'Tudobetesporte ao vivoTodo Lugar ao Mesmo Tempo': filósofo analisa multiverso retratadobetesporte ao vivofilmes:betesporte ao vivo

Os diretores Daniel Kwan (à esquerda) e Daniel Scheinert (à direita)

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os diretores Daniel Kwan (à esquerda) e Daniel Scheinert (à direita) são os criadores da tramabetesporte ao vivo'Tudobetesporte ao vivoTodo Lugar ao Mesmo Tempo'

Já nos serviçosbetesporte ao vivostreaming, séries como Dark e Ricky e Morty mostram conceitos parecidosbetesporte ao vivoformas completamente distintas. Enquanto a primeira acompanha desaparecimentos misteriosos numa pequena cidade alemã, a segunda conta as aventurasbetesporte ao vivoum avô cientista e seu neto por infinitas realidades e possibilidades.

Mas por que esse assunto ganhou um destaque repentino nos últimos anos? E como ele ajuda a entender e popularizar conceitos altamente complexos da física e da filosofia?

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A BBC News Brasil conversou com o filósofo da ciência Osvaldo Pessoa Jr., professor do Departamentobetesporte ao vivoFilosofia da Universidadebetesporte ao vivoSão Paulo (USP). O especialista também é formadobetesporte ao vivofísica e tem um mestrado na área da física experimental.

Ao longo da entrevista, Pessoa Jr. avaliou como as teorias sobre o multiverso se desenvolverambetesporte ao vivodiferentes campos do conhecimento, e como a popularização desses conceitos influencia a sociedade —betesporte ao vivoforma positiva e negativa.

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Confira os principais trechos a seguir.

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Do pontobetesporte ao vivovista da física, o que são os multiversos?

betesporte ao vivo Osvaldo Pessoa Jr. - Eu diria que o multiverso é uma hipótese. Não há nenhuma evidência científica que indique diretamente a existênciabetesporte ao vivouniversos paralelos. Temos os conceitosbetesporte ao vivomultiversos da física e da filosofia.

No caso da física moderna, existe um problema teórico na áreabetesporte ao vivopartículas, que é o fatobetesporte ao vivoque, se as constantes do universo fossem levemente modificadas — por exemplo, se a carga do elétron sofresse uma alteração mínima,betesporte ao vivo1% ou até menos — a vida já não seria mais viável.

Claro que tudo isso é discutível, e esse universo poderia ter vidabetesporte ao vivoalguma outra maneira não conhecida. Mas, a princípio, parece que as constantes do universo estão ajustadasbetesporte ao vivouma maneira muito fina.

Como você explica o fatobetesporte ao vivoque essas constantes são ajustadasbetesporte ao vivotal maneira a ser possível ter vida inteligente no universo? Existem três explicações básicas. A primeira falabetesporte ao vivoDeus, que criou o universo com as constantes ajustadas para existir vida inteligente. A segunda hipótese é abetesporte ao vivoque não tem explicação mesmo. Esse é um dado bruto, as coisas são assim e não há muito o que especular sobre.

A terceira tentativabetesporte ao vivoexplicar isso seria o seguinte: ora, e se houvesse um grande númerobetesporte ao vivouniversos paralelos, e eles brotassem como os galhosbetesporte ao vivouma árvore? A partir daí, poderíamos reconhecer que na maioria deles não haveria viabilidade para a vida, porque as constantes do universo variam aleatoriamente. Ou seja,betesporte ao vivo99% desses universos não haveria vida. Mesmo assim,betesporte ao vivo1% deles poderia existir vida.

É claro que a gente só vai poder fazer ciência num universo com condiçõesbetesporte ao vivoter vida. Esse ponto do argumento é conhecido como princípio antrópico. Ele é meio óbvio, mas importante para a explicação funcionar. A gente sabe que faz ciência e tem vida inteligente no nosso universo. E o princípio antrópico diz que só num universo que permite a existênciabetesporte ao vivovida inteligente é que alguém como nós pode fazer ciência.

Então, a hipótese do multiverso, que é a terceira explicação para o ajuste fino das constantes, diria que existem muitos universos paralelos — e aqueles poucos que reúnem algumas condições têm vida inteligente, como é o caso do nosso.

Agora, tudo isso é hipótese e não tem nenhuma comprovação científica. Não se sabe nem se é possível fazer algum experimento para testar essas ideias. Ou seja, são discussões teóricas.

Temos também a teoria das cordas, que unifica vários ramos da física, mas ainda carecebetesporte ao vivoevidências independentes. Essa teoria tende a favorecer um cenáriobetesporte ao vivomultiversos — inclusive, o Big-Bang nesse cenário não seria o começo dos tempos, mas configuraria uma continuidade.

