PCC não quer se infiltrar na política, quer fazer lobby para influenciar as decisões, diz autormines pro realsbetlivro sobre facção:mines pro realsbet

Crédito, AFP

Legenda da foto, 'As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política. A estratégia do PCC não é essa', diz o sociólogo Gabriel Feltran, autormines pro realsbetIrmãos: Uma história do PCC. Na foto, Marco Camacho, o Marcola, apontado como líder da facção

No Riomines pro realsbetJaneiro, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou a mudançamines pro realsbetendereçomines pro realsbetmaismines pro realsbet90 seções eleitorais, numa tentativamines pro realsbetreduzir a influênciamines pro realsbettraficantes e milicianos sobre o voto.

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Com as maiores taxasmines pro realsbethomicídio do país na última década, Norte e Nordeste enfrentam o avanço das facções criminosas nacionais (como PCC, mas também o Comando Vermelho) para essas regiões, o que vem junto com a influência política desses grupos sobre as administrações locais.

"Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcãomines pro realsbetnegócios", diz Gabriel Feltran, diretormines pro realsbetpesquisa do Centro Nacionalmines pro realsbetPesquisa Científica (CNRS, na siglamines pro realsbetfrancês) e professor do Institutomines pro realsbetEstudos Políticosmines pro realsbetParis (Sciences Po),mines pro realsbetentrevista à BBC News Brasil.

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Fim do Que História!

Um dos principais pesquisadores do crime organizado no país, o sociólogo é autormines pro realsbetIrmãos: Uma história do PCC (Cia. das Letras, 2018), entre outros livros dedicados ao tema.

Com basemines pro realsbetseus estudos, Feltran avalia que a principal formamines pro realsbetinfluência do crime organizado na política brasileira hoje não é pela infiltraçãomines pro realsbetcandidatos ligados aos grupos criminosos na corrida eleitoral, mas pela atuação junto ao poder político para obter vantagens econômicas.

"Trata-se basicamente da influênciamines pro realsbetempresários sobre políticos", afirma o sociólogo. "Não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz."

Feltran vê como equivocadas as notícias recentes, baseadasmines pro realsbetinvestigação da polícia civil,mines pro realsbetque o PCC teria criado um banco para financiar candidaturas.

"São poucas as pessoas que entendem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipomines pro realsbetraciocínio, que é o raciocínio da Lava Jato", diz o pesquisador, fazendo um paralelo com a operação da Polícia Federal que investigou esquemamines pro realsbetcorrupção na Petrobras.

"As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política. A estratégia do PCC não é essa", afirma.

"A estratégia do PCC não émines pro realsbetuma organização revolucionária que quer tomar o Estado e comandá-lo. Tampouco é a estratégia do Pablo Escobar,mines pro realsbetsubjugar o Estado militarmente, matar juiz, matar promotor, peitar todo mundo, colocando o Estado pra trabalhar para ele."

"A estratégia do PCC não é nem uma, nem outra, é muito mais poderosa do que essas duas."

À BBC News Brasil, Feltran falou ainda sobre os desafios para novos prefeitos diante das evidências da participaçãomines pro realsbetfacções criminosasmines pro realsbetlicitações municipais; do poder das milícias sobre o voto; do que ele considera uma "autonomização" do poder policial com relação às elites brasileiras; e do avanço das facções para o Norte e Nordeste e o efeito disso para as eleições deste ano.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Crédito, João Moura/Divulgação

Legenda da foto, 'Não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz', diz Feltran

mines pro realsbet BBC News Brasil - Pesquisa DataFolha divulgada na segunda-feira (2/9) mostrou que 14% dos brasileiros percebem a presençamines pro realsbetfacções criminosas ou milícias nas suas vizinhanças. Em capitais, esse percentual chega a 20%. Diante desse quadro, como a presença do crime organizado influencia as eleições municipais?

mines pro realsbet Gabriel Feltran - Eu repito isso a cada nova eleição, então não é uma coisa nova no meu jeitomines pro realsbetpensar, acho que o que está mudando muito é a escala dessa presença.

Trata-se basicamente da influênciamines pro realsbetempresários sobre políticos. Empresários dos mercados legais e ilegais usammines pro realsbetinfluência, fazem pressão, fazem acordos com políticos que podem favorecê-los economicamente, sobretudo. Lobby.

Então, na minha leitura, não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz, que é influenciar o sistema político, a tomadamines pro realsbetdecisão política.

