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CondenaçãocartolabetBolsonaro por golpecartolabetEstado não sepultaria bolsonarismo, afirmam autorescartolabetnovo livro sobre 'Brasil Profundo' :cartolabet
No novo livro, eles argumentam que a força do bolsonarismo vemcartolabetsua capacidadecartolabetarticular diversos valores e característicascartolabetlongo prazo da sociedade brasileira, como o simplismo, o messianismo, o autoritarismo, o "malandrismo", o antidecoro, o autoditatismo e o machismo, parte dos elementos que formam o "Brasil Profundo" — conceito que o grupo utiliza para analisar diferentes fenômenos da sociedade brasileira.
No mundo digital cartolabet hoje, as tecnologias que facilitate suam nossas vidas são cartolabet suma importância. Uma dessas tecnologias é o QR Code (Quick Response Code), um código cartolabet barras cartolabet {k0} duas dimensões que pode armazenar informações e é possível ser lido rapidamente por um dispositivo móvel.
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Os pesquisadores apontam, por exemplo, como o bolsonarismo ganha adesão na sociedade ao apresentar soluções simples e autoritárias para problemas complexos como a violência ("basta deixar a polícia trabalhar") ou a educação ("basta impor disciplina"), ao mesmo tempo que usa o que os autores chamamcartolabet"malandrismo" para "escorregar entre as regras" e mascarar seus desrespeito à institucionalidade.
Um uso desse "malandrismo", ressaltam, é a insitênciacartolabetBolsonarocartolabetargumentar que "joga dentro das quatro linhas da Constituição" mesmo quando admite que discutiu decretar EstadocartolabetSítio no país com o comando das Forças Armadas, como parte da contestação da vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Essas atitudes agora podem render um processo criminal contra Bolsonaro e outros indiciados por tentativacartolabetgolpecartolabetEstado. Mas, para os pesquisadores, o enraizamento do bolsonarismo nos valores do Brasil Profundo deve mantê-lo vivo, mesmo que uma condenação se confirme.
Eles ressaltam, porém, que o próprio Bolsonaro pode se recuperar. A avaliação é que será difícil o ex-presidente revertercartolabetinelegibilidade para a eleiçãocartolabet2026, mas não descartam alguma reviravolta jurídica mais para frente, como ocorreu com Lula, que reverteucartolabet2021cartolabetcondenação na operação Lava Jato, após ter ficado impedidocartolabetdisputar a eleiçãocartolabet2018.
Para os autores, foi também a capacidadecartolabetLulacartolabetse conectar com as massas e mobilizar parte desses elementos do "Brasil Profundo" que permitiu ao PT,cartolabetarticulação com partidos da centro-direita, conquistar a Presidência da República cinco vezes.
Hoje, porém, há um vaziocartolabetlideranças com esse potencial no campo da esquerda, avaliam, assim como uma limitação desse campocartolabetapresentar soluções concretas para problemas reais da população, como a precarização do mercadocartolabettrabalho e a violência urbana. Um cenário que deixa a esquerda encurralada.
A BBC News Brasil conversou com autores do livrocartolabetdois momentoscartolabetnovembro, abordando o impactado das eleições municipais e do indiciamentocartolabetBolsonaro sobre o bolsonarismo.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Medeiros e Baldaia, editada por razõescartolabetconcisão e clareza.
cartolabet BBC News Brasil – O livro argumenta que a resiliência do bolsonarismo está nacartolabetligação com elementos do "Brasil Profundo". O que é esse "Brasil Profundo" e como ele serve para entender o bolsonarismo?
cartolabet Tiago Medeiros – O termo Brasil Profundo é usado, muitas vezes, por acadêmicos e jornalistascartolabetforma confusa e pouco precisa. O que tentamos fazer foi dar um sentido a essa expressão, e usá-la como uma chavecartolabetinterpretaçãocartolabetfenômenos da sociedade brasileira.
O Brasil Profundo não constitui um conjuntocartolabetpessoas, mascartolabetrepresentações, relações e práticas. São coisas que as pessoas fazem, modoscartolabetpensar, visõescartolabetmundo, que permanecem como aspectos da realidade brasileiracartolabetlonga duração.
