'Fui deixada no deserto com corpo da minha mãe': o desespero no Sudão com maior crisesport recife x crbrefugiados do mundo:sport recife x crb

Maissport recife x crboito milhõessport recife x crbpessoas foram deslocadas à força desde que eclodiram confrontos violentos entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e o grupo paramilitar Forçassport recife x crbApoio Rápido (RSF),sport recife x crbabril, segundo a ONU. Estima-se que 450 mil pessoas deixaram o Sudão nos últimos 10 meses e cruzaram a fronteira para o Egito.

No ano passado, ocorreram intensos combates na capital, Cartum, como resultadosport recife x crbuma violenta luta pelo poder dentro da liderança militar do país. Rapidamente o conflito se espalhou por todo o país, forçando muitas pessoas a fugirsport recife x crbsuas casas.

À medida que os combates se aproximavam da cidade natalsport recife x crbOm Salma, Omdurman, ela começou a ouvir tiros.

"Tivemos que partir. Nossas vidas estavamsport recife x crbperigo", diz ela. A jovem conta que muitas pessoas lhe disseram que era "impossível" obter rapidamente um visto para viajar legalmente para o Egito, então ela abordou um homem que cobrou US$ 300 (R$ 940) por pessoa para contrabandearsport recife x crbfamília para fora do Sudão.

O tráficosport recife x crbpessoas acontece ao longosport recife x crbtoda a fronteirasport recife x crb1.200 km entre o Egito e o Sudão. Os contrabandistas, nasport recife x crbmaioria homens, estão geralmente envolvidos na mineraçãosport recife x crbouro no norte do Sudão e no sul do Egito. Eles já trabalham na área, conhecem o difícil terreno do deserto e têm acesso a caminhões para transportar pessoas.

Om Salma e asport recife x crbfamília foram até a cidadesport recife x crbGabgaba, no norte do Sudão. Este é um pontosport recife x crbpartida bem conhecido para a travessia ilegal da fronteira - tanto que os moradores locais o apelidaramsport recife x crb"aeroportosport recife x crbGabgaba".

Lá, ela foi informadasport recife x crbque eles seriam transportados através do deserto e pela fronteira até a cidadesport recife x crbAssuã, no sul do Egito. Eles já haviam viajado por oito horas e feito uma parada para dormir durante a noite antes do acidente.

Abandonada no deserto, com pouca comida e água e com o cadáver dasport recife x crbmãe, Om Salma e os seus irmãos ficaram perdidos.

Finalmente, depoissport recife x crbhorassport recife x crbespera no deserto,um carro parou para Om Salma, que fazia sinal na estrada. Ela conseguiu convencer o motorista, que transportava alimentos e produtos elétricos do Egito para o Sudão, a levá-los, juntamente com o corpo da mãe, para a cidade sudanesasport recife x crbAbu Hamad. A família chegousport recife x crbsegurança na cidade, onde mais tarde conseguiram enterrarsport recife x crbmãe.

A históriasport recife x crbOm Salma não é incomum. Acidentes ocorrem frequentemente na área, onde os contrabandistas conduzem caminhões abertossport recife x crbalta velocidade para fugir das autoridades.

Ibrahim*, que está agora no Cairo, diz que, quando foi contrabandeado para fora do Sudão, um homem com quem viajava quebrou o pescoço e morreu depois do caminhãosport recife x crbque viajavam ter batidosport recife x crbuma pedra. No casosport recife x crbIbrahim, o homem viajava sozinho e, apesar da resistência do grupo, os contrabandistas insistiramsport recife x crbenterrar o corpo no deserto.

"Todos ficaram horrorizados. Fiquei olhando para o túmulo sem identificação pela janela enquanto íamos embora, enquanto as mulheres e crianças no caminhão choravam", diz Ibrahim.

Roubos também são comuns.

Halima*,sport recife x crb60 anos, diz que teve uma experiência assustadora quando foi contrabandeada com asport recife x crbfamília através do deserto sudanês antessport recife x crbchegar ao Egito.

"Fomos atacados por quatro homens armados e mascarados quando nosso caminhão quebrou. Eles atiraram para o alto, bateram na minha filha e roubaram nossos pertences", diz ela. Depois, um outro carro apareceu e o motorista concordousport recife x crblevá-los para o outro lado da fronteira.

Mas Halima diz quesport recife x crbfilhasport recife x crb25 anos ficou tão abalada que morreu no dia seguinte, quando chegaram ao Egito. "Ela teve um ataquesport recife x crbpânico e não conseguia respirar", diz Halima, acrescentando que não conseguiram assistência médica a tempo. A BBC viu uma cópia da certidãosport recife x crbóbito, que cita problemas respiratórios como causa da morte.