Eu vejo o PCC, há muitos anos, como uma sociedade secretamines pro realsbetempresários.

Trata-semines pro realsbetuma fraternidademines pro realsbetempresários criminais, muito desigual internamente do pontomines pro realsbetvista econômico, então há pequenos [empresários], médios, grandes, gigantescos. E a organização ajuda esses empreendedores a se fortalecerem.

mines pro realsbet BBC News Brasil - O senhor pode dar um exemplo?

mines pro realsbet Feltran - Por exemplo, um empresário que tenha 15 revendasmines pro realsbetcarro na cidademines pro realsbetSão Paulo. A legislaçãomines pro realsbetleilões, que é onde ele vai comprar os carros, é uma legislação que interessa para ele. Então ele vai precisarmines pro realsbetvereador,mines pro realsbetdeputado, para votar a lei que mais favorece o negócio dele.

Isso é uma coisa reconhecida, considerada sem nenhum problema. Os empresários gostammines pro realsbetpressionar para fazerem leis boas para eles, para o negócio deles.

A única diferença é que esse cara que a gente está falando agora, tem um montemines pro realsbetcarro ilegal que ele vende também. No meio dos carros legais dele, tem um montemines pro realsbetcarro roubado, por isso ele consegue oferecer os carros a um preço menor e o negócio dele é muito competitivo.

Então, se uma legislação interessa, ele vai buscar influenciar o poder político para aprovar.

Uma licitação pode ter interesse para ele, por exemplo, para fazer a manutençãomines pro realsbetcarros da prefeitura. Então ele vai pressionar, vai pagar a candidaturamines pro realsbetpessoas a quem ele tenha acesso e contato para ganhar essa licitação.

Então é por aí que esse negócio acontece. Não é porque o cara é criminoso, é porque o cara é empresário.

mines pro realsbet BBC News Brasil - Mas isso se dá no nível individual ou da organização?

mines pro realsbet Feltran - Os empresários autônomos têm os seus contatos, mas, falando do PCC especificamente, tem um segundo ponto. No PCC, existem coordenações para favorecer esses negócios para os empresários, que são as chamadas sintonias.

Elas têm decisões estratégicasmines pro realsbetcomo a organização vai priorizar o apoio aos seus empreendedores. Por exemplo, a Sintonia do Progresso [setor responsável pela logística da droga do PCC] vai favorecer uma regulação da cadeiamines pro realsbetvalor, digamos, da cocaína.

Então quer comprar a cocaína num preço bem baixo lá na Bolívia, na Colômbia, e entregar a preçomines pro realsbetcusto para o revendedor ou para o exportador no Estadomines pro realsbetSão Paulo.

Então aí não estamos falando mais do empreendedor individual, estamos falando da estratégia organizacional, da estratégia da facção.

E a estratégia da facção também pode precisarmines pro realsbetpolíticos – ter acesso a um político importante que tenha entrada no Portomines pro realsbetSantos, que conheça o presidente do sindicato. Que depois pode ser alguém com quem se possa ter uma conversa para fazer um esquemamines pro realsbetcorrupção que facilite para todos os empreendedores do PCC que fazem negócio lá.

Nesse caso, estamos falando tambémmines pro realsbetlobby empresarial, são interesses econômicos movendo a decisão política. É a mesma coisa, só que é tudo ilegal.

Então é assim que eu vejo. Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcãomines pro realsbetnegócio.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Estamos falandomines pro realsbetlobby empresarial, são interesses econômicos movendo a decisão política. É a mesma coisa, só que ilegal', diz Feltran. Na foto, o Portomines pro realsbetSantos, que se tornou ponto estratégico para o PCC

mines pro realsbet BBC News Brasil - Em 2020, o senhor disse numa entrevista que não viamines pro realsbetgrupos como PCC e CV o objetivomines pro realsbeteleger deputados e prefeitos, como queriam Pablo Escobar ou Dom Corleone [mafioso fictício da trilogia cinematográfica mines pro realsbet O Poderoso Chefão mines pro realsbet ]. Mas, recentemente, uma investigação da polícia civil revelou que o PCC teria criado um banco para financiar campanhasmines pro realsbetcandidatos. E uma reportagem do Globo tratoumines pro realsbetcandidaturas ligadas a gruposmines pro realsbetextermínio, PCC e CV. Como o senhor vê essas notícias e isso muda aquelamines pro realsbetopinião?

mines pro realsbet Feltran - Não, eu vejo essas notícias com muito mal feitas.