Tentamos rastrear esses aspectos usando uma sériecartolabetrecursos, como literatura, crônicas do século 17 e 18.
cartolabet Fabio Baldaia – Tipificamos elementos do Brasil Profundo, como o messianismo, a festivização — que não está na análise do Bolsonaro, mas que estácartolabetoutras análises nossas —, um certo autoritarismo, machismo, coisas que você analisa a historiografia e vê continuidade na história brasileira.
cartolabet BBC News Brasil – Poderiam explicar melhor alguns desses elementos do Brasil Profundo e como o bolsonarismo ganhou força ao se conectar com esses elementos?
cartolabet Baldaia – Bolsonaro e bolsonarismo se apropriamcartolabetuma estruturacartolabetoportunidade política favorável: o declíniocartolabetum modelo econômico adotado nos governos petistas que conseguiu, por alguns anos, garantir alguma melhoria na vida das pessoas. Esse modelo deixoucartolabetfuncionar. Ao mesmo tempo, houve uma mudança no tabuleiro informacional, com a força das redes sociais, a comunicação por aplicativos.
Com isso, a partircartolabet2015, abre-se uma janelacartolabetoportunidade política. O PSDB não soube aproveitar, declinou, e, por algum motivo, o bolsonarismo conseguiu capturar esse sentimento e articular alguns comportamentos [do Brasil Profundo], alguns discursos.
O simplismo é um desses elementos. A sociedade brasileira mergulhoucartolabetuma crise, e o bolsonarismo apresentava soluções simples para os problemas nacionais. Às vezes,cartolabetcoisas muito sérias. Na pandemia, o discurso simplista era absurdamente aceitocartolabetalguns segmentos.
A solução da segurança pública apresentada pelo bolsonarismo também é simples, é só deixar a polícia trabalhar, agir arbitrariamente. Aí entra outro elemento [do Brasil Profundo], o autoritarismo.
Vemos esse encontro do discurso simplista e autoritário não só no âmbito da segurança pública. Nas escolas, basta ter disciplina que tudo vai se resolver.
No âmbito da família, basta restaurar a ordem patriarcal. Então, o simplismo se articula também com o machismo.
O bolsonarismo vai costurando o que está meio difuso na sociedade. Aparece no programacartolabetTV, na novela, no senso comum das ruas. Isso vai sendo amarrado,cartolabetuma coisa para outra, construindo uma ação política.
Há também um certo discurso messiânico que se liga ao simplismo, ao autoritarismo e ao machismo. Não é preciso desenvolver instituições para resolver problemas nacionais, econômicos, a gente precisacartolabetum grande líder. Uma liderança masculina forte, que não precisa debater com ninguém.
Na história brasileira, foram vários exemplos: Dom Pedro 2º foi uma figura do líder messiânico, assim como Antônio Conselheiro, Getúlio Vargas, o próprio Lula.
Os elementos do Brasil Profundo não são necessariamentecartolabetdireita, são elementos que estão aí e podem ser galvanizados.
O Lula também se utiliza desses elementos difusos na sociedade brasileira. O próprio simplismo aparece na maneira como ele fazia usocartolabetmetáforas do futebol, principalmente nos dois primeiros governos. Qualquer tema complexocartolabeteconomia ou política, ele remetia ao jogo do Corinthians ou da seleção.
cartolabet BBC News Brasil – O que os resultados das eleições municipais indicam sobre os rumos do bolsonarismo?
cartolabet Medeiros – O bolsonarismo teve grande êxitocartolabet2018 por ser uma eleição nacional,cartolabetque ele foi capazcartolabetocupar o espaçocartolabetantítesecartolabetLula e do PT, após o enfraquecimento do PSDB. Acontece que agora, já depoiscartolabetBolsonaro ter perdido partecartolabetsua credibilidade como único líder da direita, depois que saiu do poder e, sendo eleições municipais, o olhar não é exatamente o mesmo.
Acho que dá para manter a tesecartolabetque há valores mobilizados na direção da direita no Brasil, embora já não dê para dizer que Bolsonaro seja seu único intérprete. O aparecimento do Pablo Marçal é significativo. Não que Marçal seja herdeiro diretocartolabetBolsonaro, mas consegue estar no lugar certo, na hora certa e mobilizar alguns dos aspectoscartolabetlonga duração que Bolsonaro estava monopolizando.
No discurso dele, por exemplo, não entra com muita força o aspecto do punitivismo, que está muito fortecartolabetBolsonaro. Mas existe o elemento do antidecoro,cartolabetser rebelde à formalidade do trato das entrevistas, do posicionamento público.