Osvaldo Pessoa Jr.
Legenda da foto, Osvaldo Pessoa Jr. é formadobetesporte ao vivofilosofia e física e trabalha na USP

betesporte ao vivo BBC News Brasil - E como esses conceitos aparecembetesporte ao vivofilmes, séries e na cultura popbetesporte ao vivomodo geral?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - Da maneira como esses conceitos são propostos, eles não são muito interessantes para a ficção científica. Porque mesmo nos universos paralelosbetesporte ao vivoque existe vida inteligente, ela vai ser algo totalmente diferente do que conhecemos. Se a gente quiser trabalhar com essa hipótesebetesporte ao vivotermos literários, é mais fácil imaginar que temos nos confins da galáxia uma outra civilização parecida com a nossa.

A hipótese do multiverso da física não traz nenhum contexto novo para a ficção científica. Então,betesporte ao vivosi, ela não desempenha uma função para a literatura fantástica — a não ser o fatobetesporte ao vivoque é a física falando sobre esse tema, o que dá uma certa sustentação teórica.

Aliás, é curioso pensar que o misticismo quântico sempre apela para a ciência. Os adeptos dele dizem que "a física quântica diz isso ou aquilo". Ou seja, a justificativa científica desempenha um papel no misticismo, que é tão fantasioso quanto a ficção científica, mas tem outras intenções.

A diferença é que o misticismo se vende como verdadeiro e a literatura fantástica se entende como ficção.

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Ou seja, do pontobetesporte ao vivovista da física, aqueles universos paralelosbetesporte ao vivoque o mundo é praticamente igual e as pessoas são as mesmas, com algumas diferenças pontuais, não é possível?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - Partindo das hipóteses conhecidas, certamente isso não faz sentido algum.

A atriz Michelle Yeohbetesporte ao vivo'Tudobetesporte ao vivotodo lugar ao mesmo tempo'

Crédito, A24

Legenda da foto, Partindo dos conceitos da física, um universobetesporte ao vivoque seres humanos têm dedosbetesporte ao vivosalsicha, como no filme 'Tudobetesporte ao vivoTodo Lugar ao Mesmo Tempo', é altamente improvável

betesporte ao vivo BBC News Brasil - E na filosofia da ciência? Como os conceitosbetesporte ao vivomultiverso são abordados?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - No filme Tudobetesporte ao vivoTodo Lugar ao Mesmo Tempo, vemos uma equipebetesporte ao vivoanálisebetesporte ao vivocomputador que faz o mapeamento dos vários universos. Eles falambetesporte ao vivoproximidadebetesporte ao vivouniversos. Essa ideia vem do David Lewis, um filósofo americano muito genial e um tanto "viajante" que trabalhava na Universidadebetesporte ao vivoPrinceton, nos EUA.

Em filosofia, sempre se faloubetesporte ao vivomundos possíveis. Um autor que abordou isso foi Gottfried Wilhelm Leibniz, um cristão fervoroso que defendia a ideiabetesporte ao vivoque,betesporte ao vivotodos os mundos possíveis, nós vivemos no melhor deles — apesarbetesporte ao vivonão parecer.

A ideiabetesporte ao vivoque as coisas poderiam ter sido diferentes é razoável, faz parte do senso comum. Nosso cérebro é muito bombetesporte ao vivoprever o futuro. A habilidadebetesporte ao vivoconseguirmos antever o comportamento dos outros animais e das pessoas é um fatorbetesporte ao vivoseleção natural. Em grande medida, evoluímos para prever o futuro. E essa capacidade também permite que a gente olhe para trás e pense: e se naquele dia eu não tivesse tratado mal aquela pessoa? Como estaria hoje?

Esse sentimento utiliza essa capacidade mental e cerebralbetesporte ao vivoprever cenários futuros, mesmobetesporte ao vivorelação ao que aconteceu no passado. Esse é o chamado pensamento contrafactual,betesporte ao vivoque você imagina um cenário coerente que não aconteceu (por isso é contra os fatos), mas ele é plausível e há boas razões para acreditar nele. Ou seja, se eu tivesse tomado uma decisão diferente, as coisas teriam se desenroladobetesporte ao vivooutra forma. Nós conseguimos imaginar essas possibilidades.

E para nós, é natural pensarbetesporte ao vivopossibilidades diferentes, mundos possíveis e situações contrafactuais.