Filassport recife x crbrefugiados

A BBC contatou o governo egípcio para perguntar o que tem sido feito para combater o tráfico ilegalsport recife x crbpessoas do Sudão, mas não obteve resposta.

Abdel Qader Abdullah, do consulado sudanêssport recife x crbAssuã, no sul do Egito, disse à BBC que é crime cruzar as fronteiras do deserto sem visto e as autoridades lançaram uma campanha para alertar sobre os perigos associados ao tráficosport recife x crbpessoas.

"O consulado sudanêssport recife x crbAssuã está trabalhando com o governo egípcio para ajudar a acelerar o processosport recife x crbvisto, para ajudar a aumentar o númerosport recife x crbpedidos aprovados e permitir que mais sudaneses entrem legalmente no país".

Antigamente, mulheres e crianças podiam entrar no Egito sem visto, mas o governo introduziu novas restrições após o início dos conflitos no Sudão. A procura no Sudão por um visto egípcio é muito alta, pois as pessoas querem fugir do conflito.

É possível solicitar um vistosport recife x crbdois lugares no Sudão – Wadi Halfa, no norte, e Porto Sudão, no leste. A maioria segue para Wadi Halfa, pois fica mais perto da principal passagemsport recife x crbfronteira terrestre entre o Sudão e o Egito. Quase não há infraestruturasport recife x crbWadi Halfa para receber a multidão.

Pessoas ficam na fila por horas para fazerem o pedido e, após a inscrição, podem levar meses para ter uma resposta. Longesport recife x crbcasa e com pouco dinheiro, muitos esperamsport recife x crbWadi Halfa, dormindosport recife x crbescolas próximas ou nas ruas.

Ainda determinada a sair do Sudão, Om Salma decidiu tentar a via legal nasport recife x crbsegunda tentativa. Ela viajou para Porto Sudão para solicitar um visto no consulado egípciosport recife x crblá.

Mas depoissport recife x crbesperar dois meses, desistiu e optou novamente pela rota ilegal. Muitas pessoas têm o visto recusado e não podem esperar, muitas vezes decidindo gastar o pouco dinheiro que lhes resta com um contrabandista.

"Desta vez nos preparamos para a viagem", diz Om Salma, que conta que levou mais provisões como comida e água. "Passámos cercasport recife x crbseis dias no deserto antessport recife x crbconseguirmos atravessar a fronteira para o sul do Egito."

Sobrevivendo no Egito

Uma vez no Egito, a situação dos migrantes sudaneses continua difícil. Se não tiverem o estatutosport recife x crbrefugiado ou não puderem comprovar que têm hora marcada para fazer o pedido, eles podem ser deportados.

Para marcar horário para fazer o pedido, eles precisam viajar para o Cairo ou para Alexandria. No edifício do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), no Cairo, milharessport recife x crbmigrantes sudaneses, nasport recife x crbmaioria mulheres e crianças, aguardamsport recife x crblongas filas para registarem os seus nomes e obterem o que é conhecido como cartão amarelo.

Halima diz que "ficava horas no frio, apenas para marcar uma reunião para quatro meses depois."

"Obter um cartão amarelo, que você recebe quando é um refugiado registrado na ONU, permite que você consiga trabalho legalmente e receba fundos mensais da ONU", explica ela.

Outra refugiada registada na ONU, Ibtessam*, no entanto, diz que não é assim tão simples.

Ibtessam foi contrabandeada do Sudão para o Egipto no último verão com três gerações dasport recife x crbfamília, 17 pessoas no total, incluindo os seus pais e filhos.

Mas ela diz que apesarsport recife x crbter cartão amarelo, não recebeu nenhum dinheiro desde que chegou,sport recife x crbjunho. "Não sei como sustentar minha família. Meu marido morreu, tenho aluguel para pagar todos os meses e ninguém nos ajuda."

A porta-voz do ACNUR, Christin Bishay, reconhece a frustração e o sofrimento sentidos pelos migrantes sudaneses no Egito, mas diz que a organização está "enfrentando uma escassezsport recife x crborçamento."

"Ampliamos a nossa capacidadesport recife x crb900%. Por isso temossport recife x crbestabelecer prioridades e pensarsport recife x crbquem precisasport recife x crbajuda primeiro?", explica ela. "Criamos serviços médicos na fronteira com a ajuda do Crescente Vermelho egípcio."

A vida não é fácil para os migrantes sudaneses no Egito, como Om Salma, que temsport recife x crbencontrar um lugar para viver com pouca ajuda ou dinheiro.

Ela diz que se preocupa com o futuro. Idealmente, ela gostariasport recife x crbregressar ao seu paíssport recife x crborigem um dia, mas, devido ao conflito, teme que isso nunca aconteça.

*Os nomes foram alterados para segurança dos entrevistados