Aparece também o simplismo: qualquer pessoa pode ficar rica, desde que queira. Assim como o machismo, a ideiacartolabetque existe uma primazia do homem sobre a mulher e isso reflete a ordem natural das coisas. É assim que Marçal pensa, e ele se conecta com pessoas e grupos que pensam da mesma forma.
Então, as eleições municipais podem indicar, na verdade, que há um movimentocartolabetespraiamento, talvezcartolabetdifusão do legado do bolsonarismo.
Veja que o [governador do Goiás] Ronaldo Caiado está se alçando no centro do país a uma posiçãocartolabetlíder, mas também se especula se o Tarcísio [de Freitas, governadorcartolabetSão Paulo] não vai ser o grande vencedor dessas eleições. Será que [governadorcartolabetMinas, Romeu] Zema vai crescer? Será que ACM Neto [ex-prefeitocartolabetSalvador] tem chance, agora que a Bahia está uma desordem na segurança pública?
Estamos diantecartolabetuma situaçãocartolabettransição. Não dá para ter clareza objetiva, mas dá para saber que aqueles valores, aqueles elementoscartolabetlonga duração, estão por aí, aguardando alguém para mobilizar novamente, porque ainda estão na cena da política nacional.
cartolabet Baldaia – A gente tem que separar a figuracartolabetBolsonaro do bolsonarismo. O bolsonarismo é um movimento político que conseguiu aglutinar interesses e valores que estão presentes na sociedade e que, inclusive, vão além da direita. A figuracartolabetBolsonaro está profundamente enfraquecida. Como cabo eleitoral nas eleições municipais, tevecartolabetforça, mas não foi tão decisivo quanto ele imaginava. Nem o próprio Lula foi.
O Jair,cartolabetsi, talvez esteja num declínio irreversível. Mas os valores professados pelo bolsonarismo estão aí no Ratinho Jr. [governador do Paraná], no Caiado, no Tarcísio.
O Tarcísio consegue fazer o papelcartolabetmoderado, mas também dizer "olha, sou bolsonarista". Esse trânsito talvez faça dele uma candidatura bem-sucedida daqui a dois anos para disputar com Lula, se ele for tentar a reeleição, ou outro candidato do petismo.
cartolabet BBC News Brasil - Por que vê Bolsonaro tãocartolabetdeclínio assim?
cartolabet Baldaia – Principalmente pela inelegibilidade. Quando você tem expectativacartolabetexercício do poder futuro, consegue já aproveitar o capital político presente. Aí surgem outras figuras que conseguem uma conexão [com as massas], inclusive com uso das redes sociais muito eficiente, como o Nikolas [Ferreira, deputado federal],cartolabetMinas Gerais.
Perceba que os filhoscartolabetBolsonaro, que sempre orbitaram a figura do pai, estão preocupados com a ascensão dessas figuras que se descolaram, como se fosse um bolsonarismo pós-Bolsonaro. Não sei se terá o mesmo sucesso eleitoral, porque,cartolabetalguns casos, parece um bolsonarismo mais radical, como no aspecto moral.
Porque o bolsonarismo tinha a malandragemcartolabetir e voltar. O malandrismo é outro elemento do Brasil Profundo que identificamoscartolabetBolsonaro. Sempre que alguma coisa parecia muito radical, ele recuava e desdizia o que disse. Esse elementocartolabetmalandragem,cartolabetescorregar, deslizar entre as formalidades das regras, talvez não seja um movimento que a extrema direita mundial convencionalmente tem.
Outra questão é se vai ter alguma figura capazcartolabetfazer as articulações que Bolsonaro conseguiu. Ele articulava determinada visão militarista da sociedade, com os evangélicos, por exemplo. Marçal não consegue articular tão bem com os evangélicos. Então, talvez os filhoscartolabetBolsonaro não consigam articular tão bem [esses diferentes grupos] para disputar uma eleição majoritária nacional com chancecartolabetvitória.
cartolabet BBC News Brasil – Na nossa primeira conversa, vocês afirmaram que Bolsonaro estácartolabetdeclínio. O seu indiciamento por suposta tentativacartolabetgolpecartolabetEstado intensifica a percepçãocartolabetque o ex-presidente estácartolabetdecadência?
cartolabet Tiago Medeiros - A decadência agora é um fato, mas ela,cartolabetalguma forma, sempre se mostrou vizinha da figuracartolabetBolsonaro.
