4 pontos defendidos por Lula na cúpula do G7:

Lula (à dir) ao lado do americano Joe Biden e demais chefesEstado que participam da cúpula do G7

Crédito, Ricardo Stuckert/PR

Legenda da foto, Lula (à dir) ao lado do americano Joe Biden e demais chefesEstado que participam da cúpula do G7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste sábado (20/5) críticas ao que chamou“blocos antagônicos” no mundo ao falar durante a cúpula do G7, gruposete dos países mais ricos do mundo, que se reúnem neste fimsemanaHiroshima, no Japão.

Nessa linha, Lula defendeu reformas e a inclusãonovos membros permanentes no ConselhoSegurança da ONU. Nas palavras do brasileiro, sem isso “a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas no século 21”.

O G7 engloba EUA, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão.

Brasil e outros sete países - Austrália, Comores, Ilhas Cook, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Vietnã - participam como convidados.

Durante as sessões “Trabalhando juntos para enfrentar múltiplas crises” e “Esforços compartilhadosprolum planeta sustentável”, Lula centroufalaao menos 4 pontos:

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1 - Sistema financeiro ‘a serviço da produção’

Lula disse que, desdeprimeira participação como convidado do G7,2009 - ano seguinte à eclosão da crise financeira global -, ficou exposta a “fragilidade dos dogmas e equívocos do neoliberalismo”.

“A arquitetura financeira global mudou pouco (desde então), e as basesuma nova governança econômica não foram lançadas”, declarou Lula diante dos demais chefesEstado.

O brasileiro defendeu que para enfrentar as “múltiplas crises” atuais - desde a ambiental até segurança alimentar e ameaças à democracia, entre outras - seria preciso uma “mudançamentalidade”.

“O sistema financeiro global tem que estar a serviço da produção, do trabalho e do emprego. Só teremos um crescimento sustentávelverdade direcionando esforços e recursosprol da economia real”, opinou.

2 - ‘Estado indutorpolíticas públicas’

Ele emendou fazendo a defesa da ação do Estado na resolução dos problemas.

Disse que degradação ambiental, fome, pandemia e desigualdade “demandam respostas socialmente responsáveis, uma tarefa que só é possível com um Estado indutorpolíticas públicas voltadas para a garantiadireitos fundamentais e do bem-estar coletivo”.

“Um Estado que fomente a transição ecológica e energética, a indústria e a infraestrutura verdes”, prosseguiu Lula.

“A falsa dicotomia entre crescimento e proteção ao meio ambiente já deveria estar superada. O combate à fome, à pobreza e à desigualdade deve voltar ao centro da agenda internacional, assegurando o financiamento adequado e transferênciatecnologia.”

3 - Multilateralismo x ‘blocos antagônicos’

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Lula concluiu umseus discursos com críticas ao que chamou“blocos antagônicos”, exaltando o multilateralismo.

“Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade. A solução não está na formaçãoblocos antagônicos ou respostas que contemplem apenas um número pequenopaíses”, afirmou.

“Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as ‘crises múltiplas’ que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãosgovernança global. (...) Sem reformaseu ConselhoSegurança, com a inclusãonovos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século 21”, declarou.

Pedidosmudanças no ConselhoSegurança - instância da ONU cuja missão principal é “manter a paz e a segurança internacional” - são uma agenda antigaLula, desde seus primeiros mandatos.

O Conselho tem cinco membros permanentes (China, França. Rússia, Reino Unido e EUA) e dez não permanentes, eleitos para mandatosdois anos (o Brasil participa do órgão atualmente). Mas apenas os membros permanentes têm podervetoresoluções.

Zelensky (dir) ao lado do premiê britânico Rishi Sunak

Crédito, EPA

Legenda da foto, Zelensky (à dir, ao lado do premiê britânico Rishi Sunak) foi pessoalmente à cúpula do G7

4 - Mais dinheiropaíses ricos para ações ambientais

Em seu discurso na sessão dedicada à sustentabilidade, Lula cobrou mais dinheiro dos países ricos para a mitigação do aquecimento global.

“Essa é uma crise que não afeta a todos da mesma forma, nem no mesmo grau, nem no mesmo ritmo. Mais3 bilhõespessoas já são diretamente atingidas pela mudança do clima,especialpaísesrenda média e baixa”, afirmou.

“Insistimos que os países ricos cumpram a promessaalocarem US$ 100 bilhões ao ano à ação climática. (...) De nada adianta os países e regiões ricos avançarem na implementaçãoplanos sofisticadostransição se o resto do mundo ficar para trás ou, pior ainda, for prejudicado pelo processo.”