Eu li bastante essas [notícias] do banco e é bem a visão da polícia. Se tem uma pessoa que opera muito dinheiro, essa pessoa, para a polícia, é dona desse dinheiro.

Eles não fazem a diferença entre quem é trabalhador e quem é proprietário.

Então tem um montemines pro realsbetgente lavando dinheiro numa conta, que eles chamammines pro realsbet"contamines pro realsbetpassagem" ou "conta banco". E tem uma pessoa que está com o nome nessa conta.

Aí, dessa conta, sai dinheiro para financiar uma candidatura. Então eles consideram que essa conta – que tem milhões que passaram por ela,mines pro realsbetcentenasmines pro realsbetoperadores – é operada por aquela pessoa, que é dona daquele dinheiro e que, portanto, é um banco do PCC que vai financiar candidaturas. Errado, simplesmente.

mines pro realsbet BBC News Brasil - O senhor avalia então que é uma interpretação equivocada da polícia do funcionamento desse processomines pro realsbetlavagemmines pro realsbetdinheiro?

mines pro realsbet Feltran - Exatamente. São poucas as pessoas que entendem bem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipomines pro realsbetraciocínio. Que é o raciocínio da Lava Jato, que é o mesmo raciocíniomines pro realsbetsempre.

"Existe um crime, existe um criminoso, existe uma organização criminosa."

Você vai lembrar da Lava Jato. Existe um crime: estão desviando dinheiro na Petrobras. Existe um criminoso: esses caras ligados ao PT. Existe uma organização criminosa, que é o PT. E existe o chefe da organização criminosa, que é o Lula.

Então, toda a corrupção na Petrobras estava sendo coordenada pelo Lula, são aquelas setinhas do [ex-procurador da República e coordenar a força-tarefa da Lava Jato, Deltan] Dallagnol, apontando todas para o Lula.

Todo mundo pensa o PCC nesse mesmo modelo. Tudo o que acontece, vai ser o Marcola [Marco Willians Herbas Camacho, apontado como líder do PCC] que está por trás, coordenando.

Então essas manchetes [sobre o suposto banco do PCC] estão erradas, simplesmente.

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Feltran faz um paralelo entre a interpretação que a Polícia Civil faz do funcionamento do PCC e a lógica dos investigadores da Lava Jato

Agora, voltando ao pontomines pro realsbet2020. O que eu estava dizendo ali, e mantenho, é o seguinte. O Comando Vermelho tinha uma estratégia parecida com a das milícias, que é: eu domino um território e tudo o que acontece nesse território, sobre o qual sou soberano, me deve imposto, uma taxamines pro realsbetextorsão.

Então o cara abre um bar numa favela do Rio que é CV, ou que émines pro realsbetmilícia, ele tem que pagar a taxamines pro realsbetextorsão. Esse é um modelo criminal que é muito frequente na América Latina.

Esse modelo vai fazer um tipomines pro realsbetpressão sobre a política, que é local. Se o meu problema é dominar Nova Iguaçu, por exemplo, os vereadoresmines pro realsbetNova Iguaçu, o prefeito, os secretários, esses são os agentes políticos importantes. É sobre eles que tenho que exercer ação política.

Por isso que tantos políticos morremmines pro realsbetNova Iguaçu, o problema é local.

A estratégia do PCC não é essa, nunca foi essa. O PCC não faz extorsão. O PCC faz regulaçãomines pro realsbetmercado e passa do varejo para o atacado. Ele quer controlar a cadeiamines pro realsbetvalormines pro realsbetcada um dos produtos que estão envolvidos nas suas atividades criminais.

mines pro realsbet BBC News Brasil - Mas que diferença isso fazmines pro realsbettermosmines pro realsbetação política?

mines pro realsbet Feltran - As pessoas pensam que tem uma infiltração do PCC na política. E lámines pro realsbet2020, eu estava dizendo: a estratégia do PCC não é essa. A estratégia do PCC não émines pro realsbetuma organização revolucionária que quer tomar o Estado e comandar o Estado.

Tampouco é a estratégia do Pablo Escobar,mines pro realsbetsubjugar o Estado militarmente, matar juiz, matar promotor, peitar todo mundo, colocando o Estado pra trabalhar pra ele, como foi feito na Colômbia.