Bem, voltemos ao David Lewis e à décadabetesporte ao vivo1960. Ele tem razões filosóficas e técnicas que o levaram a defender que esses mundos possíveis que a gente imaginabetesporte ao vivofato existem. Ele achava que qualquer mundo logicamente possível existebetesporte ao vivofato,betesporte ao vivoforma concreta. Um exemplo que ele dá: o mundo onde os asnos falam. Existe uma possibilidadebetesporte ao vivoisso ser verdade? Sim. Então esse mundo existe.

É claro que essa teoria é muito difícilbetesporte ao vivoengolir e pouca gente acredita nela. Mas ele defendia isso e influenciou a filosofia. Nessa análise, Lewis introduziu a ideiabetesporte ao vivomapeamento da distância entre os mundos. No filme, por exemplo, temos aqueles gráficos com bolinhas, que mostram quais são os universos mais próximos.

O que são esses mundos próximos? São aquelesbetesporte ao vivoque há apenas uma diferençabetesporte ao vivorelação ao nosso. Então, naquele mundo específico está tudo igual. Porém, na horabetesporte ao vivoque eu encontrei aquela pessoa e a tratei bem,betesporte ao vivovezbetesporte ao vivotratá-la mal, abre-se uma nova possibilidade. Você tem uma pequena diferença, mas há consequências desse ato. Ou seja, é um mundo diferente, apenas a um passobetesporte ao vivodistância do nosso.

Agora, posso imaginar um mundobetesporte ao vivoque eu tratei bem a pessoa, porém escrevi um artigobetesporte ao vivojornal falando mal dela. Daí eu tenho duas diferençasbetesporte ao vivorelação ao primeiro universo. Então ele está um pouco mais distante. E por aí vai…

Ilustraçãobetesporte ao vivomultiverso

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Vários filósofos discutem a ideiabetesporte ao vivomultiversos

Outro elemento do filme que tem relação com a filosofia é a ramificação dos mundos a cada decisão que o ser humano toma. Ou seja, no momentobetesporte ao vivoque decidi tratar bem ou tratar mal uma pessoa, segundo essa ficção científica, esses dois mundos passam a existirbetesporte ao vivomaneira paralela.

Essa ideiabetesporte ao vivoque, no momentobetesporte ao vivouma escolha, o mundobetesporte ao vivoque estamos se dividebetesporte ao vivodois vembetesporte ao vivoum contexto da filosofia da física quântica. Ou melhor,betesporte ao vivouma interpretação da física quântica que se originou na décadabetesporte ao vivo1950 com o trabalhobetesporte ao vivoHugh Everett.

Everett foi orientandobetesporte ao vivoum físico bastante criativo chamado John Archibald Wheeler, que o incentivou a desenvolver algumas ideias. Elas estão baseadas no fatobetesporte ao vivoque, na física quântica, todas as vezes que você faz uma medição com um aparelho, há o chamado "problema da medição ou do colapso".

Esse problema está relacionado ao fatobetesporte ao vivoque o átomo que você está medindo se comporta como uma onda que se espalha no espaço. Na horabetesporte ao vivoque se mede a posição desse átomo, você o obriga a aparecer num ponto bem específico. Então, aquela onda espalhada colapsa para um ponto, onde ocorre a medição.

Não há teoria que explique por que o átomo colapsabetesporte ao vivodireção a um ponto, e não para outro. Por que isso acontece? Existem várias hipóteses, mas nada comprovado. Esse é considerado um problemabetesporte ao vivoaberto. As soluções que são dadas são interpretações, ou a filosofia da física quântica. São todas as hipóteses para as quais você não tem comprovação ainda.

Uma dessas interpretações, que é a do Everett, diz que o problema da medição pode ser resolvido porque, na horabetesporte ao vivoque se faz a medição, você não precisa supor as razões para o colapso ter acontecido para um lado e não para o outro. Segundo ele, por que não pensar que as duas coisas acontecem ao mesmo tempo? Que dois aparelhosbetesporte ao vivomedição entrambetesporte ao vivosuperposição quântica?

E ele entende que, nesse caso, as pessoas que estão observando os aparelhos também entram numa superposição quântica, se transformariam numa espéciebetesporte ao vivoonda e estariambetesporte ao vivodois estados ao mesmo tempo. Uma delas estaria vendo a partícula no detector um e outra observaria no detector dois.

O que ele notou é que esses dois ramos permaneceriambetesporte ao vivoparalelo para sempre, sem a possibilidadebetesporte ao vivojuntá-los novamente.

Ele não usou a terminologia dos universos paralelos e se ateve à ideiabetesporte ao vivoque os mundos estariambetesporte ao vivosuperposição quântica.