Lula também agradeceu os compromissos recentesmais doações para o Fundo Amazônia - o Reino Unido ofereceu o equivalente a R$ 500 milhões e os EUA, R$ 2,5 bilhões.

“Seguiremos abertos à cooperação internacional para a preservação dos nossos biomas, sejaformainvestimento ou colaboraçãopesquisa científica. É com esse espírito que manifesto meu apreço pelos aportes anunciados recentemente ao Fundo Amazônia”, declarou.

ObjetivosLula no G7

Diplomatas e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que entre as prioridadesLula no encontro do G7 estão justamente a obtençãomais doadores para o Fundo Amazônia.

Mas ele também almeja conseguir ajuda junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Argentina, alémrevitalizar o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) e se firmar como uma espécieponte entre o G7 e os Brics, grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Ao mesmo tempo, a principal preocupação diplomática do Brasil era com a possibilidadeo encontro do G7 adotar um tomcrítica aberta à Rússiameio à guerra na Ucrânia, membro do Brics e com quem o Brasil mantém boas relações diplomáticas.

Mas o comunicado final do encontro já coloca empecilhos nessa ambição brasileira.

A repórter enviada da BBC a Hiroshima, Tessa Wong, explica que o texto diz que as sete economias mais avançadas do mundo estão comprometidas a “intensificar nosso apoio diplomático, financeiro, humanitário e militar à Ucrânia, para aumentar os custos à Rússia e aos que apoiam seus esforçosguerra”.

Líderes na Cúpula do G7

Crédito, EPA

Legenda da foto, Cúpula do G7 prometeu “intensificar nosso apoio diplomático, financeiro, humanitário e militar à Ucrânia"

O que mais aconteceu no encontro

Roubando a cena: Volodymyr Zelensky surpreendeu os países membros - e a mídia mundial - ao comparecer à cúpula do G7 um dia antes do esperado. O presidente ucraniano chegou a um avião do governo francês, após uma parada na Arábia Saudita.

Compromisso com a região do Indo-Pacífico: Os países do G7 falaramassumir um compromissomaior com países do indo-pacíficouma declaração final conjunta. Isso também ficou claro pela decisãoconvidar países como Indonésia, Índia e Ilhas Cook para a cúpula.

Uma mensagem para a China: Os líderes assumiram uma postura firme contra o que chamaram"coerção econômica" - usar o comércio para intimidar outros países - e pediram que a China "jogueacordo com as regras internacionais". Enfatizando seu compromisso com a "resiliência econômica", eles prometeram tomar medidas para "reduzir dependências excessivasnossas cadeiassuprimentos críticas" - uma referência a como os países do G7 ainda estão inextricavelmente ligados à China no comércio.

Uma resposta furiosa: o Ministério das Relações Exteriores da China respondeu acusando o G7"manipular questões relacionadas à China" e "difamar e atacar a China".

Guerra na Ucrânia

Durante a cúpula, os EUA deram sinal verde a seus aliados para que enviem caçasguerra à Ucrânia - e os líderes do G7 prometeram intensificar as sanções econômicas impostas à Rússia.

O comunicado final do encontro deste finalsemana foi antecipado para este sábado por causa da presençaVolodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, na cúpula japonesa.

É esperado que Zelensky se reúna com Lula durante a cúpula - o presidente ucraniano fez o convite para o encontro, mas Lula disse que não sabia se a reunião aconteceria.

Lula tem defendido uma posiçãoneutralidade na guerra, mas é pressionado por países ocidentais a adotar uma postura mais crítica a Moscou.

DeclaraçõesLula nos últimos meses chegaram a gerar mal-estar com Europa e Estados Unidos,particular quando ele disse que “a decisão da guerra foi tomada por dois países” e que “é preciso que os Estados Unidos paremincentivar a guerra e comecem a falarpaz. É preciso que a União Europeia comece a falarpaz pra que a gente possa convencer o (Vladimir) Putin e o Zelenskyque a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois”.

Na ocasião, o porta-vozSegurança Nacional da Casa Branca afirmou que Lula estava “reproduzindo propaganda russa e chinesa” e fazendo comentários “simplesmente equivocados”.

Tom semelhante foi adotado pelo porta-vozAssuntos Externos da União Europeia, Peter Stano. Ele disse na ocasião: “Em referência às falas do presidente brasileiro, (...) é a Rússia, e apenas a Rússia, a responsável pela agressão ilegítima e não provocada contra a Ucrânia. Então não há dúvidas quanto a quem é o agressor e quem é a vítima”.