoav Gallant –, tem demonstrado dificuldadechegar a um consenso sobre como agir.
Corera cita uma gamacaminhos que Israel poderia seguir.
Se por um lado há quem defenda não fazer mais nada, já que a defesa do país se mostrou eficientebarrar a ofensiva, no outro extremo estão os que acreditam que esse é o momento perfeito para atacar com força o Irã e seu programa nuclear.
"Qualquer um desses extremos parece improvável", opina o correspondentesegurança da BBC. "Mas entre [esses dois extremos] há outra gamaopções. Será que eles tentam atacar um alvo militar dentro do próprio Irã, por exemplo, algum lugar onde os drones são fabricados ouonde voam?", questiona. "Ou tentam atacar representantes iranianos no estrangeiro, ououtros países vizinhos?"
As consequências dessa decisão serão enormes, porque poderão ditar se este conflito realmente se transformaráalgo muito mais sério ou não, acrescenta
"Se Israel seguir o conselho do presidente Bidennão reagir, o Oriente Médio poderá respirar fundo. Mas não éforma alguma certo que este será o fim deste episódio perigoso", avalia Jeremy Bowen.
Por detrás dessa decisão existem ainda duas grandes narrativas correndo pelo Oriente Médio no momento, segundo especialistas.
Israel vê os últimos acontecimentos como uma grande derrota para o Irã pelacapacidadeanular 99% dos projéteis iranianos ereunir uma coalizãoaliados ao seu redor. Já do pontovistaTeerã foram eles que conseguiram uma vitória ao executar seu primeiro ataque contra território israelense.
Para Siavash Ardalan, da BBC persa, ambas as versões servem a um único propósito, que é diminuir a escalada.
"O lado bomtudo isso é que ambos os lados podem reivindicar a vitória."
Já do pontovista da guerraGaza, Jeremy Bowen aponta que Netanyahu pode se beneficiaruma pausa na cobertura massiva da imprensa internacional sobre o conflito.
Se há poucos dias o foco das notícias era o conflito entre Biden e Netanyahu sobre a ondafome criada pelo bloqueioIsrael no enclave palestino, atualmente os dois têm falado sobre unidade.
"Netanyahu também pode se apresentar como um líder resoluto e razoável, o protetor do seu povo, apesaros seus muitos inimigosIsrael quererem ele fora do poder", avalia Bowen.
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