Em vários momentos, a imprensa noticiou, desde 2019, que Bolsonaro estava prestes a cair, por contacartolabetalgum deslize, por conta da relação com os filhos, por conta da ruptura com o olavismo, por conta da ruptura com os militares. Ele sempre esteve vizinhocartolabetuma iminênciacartolabetqueda, porque não tem, individualmente, substância política.
Não tem a consistência, por exemplo,cartolabetum Ulysses Guimarães [líder da oposição na Ditaura Militar], nem a trajetóriacartolabetum Lula, nem a clareza programáticacartolabetum Ciro Gomes. Ele foi alçado à condiçãocartolabetparlamentar ecartolabetpresidente por fatorescartolabetlonga duração da sociedade brasileira, que constituem aquilo que a gente, infelizmente, não quer admitir que faz parte da nossa realidade popular.
E a nossa realidade popular é punitivista, é sádica, é autoritária. Inclusive no campo progressista, não raramente, manifestamoscartolabetredes sociais o desejo por linchamento. Esse desejo é o punitivismo, o mesmo que elege Bolsonaro.
De forma que, respondendo objetivamente, a decadênciacartolabetBolsonarocartolabetagora é um fato, mas o Bolsonaro nunca foi blindadocartolabetdecadência. Agora, por que ele se mantém com a força que tem? Porque ele tem o apoio popular e funcionou como um amálgama dessas crenças e valores do Brasil Profundo.
cartolabet BBC News Brasil – Não é contraditório dizer que ele estácartolabetdecadência, mas se mantém forte pelo apoio popular?
cartolabet Tiago Medeiros - A decadência a que me refiro, para que ela se consume, tem que ter três fatorescartolabetconvergência. Primeiro perder o apoio popular, e Bolsonaro nunca teve menoscartolabet25% da população ao seu lado, desde que se tornou presidente.
O segundo fator é perder vitrine política na imprensa, o que ele nunca teve com muita consistência. A imprensa sempre foi antibolsonarista.
Também teria que perder um terceiro aspecto, que é o apoio dos políticos profissionais. Durante a gestão, ele não vinha perdendo, porque ele era presidente.
Agora está perdendo porque tem uma massa pequenacartolabetpolíticos da direita que querem [herdar] um espólio do Bolsonaro.
Mas ele ainda tem a popularidade. Por isso, a decadência nunca se consuma plenamente, ela sempre se avizinha.
Então, dá pra saber o futurocartolabetBolsonaro, se está totalmente fora do jogo? Nosso grupo chegou à conclusãocartolabetque não dá para saber porque a reviravolta do jogo na Justiça é sempre uma possibilidade. O STF, anos depoiscartolabetrejeitar um habeas corpus para Lula [em 2018], reviucartolabetposição [ao anularcartolabetcondenaçãocartolabet2021].
É muito complicado ter certeza sobre essas coisas. O Trump [recém-eleito novamente como presidente dos EUA] não teria conseguido êxito eleitoral nos Estados Unidos se houvesse Justiça Eleitoral lá. Nossa Justiça Eleitoral é funcional e creio que Bolsonaro não vai conseguir se candidatar à Presidênciacartolabet2026.
Está muitocartolabetcima para conseguir uma gambiarracartolabetseu favor. Mas isso não quer dizer que ele está totalmente fora do jogo, até porque ele tem menos idade do que o próprio Lula.
Não dá para saber o que pode acontecercartolabetcinco anos [antes da eleição presidencialcartolabet2030]. Nossa experiência com o STF, principalmente depois que ele passou a ser filmado, é que ele se tornou, me parece, muito mais politizado.
Não sei se seria melhor que não fosse filmado, mas o fato é que, as sessões sendo gravadas, eles se tornam personagens.
cartolabet BBC News Brasil – As lideranças que disputarão eventual espóliocartolabetBolsonaro podem ser tragadas também porcartolabeteventual queda?
cartolabet Tiago Medeiros - Me parece que eles vão agir como ratoscartolabetum navio prestes a naufragar. Vão esperar o momento certo para sair. O Tarcísio tem mais dificuldade disso, porque ele surgiucartolabetBolsonaro, foi fabricado por Bolsonaro.