O que eu estava dizendomines pro realsbet2020 é que [a estratégia do PCC] não era nem uma, nem outra, e que era muito mais poderosa do que essas duas, na minha leitura.

Que é: regular as cadeiasmines pro realsbetvalor, virar atacadista. Um conjuntomines pro realsbetgrandes empresários, articulados entre si, e com influência políticamines pro realsbetlobby sobre o Estado.

Funciona, mais ou menos, como funciona a base econômica do Centrão.

Vamos supor, um produto agrícola, o maior exportadormines pro realsbetsoja do Brasil. Ele vai disputar as pequenas coisas no Congresso, a alíquota que vai ser recolhida no Mato Grosso, o quanto ele tem que pagarmines pro realsbetcontribuição para o sindicatomines pro realsbetmotoristasmines pro realsbetcaminhão, pequenas coisas que aumentam muito o seu lucro, e que não são pautas públicas. É assim que eu vejo o PCC atuando.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Comando Vermelho tinha estratégia parecida com a das milícias: dominar um território e cobrar taxamines pro realsbetextorsãomines pro realsbettodos nesta região. Esse modelo está ligado a uma pressão sobre a política local, diz Feltran

mines pro realsbet BBC News Brasil - O PCC se tornou um dos temas centrais da eleição na cidademines pro realsbetSão Paulo, com candidatos apontando supostas ligaçõesmines pro realsbet mines pro realsbet Pablo Marçal mines pro realsbet com o grupo. Já Marçal nega e diz que o PCC tomou o Estado, controlando usinasmines pro realsbetetanol, postosmines pro realsbetgasolina, etc. Como o senhor vê essa centralidade da facção no debate eleitoral paulistano?

mines pro realsbet Feltran - Eu sou pesquisador, então vejo com muito interesse. Mas vejo também como algo esperado.

Para mim foi muito notável a presença dos grupos militares na eleição presidencialmines pro realsbet2018,mines pro realsbet2022.

Ficou extremamente nítido que os grupos militares, sejam policiais, sejam das Forças Armadas, estavam influenciando diretamente o processo eleitoral e os governos.

Para mim parece muito evidente que, nessas eleições municipais, a presençamines pro realsbetpoliciais, desse pessoal midiático do populismo penal, cresce muito, e é no plano municipal que isso se manifestamines pro realsbetuma maneira muito evidente.

Esses caras ocuparam uma parcela significativa da burocracia, eles controlam um montemines pro realsbetrelações burocráticas dentro do Estado, mas eles controlam também muito o recurso na periferia com extorsão.

E eles controlam a segurança privada. Então eles têm três fontesmines pro realsbetrecursos muito importantes e eles têm muita influência política.

Isso para mim salta aos olhos, e se debate muito pouco.

Eu não acho que o PCC é protagonista, ele pode ser protagonista no debate, mas não é protagonista no financiamento das campanhas. Vejo com muito mais protagonismo a presença da polícia politizada emines pro realsbetgrupos militares e religiosos bancando candidatos, pressionando candidatos, fazendo candidatos avançarem.

Mas o PCC crescendo como cresce nos últimos 30 anos vai se tornando progressivamente um ator político mais importante, e vai influenciando.

Crédito, Tânia Rego/Agência Brasil

Legenda da foto, 'O PCC pode ser protagonista no debate [eleitoral], mas não é protagonista no financiamento das campanhas. Vejo com muito mais protagonismo a presença da polícia politizada emines pro realsbetgrupos militares e religiosos', diz Feltran

mines pro realsbet BBC News Brasil - Esse ano também foi revelado que a Prefeituramines pro realsbetSão Paulo fez negócios com empresasmines pro realsbetônibus ligadas ao PCC e uma investigação mostrou a infiltração da facçãomines pro realsbetao menos 13 prefeituras do interior para fraudar licitações. Qual émines pro realsbetfato a penetração das facçõesmines pro realsbetnegócios para além do narcotráfico e que desafios isso coloca para os futuros prefeitos?

mines pro realsbet Feltran - Todas essas notícias que você mencionou são empresários que estão lutando por influência para ter licitações, para ter favorecimentos, e que estão misturando dinheiro legal e ilegal.

Então, veja, eu tenho empresasmines pro realsbetônibus. Maravilhoso. Agora, a minha empresamines pro realsbetônibus vai ter mais lucro se eu injetar dinheiro da cocaína nela.