Para Everett, a ramificação quântica só acontece quando você faz a medição. Mas existem outras análises filosóficas que consideram que as ramificações desse tipo acontecem a cada segundo.

De novo, falamos apenasbetesporte ao vivosituações hipotéticas e é divertido ficar pensando nas consequências lógicasbetesporte ao vivotudo isso. Mas não há nenhuma evidência científica a favor delas. A interpretação do Everett é uma entre várias, mas é legal que a literatura, o cinema e a ficção se inspirem nessas ideias e se preocupembetesporte ao vivomontar histórias lógicas e coerentes.

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Essa temática do multiverso tem aparecidobetesporte ao vivovárias obras da cultura pop. Alémbetesporte ao vivo betesporte ao vivo Tudobetesporte ao vivoTodo Lugar ao Mesmo Tempo betesporte ao vivo , todos os filmes recentes da Marvel tratam sobre o tema, bem como as séries betesporte ao vivo Dark betesporte ao vivo e betesporte ao vivo Rick e Morty betesporte ao vivo . Na visão do senhor, por que esse assunto ganhou mais popularidade nos últimos tempos?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - Acho que a popularizaçãobetesporte ao vivoideias filosóficas contribui para isso. A internet ajudou muito, inclusive na disseminação dos misticismos.

Você acessa a internet e vê vídeosbetesporte ao vivopessoas dizendo que a matéria é vazia e portanto o materialismo é falso e precisamos postular um espírito para animar as coisas. Esse tipobetesporte ao vivodiscurso, que vai da religião e da ideologia à filosofia, aparece muito na internet. E os alunos que vêm estudar física e filosofia já tem algum conhecimento prévio sobre todos esses tópicos.

O que a internet fornece é esse tipobetesporte ao vivoespeculação que, como não se tratabetesporte ao vivoalgo científico, que se baseiabetesporte ao vivoevidência concreta, não há problema se a pessoa tem alguma ideia estapafúrdia e exagerada. Porque estamos num terrenobetesporte ao vivoopinião sobre filosofia e metafísica.

Dentro desses tópicos, a divisão entre especialistas e não especialistas fica mais difusa do quebetesporte ao vivooutros campos da ciência. Claro que a gente separa entre indivíduos que têm mais ou menos base para falar daquilo. Mas todos podem especular e sugerir hipóteses.

Para resumir, as pessoas recentemente têm mais contato com as ideiasbetesporte ao vivomundos paralelos e acham bacana. E não dá pra dizer que é tudo besteira, pois são hipóteses discutidas no terreno da filosofia.

O segundo aspecto é que os cineastas estão cada vez mais valorizando uma consultoria por partebetesporte ao vivocientistas e filósofos. O filme Interstellar, por exemplo, apesarbetesporte ao vivoalguns exageros, dá pra perceber que passou por uma consultoria séria e traz coisasbetesporte ao vivociência que estão representadas da melhor maneira possível.

Gostariabetesporte ao vivoacrescentar que, ao longo da minha carreira, estudei o chamado misticismo quântico. Ele começa a ser disseminadobetesporte ao vivomeadosbetesporte ao vivo1975 nos circuitos esotéricos a partir da Califórnia, nos EUA. E, ao longobetesporte ao vivo15 anos, vai lentamente permeando diferentes instâncias da sociedade até que, nos anos 1990, se torna uma moda.

O que a gente observa é que o misticismo quântico tem altos e baixos. Ele estavabetesporte ao vivoalta nos anos 1990. Porém, veio a crise econômicabetesporte ao vivo2008. E um dos combustíveis dessa situação foi justamente o misticismo quântico, que postulava ideias como "o pensamento positivo é capazbetesporte ao vivoalterar a realidade".

Isso incentivava as pessoas que trabalhavambetesporte ao vivoempresas bancárias a emprestar muito dinheiro, sob a ideiabetesporte ao vivoque o pensamento positivo faria tudo dar certo. No final, não deu e todo o sistema bancário ruiu.

Isso provocou um refluxo nesse campo e o misticismo quântico diminuiubetesporte ao vivointensidade. Agora, o interesse pelo tema começou a subirbetesporte ao vivonovo.

Talvez, essa modabetesporte ao vivogostarbetesporte ao vivouniversos paralelos que a gente encontra na cultura também esteja relacionada a esses altos e baixos.

