A impressionante foto que mudou a percepção mundial sobre a crise do plástico:
Jordan não foi o primeiro fotógrafo a capturar o impacto da crise do plástico sobre a populaçãoalbatrozesMidway.
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A primeira foto conhecida foi tirada por pesquisadores americanos1966 e publicada1969, segundo o biólogo Wayne Sentman, presidente do conselho da organização Friends of Midway Atoll ("Amigos do AtolMidway").
A ingestãoplástico é provavelmente a causa dos "piores destinos" dos filhotesalbatroz.
Seus fragmentos podem perfurar a parede intestinal das aves ou causar desidratação. E os metais pesados e outras substâncias podem se dissolverconcentrações que podem ser mortais para as aves, segundo Sentman.
Jordan conhecia as fotos anteriores tiradasMidway, mas tentou dar uma dimensão mais emocional às suas imagens. Ele compara a composição das fotografias das aves mortas com um "ritual fúnebre".
"Quando arrumamos objetos sagrados sobre um altar, fazemosforma natural, com simetria e equilíbrio, e podemos passar muito tempo até que tudo se encaixe", explica Jordan.
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Ele decidiu usar um difusor – um material branco estendido por uma moldura que dispersa a luz brilhante – para gerar uma iluminação mais suave "que ajuda a criar a sensaçãouma fotografia um pouco mais profunda".
Quando Jordan voltou para Seattle, nos Estados Unidos, ele achou que havia encerrado seu projeto. "Eu me despedi da ilha e fui para casa, processei as imagens e as publiquei", ele conta.
Ele não esperava que suas imagens "viralizassem", muito antes da era das redes sociais. Suas fotos rapidamente começaram a aparecerrevistas e jornaistodo o mundo.
"Elas meio que apareceramtoda parte, todasuma vez", relembra ele.
Dezenasmilharese-mails jorraram nacaixaentrada e ele precisou contratar um assistentetempo integral, apenas para respondê-los.
"Muitas pessoas escreveram com reações traumáticas", ele conta.
"As pessoas queriam ir para Midway e salvar os albatrozes, mas o plástico não vem daquela ilha. É um problema sistêmico."
Um relatório recente do WWF prevê que a produçãoplástico deve mais do que dobrar até 2040. Com isso, até 2050, os resíduos plásticos no oceano deverão quadruplicar.
A engenheira ambiental Jenna Jambeck, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, é especialista mundialpoluição por plástico.
Ela calcula que,2010, 8 milhõestoneladasplástico entraram no oceano a partirfontes terrestres. O peso corresponde a cerca650 mil ônibusdois andares.
Jordan decidiu então voltar para Midway. Ele chegoujulho2010 a uma "cacofonia"milhõesalbatrozes dançando, cantando e se cumprimentando.
Jordan ficou encantado. "Aquela quantidadepássaros é incrível", relembra ele.
"Imediatamente, o outro lado da história começou a se apresentar e o tema passou a ser o nome da ilha – ficar a meio caminho ['midway',inglês] entre o horror e a beleza. Entre o infernover o nosso plástico aparecendo daquela forma tão terrível no estômago daqueles filhotespássaros e o paraíso da ilha tropical que está sendo carinhosamente vigiada e protegida como santuário marinho, coberto por milhões daqueles seres que não têm medo dos seres humanos", ele conta.
Ao todo, Jordan visitou Midway oito vezes.
Ele também passou quatro anos produzindo seu documentário, Albatross, lançado2018 – apenas um ano depoisoutros dois lançamentos fundamentais que também destacaram os impactos da poluição sobre a vida marinha: a série da BBC Planeta Azul 2,David Attenborough, e o premiado OceanosPlástico, da Netflix, produzido pela cineasta Jo Ruxton.
Fazer com que as pessoas se identifiquem
Jo Ruxton é a fundadora da organização Ocean Generation, que trabalha pela conservação dos mares. Ela incluiu no seu filme uma sequência sobre os plásticos que ameaçam os albatrozesMidway.
"O que faz com que as fotosJordan repercutam entre as pessoas é que elas reconhecem coisas que certamente poderiam ter jogado fora", afirma ela.
"Você pode ver pequenos fragmentosplásticocriaturas pequenas como mexilhões, ostras e até zooplâncton – mas, quando você vê coisas que realmente usamos, que passaram pelas nossas mãos, as pessoas se identificam."
Ruxton segura um grande potevidro com objetosplástico coloridosuso diário – um cartuchoimpressora, uma bolagolfe, uma escovadentes, quatro isqueiros descartáveis. Todos esses objetos vieram dos estômagosalbatrozes.
"Isso atinge os corações e mentes das pessoas nas minhas palestras", ela conta. "Entender o oceano deveria estar no nosso DNA."
Jordan sabe que a fotografia colaborou com o aumento da consciência sobre a poluição causada pelo plástico.
"Houve enorme ativismo sobre os oceanos que foi despertadotodo o mundouma vez", relembra ele.
"ONGs limpando praias e [defendendo] legislação sobre o plástico, educação nas escolas, ações judiciais sobre a toxicidade. Ver aquilo foi espetacular."
Em maio2023, cientistas do MuseuHistória NaturalLondres identificaram a plasticose, uma nova doença das aves marítimas causada pela ingestãoplástico.
Ela prejudica o trato digestivo das aves marítimas, causando feridas. Nos casos graves, a doença gera infecções e parasitas, restringindo a capacidadedigerir eficientemente os alimentos.
"Não há dúvidaque as coisas estão melhorando – havia muito pouca legislação antes", afirma Ruxton.
Surgiram proibições para tudo, desde as microesferasplástico nos cremes dentais até hastes flexíveisalgodão e sacolas plásticas,vários países pelo mundo.
Em junho, 175 países deram continuidade às negociações com vistas à elaboraçãoum Tratado Global sobre o Plástico, com forçalei, até 2024.
Este novo acordo internacional irá definir uma abordagem muito mais abrangente e coordenada sobre a redução da poluição global pelo plástico, tomando medidas como a taxação do plástico novo e a proibiçãotodos os objetosplástico descartáveis desnecessários.
Os países concordaramcriar uma primeira versão do tratado até novembro2023.
Mas, quando o assunto é encontrar soluções, Jordan ainda sente que algo está faltando. Ele acredita que o centro desta crise está na desconexão da sociedade entre as ações e seus impactos sobre o ambiente.
Para ele, enfrentar com sucesso a poluição causada pelo plástico passa por reconstruir uma forte relação com a natureza.
"Milhões estão despertando [mas] o mais estranho é que a grande maioria das pessoas que detêm o poder no nosso mundo, os presidentes e os chefes das empresas e grandes instituições, são os mais desconectados", afirma ele.
"Sempre que eu ficava com pássaros que estavam morrendo emuitas das vezesque estive com eles depoismortos, as lágrimas simplesmente caíam", ele conta.
"O luto era incrivelmente intenso, até que, um dia, eu entendi – o motivo por que eu sentia tanto é porque eu os amo."
"Isso é o luto – uma experiência diretaamor por algo que estamos perdendo ou por algo que está sofrendo. Eu me liberei para sentir completamente. É uma passagem."
Jordan acredita que a conexão com a natureza e a consideração pura e simples pelo mundo à nossa volta, sem ficarmos à esperaque, um dia, as coisas melhorem, é o que realmente impulsiona as mudanças positivas.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.