Nikolas Ferreira é fruto da cultura, por assim dizer, bolsonarista, mas ele surgiu por si mesmo, pela internet. O Caiado tem uma carreira própria e foi muito massacrado por Bolsonaro na pandemia porque era médico e não aceitava as maluquicescartolabetBolsonaro. Então, eles não têm uma relaçãocartolabetharmonia plena.
Eu acho que o Caiado, por ser mais maduro, é o que mais vai se projetar na direçãocartolabetconseguir uma barganhacartolabetseu favor, sobretudo se ele conseguircartolabetfato emplacar a imagemcartolabetum político que é realmente diferente, mantendo-se associado ao conservadorismocartolabetdireita, mas diferente por vários motivos, por ser pró-ciência, porque é médico, por não ser do Sudeste, por ser do centro do país.
Ele, pra mim é o maior inimigocartolabetBolsonaro neste momento, dentro do campo da direita, porque os demais ainda precisam da figura do Bolsonaro até o último momento.
cartolabet BBC News Brasil – Caso Bolsonaro e outros indiciados sejam processados e condenados por golpecartolabetEstado, isso também afetaria o bolsonarismo? Poderia causar a decadência do movimento?
cartolabet Tiago Medeiros - Afeta, sim, no sentidocartolabetmexer com o bolsonarismo, o que não significa necessariamente enfraquecer ou mesmo sepultar.
Pode afetar no sentidocartolabettornar mais difuso, como aconteceu, por exemplo, no período da pandemia. Ou, mais recentemente, como o posicionamento do Bolsonarocartolabetviajar para os Estados Unidos [no final do seu mandato].
Naqueles momentos, houve uma difusão do movimento, mas os valores e crenças dessas pessoas não foram desfeitos. Elas permanecem acreditando nas mesmas coisas, que, juntas, formaram o bolsonarismo.
Então, o bolsonarismo pode ser afetado no sentidocartolabetse tornar menos coeso e menos coerente, mas ele não parece, a nenhumcartolabetnós do grupo, afetável a pontocartolabetdiluir, ser sepultado, porque o bolsonarismo é um amálgamacartolabetvalores e representações que estão difusos por aí e,cartolabetum momento histórico, conseguiu se fazer unido na figuracartolabetBolsonaro.
Então, o bolsonarismo vai continuar mesmo que tenha que adotar outro nome, mesmo que outro personagem político surja e dê representatividade a esses valores e práticascartolabetlonga duração.
Mas, certamente, com a quedacartolabetBolsonaro não vai ser a mesma coisa. Perde-se o centro [que conecta esses valores e representações, caso Bolsonaro seja condenado].
cartolabet BBC News Brasil – Historicamente, o campo da centro-direita domina o Congresso e as eleições municipais. Como o PT consegue romper esse predomínio conservador e vencer eleições presidenciais? É porque Lula também se conecta com elementos desse Brasil profundo?
cartolabet Tiago Medeiros – O Lula nunca foi propriamente um anticonservador. Ele tinha uma agenda, vamos dizer, pelos pobres, uma militância pelo social.
Lula era um bom intérprete das massas que se identificam com o bolsonarismo também hoje. Quer dizer que ele também conseguia puxar sensibilidades, aspectocartolabetlonga duração do Brasil profundo.
Um deles é o elemento antissistema. Lula foi o cara que veio da pobreza e teve um discurso antissistema durante um certo tempo. Foi contra uma sériecartolabetpautas nacionais, inclusive contra o Plano Real, por conta disso, [seria] "o sistema querendo enganar o trabalhador".
A essa altura, ficou cada vez mais claro que o Lula não conseguia mais sustentar esse discurso, e que o Bolsonaro adquiriu plausibilidade [como figura antissistema].
Não é porque Lula era pobre, foi um torneiro mecânico que ele é quem fala pelos pobres e pelas camadas populares, porque ele já começou a ser aquele cara que vai tomar vinho tinto, viajar pela Europa e querer resolver problemas como o Oriente Médio,cartolabetvezcartolabetestar resolvendo problemas domésticos.
Mas ele não deixoucartolabetestarcartolabetconexão com alguns elementoscartolabetlonga duração do Brasil Profundo.
cartolabet BBC News Brasil – Poderiam exemplificar mais como Lula se conecta a esses elementos do Brasil Profundo?
cartolabet Fabio Baldaia – Dos elementos que a gente colocou como elementos do bolsonarismo, o simplismo também aparece no discursocartolabetLula, a ideiacartolabetque é só colocar o pobre no orçamento, aumentar o salário e o Bolsa Família, que você resolve o problema. Não precisa fazer discussão sobre juros, sobre reindustrialização.