Ricky e Morty

Crédito, Warner Bros. Discovery

Legenda da foto, Em 'Ricky e Morty', um avô cientista e seu neto viajam por diferentes universos

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Uma das teorias que circulam na internet sobre o maior interesse no multiverso aponta que esse fenômeno tem a ver com a própria realidade das pessoas. Isso porque nós assumimos diferentes "personas" nos diversos ambientes que vivemos — temos um determinado modobetesporte ao vivocomportamento nas redes sociais, outro no trabalho, um terceiro com amigos e familiares… Assim, viveríamos dentrobetesporte ao vivomultiversos distintos dentrobetesporte ao vivonossa própria realidade. Esse tipobetesporte ao vivoanálise faz sentido?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - Eu acho que faz sentido. Esse fenômeno sempre aconteceu. Na minha infância, lembrobetesporte ao vivoperceber quebetesporte ao vivoalguns contextos eu era mais ou menos extrovertido. Mas acho que você tem razão ao apontar que, com a internet, isso se amplifica. Essa é uma hipótese interessante.

Outra ideia que se lança nesse momentobetesporte ao vivoque a filosofia permeia nossa culturabetesporte ao vivomaneira mais intensa é abetesporte ao vivoum mundo virtual. Por exemplo, o conceitobetesporte ao vivoque talvez um ser humano possa pegar todas as informações que ele carrega no cérebro e recriar uma identidade no mundo virtual.

O que não é tão plausível assim é a tesebetesporte ao vivoque, se eu for recriado no mundo virtual, eu voltaria a existir e ter consciência. Seria possível ter uma consciência independente do corpo, usando como base um computador?

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Assim como a física e a filosofia parecem influenciar a cultura pop, o caminho contrário também pode acontecer? Ou seja, a ficção científica tem o poderbetesporte ao vivomodificar teorias, hipóteses e pesquisas feitas por acadêmicos?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - A princípio, sim. Temos por exemplo os escritosbetesporte ao vivoJules Verne no século 19, que tiveram alguma repercussão na ciência e na tecnologia. Essa conexão acontece particularmente na tecnologia, ou nas escolhas que os seres humanos fazem na horabetesporte ao vivodecidir estudar um assunto ou outro.

Com certeza, a ficção científica influencia as escolhas técnicas do ser humano. Se eu decido congelar meu corpo quando estiver prestes a morrer para ressuscitar daqui a 300 anos, por exemplo. Nós decidimos investir dinheiro nesse tipobetesporte ao vivocoisa. E geralmente essas ideias vêm da literatura fantástica.

Agora, não me parece que a ficção chegue a influenciar as hipóteses científicasbetesporte ao vivosi. Claro, devem existir casosbetesporte ao vivoque isso aconteceu, quando algum cientista se inspiroubetesporte ao vivoalguma história. Mas isso é algo mais limitado.

Já no caso da filosofia, há uma influência clara. Um filme como Matrix, por exemplo, desperta nos alunos um interesse maior pela filosofia. E os professores respondem discutindo mais sobre essas questões. Há um diálogo claro entre a cultura e a filosofia.

Cenabetesporte ao vivoMatrix

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Filmes como Matrix influenciam nas discussões da filosofia, aponta professor

betesporte ao vivo BBC News Brasil - Dentro dessas discussões sobre hipóteses filosóficas, evidências científicas e misticismos, o senhor acredita que a popularizaçãobetesporte ao vivoalguns conceitos científicos — como o multiverso — tem potencialbetesporte ao vivotrazer benefícios ou prejuízos à sociedade?

betesporte ao vivo Pessoa Jr. - Abetesporte ao vivopergunta é sobre a exploração das ideiasbetesporte ao vivoficção científica, e se isso é benéfico ou não. A princípio, eu diria que é benéfico. Principalmente quando a história é bem feita e tenta seguir uma lógica, com regras internas bem estabelecidas.

Isso desperta a nossa imaginação, o nosso pensamento lógico, e passamos a imaginar os mundos possíveis.

Por outro lado, uma coisa a ser examinada, e para a qual não tenho a resposta, é a conexão disso com ideologias fascistas e pseudociências. A ideiabetesporte ao vivoTerra plana, por exemplo. Os terraplanistas passaram a levar isso a sério. Talvez a conexão com a ideologia aconteça aí: quando você pega cenários ficcionais e passa a defender que eles são reais. Aí você já está dando um passo para direcionar as ações das pessoas.

Se você diz que universos paralelos são reais e todas as vezes que você toma uma decisão o mundo se bifurca, isso pode mudar a vidabetesporte ao vivoalgumas pessoas, com efeitos positivos ou negativos.

Talvez a questão esteja ligada à hipótesebetesporte ao vivoque isso não passabetesporte ao vivouma ficção científica. Ou seja, no momentobetesporte ao vivoque a pessoa passa a acreditar que aquilo é real, isso pode representar uma influência negativa da ficção na nossa cultura.