Eu tenho um montemines pro realsbethotéis. Lindo. Meu hotel tem dez pessoas, eu falo que tem 30, que tem 300.

Quem vai lá ver se tem ou não? E eu falo que essas 300 pagaram R$ 1 mil por dia para participarmines pro realsbetevento no hotel. Então aquelas 300 viram R$ 300 mil. Eu tinha R$ 300 milmines pro realsbetcaixamines pro realsbettráficomines pro realsbetdrogas,mines pro realsbetrepente eu tenho R$ 300 milmines pro realsbetum evento. O dinheiro está lavado.

Então é a conexão entre dinheiro legal e ilegal que faz essas coisas funcionarem.

mines pro realsbet BBC News Brasil - E que desafios isso coloca para os futuros prefeitos?

mines pro realsbet Feltran - Das duas uma, ou ele resolve enfrentar, não ceder a esse interesse, e possivelmente cai, porque esses interesses e esses poderes são maiores que o dele.

Ou ele tolera e lida com eles. E deixa passar, e deixa conceder, e vai tocando.

Crédito, Reprodução/Facebook Transunião

Legenda da foto, Ônibus da Transunião, empresamines pro realsbetônibus que atua na zona lestemines pro realsbetSão Paulo, suspeitamines pro realsbetlavarmines pro realsbetdinheiro para criminosos do PCC

mines pro realsbet BBC News Brasil - Um mines pro realsbet estudo publicado pelo Observatório das Metrópoles da UFRJ mines pro realsbet mostrou que,mines pro realsbet2022, Jair Bolsonaro e [o governador do Riomines pro realsbetJaneiro pelo PL] Cláudio Castro receberam votações mais altasmines pro realsbetáreas controladas por milícias na Região Metropolitana do Riomines pro realsbetJaneiro, sugerindo uma correlação entre controle miliciano e apoio a candidatos conservadores. Como o senhor vê esse resultado e avalia que esse quadro se repetemines pro realsbetoutros locais do país?

mines pro realsbet Feltran - Eu não concordo com a ideiamines pro realsbetque [a correlação] é com conservadores, mas com [candidatos] ligados à polícia, que pormines pro realsbetvez vai ser conservadora.

Mas essa passagem não é evidente para mim, porque é a rede clientelista que faz esse voto, que pode ter inclusive coerção violenta. Mas não é uma rede ideológica que faz esse voto.

mines pro realsbet BBC News Brasil - Então o senhor acredita que as pessoas que morammines pro realsbetáreasmines pro realsbetmilícia têm mais propensão a votarmines pro realsbetcandidatos ligados à polícia?

mines pro realsbet Feltran - Eu acredito, porque a polícia é quem está por trás desse poder. A milícia é uma extensão do poder policial.

O que eu tenho teorizado é que a milícia está se autonomizando das elites. Esse é o ponto. As polícias se autonomizam das elites que sempre controlaram esses grupos.

Qual era a cadeiamines pro realsbetcomandomines pro realsbetSão Paulo? Tem a elite, depois tem o governante ligado àquela elite, depois tem a polícia controlada por esse governante, depois tem o justiceiro controlado pela polícia.

A vida inteira, houve elites econômicas estabelecidas no Brasil controlando os grupos policiais.

O modelo clássico é o coronelismo: tem o coronel, que controla o seu jagunço. E o jagunço controla o escravo, o trabalhador. O coronel não precisa fazer esse controle.

Agora pensa issomines pro realsbetescala social, você tem a elite econômica, o mundo militar policial, as classes trabalhadoras.

O Bolsonaro não é controlado por elite nenhuma, exceto pela elite militar propriamente. É isso que eu estou chamandomines pro realsbetautonomização.

As elites não controlam mais a jagunçada policial que ocupou o Congresso.

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, 'Bolsonaro não é controlado por elite nenhuma, exceto pela elite militar propriamente. É isso que eu estou chamandomines pro realsbetautonomização', diz Feltran, que vê emancipação das forças militares com relação às elites nacionais

mines pro realsbet BBC News Brasil - Os últimos anos têm sido marcados pela expansão do crime organizado para as regiões Norte e Nordeste, com as duas regiões registrando as taxasmines pro realsbethomicídio mais altas do país, muito acima da média nacional. Como esse quadro pode impactar as eleições municipais nas duas regiões este ano?

mines pro realsbet Feltran - Esse movimentomines pro realsbetexpansão das facções impacta o mercado ilegal local, e aqueles grupos locais que faziam sobretudo o tráficomines pro realsbetdrogas, mas também o tráficomines pro realsbetarmas vinculado.