Há também um elemento muito messiânico da figuracartolabetLula, inclusive dentro do próprio PT, como "só ele pode fazer isso".
Quando na articulação política, ninguém está resolvendo, chama o Lula. Lula sai do palácio, desce para campo e resolve. Geralmente ele resolve mesmo, pela habilidade política.
Há um aspecto que a gente também conseguiu perceber no bolsonarismo e aparececartolabetLula, o autodidatismo. O Bolsonaro não é o homem das letras, é um sujeito simplório e não faz questãocartolabetesconder isso.
Ele aprendeu [a atuar] a partir da prática política da vida. Isso, na vida popular brasileira, é muito exaltado — o indivíduo que aprende a partircartolabettrabalho, não necessariamente pelos bancos escolares.
E a própria históriacartolabetLula traz um pouco disso. Saiu criança do interiorcartolabetPernambuco, veio para São Paulo, se constituiu trabalhando, com todo o esforço.
Tem coisas que são mais destacadas no Bolsonaro, por exemplo, o antidecoro. Claramente, o bolsonarismo é antidecoroso com a formalidade das regras, Lula é muito mais respeitoso com isso.
Mascartolabetdeterminado momento, se escrevem um discurso pra ele, ele resolve fazer o discursocartolabetimproviso. Muitas vezes ele consegue se conectar com a plateia atravéscartolabetum discurso muito espontâneo, justamente porque ele não seguiu a formalidade, inclusivecartolabetencontros com chefescartolabetEstado.
E há elementos do Brasil Profundo que não aparecemcartolabetBolsonaro e estãocartolabetLula. Por exemplo, a festivização: o bolsonarismo é um movimento político meio mal-humorado. Ele tem uma relação com a felicidade, com o carnaval e com a festa meiocartolabetojeriza. A relação do bolsonarismo e das extremas-direitascartolabetgeral com esse tipocartolabetcoisa é muitocartolabetcontrole do comportamento da massa.
E o Lulismo lida muito bem com essa festivização, presente na sociedade brasileira desde a América portuguesa, os carnavaiscartolabetrua, as festas dos santos.
cartolabet BBC News Brasil – Como será o pós-Lula na esquerda? Há um vaziocartolabetlideranças capazescartolabetse conectar com as massas?
cartolabet Fabio Baldaia – Lula é muito maior do que o PT, e muito maior do que a esquerda. O país no pós-Lula provavelmente vai tender à centro-direita e à direita, aos temas que são sensíveis e são melhor tratados pela centro-direita e pela direita.
Não há uma liderançacartolabetesquerda que substitua Lula hoje. O Haddad provavelmente vai ser o candidato do PT [se Lula não tentar a reeleição]. O Haddad é um tecnocrata, não tem nenhuma condiçãocartolabetestabelecer um diálogo com o Brasil Profundo, no sentido carismático do termo. Ele é um professor da USP.
Então, não vejo ainda outra liderança dentro do PT que consiga dialogar com os valores difusos da sociedade brasileira, trazendo para uma linhacartolabetesquerda. Inclusive porque parte importante do discurso da esquerda hoje abandonou o debate sobre a materialidade, sobre a vida econômica, sobre ascensão social, e tem se concentrado nas pautas relacionadas ao comportamento, às identidades, que são importantes, pautas fundamentais, mas que acabaram perdendo um pouco da conexão com outras dimensões.
A centro-direita e a direita têm monopolizado o diálogo com os temas considerados mais sensíveis pra sociedade brasileira. O diálogo da segurança, da família, da educação, da ascensão social. E, ao mesmo tempo, as esquerdas se desconectaram da mudança do mundo do trabalho, que hoje é mais informal. A esquerda não consegue dialogar com esse mundo do capitalismo flexível e não consegue oferecer alternativas.
Nesse sentido, acho que a esquerda está um pouco encurralada, sem oferecer respostas no plano econômico, se apegando a uma pauta das identidades, sem articular essa pauta com outras dimensões.
E, por outro lado, perdendo o seu principal líder, que estácartolabetfimcartolabetcarreira, sem produzir outra liderança. Enquanto a direita e centro-direita têm um processocartolabetrenovação muito maior, com liderançacartolabet20 e poucos anos.