Se Maduro for reeleito, 'milhõesvenezuelanos vão fugir', diz líder da oposição na Venezuela:

Crédito, Reuters

Legenda da foto, María Corina Machado venceu as primárias da oposição com 92% dos votos, mas está impedidaconcorrer

Dias depois, a câmara eleitoral do Tribunal SupremoJustiça ordenou a suspensão dos resultados das primáriasdecorrênciaum recurso apresentado pelo deputado governista José Brito, que denunciou irregularidades, afirmando que era uma "grande farsa", sem apresentar provas.

Machado está convencida, como disseentrevista ao programa Newsday, da BBC,que a proibição imposta a ela nada mais é do que uma demonstração do medo que o governo temsofrer "uma derrota esmagadora".

Em suas palavras, Maduro "está boicotando" as eleições, como mostra o fatonão ter cumprido o que foi estabelecido no acordoBarbados, firmado entre o governo, a oposição e os Estados Unidos.

Machado também se referiu às consequênciasMaduro continuar no poder, o que poderia causar, segundo ela, "a maior onda migratória que vimos até agora".

Além disso, ela deixou aberta a possibilidadealguém substituí-la como candidata da oposição nas eleições deste ano.

Confira a seguir a entrevista que Machado concedeu à BBC, poucos dias antes do prazo dado pelas autoridades eleitorais venezuelanas para a apresentação das candidaturas à Presidência (de 21 a 25março).

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Machado acredita que, pela primeira vez desde que Hugo Chávez foi eleito1998, a oposição conta com apoio da maioria
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BBC - Você acha que vai conseguir se registrar como candidata a tempo?

María Corina Machado - É difícil dizer. É óbvio que Maduro teme a possibilidadecompetir comigo porque sabe que teria uma derrota esmagadora.

Estão tentando me impedir porque é a primeira vez nos 25 anos que estamos sob um regime chavistaque disputamos uma eleição presidencial com mais80%apoio, por isso haviam dito claramente que não me deixariam correr.

BBC - Se você não puder se registrar como candidata, haverá um candidato da oposição? Você vai permitir que alguém possa representar seu nome?

Machado - Fui muito clara ao afirmar que não vão nos retirar das urnas. Nós vamos e estamos lutando por eleições livres, e é Maduro quem está boicotando.

Queremos uma transição, um caminho pacífico, enquanto Maduro está gerando violência, e o que estamos propondo é uma negociação séria para uma transição com garantias, e Maduro se nega.

BBC - Parece que ele vai permitir que outra pessoa se registre, para que aqueles que não quiserem apoiar Maduro tenham uma alternativa nas urnas.

Machado - Estamos lutando dia após dia, vocês podem imaginar que não vou fechar nenhuma possibilidade neste momento.

O importante é que o nosso apoio está crescendo dia a dia, e Maduro perdeu toda abase social e, inclusive, as possibilidades que tinha antes, o mecanismochantagear as pessoas, não funciona mais.

É por isso que espero que a comunidade internacional, o mundo que sabe o que estájogo neste momento, e o que significaria para a Venezuela e para a região se Maduro protelar uma transição pela força, [se junte] para manter uma posição unida e sólidatermos dos nossos direitos a uma eleição livre e justa na Venezuela, tal como o acordoBarbados tinha estabelecido claramente.

BBC - Se você tiver permissão para concorrer ou se uma figura da oposição puder concorrer no seu lugar. Serão eleições livres e justas?

Machado - Não necessariamente. Em primeiro lugar, quero insistir nisso, no acordoBarbados, que foi assinado pelo governo. Ele diz naprimeira cláusula, no seu primeiro ponto, que os partidos são livres para decidir o processo por meio do qual escolhem o seu candidato.

E foi justamente isso que as forças democráticas fizeram no dia 22outubro,um movimento cívicoque num único dia quase três milhõespessoas votaram e me elegeram como candidata legítima com mais92% dos votos. Eles tentam me impedir, me proíbemparticipar.

Em segundo lugar, estão impondo unilateralmente um calendário que torna quase impossível o enviouma missãoobservação internacional, e do pontovista interno, torna muito difícil para o povo venezuelano, para os jovens que não se registraram para votar, milhões, e também para milhõespessoas que se viram obrigadas a deixar o nosso país — lembrem-se, um quarto da população venezuelana foi forçada a sair — se registrar e votar.

E o governo também tem anulado nas últimas horas o direito dos partidos políticos que me apoiamapresentar candidatos, mas é Maduro quem bloqueia essa via.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Nicolás Maduro durante a cerimôniaque foi confirmado como candidato oficial do governo

BBC - Se você não tiver permissão para se candidatar. Você acha que os Estados Unidos deveriam restabelecer as sanções à economia venezuelana?

Machado - Isso fazia parte do acordo que o governo assinou com os Estados Unidos, no qual ambas as partes se comprometeram com diferentes ações.

Os Estados Unidos cumpriram o acordo e o que anunciaram que fariam, o governo (venezuelano) não — pelo contrário, violaram todos, cada um dos termos do acordoBarbados, e aumentaram drasticamente a repressão e a perseguição.

Inclusive enquanto conversamos, há quatro gestores da minha campanhaquatro estados diferentes da Venezuela que desapareceram pelas forças do regime, e estão agora detidos como prisioneiros numa prisão chamada El Helicoide, que é o maior centrotortura da América Latina.

Eles não gostam que eu viaje pelo paísavião, bloqueiam as rotas, nos atacam, e acredito que o mundo deve responsabilizar Maduro, porque as consequênciasMaduro permanecer no poder pela força seriam enormes.

Não só para a região, porque a região deveria se preparar para a maior onda migratória que vimos até agora.

Estou falandomilhõesvenezuelanos que vão fugir se perderem a esperançaliberdade e prosperidade empátria.

Também tenho que destacar como os vínculos bastante perigosos que Maduro tem com a Rússia e o Irã estão se intensificando, e o que significaria para as democracias ocidentais se Maduro permanecer no poder pela força.

Portanto, este é um momento crítico, horas muito delicadas, e o que tanto os venezuelanos quanto a comunidade democrática internacional fizerem nas próximas horas, acredito que será crucial para as próximas décadas.