Que faziam essa jagunçagem – esse espectro da segurança local, extra legal, é impactado diretamente. E as facções começam a tomar esses espaços.

Então o problema não é só compreender a subida [da taxamines pro realsbethomicídio] dos últimos anos nos Estados do Norte, mas compreender que ela está perfeitamente conectada com o que aconteceu no Sudeste antes. Trata-semines pro realsbetum movimentomines pro realsbetexpansão das facções que dura 30 anos hoje. E esse movimento chega lá.

Então, o que a gente está vendo é uma espéciemines pro realsbetpassagemmines pro realsbethegemonia desses grupos armados locais, para grupos armados organizados nacionalmente.

PCC, CV, polícia militar. São essas grupos que controlam a criminalidade local pequenamines pro realsbetum lado emines pro realsbetoutro, fazendo seus acordos no nível local.

mines pro realsbet BBC News Brasil - E, nesse sentido, aquela mesma formamines pro realsbetinfluência na política que esses grupos têm no Sudeste deve se replicar no Norte e Nordeste?

mines pro realsbet Feltran - Eu avalio que [a influência do crime organizado na política] é ainda mais fácil. Porque, no Sudeste, desde os anos 1950, foi construída uma espéciemines pro realsbetintermediação burocrática entre o poder violento e a tomadamines pro realsbetdecisão estatal.

No Nordeste, essa camada burocrática não existe, ela é toda personalizadamines pro realsbettorno do coronel, do clientelismomines pro realsbetfamílias. Então é muito mais simples na verdade, no Nordeste. Na Amazônia, então, nem se fala.

Não há um Estado burocrático construído que, matou ali, então vai ter investigação, vai ter esclarecimento desse homicídio, essa pessoa [que cometeu o crime] vai ser neutralizada. Matou ali, ou você matamines pro realsbetvolta, ou você perdeu, entendeu?

Crédito, AFP

Legenda da foto, Pichaçõesmines pro realsbetmuro no presídiomines pro realsbetAlcaçuz, no Rio Grande do Norte, durante rebeliãomines pro realsbetduas unidades prisionais que deixou 26 mortosmines pro realsbet2017: expressão da disputa entre facções no Nordeste

mines pro realsbet BBC News Brasil - E o senhor vislumbra saídas possíveis para esse aumento do poder do crime organizado na política?

mines pro realsbet Feltran - Tem quatro pontos que seriam pilaresmines pro realsbetum modelomines pro realsbetsegurança progressista, ou democrático. Quatro coisas que a gente não faz, infelizmente não fará, mas eu falo mesmo assim.

Primeiro: esclarecimentomines pro realsbethomicídios. Esclarecer homicídio é recuperar soberania. Quem define quem vive ou morre num território, é o Estado ou a facção? Ou é a milícia?

Hoje quem define quem vive ou morre é facção e milícia. Como o Estado pode mudar isso? Esclarecendo homicídio. Esse é um ponto central para qualquer políticamines pro realsbetsegurança do mundo.

Segundo: regulaçãomines pro realsbetmercados ilegais. Não precisa legalizar, para regular. O que foi feito no caso das peçasmines pro realsbetcarro [em São Paulo, temamines pro realsbetestudomines pro realsbetFeltran emines pro realsbetreportagem da BBC] pode ser feito com droga, com contrabando, com tudo.

Terceiro: controle externo da atividade policial e da politização policial. Você não pode permitir, como o Brasil permite, que seus militares, seus policiais, sejam candidatos, façam discurso político, tenham partido, tenham ideologia, tenham lado. Não existe isso. Exceto no Brasil.

Então isso é fundamental. Você não pode deixar esses caras se autonomizarem, se você quiser ter um Estado soberano. Então o controle da corrupção policial, da politização policial é o terceiro pilar.

Quarto: tem que acabar com a política penitenciária que existe no Brasil, que é entregar a molecada na mão da facção.

Então são quatro coisas que, associadas, revertem o ciclo que hoje entrega a molecada e dinheiro na mão da facção emines pro realsbetpolicial corrupto.

Isso algum dia vai ser feito no Brasil? Não creio. Mas é o que tinha que ser feito.